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Katy Perry recupera seu sorriso e o mostra com orgulho no álbum “Smile”


Quando o POPline recebe um disco com antecedência ao seu lançamento para ouvir e apresentar ao público, em texto, o projeto, é muito comum ser redirecionado para algum fã do artista (somos uma redação bem diversa e eclética) e assim fazendo uma resenha mais próxima do público e não só uma análise técnica. E com o “Smile” de Katy Perry, eu fui o escolhido.

"Smile": Katy Perry adia lançamento do álbum
(Foto: Divulgação)

Fã da cantora desde os tempos em que ela beijava garotas (e gostava), e até descobrindo a fase gospel de Katy Hudson, que segue em algum espaço meio esquecido em minha nuvem de músicas, analisar o novo álbum de Katy Perry não é só um prazer como também uma tarefa toda trabalhada na dicotomia: afinal, o lado fã também tem que dar espaço ao lado jornalista.

Dito isso, assim espero que os fãs de Katy Perry e os interessados em seu novo álbum, mesmo que não sejam fãs, possam enxergar essa resenha mais como uma conversa sobre o novo disco e possa, assim, abrir um debate sobre o projeto, quando ele for oficialmente lançado nesta sexta-feira (28).

O sorriso de Katy Perry

Katy Perry
Foto: Divulgação

Depois do “Witness”, um álbum liricamente politizado, musicalmente arriscado, visualmente impecável e criticamente subestimado, Katy Perry passou por uma fase um pouco complicada, psicologicamente falando, mas finalmente encontrou seu sorriso de volta. Não só em seu trabalho, mas também em sua vida pessoal. E isso se reflete diretamente em seu novo álbum, o “Smile”.

É um disco que ela se mostra sozinha, não há colaborações. É Katy Perry em um momento mais maduro, com um tom nostálgico, fortemente influenciado musicalmente pelos anos 1980 e 1990, mas sempre com um tom irreverente (seja na vibe instrumental ou até mesmo em parte das letras) que já é característico da cantora.

Todas as músicas são incrivelmente radiofônicas e com fortes possibilidades para se tornarem singles. É bem como a própria Katy explicou: uma mistura do “Prism” com o “Teenage Dream”. E eu ouso adicionar uma pitadinha do “Witness” nessa receita também.

O “Smile” conta uma história

Em um primeiro momento, a narrativa do palhaço que faz os outros rirem mas perdeu o seu próprio sorriso e precisa encontrá-lo novamente pode até parecer clichê, mas é uma metáfora perfeita para a história contada no “Smile”.

E essa história é bem clara já na disposição da ordem das músicas.

Nas primeiras músicas, Katy Perry se mostra um pouco triste, mas ainda assim dançante. Dessas que não vai deixar de se divertir por causa de ninguém e vai postergar as lágrimas o máximo possível. Essa sensação de “chorar enquanto dança” ficou a cargo das faixas “Never Really Over”, já conhecida do público, “Cry About It Later” (que me lembrou até um pouco “Chained To The Rhythm” em sua linha instrumental) e “Teary Eyes”.

O segundo momento do “Smile” vem com Katy Perry se fortalecendo, mostrando sua resiliência, força para superar os problemas e, principalmente, esperança em um futuro melhor. Aqui, as músicas “Daisies”, que também já foi lançada como single, “Resilient” (entenderam a descrição de resiliência?), que trouxe uma vibe meio Cyndi Lauper, e “Not The End Of The World” (que eu podeira dizer que é quase como uma sucessora oficial de “Dark Horse” em sua linha instrumental meio hip-hop) são as responsáveis pelo empoderamento da cantora.

O terceiro momento é só alegria. É quando Katy encontra seu sorriso de volta e dança. É o bloco com as músicas mais animadas do “Smile”. Começando com a faixa título do disco, que é o atual single do projeto, e passando para “Champagne Problems” (uma das minhas preferidas, que tem uma linha de baixo forte e predominante e com um teor super nostálgico) e “Tucked” (faixa que até me lembrou os últimos lançamentos do Jonas Brothers, com sensação de discoteca e que poderia ser fácil uma sucessor natural de “Last Friday Night”). A vibe aqui é de sorriso e empoderamento: Katy é dona de si e sabe o que quer.

O quarto e último bloco, é o que podemos chamar de arrebatamento pessoal. É o momento das baladas, que mesmo um pouco mais lentas, seguem uma linha dançante que permeia o disco como um todo, só que agora numa versão mais mid-tempo, pra dançar com o ombrinho. Coisa assim.

“Harley’s In Hawaii” abre o bloco final, como mais uma faixa já conhecida do público. Co-escrita e co-produzida por Charlie Puth, a faixa é considerada por muitos dos KatyCats um sucesso desperdiçado, já que a cantora não trabalhou muito a música.

Depois, em “Only Love”, Katy Perry te leva pra igreja. Quase que literalmente. A música vem com uma vibe bem gospel, com direito a harmonização de coral no refrão e uma batida forte. É aqui, ao meu ver, que ela mostra realmente seu arrebatamento pessoal, sua redenção.

O disco se encerra com uma mensagem poderosa tanto para ela como para a sua filha, que está prestes a nascer. “What Makes a Woman” é aquilo que tudo o que Katy Perry queria ouvir quando estava crescendo e não conseguiu, então ela resolveu dizer tudo isso a ela mesma (e para a sua filha).

“É isso, Katheryn”, encerra Katy Perry, tanto a música como o disco, de forma mais do que apropriada.

Em resumo

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(Foto: Reprodução / YouTube)

O “Smile” é um disco dance (mas não no conceito de “farofa” muito aplicado pelo público), com fortes influências nas décadas de 1980 e 1990, mas do jeitinho que só Katy Perry sabe fazer. Não espere algo que você ouça e vai afirmar “ah, bem que parece com algo que Dua Lipa ou The Weeknd estão já fazendo”. Não. Katy aqui mostra sua musicalidade e maturidade lírica do jeito que ela sabe fazer melhor.

Além disso, a nova fase da cantora, tanto profissional como pessoal, é algo que se reflete de forma clara neste novo álbum. É uma Katy realmente agradecida, empoderada e feliz, muito feliz, e que não está se pressionando para ter mais 5 singles seguidos no topo da Billboard, mas ainda assim entregando um trabalho visual impecável, mesmo grávida e em quarentena.

Katy Perry é uma das poucas artistas que sabe rir de si mesma, sabe se permitir e arriscar e, provavelmente, é exatamente aí onde esteja o seu sorriso.

E que venha o “Smile”! Eu, como fã, tô muito animado! E vocês?