Filipe Ret

Filipe Ret faz jus ao título de seu novo álbum “Audaz” e revela sonho em tocar no Lollapalooza Brasil

Rapper também mira em Anitta como inspiração para o mercado internacional.

“Audaz” é um adjetivo que classifica alguém que demonstra audácia. Também é uma palavra usada para descrever pessoas corajosas e arrojadas. E qualquer uma dessas qualidades se aplica a Filipe Ret, ídolo dos morros cariocas há quase uma década e um dos fenômenos da cena nacional. O rapper trocou uma ideia com o POPline sobre seu terceiro álbum, Audaz, lançado em agosto pela Somlivre em parceria com a Tudubom Records. Aos 33 anos e pai de Théo, que completa um ano no dia 20 de setembro, Ret fala sem rodeios sobre os próximos passos da carreira, menciona Anitta e sua investida no mercado internacional e, claro, sobre música de um modo mais amplo. Amadurecido, se diz pronto para levar seu som a um número maior de pessoas. “Um dos meus sonhos é tocar num desses grandes festivais como o Lollapalooza. Acho muito foda! Quero ampliar mais e mais o meu som. E quanto mais gente ouvir, melhor”, revela.

Filipe Ret e o “novo líder”, o filho Théo, que completa 1 ano em setembro

POPline: Parabéns pelo novo álbum, apontado por muitos como um dos melhores do ano. Não é um trabalho tão óbvio, musicalmente falando. Vai do hip hop ao ragga, transita pelo proibidão e chega no trap atual. De onde vem esse caldeirão de referências e até onde pode ir?
FILIPE RET: Eu sou um cara que sempre curtiu experimentar porque o rap permite isso. É um trunfo musical que permite você se adaptar a outros gêneros. Gabriel O Pensador, Marcelo D2… todos eles já dialogaram com outros estilos. Meu som também tem muita essência de funk raiz, principalmente neste novo disco. Eu, como carioca, descobri o rap através de vários funks como o “Rap do Silva”. O primeiro rap que conheci na verdade era um funk melody. Então, todo carioca da minha geração entende que o rap tem essa influência do funk de antigamente. Nesse disco eu resgato muito a minha essência do que eu conhecia como rap antigo.

Por causa dos streamings, o público parece estar mais interessado em singles e nas playlists mais bombadas. O quanto é importante para você, enquanto artista, construir uma obra completa em 2018? “Audaz” foi apresentado como o último capítulo de uma trilogia que começou em “Vivaz” (2012) e “Revel” (2015).
Na verdade é um lance de romantismo nosso. A gente que faz rap – e não as músicas mais próximas do povo como o sertanejo e o funk atual – temos essa relação com o disco. Entro bastante no Spotify, mas para ouvir álbuns completos. De certa forma, está voltando à moda esse lance dos discos completos. Não sei se esta percepção rola por causa da galera que anda comigo. Não acredito que o disco “morra” algum dia. Eles são uma referência, marcam uma época para os artistas. Eu sou apaixonado por essa busca e acompanhamento de discografias.

O que você esteve ouvindo durante as gravações do “Audaz”?
Ouvi muito Tim Maia e Jorge Ben. Mas tô ligado nesse trap novo, tô sempre escutando pra me manter atualizado. Também estive ouvindo uns discos mais antigos do Snoop Dogg e tem uma musicalidade mais soul ali, mais rica. Sempre transito por este universo. Meu DJ Mãolee também curte muito. Eu comecei a fazer minhas rimas em 2003, na Batalha do Real, que rolava na Lapa. Sou do Catete, bem perto dali. Quando eu era moleque, a gente andava muito pela rua e curtia músicas que saudavam as localidades, as favelas, tá ligado? É algo cultural do Rio de Janeiro. Foi uma parada que peguei por osmose e trouxe pro meu trabalho. Hoje a molecada não anda tanto por aí e talvez seja culpa dos celulares que deixam os caras presos num mundinho virtual.

São várias participações neste disco (Flora Matos, MC Deise, BK’, MC TH), mas conta pra gente como rolou o convite pro Marcelo D2.
Eu já sou parceiro do D2 há bastante tempo. E curiosamente, “Maconha” foi meu som que saiu mais rápido. Foi que nem fumaça. Tinha uma batida bem crua e quis manter ela assim. Pedi pra acelerar um pouco os beats e improvisei o refrão ali na hora, quase que inteiro. Tinha aquela brincadeirinha com um funk que dizia “bebo cachaça”. Daí resolvi fazer outra com “fumo maconha”. É um nome bom pra se fazer uma música. E daí quem poderia chamar pra fazer essa comigo? Meu nome “Ret” já é associado à maconha. Aí chamei o D2. Mandei um whatsapp pra ele já com a minha letra. Ele demorou alguns minutos pra me responder, mas quando veio a mensagem, já veio com áudio. Era ele mandando a parte dele. Só demorou um pouco pra ele ir lá gravar, mas a composição foi bem rápida.

Com quem você tem vontade de fazer uma parceria e que ainda não rolou?
Cara, tem MV Bill, tem também o Gabriel O Pensador, que foi o primeiro cara que me chamou atenção fazendo rap mesmo, falado. Mas os principais expoentes pra mim são Mano Brown, em São Paulo, e D2 aqui no Rio. Então, hoje te responderia que o Brown seria esse cara. A gente até troca uma ideia de vez em quando. Quem sabe, de repente, não surge. Mas a parada tem que fluir naturalmente.

Tem alguma faixa que seja a sua preferida, que você quer muito que o público preste atenção?
Todas tem um experimentalismo por trás da criação, são muitas influências misturadas. Mas gosto muito de “Santo Forte”. Foi um som que eu trouxe umas montagens de funk com batidas de trap, mas cantadas de uma forma meio funk.

Não tem como não falarmos de “Gonê”, que é genial. Pra quem não tá ligado no que é a linguagem TTK pode achar que é um outro idioma, mas pra você é algo intuitivo.
Essa foi outra que saiu bem rápido. Escrevi dentro da van. É até difícil dizer o que inspira a gente nesses casos. O Catete se tornou um celeiro, de certa forma, do nosso nicho. Hoje aqui você tem o DK, Sain, Akira, tem a rapaziada do bloco 7, uma galera bacana. Acredito também ter influenciado um pouco isso, divulgando muito o nome do bairro. Queria fazer essa homenagem. E aí resolvi fazer uma música em TTK e saíram três versos logo de cara. Até hoje a gente se comunica nessa linguagem. É uma parada de cumplicidade, tá ligado? Quando a gente não quer que as pessoas ouçam, a gente manda em TTK com a equipe porque eles entendem.

No vídeo de “Santo Forte” você foge da estética dos clipes de hip hop e mostra personagens reais que falam sobre feminicídio, preconceito e intolerância. É um Ret mais maduro, mais preocupado com o próximo e com o futuro que a geração do seu filho possa ter que encarar?
Com certeza. Todo homem vive isso quando tem filhos. Eu costumo dizer que antes enxergava em 3D e agora enxergo em 4D. Você vai além da sua vida, tudo fica maior. O universo se expande quando você tem um filho. E o “novo líder” foi um simbolismo pelo nascimento do Théo, mas também é pra todo mundo que se sente líder do próprio destino, do próprio futuro. E eu quis trazer mais histórias pra dentro dessa música. Quis ampliar um pouco mais essa gama de eventos, não só colocando minha história e de meu filho, mas mostrando outras pessoas. Me mostrar menos egocêntrico. O rap transformou minha vida porque eu ouvia outros rappers sempre cantando em primeira pessoa, e isso fazia com que eu me sentisse cantando aquilo como se fosse minha verdade. A pessoa quando ouve rap, se coloca no lugar do MC e aquilo transforma a autoestima da pessoa.

Após “Santo Forte”, já escolheu o próximo single? Vai ter clipe?
Estamos na expectativa e já produzindo o próximo clipe. Na verdade estamos trabalhando em três músicas. Fica até difícil falar agora qual será a próxima música de trabalho. Mas já saiu uma palhinha da que eu fiz com a Flora [Matos]. É uma das possíveis. Tem muita coisa correndo junta aqui, mas logo vai sair. Sabe como é, pra fazer clipe é um bagulho suado, a gente depende de muita gente, de diretor, roteirista, figurinista. Quando tem participação de outros artistas depende da agenda deles. Mas tô na torcida pra que saia ainda este ano.

Agora que o “Audaz” tá na rua e os shows estão rolando, você já pensa naquele próximo degrau da carreira? Se aproximar de uma audiência mais pop, dialogar com uma outra galera, tocar para públicos maiores, uma possível investida no mercado internacional?
Bacana a pergunta. Eu penso nisso toda hora, na verdade. A gente sempre fica entre aquilo que a gente ama fazer e aquilo que comercialmente a gente deve fazer. Isso acontece com todo mundo. Acho que naturalmente, se tiver de rolar uma faixa mais comercial, mais pop, ela vai acontecer. Já fiz participação com a Ludmilla. Não vejo problema nisso. O lance é ter verdade ali. Se esse for o caminho, estou aberto pra que aconteça. Quanto a conseguir trabalhar no mercado lá de fora, é um pouco mais complexo. A Anitta tá conseguindo, né? Quem sabe eu não chegue lá? Vamos trabalhar pra isso, embora seja mais difícil pro rap. As pessoas não estão muito acostumadas a ver o cara falando de uma forma mais agressiva, mas a juventude está curtindo. Acho que podem rolar shows lá fora em breve.

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