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“Five Foot Two”: como documentário preocupa todos nós sobre as incertezas da vida e carreira da Lady Gaga


Liberado na última sexta (22) na Netflix, o surpreendente documentário “Five Foot Two”, da Lady Gaga, chega apenas uma semana após o inesperado cancelamento do único show da turnê “Joanne” na América do Sul. Apresentação que seria no emblemático Rock in Rio e, certamente, elevaria a relevância artística da estrela para um outro nível aos olhos do público brasileiro.

Com registros a partir da pré-produção do álbum “Joanne”, no começo do segundo semestre de 2016, o doc. tem finalidade de mostrar o lado humano e do que se tornou a artista Lady Gaga, no corpo da jovem de 30 anos nascida Stefani Germanotta. Antes de entregar seu quinto álbum de estúdio, Gaga passou por momentos conturbados em sua carreira: a instabilidade da era “ARTPOP” e frustrações na vida pessoal contribuíram diretamente para o agravamento do lúpus. A enfermidade foi descoberta pela artista há poucos anos e o tratamento é extremamente delicado, pelo fato de ser uma doença degenerativa.

“Essa sou eu sem nada”, é assim que Lady Gaga nos apresenta o filme. É assim também, que com clareza, enxergamos a mulher por trás do ícone, do talento. As fraquezas, incertezas e dores são inúmeras, mas não muito diferentes das de uma mulher comum, das de qualquer mulher, afinal Gaga se faz real durante os 100 minutos do documentário.

Evidente que quando se leva uma vida de celebridade, especialmente após um sucesso meteórico, todas as sensações são elevadas a um nível infinitamente maior. Porém, mais uma vez, a artista se colocou ao lado de seus fãs, se igualou, mostrou que somos mesmo todos iguais e que a vida de qualquer pessoa é feita de altos e baixos.

Vê-la sem sua excentricidade e exuberância dos palcos traz calor ao coração de qualquer amante de sua música. É muito bom ver Lady Gaga trabalhar, mostrar o que sabe fazer, mesmo quando a vida nem sempre lhe entrega o que há de melhor.

Poderíamos encarar o documentário como uma humanização de uma estrela pop que luta diariamente com suas questões mentais e físicas, mas que ainda assim consegue tocar sua carreira. O fato é que o documentário é finalizado em fevereiro, logo após a elogiada performance no Super Bowl e o anúncio da turnê mundial. Os eventos da última semana não são relatados, o que transforma o projeto numa história ainda mais dolorosa, em especial para os fãs brasileiros.

A expectativa para ter a Lady Gaga, pela primeira vez no Rock in Rio, era absurda para qualquer fã dela: era a oportunidade perfeita para ela mostrar seu talento musical além das bizarrices que a tornaram popular há quase 10 anos. Trazer a turnê de um álbum essencialmente adulto, que bebe da fonte do country e do rock, impressionaria o público de mais de 100 mil pessoas, que não seria formado apenas por fãs. Dias após o cancelamento, Roberto Medina, criador do Rock in Rio, comentou que foi a Lady Gaga que quis entrar no line up do festival, ou seja, ela tem essa mesma leitura.

Todo fã quer seu ídolo amparado pela crítica e ter sua arte reconhecida. Nos últimos anos, Gaga deixou claro que era este seu objetivo. Tal prova o álbum de jazz, as performances no Oscar e não abrir mão de cantar ao vivo. O Rock in Rio seria um passo mais importante para conquistas artísticas, portanto não era apenas mais um show da “Joanne World Tour”, que foi parcialmente adiada para 2018.

Era esperado que agora Lady Gaga estivesse em turnê pelo mundo e saudável – na medida do possível. Isso não está acontecendo. Essa incerteza é um stress que ela, sua equipe e fãs do mundo todo estão tendo que lidar.

Em “Five Foot Two”, Gaga é verdadeira e mais uma vez nos conecta com ela de muitas maneiras. O que uma vez foi um grito de liberdade que saiu de sua garganta e das nossas, hoje se transforma em empatia. Não que antes não fôssemos capazes de sentir por ela, mas quando se tem essa coragem de vomitar os seus sentimentos mais íntimos em frente às câmeras, tudo fica mais intenso e palpável.

O que será o futuro da carreira profissional e da vida da Lady Gaga? Apenas não queremos perdê-la.

Por Mari Pacheco e Flávio Saturnino