O termo designado para classificar a nova geração de cantores da música popular brasileira, ‘Nova MPB’, surgiu na década de 2000.
Desse período, até então, o mercado digital ajudou a trazer inúmeros artistas para o cenário popular em diversas vertentes. As possibilidades de criação são infinitas e nesse contexto surgiram os ‘duos musicais’.
Com um conceito singular, os ‘duos’ ampliam o significado das duplas musicais que, anteriormente, eram vistas como algo restrito ao gênero Sertanejo. Nos últimos quatro anos, o mercado musical presencia o nascimento de vários duos com um engajamento fiel dos fãs que crescem a cada dia.
Para analisar essa tendência, o Mundo da Música selecionou três nomes do segmento com diferentes características, que são duos: Anavitória (Universal Music Brasil), Mar Aberto (Independente) e novo duo, Amelie (Independente).
O MM bateu um papo com Amelie sobre a análise do mercado, estratégia, divulgação, novos projetos e o conceito que norteia o surgimento desse projeto. O duo analisa que o formato musical permite a experimentação sonora, mas, que “não é fácil e corriqueiro ‘viralizar’ “.
Confira o resultado abaixo:
Anavitória
Em 2015, tivemos o surgimento do duo ANAVITÓRIA, formado por Ana Caetano e Vitória Falcão. Em entrevista para a QUEM, elas falaram sobre o início da trajetória artística: “Comecei cantando de brincadeira em casa. Só foi virar uma coisa séria depois da Anavitória”, conta Ana.
“Fizemos três vídeos para publicar no canal que a Ana tinha no Youtube e o terceiro foi o que enviamos para o Felipe Simas (atual empresário delas) mostrar para o Tiago Iorc, de quem éramos fãs demais”, explica Vitória, que cantava na igreja desde criança.
O empresário e o músico gostaram tanto do som das duas que as convidaram para assinar um contrato no dia seguinte.
Atualmente, elas possuem mais de 620.684.416 milhões de visualizações em seu canal oficial do YouTube.
Inseridas no gênero do ‘Pop Rural’, as artistas lançaram recentemente o single ‘Perdoa’ que você pode conferir abaixo:
Mar Aberto
Amelie
O duo AMELIE nasceu da união musical e amorosa entre Maria Angélia e Rafael Haranaka. Um projeto que envolve composições autorais, covers e totalmente independente. O MM conversou com o duo sobre o mercado musical, estratégia e novos projetos.
Confira o resultado da entrevista abaixo:
MM – A considerada ‘Nova MPB’ trouxe um conceito singular para as duplas musicais – que anteriormente eram vistas mais no gênero do sertanejo – com o surgimento dos ‘duos’.
Vocês também visualizam essa diferença, principalmente, na forma de produção musical?
Amelie – Sim, com certeza. O nome “dupla” já automaticamente remete à ideia de “dupla sertaneja”. Por esse motivo, inclusive, o uso da palavra “duo” acabou ganhando a conotação de “dupla não sertaneja”.
Antigamente as duplas sertanejas tinham uma exibição pública mais engessada em relação ao papel de cada um no palco e na produção musical. Um cantava e o outro tocava violão e/ou fazia a segunda voz e era como se houvesse um papel central e o secundário, dentro da dupla.
Hoje, há uma liberdade maior de experimentação sonora – vocal e instrumental – e os dois integrantes do duo assumem o papel de “protagonista”.
MM – A união entre voz e melodia é um dos grandes elos do duo. Mas, esse ponto forte também pode ser visto como um desafio para manter a identidade dos dois em um single e nos shows?
Amelie – A ideia do nosso duo é justamente tentar misturar ao máximo as nossas funções. A gente quer explorar mais o lado cantor do Rafa e o lado instrumentista da Maria Angélica e o lado “tudo junto e misturado” de nós dois.
Justamente para que seja evidente no palco e nas músicas gravadas, que a Amelie não é a Maria Angélica cantando e o Rafael Haranaka tocando violão, mas sim a mistura das nossas ideias e habilidades.
Ao mesmo tempo que cada um tem o seu jeito, sua particularidade e aptidão maior àquela ou esta atividade musical, o quanto mais nós conseguirmos nos misturar e transformar a Amelie em uma unidade, mais perto estaremos do nosso objetivo enquanto um duo.
MM – Vocês optaram na denominação do duo como ‘Amelie’, que não possui referência direta aos seus nomes. Como foi a escolha desse título e de qual forma ele influencia na música de vocês?
Amelie – O nome “Amelie” foi inspirado no filme francês, “O fabuloso destino de Amelie Poulan”. Escolhemos esse nome porque foi a nossa primeira inspiração para compor juntos.
Estávamos assistindo ao filme e, inspirados pelo jeitinho Amelie Poulan de ser, saiu uma letra e melodia. Muita gente acaba achando que “Amelie” é o nome da Angélica, o que também não tem problema nenhum, porque seria um lindo nome!
MM – Com referências que vão de Toquinho à The Chainsmokers & Coldplay, vocês criaram uma trajetória de vídeos-covers no YouTube, por meio de um grande leque de estilos e possibilidades.
Vocês acreditam que é dessa forma que caminha o som do duo, ou teria um gênero específico no qual se identificam mais?
Amelie – É sempre curioso falar sobre as nossas referências porque somos muito diferentes, musicalmente falando. No entanto a gente consegue mesclar as nossas influências de uma forma muito harmoniosa.
Acho que a diversidade de estilos é sim o que norteia a nossa trajetória. A gente acredita que uma música boa vai além do gênero musical. Rafa, fã de heavy metal desde a adolescência, não consegue não se emocionar ouvindo “Evidências”; e Angélica, que cresceu ao som de Djavan, conhece todas as musicas do Black álbum do Metallica.
O processo de composição das nossas musicas envolve, primeiro, definir o tema. Depois que definimos o tema, quase sempre bem delimitado, Angélica escreve a letra e Rafa compõe a melodia.
Fazemos isso, geralmente, em momentos diferentes e separados pra depois nos juntarmos e irmos construindo e descontruindo juntos. E essa diversidade de bagagem musical torna essa experiência muito rica e com um potencial criativo enorme.
Às vezes rola uma letra e linha melódica à la Cartola, que se encaixa e se diferencia em riffs de guitarra sobrepostos em loop.
MM – Em agosto de 2017, vocês publicaram o primeiro vídeo do duo no canal do YouTube. Como tem sido a relação de vocês com o mercado da música durante esse início de trajetória?
Amelie – Muito antes do primeiro vídeo cover no YouTube, nós já tínhamos várias composições autorais. A partir do primeiro vídeo, nós mergulhamos de cabeça na produção dessas músicas pra posterior divulgação, além de manter também vídeos covers esporadicamente no canal.
Começamos com a contratação de um produtor musical, o Ricardo Marins, pra nos ajudar com a produção das músicas e gravação delas em alta qualidade. Fizemos o nosso primeiro clipe (da música “A carta) que foi totalmente independente e no qual fizemos absolutamente tudo, desde a concepção da ideia, roteiro, locação até a filmagem, atuação e edição.
Toda a parte de divulgação, até então, ficava por nossa conta através das mídias sociais, basicamente. Continuamos a produzir mais músicas e resolvemos contratar a nossa agente musical, Mônica Brandão, para ajudar com a entrada e divulgação do nosso trabalho entre os profissionais do ramo musical que não temos acesso.
No momento estamos batalhando por espaço em eventos musicais, rádios e festivais que estimulem, promovam e incentivem trabalhos nacionais autorais e independentes. No dia das mães lançaremos nosso próximo clipe da música “Maternal”. Produção igualmente independente.
Estamos ainda construindo o nosso caminho, solidificando conceitos e nos encontrando dentro do nosso universo. Músicas já produzidas, muitas em produção, sendo divulgadas através dos veículos que temos ao nosso dispor e à nosso favor, que são as mídias sociais.
Hoje o artista independente pode contar com essa possibilidade e ferramenta, mesmo que a caminhada seja árdua e longa. Não é fácil e corriqueiro “viralizar”. Não é simples nem barato tocar esses projetos pra frente, sem nenhum fomento que não seja o nosso próprio através de nossos (outros) empregos.
Mas tem sido uma caminhada intensa e feliz, muito feliz. Cada pequena conquista tem um sabor único e muito especial. A gente vibra muito por cada inscrito no canal, cada seguidor, cada comentário, cada música compartilhada.
Sempre que alguém se emociona com uma música nossa é um sinal e a certeza de que estamos no caminho certo. Porque qual é a função da musica, se não a de nos sensibilizar e de nos tornar pessoas melhores, não é mesmo?
Em comum, há a percepção da força do YouTube como impulsionador de um novo cenário na cena da MPB.
Com isso, o mercado aponta uma nova tendência no formato artístico de produção musical com inúmeras vertentes.
Sobre Amelie
O duo AMELIE nasceu da união entre Maria Angélica e Rafael Haranaka. Não só união musical mas a união amorosa foi o determinante para esse projeto ganhar corpo e alma.
Maria Angélica é médica, especialista em nefrologia e Rafael Haranaka é arquiteto e trabalha com design de móveis. Mas a paixão pela música sempre foi um ponto em comum de muito destaque na vida dos dois. Desde o início do namoro, todos os motivos eram motivos para serem celebrados musicalmente. Maria Angélica escrevia desde criança e tinha várias letras esquecidas em caixas. Rafael tinha um acervo enorme de melodias criadas por ele.
O nome da banda veio do filme “O fabuloso destino de Amélie Poulan” , que foi a inspiração para uma das primeiras composições do duo. A ideia era escrever sobre o filme, de forma não explícita, mas sim, capturando a essência lúdica, ingênua e leve do filme e transformá-lo em canção. E assim seguiram fazendo com tudo o que lhes inspirava: filmes, livros, viagens, momentos e relações.