Dessa vez, a coluna será menos aula e mais desabafo.
(Leia ouvindo a playlist):
Sim, estamos vivendo um momento tão peculiar, que me remete às pinturas de Dali, mas, por trás de um relógio derretido, se pararmos para pensar; o surrealismo tem um viés critico e de vanguarda logo, na verdade, estamos vivendo em pleno 2020 um movimento medieval mesmo.
Sabe, como advogada, na escola era boa aluna apenas nas matérias de humanas, e sempre me interessei pelos movimentos artísticos e as motivações por trás de cada transição.
Ouvi dia desses uma teoria de que: estamos em um momento onde as almas medievais estão reencarnadas e por isso, tamanha escuridão e crença em questões tão retrógradas como o terraplanismo, por exemplo, estão tão evidentes. E olha que o terraplanismo é o menor dos meus medos, a escuridão é maior. Confesso que, embora mística, sou bem cética e desconfiada mas, que tal teoria é tão surreal que se faz real. (Só espero que, como uma das minhas grandes amigas pontuou brevemente, consigamos migrar para o renascentismo.)
Mas o que isso tem a ver com música?! Bom, tudo.
Música é arte, música é cultura. Cultura é crítica e, como tal, deve ser rechaçada pelos preguiçosos e medievais. Voltando aos movimentos artísticos e culturais, da era medieval migramos para o renascentismo e logo em seguida, veio o Iluminismo que destacou o criador e dessa influência nasceu as grandes legislações autorais, hoje tão atacadas pelos medievais.
Sim, àquele que nos dá trilhas sonoras da vida está em risco, como maravilhosamente ilustrou o querido amigo virtual Sergio Jr em sua última coluna, me liberando assim, da missão explicativa e me permitindo apenas divagar sobre tamanha escuridão.
Fica aqui o exercício de pararmos para pensar: até que ponto esquecemos de que todos merecem sobreviver do seu ofício? Coletivamente, a música sempre é tida como livre – que é – mas que, para tal, esse criador deve, assim como um entregador de aplicativo tão defendido nas redes sociais; um garçom querido que será desligado, um comerciante local querido, ser defendido e remunerado para sobreviver e viver.
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Flavia Tendler é Advogada de Direito do Entretenimento com formação em propriedade intelectual, Direito autoral e especialização em Copyright e Vídeo Game Law pela universidade de Berkeley, Califórnia.
Possui 18 anos de carreira e atualmente é: Owner FT Direitos Autorais, Gestão & Consultoria, Membro da Comissão de Direitos Autorais, Direitos Imateriais e Entretenimento da OAB/RJ e Membro da Women in Music Brasil.