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Jorge e Mateus falam sobre carreira internacional para Billboard

A dupla falou sobre a barreira do idioma e a separação do empresário Marcos Araújo

Foto: Divulgalção

Com uma carreira consolidada no sertanejo, Jorge e Mateus ganha cerca de US$ 200.000 (aproximadamente) por show no Brasil em um gênero que se transformou em música pop ao longo dos anos. Mas, por que a dupla não segue o exemplo de diversos outros artistas brasileiros e tenta uma carreira internacional? A pergunta foi feita durante a entrevista que os goianos deram para o repórter Alexei Barrionuevo, da Billboard, e trouxe como resposta a barreira do idioma.

“Temos um pouco de medo de ter ilusões sobre uma carreira internacional, justamente por causa dessa barreira do idioma. Nossa música é musicalmente simples e obviamente não é Tom Jobim. É um público muito específico, um nicho”, revela Mateus.

E completa: “Nossa música é popular, nossa música é comercial. Mas se você tem essa barreira de não ser compreendido em termos de letras, é uma barreira muito grande para termos sucesso na construção de uma carreira internacional. E vimos vários exemplos de brasileiros – grandes artistas – que tentaram fazer uma carreira internacional e realmente não deu muito certo. E acreditamos que é por causa da barreira do idioma”.

Para eles, o desafio para o sertanejo ter mais sucesso fora do Brasil é a língua portuguesa. “Vivemos em uma ilha onde se fala português, e estamos rodeados pela língua espanhola por todos os lados”, destaca Jorge.

“Demoramos para absorver um pouco dessa cultura de nossos vizinhos. Talvez tenhamos uma conexão muito mais forte com a cultura anglo-saxônica do que com a própria cultura latina. Esta é uma ilha de dimensões continentais que ocupa boa parte do nosso tempo. Tocamos no exterior para pessoas que falam a mesma língua que nós. Vamos fazer shows fora do Brasil onde existem grandes colônias de brasileiros que imigraram daqui para lá”, completa.

Questionados pela Billboard se eles tem planos de cantar em outras línguas, espanhol ou inglês, por exemplo, Jorge foi objetivo em responder: “Agora não. Por enquanto, vamos nos concentrar neste português antigo”. Já Mateus brincou: “Vou matricular o Jorge numa aula de inglês para ele cantar em inglês. [Risos]”. E Jorge retrucou: “É complicado por causa desse sotaque aqui. Quando as pessoas ouvem brasileiros falando em outras línguas, parece assustador para elas”.

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Impactos da pandemia e separação do empresário

Durante a entrevista, a dupla foi questionada se a pandemia prejudicou ou ajudou, no que diz respeito à produção musical. “Para nós durante a pandemia, foi legal porque tivemos tempo para nos dedicar um pouco mais à definição do repertório na produção das músicas em termos de arranjos. Não tínhamos muito tempo com outros projetos”, revelou Jorge.

“Eu saía da estrada, a gente ficava um, dois dias no estúdio, sempre muito agitado, sempre correndo do estúdio e saindo na estrada de novo pra fazer show. Tivemos esse período mais longo durante a pandemia em que gravamos sem público, o que também foi diferente para nós… Conseguimos redirecionar esse sentimento de castração nos dedicando mais ao nosso trabalho”, completou.

O último álbum, “Tudo em Paz“, foi gravado no interior de Goiás, em Pirenópolis, uma cidade histórica com arquitetura tradicional e uma cordilheira sensacional. “Gravamos simbolicamente sob uma árvore típica do nosso estado. Nós escolhemos o local principalmente porque existem esses símbolos lá”, fala Mateus.

Foto: Divulgação

E finalizam abrindo o jogo sobre a separação oficial da dupla do seu antigo empresário, Marcos Araújo. “Pela primeira vez em 16 anos controlamos as rédeas da nossa empresa e da nossa marca. Mateus e eu somos muito parecidos. Temos que tocar em tudo – da agenda ao planejamento futuro e às principais decisões”, destaca Jorge.

“Somos nós que sentamos e trocamos ideias e resolvemos tudo. Quando você mora na estrada fazendo shows e se preocupa apenas com a parte artística, você fica um pouco alienado da parte administrativa [do trabalho]. … A pandemia deixou isso bem claro para nós. Se estivermos cientes de tudo o que acontece porque podemos planejar, não podemos ser pegos de surpresa. … Este é um momento maravilhoso de amadurecimento pessoal e profissional para a Jorge & Mateus”, completa.

Além deles, outros artistas se separaram do Araújo, como o Gusttavo Lima e o DJ Alok. “Acredito que seja uma tendência. Com todas essas informações, com toda essa globalização, a indústria da música hoje é muito mais honesta. Você pode ver quantas execuções sua música tem. A tendência é descentralizar o poder dos empresários e artistas que estão assumindo essa rede. Porque você não ganha dinheiro hoje em dia apenas nos shows. Obviamente, você ganha dinheiro com plataformas [de streaming]”, explica Mateus.

E Jorge completa: “Não vemos necessidade de intermediário. Se a longo prazo você constrói uma estrutura e bons relacionamentos, uma rede, isso torna mais fácil para você fazer as coisas. No final do ano, nossas principais contratadas no Brasil vêm ao nosso escritório conosco e formulam toda a agenda para o ano seguinte sem a necessidade deste gerente, este intermediário entre nós e a contratada presente nos shows. No final, conhecemos muitas pessoas, temos o know-how para fazer isso nós mesmos”.

De acordo com a dupla, a separação foi amigável. “Queríamos ir em direções diferentes. É como um divórcio amigável em que você não tem mais o relacionamento legal, mas existem outras maneiras de manter um relacionamento”, finaliza Jorge para Billboard.