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ENTREVISTA: King Saints se diverte ao questionar indústria em “Se eu Fosse Uma Garota Branca”

O álbum de estreia da cantora aborda a diferenciação feita com artistas negras e, ao mesmo tempo, fala sobre a vivência de uma forma divertida
King Saints se diverte ao questionar indústria em "Se eu Fosse Uma Garota Branca"
(Foto: Maicon Douglas)

Na última semana, King Saints, conhecida por compor sucessos de Pocah, IZA, Luísa Sonza, entre outros, lançou o seu álbum de estreia, o “Se Eu Fosse Uma Garota Branca”. No projeto, a artista reflete, de forma divertida, sobre as experiências e questionamentos das mulheres negras em como suas vidas poderiam ser diferentes se fossem brancas.

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Ao POPline, a cantora desabafou sobre a importância do projeto em sua carreira. Segundo ela, a ideia surgiu com o objetivo de expor a realidade não apenas dela, mas de outras mulheres negras na sociedade. “Quando eu olho para outras mulheres negras com quem fui criada ou que tenho como referência, o que vejo muito é muito trabalho e pouco reconhecimento, comentou.

King, no entanto, deixa claro que seu objetivo não é desmerecer o esforço de pessoas brancas. “Eu não estou dizendo que pessoas brancas não lutam para alcançar seus objetivos, mas estamos falando de um país onde existe o pacto da branquitude. Ele é visível, está ali, e acontece, explicou.

King Saints, na verdade, deseja fazer com que as pessoas pensem em problemas da sociedade de uma forma “alternativa”. É daqui que surge o questionamento que nomeia o “Se Eu Fosse Uma Garota Branca”. “Essa é uma pergunta que passa pela cabeça de muitas mulheres negras: como seria a vida delas se fossem brancas? Talvez nem melhor, nem pior, mas definitivamente diferente, pois nós lidamos com muitas outras coisas”, pontuou.

“Se Eu Fosse Uma Garota Branca” quer divertir e fazer pensar

O que difere o projeto é a forma como ele aborda essa discussão. Afinal, King Saints quis trazer para o seu trabalho algo importante para ela, mas de uma forma que divertisse o público enquanto o fizesse pensar. É com essa ideia, inclusive, que a faixa-título foi construída. “A música fala sobre micro agressões e o racismo estrutural, aquele que mina nossa mente diariamente e que quem pratica nem sempre pensa a respeito”, comentou.

Para quem ouve, a faixa que abre o álbum é diferente de todo o resto, em diversos detalhes. Indiscutivelmente pop, a canção se apresenta com uma estética mais feliz, inspirada em cantoras desse gênero. “Eu escolhi ser pop nesse lugar, […] como Katy Perry, Lily Allen, ou o ‘Blank Space’ da Taylor Swift, citou King.

“Tudo, desde as melodias até a interpretação da voz, foi pensado para que a mensagem pudesse furar a bolha e alcançar outras pessoas, para que elas parem e reflitam sobre seus privilégios”, explicou.

É nessa mesma ideia que o clipe foi construído. Para a artista, o projeto narra a sua experiência no mercado da música e, também, a história da música em espaços além do musical, onde mulheres negras são “forçadas” a se encaixar em padrões que não as prioriza.

A partir disso, King Saints pensou, ao lado do diretor, Léo Ferraz, um audiovisual que mostra a cantora passando por um processo, dentro de um laboratório, para “parecer mais branca”. “Sempre que uma mulher negra decide se mover em um espaço onde não a colocaram, ela enfrenta um processo doloroso de autocrítica pesadíssima e pressão para atingir um padrão inalcançável”, pontuou.

“Eu quero que as pessoas se divirtam. Eu acho que, sobretudo, é sobre se divertir, que elas se divirtam, mas que elas pensem, coloquem a mão na consciência. Acho que esse álbum vai ser um combustível de emoções para as pessoas. Quero que elas se emocionem de alguma maneira, independente de como seja”, acrescentou.

King Saints explora diversidade musical e expande catálogo com parcerias

Indicada ao Grammy Latino pelo seu trabalho ao lado de IZA no “AFRODHIT”, King Saints não é um novo nome no mercado. Em seus singles, a artista já se mostrou explorando diferentes ritmos. Toda essa diversidade fica mais evidente no álbum, que explora ritmos como o funk, pop, rap, e até uma pegada de house.

King contou ao POPline que queria mostrar toda a sua versatilidade ao público. “Muitas vezes, acham que artistas negros precisam se encaixar em um único estilo, como se não pudéssemos ser pop. A ideia era mostrar que nós, mulheres negras, podemos estar em diversos gêneros musicais”, contou.

King Saints se diverte ao questionar indústria em "Se eu Fosse Uma Garota Branca"

(Foto: Maicon Douglas)

“Se você pegar álbuns da Rihanna ou da Beyoncé, são rotulados como R&B, mas na prática, são totalmente pop. No meu álbum, temos essa pluralidade”, adicionou.

Um dos nomes que chamam atenção no álbum é o de Leoni. Para a cantora, a chegada dele na faixa “Dançar” é para “trazer o contraste do que muitas vezes é visto como MPB ‘branca'”. Além dele, o projeto conta com participações de Karol Conká, MC Sofia, Dalua, Levinsk, Boombeat e Afrodite BXD, que, assim como King Saints, é da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro.

A área, colocada muitas vezes como perigosa no estado sudestino, é valorizada dentro do álbum. A artista não esconde – e não há pretensão de esconder – o orgulho de ter crescido neste território.  “Representar a Baixada é importante para mostrar a resistência e a ousadia de quem vem de lá, disse ela.

“Muitas vezes, somos levados a nos identificar como cariocas, mas eu sempre faço questão de dizer: sou de Duque de Caxias. Tudo o que me constrói como ser humano vem de lá. Caxias é berço de muitas pessoas batalhadoras, e é fundamental que mais pessoas possam mostrar essa realidade”, finalizou.

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