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IZA fala sobre racismo: “se eu estiver no horário nobre da TV, mesmo calada, já tô dizendo muito”


IZA conquistou o horário nobre da TV Globo em 2019, tornando-se técnica do “The Voice Brasil” e rejuvenescendo a audiência. Para ela, o espaço é muito significativo. “As pessoas me veem em lugares onde não viam tantos negros e sempre perguntam: ‘Ah, você é militante?’. Eu não preciso ficar falando o tempo inteiro sobre as coisas. Se eu estiver no horário nobre da TV, mesmo calada, já tô dizendo muito”, declarou ao jornal El País.

(Foto: Divulgação / Rodolfo Magalhães)

A cantora sofreu na pele o preconceito, sobretudo antes da fama. Foi a única negra da turma no colégio, graças a uma bolsa de estudos conquistada por sua mãe, professora. Depois, ela conseguiu uma bolsa integral para a faculdade e foi estudar na PUC, ambiente dominado pela elite branca no Rio de Janeiro. Ela sabe que sua trajetória ainda é de exceção. “É complicado falar de meritocracia em uma sociedade que nem reconhece os movimentos abolicionistas da época em que a princesa Isabel assinou a abolição. Eu aprendi na escola que a escravidão acabou no momento da assinatura. Parece que a princesa libertou os escravos, quando, na verdade, o que aconteceu foi uma longa batalha travada por lideranças negras. Como é que você é livre sem condição de estudo, moradia e emprego? A gente vive esse reflexo até hoje. Só vamos poder falar em mérito no dia em que zerar o game, quando tiver aqui, ó [gesticula com as mãos na altura do ombro], todo mundo no mesmo patamar”, explicou.

Foi na escola que ela conheceu o racismo. “Quem é negro se percebe como tal antes mesmo de começar a se questionar sobre o racismo. As pessoas avisam pra você. Eu me percebi negra porque me avisaram. Mas que bom. Porque essa é a parte que eu mais gosto em mim. Tem gente que diz: ‘Por que vocês não tentam esquecer isso [o racismo]?’. Ia ser incrível se todo mundo também esquecesse. Na verdade, essa é a ideia: que um dia ninguém mais precise falar desse problema”, opinou a artista.

A orientação da família de IZA sempre foi clara: não abaixar a cabeça e combater a discriminação. “Meus pais nunca me ensinaram a conviver pacificamente com o racismo. Pelo contrário. Me ensinaram a sempre me levantar contra o preconceito. Se eu sofresse racismo na escola sete vezes, minha mãe ia sete vezes falar com a diretora. A gente jamais pode deixar passar. Temos que apontar o dedo para o que está errado. Minha mãe ainda me ensinou a enxergar o racismo como ignorância. Quem fala que racismo é ‘mimimi’, de alguma forma, também é vítima da própria sociedade”, observa IZA.