Madonna foi uma das muitas artistas que usaram as redes sociais para expressar seu lamento com relação à morte do DJ e produtor musical Avicii, de 28 anos. “Muito triste… muito trágico. Adeus, doce Tim. Foi cedo demais. #avicii”, ela escreveu no Instagram. Mas a verdade é que, em vida, Avicii acreditava que tinha decepcionado a Rainha do Pop. Ele foi um dos colaboradores do álbum “Rebel Heart” (2015), e o resultado não foi muito satisfatório, na opinião dele.
O trabalho deles resultou em 11 demos e sete músicas lançadas: a faixa-título, “Devil Pray”, “HeartBreakCity”, “Wash All Over Me”, “Messiah”, “Borrowed Time” e “Addicted”. Os dois dividiram créditos em composição e produção. Mas nenhuma das canções é realmente memorável, como você pode notar. Madonna mesmo não escolheu nenhuma dessas para single. Em 2015, o DJ confessou: “no começo do processo, nós estávamos na mesma sintonia, mas depois não fiquei feliz com as versões finalizadas. Eu acho que as demos eram melhores. Tem mais o meu estilo”. De fato, depois que Avicii se foi, Madonna entregou as canções para outros produtores finalizarem. Nomes como DJ Dahi, Blood Diamonds, Kanye West, Mike Dean e Charie Heat trabalharam em cima do material que os dois haviam criado juntos.
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Por que Madonna quis que outras pessoas terminassem o trabalho de Avicii? Uma pista veio em fevereiro deste ano. Em comentário no Instagram, a Rainha do Pop desabafou com o empresário Guy Oseary: “você se lembra quando eu fazia álbuns com outros artistas do início ao fim, e eu poderia ser visionária e não ter que ir a acampamentos de compositores onde ninguém pode se sentar por mais de quinze minutos?”. Quando ela e Avicii mergulharam no processo criativo das 11 demos, o DJ ainda desfrutava do sucesso de “Wake Me Up” e bombava com a música “Hey Brother”, o que significava uma agenda de shows insana (responsável por muitos dos problemas que ele admitiu mais tarde).
Madonna se aproximou de Avicii em 2012, quando promovia o álbum “MDNA”. Ele produziu um remix oficial de “Girl Gone Wild” e essa versão foi apresentada pela primeira vez no Utra Music Festival, em Miami, com a presença de Madonna no palco. Era uma moral. Na época, ele tinha um grande sucesso mundial, que era “Levels”. Tudo leva a crer que Madonna acreditou em seu trabalho e, depois, quis fazer o “Rebel Heart” inteiro com ele: o disco surgiu com o conceito de ser metade sobre rebeldia e metade sobre romantismo. Madonna não mente quando diz que esse sempre foi seu método de trabalho: se aliar a outro nome e conceber um disco completo. O “MDNA”, por exemplo, foi quase todo criado com Martin Solveig e William Orbit. O “Hard Candy” (2008), por sua vez, com The Neptunes. O “Confessions On a Dance Floor” (2005), com Stuart Price. E por aí vai. “Rebel Heart” foi seu primeiro acampamento de compositores e aparentemente não por uma opção própria.
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– Um processo simples tornou-se um processo muito complexo. – ela disse ao New York Times na ocasião do lançamento – Todo mundo com quem trabalhei em “Rebel Heart” é tremendamente talentoso, não há dúvidas sobre isso. É só que todos com quem trabalhei também concordaram em trabalhar com outras cinco mil pessoas. Eu tinha que encontrar onde podia me encaixar [na agenda alheia]. Eu nunca abandono a sala. Algumas vezes, acho que isso deixa os colaboradores com raiva. Tipo ‘você não tem que ir ao banheiro? Você não tem algum lugar para ir? Você não quer ir fazer uns telefonemas?’.
Em entrevista à revista Rolling Stone em 2017, Avicii relembrou a parceria que não vingou. Disse que os dois não se falaram mais depois do projeto e que amaria trabalhar com ela de novo, mas não acreditava que isso aconteceria. “O trabalho foi justamente quando eu estava mais ocupado, e acho que ela pode ter ficado decepcionada comigo por não estar tão disponível quanto ela queria. Muitas coisas começam a sofrer quando você não tem a energia ou o tempo para fazer as coisas apropriadamente. Você acha que pode se safar, mas a qualidade sofre”, declarou.