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Hit da Rebecca composto por Ludmilla vira tema de TCC de estudante da UERJ

“Cai de Boca no Meu B***tão” faz uma análise do funk como potência do empoderamento feminino.

Foto: Divulgação

O funk é um dos gêneros musicais mais feministas da atualidade. Desde o início do movimento, as mulheres usaram das batidas do funk para contar ao mundo sobre seu dia a dia e exaltar (às vezes exigir) sua liberdade e igualdade. E quando Ludmilla escreveu “Cai de Boca”, hit de MC Rebecca lançado em 2018, era exatamente com esse intuito. Mas mal sabiam elas que anos depois, sua música seria tema de estudo em universidade.

Foto: Divulgação

Nos últimos dias muito se falou sobre a estudante de Relações Públicas da UERJ, Tamiris Coutinho, e o assunto de seu TCC – Trabalho de Conclusão de Curso: “Cai de Boca no Meu B***tão”. Sim, uma referência à música escrita por Ludmilla e cantada por MC Rebecca.

Tamiris, que já apresentou o seu trabalho e recebeu uma nota 10 da banca julgadora, disponibilizou o texto em suas redes sociais, par quem se interessar em sua análise, que visa mostrar o funk “como potência do empoderamento feminino”.

E enquanto muita gente criticou o tema escolhido por Tamiris, levando o debate, inclusive, para dentro da atual polarização política brasileira, ela se mostrou super aberta ao debate e nós do POPline conversamos com ela para saber ainda mais detalhes sobre seu TCC.

Tamiris Coutinho contou sobre a inspiração para o estudo de seu trabalho, a reação da UERJ com o tema proposto e, claro, o resultado desse trabalho.

Como surgiu a ideia para esse TCC inspirado em “Cai de Boca”?

O funk sempre esteve presente na minha trajetória. Durante o curso de Relações Públicas da Faculdade de Comunicação Social da UERJ, nas disciplinas de Planejamento e Execução de Eventos, minha turma realizou o Liberta, DJ!, um evento acadêmico que tinha como objetivo levar o funk para ser debatido dentro da Universidade nos seus mais diversos aspectos. Naquele momento, soube que o funk seria o tema do meu trabalho de conclusão do curso. A minha motivação para fazer o recorte do funk feminino (que no meu trabalho refere-se aos funks cantados e interpretados por mulheres) surgiu da observação da música “Cai de Boca” e da recepção dela pelas mulheres. Percebi a entonação e a força que elas usavam para cantar o refrão e isso me chamou atenção. Fui pesquisar mais sobre a MC Rebecca e sobre o que as pessoas para além da minha bolha estavam falando e percebi que havia ali um desejo de liberdade, uma identificação. Entendi ali o quanto era importante estudar o assunto e evidenciar o que estava por trás dos versos da música. Seguindo essa lógica, estabeleci a linha de pesquisa para analisar a manifestação das mulheres cantoras de funk a partir dos conceitos de empoderamento feminino, elaborado e discutido por autoras como Nelly Stromquist e Cecília Sardenberg.

Como a ideia foi recebida na faculdade?

A Faculdade de Comunicação Social da UERJ é democrática, plural e respeita a manifestação das alunas e alunos. É uma universidade que incentiva a liberdade para construir posicionamentos críticos acerca do que acontece na sociedade. Isso inclusive define um bom pesquisador: a capacidade de observar o que está acontecendo, interpretar com a ajuda de teorias já estabelecidas e propor uma contribuição à construção do conhecimento. Não o contrário. Fui muito acolhida pela minha orientadora que acreditou na importância de trazer novos olhares para o tema e novos temas para o debate universitário. Durante a apresentação, recebi feedbacks valiosos sobre o trabalho, sobre minha iniciativa e sobretudo sobre a forma como consegui ao longo do estudo demonstrar que o que as pessoas enxergam simplesmente como o “putaria” está pautado em questões muito mais profundas. Durante a análise, pude constatar como os trechos fomentam, não somente a questão da autonomia na sexualidade, mas também o papel da liderança feminina, a sororidade (solidariedade entre mulheres), a presença da mulher no mercado de trabalho, a questão do poder aquisitivo e do empreendedorismo.

Qual foi sua nota na defesa?

Foi 10. Foi uma nota que reconheceu, além da escrita embasada e da metodologia bem estruturada, a minha ousadia e a relevância do tema.

Qual o saldo você tirou desse trabalho?

A construção deste trabalho me proporcionou experiências incríveis. Durante todo o processo de investigação, conheci e me conectei a pessoas maravilhosas. Um dos grandes acontecimentos tem sido a construção do Coletivo Funk no Poder, onde sou coordenadora de comunicação e uma das idealizadoras ao lado do articulador nacional do movimento funk, Bruno Ramos; da professora e escritora Juliana Bragança; dos pesquisadores Thawan Dias e Verônica Raal além de mais de 30 pesquisadoras e pesquisadores da cultura periférica brasileira. O objetivo desta articulação é movimentar o cenário político em direção ao reconhecimento da produção e do pensamento periférico que constrói o funk – essa manifestação social e cultural extremamente perseguida e criminalizada. Falando do recorte de gênero, a ideia é continuar fortalecendo as mulheres no funk e pensando nosso lugar, nossas questões e nossas problemáticas com todas as ferramentas disponíveis, algo que foi negado muitas vezes, principalmente às mulheres negras. O TCC é só o início de todo um projeto muito maior.

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