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Jota Quest lança EP de remixes de “Blecaute”, com Anitta, e conversa sobre música pop com POPline


A parceria do Jota Quest com a Anitta está bombando: o clipe é um sucesso na Internet e o single toca muito nas rádios. “Blecaute”, esse é o nome do hit que coroa os 20 anos da banda mineira. Parte do álbum “Pancadélico”, lançado no ano passado, a faixa ganhou um EP de remixes nesta sexta (25/3), visando as pistas de dança. São cinco versões novas, incluindo produções de Brabo, Mister Jam, Clubbers e Joy Corporation, DJ Hum e DeepLick. Há também uma versão acústica, criada por Wilson Sideral, irmão do Rogério Flausino.

Isso tudo em meio à turnê “Pancadélico”, que está rodando o Brasil. No show, o Jota Quest toca seis das músicas novas, incluindo “Blecaute”, claro, e faz um retrospecto dos seus maiores sucessos nas duas últimas décadas. Em entrevista ao POPline, Rogério Flausino diz que a turnê está “do cara***!”. Ele também fala sobre Anitta, Karol Conka e o espaço da música pop no mercado atual. Confira!

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POPline: “Blecaute” é o clipe do Jota Quest mais visualizado no Youtube – e isso sendo o mais recente. Como você avalia essa parceria com a Anitta?
Pois é, cara! Você viu que loucura isso? Acho que está sendo muito bacana. Quando a gente estava fazendo o CD, a gente não tinha ideia e um dia deu um clique na gente. Estávamos ouvindo a música, esse papo da letra, da mina chegando no baile, aquela coisa, e visualizamos a Anitta, o clipe. “Vamos chamar ela?”. Mandamos uma mensagem, na hora ela ouviu, adorou e aí rolou. Ela veio aqui para BH, e depois a música ainda ganhou o Nile Rodgers. A gente já estava em contato com ele, e ele ia escolher duas canções. Quando ouviu essa, falou “ah, essa aqui é legal demais, pô!”. Quis fazer, e fez também “A Vida Não Tá Fácil Pra Ninguém”. A gente foi juntando as figurinhas, com muitas coisas que não estavam programadas. Depois fomos fazer a tal da Bloc Party. Achamos uma vila na Mooca, antiguinha, desativada, onde a gente pudesse grafitar, pichar, fazer o que a gente quisesse. Outra coincidência: encontramos com os Gêmeos, que já tinham feito nossa capa, e falamos do clipe. Eles falaram que iam passar lá, mas pensei “não vão passar nada, eles tem mil coisas para fazer”. E não é que apareceram? Então eles também participam do clipe. Aí a gente chamou o DJ Hum, que botou aquele “vem pro baile!”. Juntamos um DJ, os grafiteiros, o Nile, uma poderosa, uma galera. Uma união de forças em volta de uma ideia simples: música para a gente dançar junto, se jogar no baile. Esse que é o conceito que a gente está trazendo de volta do início da carreira da banda.

Qual a importância dessas parcerias para a revitalização constante do Jota Quest?
Acho que essas uniões são uma busca de fazer uma coisa diferente, e também de se aproximar das pessoas, como o Nile Rodgers. Ele é um Papa da música disco, e a gente foi atrás. A gente se conheceu aqui no Brasil em 2011, o PJ ficou muito amigo do Jerry [Barnes], porque são baixistas, e chamamos o Jerry para produzir algumas músicas com a gente. Ele acabou produzindo o disco inteiro, “Funky Funky Boom”, e chamamos o Nile Rodgers, que é um super assediado, mas conseguimos via Jerry Barnes. O cara se amarrou na banda. Ter esse padrinho é um negócio muito bacana para uma banda que, lá atrás, decidiu fazer black, soul, funk, disco, no meio das bandas de pop rock que tinham aqui. Esse ciclo está sendo muito bem completado. No caso da Anitta, a gente tem aí essa coisa dessa menina que… A gente fica tentando olhar para o horizonte do pop para encontrar alguma coisa parecida com o Jota na época e não encontra. Era uma banda com um som para dançar, “vem pro baile”, aquela coisa toda. Mas você tem a Anitta, que apesar de ter começado fazendo funk do Rio de Janeiro, sem o menor demérito, ela consegue em três, quatro anos, ir além disso. Você escuta o som que a Anitta está fazendo, da galera com quem ela está andando, e escuta um som muito bem feito, uma parada muito moderna, atual. Claro: ela é uma popstar, uma menina, diferente da gente, cinco caras e tal. Mas ela é uma menina esperta, descolada, e está trafegando muito bem em cima disso aí. O som da Anitta pós-“Show das Poderosas” fisgou a gente. A gente nunca tinha lançado um single com uma menina. E ela tem 20 anos, 22 anos, e eu tenho 44! (risos) Esse é o negócio mais fantástico: é uma mudança de paradigmas. O negócio é: uma banda de 20 anos tem que rebolar mesmo para se manter relevante. Eu acho que a gente tem sempre que ser avaliado dentro do que se propõe. Do “Funk Funk Boom” para cá, nossa proposta é fazer um som leve, dançante, como fazia no início da carreira. A gente tem um histórico de muitos sucessos, de vários jeitos, tem as canções mais lentas, que fizeram muito sucesso, e tem agora essa coisa que a gente está chamando de baile, onde passamos por todas essas fases.

Um dos remixes novos que vocês vão lançar têm participação do Rico Dalasam, outro nome novo na cena musical. De quem foi a ideia? Você já conhecia o trabalho dele?
A gente chamou o [Rodrigo] Gorky, um amigo novo. A gente estava no “The Voice” e ele estava produzindo a Luiza Possi. Acompanho o Bonde do Rolê, mas nunca tinha conversado com ele. Começamos a conversar, ficamos brother, e chamei ele para fazer um remix do “Blecaute”, porque ele é bom nisso, nessa pegada funk. Isso foi no fim de dezembro e depois, em janeiro, ele falou: “tô querendo botar um cara aqui, o que você acha?”. Eu falei: “o remix é seu, você faz o que quiser!”. E ele chamou o Rico, que eu ainda não conheci pessoalmente, mas gostei muito do que ele fez. O interlocutor dessa história é o Gorky, mas eu pirei quando ouvi. Ficou realmente bom demais! Agora vamos ver o que as pessoas vão falar. Mas não é à toa que esse remix é o primeiro da lista do EP. Quando você botar para tocar, é a primeira que vai tocar, porque achei muito maneira.

Fora a Anitta, que outros artistas da nova geração você gosta?
Eu estou curtindo muito a Karol Conka. Já estava curtindo muito… Gosto dessa mistura brazuka que está rolando, e a Karol a gente vai chamar para fazer alguma coisa. Acho que tem a ver! Gosto do tipo de som daqueles meninos de Brasília do “Superstar”, que gravaram o DVD agora… Scalene! Gosto muito. Acho que estão fazendo um lance muito legal, um som que me amarro. Não é uma coisa tão popular, mas acho legal, talvez por isso que eu acho tão legal. E gosto dessa galera do rap. O Emicida está realmente um degrau acima. Tem um menino aqui em Belo Horizonte, que se chama Flávio Renegado. Eu gravei com ele no DVD dele, o Samuel [Rosa] fez uma música com ele… Ele é muito bom: mistura hip-hop com reggae, com uma base de pop rock. Gosto do Projota, essa turma aí, acho bacana. Acho que essa turma do rap, que vai do Emicina, passando por Projota, até a Karol Conka, é o novo pop, conseguindo quebrar as barreiras do popular. Tem menos bandas fazendo isso.

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E qual o lugar do pop brasileiro no mercado atualmente?
Não sei nem como colocar isso em porcentagem… (risos) Acho que você tem uma gama de bandas muito queridas, muito famosas, mas um pouco mais antigas: a galera dos anos 80, dos anos 90, que você tem o Jota Quest, O Rappa, o Capital Inicial dos anos 80. Uma turma aí que ainda está muito na atividade. Por exemplo, o line-up do festival João Rock, de Ribeirão Preto, é bem interessante. Então, o que acontece? Ao mesmo tempo, você tem o Lollapalooza, que traz uma galera internacional muito legal. A porcentagem de brasileiros é pequena, mas ela existe. É um festival alternativo, olhando para o Brasil de hoje, se você comparar com o Rock in Rio, por exemplo. E ele fica lotado, bombado, isso é maravilhoso! Foi muito bom que a Karol foi muito bem lá. A gente tem que ver de que Brasil a gente está falando. Esse país é gigante demais e tem muitas coisas. Onde está o pop rock, então? Ou você olha e dá o devido valor ao que foi produzido pelas gerações anteriores e têm sua relevância, como a gente cultua os [Rolling] Stones e várias bandas que a gente sempre vai lá ver. Com uma lupa, você vai olhar para a nova geração, que é pequena, porque está dividida em guetos, aí você consegue ver o pop rock. Ou você diz “o pop rock morreu”, porque pega a lista das 100 músicas mais executadas do ano e não tem nenhuma pop rock. Que leitura você quer fazer? O Los Hermanos faz uma turnê de dois em dois anos, lotada, bombada, e isso não é legal pra caramba? Eu acho isso legal pra caramba! A gente precisa aprender a dar valor às coisas que são grandes, que têm história. Se a gente não valorizar a base da coisa, o novo nunca vai ter o valor tão sedimentado, nessa pizza toda que a gente tem que dividir com os outros segmentos.

Vai ter alguma comemoração especial dos 20 anos?
A gente decidiu comemorar primeiro lançando esse disco novo, “Pancadélico”. Começamos com “Blecaute” e devemos virar a música em abril, com clipe e tudo.

Qual vai ser a música?
Não posso te dizer ainda, porque a gente está decidindo… Está praticamente escolhida, mas ainda falta um pouquinho. Isso aqui é um parto, meu irmão. O embate não acaba nunca! (risos) Aí, no segundo semestre, talvez no início do ano que vem, a gente quer fazer um grande show de comemoração, filmar isso e tal. Esse é o nosso plano, mas ainda não está tudo amarradinho. A gente também está preparando com a Sony um box com os álbuns, um disco de relíquias de remixes… e vamos montar umas playlists de cada um, para fazer alguma coisa diferente. Talvez um vinil de sucessos também.

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E a “Pancadélico Tour”, como está sendo?
Do cara***, velho!!! Estou super feliz! A gente já fez Belém, Cuiabá, Porto Alegre, agora tem Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Essa é a primeira etapa. Estamos tocando seis músicas do álbum novo e a galera está assimilando com muita tranquilidade. Está sendo muito gostoso de tocar. A gente já teve dificuldade de tocar muita música nova de uma vez, e dessa vez está indo. É tudo muito groove, dançante, envolvente. Estamos dando o maior gás, ensaiando três, quatro vezes por semana desde 15 de janeiro. A textura do som tá muito interessante.

E esse ano você volta no “The Voice”?

Não sei ainda, a princípio sim. Todo ano, acho que vou ser mandado embora, mas eles me chamam de novo! (risos) Eles ligam tipo uma semana antes: “você vem?”. A minha função é de assistente, então não tenho aquela responsabilidade de carga horária que meus patrões, o Brown, têm. Vou lá bem menos, fico com os meninos umas duas tardes, a gente ensaia, depois tem o programa e pronto. Não é uma responsa tão grande em termos de carga horária, o que sempre foi meu problema, porque o Jota trabalha demais. Então, acredito que sim. Estou aí na área. E uma outra coisa que estou fazendo é um programa para o GShow. A 2ª temporada deve entrar no ar agora. Chama-se “Laboratório do Som”, é um programa de entrevistas, gravado em estúdio, com a galera de violão na mão. Entrevistei a Pitty, a Ana Carolina e a Teresa Cristina, essas três cantoras. Neste ano, vamos gravar mais duas temporadas, mais seis entrevistas.

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Está cheio de trabalho então, né?
Nossa Senhora! É isso aí, bicho. Quem mandou regar as plantinhas, né? (risos)

Para terminar, mensagem pros fãs e para os leitores do POPline.
Em primeiro lugar, queria dizer que o POPline é legal demais. Tudo que a gente faz, vocês estão sempre divulgando, retuitando. Estou muito com vocês no dia a dia. Para a gente ficar no assunto do momento que são os remixes: estou muito satisfeito com o resultado do trabalho dos DJs. Esses meninos novos são demais, estão fazendo um trampo muito bom. E tem também a versão acústica, que já está tocando em algumas rádios: é uma parceria com meu irmão, o Sideral. Então, essas versões não são porque “Blecaute” está fazendo sucesso. Desde 2012, a gente faz os remixes de algumas músicas de todo disco, para aproximar a gente da pista de dança. No caso do “Blecaute”, como é uma música bombada, acho que há realmente a chance desses remixes extrapolarem e irem para as pistas para o pessoal se jogar mesmo. Essa é a ideia!