Uma polêmica gerou muitas discussões nas redes sociais brasileiras nesta semana. A historiadora Lilia Schwarcz escreveu o artigo “Filme de Beyoncé erra ao glamorizar negritude com estampa de oncinha” sobre “Black is King” no jornal Folha de S. Paulo. O texto gerou uma repercussão negativa no movimento negro, que reclamou a falta de “lugar de fala” por parte de Lilia para falar sobre negritude enquanto branca.
Por essa razão, a filósofa negra Djamila Ribeiro, colunista do jornal há mais de um ano, escreveu um novo artigo dando a sua visão do trabalho. Em linhas gerais, Djamila revelou não ser fã de Beyoncé, mas respeitar o que ela representa para o movimento negro.
LEIA NA ÍNTEGRA O TEXTO DE DJAMILA RIBEIRO SOBRE “BLACK IS KING”.
Ao longo do texto, ela se manteve imparcial, mostrando pontos de erro e acerto no texto de Lilia, mas, para além disso, trouxe a repercussão entre outras acadêmicas negras, principalmente de países africanos, que também criticaram alguns pontos de “Black is King“.
Para Djamila, o grande acerto de Beyoncé foi visibilizar e trazer para o debate mundial expressões do movimento negro, mas que é necessário um pouco de cuidado ao afirmá-lo de forma uníssona, se esquecendo da pluralidade das culturas negras.
Veja trechos em que Djamila usa referências de outras acadêmicas negras sobre o assunto
“Eu não sou fã de Beyoncé, apesar de respeitar tudo o que ela representa. Ouço músicas em festas, mas realmente não é uma artista que me emociona. Mesmo assim, por várias vezes, me vi envolvida em discussões em que a defendi. Não é uma questão do que eu gosto ou deixo de gostar, é uma questão de honestidade no debate”.
Sobre o lugar de fala de Lilia, Djamilla declara: “E aí se aplica a discussão sobre lugar de fala. Porque, de seu lugar social, Lilia não conseguiu enxergar essas experiências que são centrais na vida das mulheres negras. Isso quer dizer que Beyoncé não pode ser criticada? Óbvio que não, mas é necessário compreender o lugar do qual se parte para fazer uma crítica verdadeiramente honesta“.
Por fim, a filósofa referencia outras acadêmicas negras, que também criticaram o filme de Beyoncé: “Entendendo lugar de fala como lugar social, li artigos de estudiosas africanas sobre o clipe, como as críticas apresentadas pela nigeriana Boluwatife Akinro, mestranda em estudos americanos na Universidade de Padeborn, na Alemanha. Ela escreveu um artigo intitulado “Beyonce and the heart of darkness” em que refuta o que chama de “americacentrismo em relação à África” sobre o filme “O Rei Leão”.
Para além de um artigo positivo ou negativo, o que Djamila Ribeiro tenta fazer em seu texto é tornar a discussão sobre “Black is King” mais ampla e com a presença de várias vozes:
“Já Judicaelle Irakoze, afro-feminista nascida em Burundi, no seu artigo “Por que devemos ter cuidado ao assistir ‘Black Is King’ de Beyoncé”, por mais fã da cantora que seja, faz um questionamento: “É possível imaginar que os humanos africanos são dignos se não forem reis e rainhas, envoltos em ouro e diamantes? Estamos dizendo que nossos ancestrais não deveriam ter sido escravizados porque eram reis e rainhas e não simplesmente porque eram humanos?”.