A notícia da morte de Gal Costa, aos 77 anos, consternou o Brasil na manhã desta quarta-feira (9). Entre os grandes nomes da classe artística do país, Caetano Veloso e Gilberto Gil apareceram em link ao vivo na Globonews para prestar homenagem à amiga de mais de seis décadas.
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Em entrevista ao Estúdioi, Caetano lembrou de quando conheceu Gal Costa, apresentado por uma professora de dança que também intermediou o encontro do cantor com Dedé, com quem se casou. Grande amigo e fã da cantora, o artista contou que, assim que ouviu a sua voz pela primeira vez, disse que ela era a maior cantora do Brasil.
“Laís Salgado, que era uma professora de dança, falou comigo que tinha uma menina que cantava muito bem e que era vizinha se uma aluna dela, a Dedé (ex-esposa dele). Laís achava que Gal cantava bem e queria que eu ouvisse. Então, marcou um encontro e eu encontrei Dedé e Gal (…) Gal cantou e eu disse para ela assim: “Você é a maior cantora do Brasil”.
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Ele e Gal se identificaram pelos interesses musicais. Ambos gostavam de João Gilberto, e o filho de Dona Canô logo encontrou algumas virtudes do trabalho do cantor na personalidade artística de Gal Costa. “Tinha o espírito do essencial do João Gilberto, da novidade, da concentração, da suavidade..” Caetano também lembrou do disco “Domingo“, que gravou com Gal em 1967 e que marcou a estreia de ambos. “Tem muita beleza ali“.
A parceria rendeu vários projetos, incluindo a criação do grupo “Doces Bárbaros”, com Caetano, Gal, Maria Bethânia e Gilberto Gil. Além disso, o cantor compôs diversas músicas para a amiga. Inclusive, durante a entrevista, ele relembrou uma letra que escreveu para Gal Costa, e que, na sua visão, traduz perfeitamente a grandeza da artista. Ao declamar a letra, Caetano se emocionou e começou a chorar.
“Ao longo dos anos, eu compus muitas canções para Gal cantar a pedido dela, ela apenas me avisava que tava fazendo um novo disco, queria uma canção e eu sempre fazia. Tem uma canção cuja letra talvez responda a sua pergunta, que diz assim: “Minha voz, minha vida, meu segredo é minha revelação. Minha luz escondida, minha bússola e minha desorientação. Se o amor escraviza, mas é a única libertação. Minha voz é precisa, voz que não é menos minha que da canção”, declamou.
Caetano definiu a partida da amiga, aos 77 anos, como precoce. Ele acredita que Gal Costa ainda tinha muito a acrescentar no mundo e na música, e define a cantora como “uma figura libertadora”.
“Era uma mulher que era uma figura libertadora para as outras mulheres, para os homens, para todo mundo”, afirmou.
Gilberto Gil também foi um grande amigo e parceiro de Gal, ele confessou que, no primeiro momento, tentou segurar a emoção com a notícia da morte da companheira de longa data, mas não conseguiu. “Na hora que eu recebi a notícia, até me controlei, porque a morte faz parte da vida, a gente sabe disso. Depois, com a compreensão da grandeza dela, e da abrangência do que ela fez, do que ela fazia, da música que ela representava e da comoção que foi se revelando. Eu fui ficando..”, o cantor interrompe a sua fala e começa a chorar.
Eles se conheceram no mesmo período em que Gal encontrou Caetano. Inspirados pelo movimento da Bossa-Nova, os artistas trocaram figurinhas sobre a música brasileira e trabalharam juntos em diversos projetos. “Tudo por causa de João, né? Tudo por causa da Bossa Nova. Todos amávamos muito aquilo tudo”.
O artista lembrou da alegria e da suavidade de Gal, ele contou que eles brincavam que eram uma dupla caipira chamada “Giló e Gaúcha”.
“Tudo nela era doçura, era suavidade. Ela era uma pessoa muito suave e as memórias imediatas que vem são dessa doçura. O lado abrasivo da personalidade dela não tenho muitas memórias a respeito não. Uma vez ou outra ela se exaltava com alguma coisa, isso de vez em quando. Mas vociferando e com queixas extremas em relação a qualquer coisa da vida, isso ela não tinha. Era sempre muito suave, muito doce”, contou.
Assim como Caetano, Gil escreveu diversas canções para Gal. Na entrevista, ele lembrou de “Viagem Passageira”, uma composição que fala sobre vivências e partidas.
“Ela se queixou um dia comigo, que eu não tinha feito uma música para ela no dia anterior. Ela já estava tão habituada a ter canções nossas, minha e do Caê, para os trabalhos dela que ela disse: “Você não fez uma música para mim”. Aí eu fiz, né? E tinha essa coisa sobre a passagem, nesse sentido passageiro da vida, a mochila, de vivências que a gente carrega nas costas.”
Gilberto disse que estava ouvindo essa música hoje, após a notícia da morte de Gal. O cantor ressaltou a triste coincidência da música falar sobre despedidas. “Eu estava ouvindo hoje, ela cantando com um sentimento profundo que até é o tema da canção. O modo que ela desenrola, inspira, é no momento que ela vai, que ela se foi..”, finalizou o cantor, voltando a chorar.