O reflexo do momento atual para o mercado do entretenimento atingiu em cheio os grandes festivais. A maioria dos eventos precisou ser cancelado, enquanto alguns resistiram e mantiveram suas atividades online. O Festival Radioca, um dos principais eventos da cena alternativa do país, que acontece em Salvador (BA), foi um deles.
Este ano, o projeto, que sempre promove uma curadoria de shows com nomes de peso da música contemporânea brasileira, decidiu mobilizar atenção para o setor musical, em meio ao pior momento da pandemia da Covid-19 no Brasil, de forma online.
Com o exclusividade para o POPline.Biz é Mundo da Música, a produção do evento revelou que promoverá três ações em prol da música. A primeira delas é voltada para as casas de show soteropolitanas que estão fechadas há um ano e sem geração de renda, a campanha intitulada #EuAbraçoNoSSAsCasas.
A segunda será uma programação totalmente online e gratuita de atividades de formação, com oficinas, palestras e debates, de 29 de março a 2 de abril, reunindo profissionais como Dani Ribas (SP), Evandro Fióti (SP), Felipe Cordeiro (PA), Heloisa Aidar (SP), Livia Nery (BA), Melina Hickson (PE) e gestores de espaços culturais da capital baiana.
“É importante que profissionais em todos os setores se mantenham atualizados diante de novas demandas, mudanças no mercado e as novidades que surgem a todo tempo. Especificamente no mercado da música, essas mudanças são frenéticas, o que força ainda mais que os profissionais se mantenham a par de novos modos e tecnologias e dos impactos em seus segmentos”, revela Luciano Matos, um dos curadores do Radioca.
Para Luciano, há carência de formação, ou ao menos de atualização de formação, em boa parte do país. “O Nordeste e a Bahia têm um potencial gigantesco, um mercado forte, mas que pode ser ainda mais capacitado. Queremos contribuir com isso, oferecer mais opções na formação, ajudar a preparar melhor o mercado. Isso é crucial para o desenvolvimento do setor, o que afeta toda a cadeia e contribui para que tenhamos um cenário mais sustentável”, completa.
Numa segunda fase, o projeto vai lançar o doc show “Rede Radioca – NoSSAs Casas”, com dois filmes que vão documentar histórias da cidade e dos universos culturais que a compõem, tudo em torno de shows de seis atrações que recortam diferentes estilos, gerações e representatividades baianas, apresentando relevantes nomes da música do estado.
O projeto tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
Campanha
O “Rede Radioca – NoSSAs Casas” provoca a atenção pública e reúne quatro espaços de Salvador para representar o setor, selecionados pela diversidade de seus perfis, atuações e regiões onde se localizam.
Os beneficiados pela campanha #EuAbraçoNoSSAsCasas serão: Casa da Mãe, situado no famoso e boêmio bairro do Rio Vermelho, Mercado Iaô (Ribeira), Senzala do Barro Preto (Curuzu), a casa do Bloco Afro Ilê Aiyê, e Teatro Gamboa (Aflitos).
A campanha estará disponível em www.radioca.com.br/nossascasas de 22 de março a 4 de abril, onde as pessoas sensibilizadas pela causa e com condições de colaborar podem fazer doações de valores entre R$ 10 e R$ 1 mil.
Atividades de Formação
Em todas as suas edições, o Festival Radioca promove atividades de formação como parte do seu propósito de desenvolvimento da cena da música na Bahia. Enquanto ainda não se tem previsão da viabilidade da retomada do evento anual, o “Rede Radioca – NoSSAs Casas” incorpora esta frente e realiza, de 29 de março a 2 de abril, uma programação totalmente online e gratuita com esta finalidade.
“Pensamos em alguns gargalos, algumas questões e temas que mereciam um maior aprofundamento, que percebemos que tem demanda no meio musical. Quanto aos nomes, pensamos em profissionais que não apenas tinham um trabalho relevante e importante, mas também que já tinham encaminhado a discussão do tema, seja em cursos já prontos ou experiência na discussão deles”, conta Luciano.
Serão duas oficinas: uma de “Produção musical caseira para iniciantes”, com a cantora, compositora e produtora musical Livia Nery (BA), numa turma de 15 participantes, com três encontros nos dias 29 e 31 de março e 2 de abril, das 18h às 21h.
A segunda é de “Direitos autorais”, ministrada por Heloisa Aidar (SP), empreendedora no mundo da produção musical, Managing Director da Altafonte, com 40 vagas, no dia 29 de março, das 18h às 19h30.
As inscrições para seleção ficam abertas de 22 a 26 de março em www.radioca.com.br/nossascasas e as aulas acontecem em salas privadas na plataforma Zoom Meeting.
Completando a grade, uma palestra, um bate-papo e um debate são abertos ao público, transmitidos ao vivo pelo Canal de YouTube do Radioca. No dia 30 de março, das 19h às 21h, a consultora e pesquisadora Dani Ribas (SP), doutora em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialista em Gestão e Políticas Culturais pelo Itaú Cultural, realiza a palestra “O que as pesquisas sobre mulheres na música têm a nos dizer?”, em que vai apresentar pesquisa que traz uma nova perspectiva para a discussão sobre equidade de gênero no setor musical no Brasil.
A pesquisadora ainda trará números sobre as barreiras de acesso e desenvolvimento profissional impostos às mulheres e o perfil das trabalhadoras, sendo feita uma análise sobre as condições de trabalho. Um dos tópicos é a informalidade na área; outro é a relação entre horas trabalhadas, renda, escolaridade e comprometimento com a carreira.
Já o bate-papo “Empresariamento artístico” reúne o agenciador e artista Evandro Fióti (SP), sócio da Lab Fantasma ao lado do irmão Emicida, o artista Felipe Cordeiro (PA) e a produtora e agenciadora Melina Hickson (PE), Diretora do Porto Musical e empresária da Tássia Reis, no dia 1º de abril, das 19h às 20h30.
Para entender o campo do agenciamento de carreira e empresariamento artístico, os participantes falam de suas experiências e de inovações. Na pauta, estão temas como funções exercidas, captação e geração de recursos para sustentabilidade, desafios do setor e amostragem de cases.
Por fim, no dia 2 de abril, das 19h às 20h30, o debate “Como estão as NoSSAs casas? Encontro de gestores de espaços de música de Salvador” convida um diverso time de gestores de espaços culturais da cidade para esta reflexão. Anderson Dentinho (Trapiche Barnabé), Cadu Mesias (Bombar), Maurício Assunção (Teatro Gamboa), Rose Lima (Teatro Castro Alves) e Vince Athayde (Commons) buscarão responder a perguntas como: qual o impacto que as casas de shows sofrem quando as aglomerações estão suspensas? O que significa o fechamento desses espaços num futuro pós-pandêmico? Neste encontro inédito, o público saberá como eles estão enfrentando o momento e quais os seus planos.