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Especial Rouge – Parte 3: análise da cena pop atual e a grande pergunta – “Luciana se identifica ou não com o som do grupo?”


Lu corre para a porta do escritório para fazer um vídeo mostrando que a maioria dos funcionários já deixou Sony Music, e o grupo segue lá trabalhando. O Rouge está na sede da gravadora desde antes do almoço. São cerca de 21h30 e não há previsão para ir embora. Li desaparece e volta com a pequena Antonella no colo: a bebê de somente cinco meses é quase uma sexta integrante do Rouge. Aline pede uma pausa para ir ao banheiro. Karin, que já não faz questão de disfarçar seu cansaço apesar do bom humor, reconsidera a ideia de emendar os compromissos em uma festinha com as meninas: “acho que não vai dar, né?”. Fantine, por sua vez, se anima ao ouvir alguém falar sobre encomendar um lanchinho: “eu ouvi lanche?”.

Nossa entrevista especial com o Rouge, dividida em três partes, chega ao fim com essa cena. Neste fim de semana, a girlband também encerrou a série de shows “Chá do Rouge” – parceria com a festa gay “Chá da Alice”. Com isso, finalizou sua agenda de 2017, que culminou com a distribuição de seu catálogo de quatro álbuns de estúdio nas plataformas digitais – um pedido antigo do público. “Ragatanga” alcançou o Top 50 do Spotify e o primeiro álbum, autointitulado, é Top 5 no iTunes e na Apple Music. Está bom, mas ano que vem tem mais. Para janeiro, é previsto o lançamento do single novo – apelidado de “Bailando”. Um clipe também está a caminho, assim como a aguardada turnê nacional, “Rouge 15 Anos”. O Rouge está mais do que vivo: está bombando!

Qual a opinião de vocês sobre o pop nacional atual?

Lu – Está demais. Eu gosto muito. Ele tem um espaço hoje, está muito maior. Eu acho que a gente meio que desbravou. A gente foi até questionada se era de verdade ou não, se o que a gente fazia era de verdade ou não…

Como assim?

Lu – Se a gente era fabricada, se a gente era artista de verdade, e hoje a gente vê que sim, porque marcamos uma geração. Só que hoje o pop é muito maior do que na época que a gente surgiu.

Fantine – O pop ganhou muita credibilidade até mesmo pelas mulheres poderosas que subiram no palco como artistas pop. Antes eram artistas do jazz, do rock, que vinham com uma força maior. Tinham nomes como Janis Joplin e Sade, músicos com credibilidade por sua sofisticação musical. O pop ganhou essa sofisticação por ter figuras extremamente competentes. Se a gente comparar a desenvoltura vocal de Britney Spears com Beyoncé, que veio como artista solo, explodindo… Toda essa gama de mulheres poderosas – Shakira, Beyoncé, P!nk ganhou força. O empoderamento da mulher, o movimento feminista, o empoderamento gay, do público que consome esse perfil de trabalho, tudo isso ganhou uma voz muito maior, que valorizou e empoderou o pop em si. Foram esses dois caminhos: o público empoderou o artista, e o artista cresceu.

Lu – Só para concluir: eu acho que o pop está mais fod* no mundo, não só no Brasil. Hoje, eu estava com a Fanta no quarto e tocava uma música boa atrás da outra – Dua Lipa, Justin Bieber…

Li – A qualidade do pop está muito melhor.

Lu – No mundo, não é só no Brasil.

Fantine – Isso é muito relativo, né? Se a gente ver o Michael Jackson, o que esse homem compôs. Ele foi o Rei do Pop. Ele é o Rei do Pop. E isso está há muito tempo no mercado.

Karin – Nesse hiato, a música sertaneja se tornou pop, e acho que isso se deve a várias coisas, inclusive políticas. O brasileiro passou a olhar para o Brasil, se conhecer como brasileiro, cheio de misturas, e valorizar as coisas. Acho que também foi consequência disso, sabe?

Quando vocês pensam no som do Rouge, que artistas são influências ou referências para vocês?

Fantine – Nossa! Inúmeros!

Lu – Amo Taylor Swift! Katy Perry também. Justin Bieber! Conheço pouco da Dua Lipa, mas o que conheço gosto muito.

Karin – É difícil dizer, porque eu gosto de tudo. Sou insuportavelmente eclética. Hoje estou querendo sair para dançar as coisas pop que estão tocando – de música sertaneja a funk, tudo. Sou muito aberta, graças a Deus.

Aline – A Karin sempre traz muita coisa pra gente. Às vezes, a gente está ‘desantenada’ e ela apresenta.

Karin – A Aline fez um trabalho muito bacana, que eu tive o privilégio de assistir: um show na casa dela, super especial, “Indômita”, um trabalho incrível. A gente estava super emocionada e ela me disse: “amiga, você faz parte disso, porque lembro que você chegou com um álbum da…” da…? Como era aquele cara? (cantarola) Sam Smith! Alice Caymmi. Aí ela falou “cara, é isso! Estou sempre buscando coisas novas, e gosto muito de música”.

Fantine – De música, sem julgamento.

Karin – Nenhum, nenhum! Eu posso ir a show com todas as coleguinhas. Vou no rock, no jazz, no folk… vou em todos!

Na época, vocês gravaram com o KLB. Hoje em dia, se pudessem escolher, com quem gostariam de gravar?

Karin – Nossa, tanta gente, eu acho.

Lu – Eu queria gravar com a Anitta.

Ela era fã de vocês. Ela gravou um programa com você, né Li?

Lu – Vocês se conhecem?

Li – A gente se conheceu no “Programa da Sabrina”.

Karin – Eu acho que a gente está em um momento de se reestruturar no mercado, de se achar no meio dessa história, antes de qualquer coisa, antes de fazer convites.

Luciana, você disse durante todos esses anos que saiu do Rouge porque não se identificava com o som. Qual a sua relação com esse mesmo som agora?

Lu – A gente muda, né? Quinze anos atrás, tinham muitas coisas envolvidas, que eu não gostaria, não gosto e nunca quis colocar, me expor na mídia, expor os meus motivos pessoais. Quando a gente coloca isso para as pessoas, elas transformam, isso aumenta, e eu não quis me expor. Quis me preservar, até porque estava muito frágil. Tinham músicas, sim, que eu não gostava tanto no Rouge, mas a maioria eu gostava. Esses motivos, além da música, me fizeram desistir. Desistir, não. Escolher um caminho onde eu pudesse me preservar e me proteger, porque eu me sentia muito desprotegida naquela época. Foi isso que eu disse, para não me estender. Mas uma coisa é fato: se eu não gostasse, não estaria aqui feliz hoje, com o brilho no olho que estou, porque não faço nada que não gosto ou não quero.

Falando disso, quando a gente publicava matéria sobre o Rouge e, principalmente sobre os rumores de retorno, víamos fãs com muita raiva de você nos comentários – tipo “Luciana ingrata”. Mas, quando você voltou para o grupo, parece que essas pessoas esqueceram que te odiavam. Nos shows, o que se vê é todo mundo muito feliz e emocionado.

Lu – Foi essa a sensação que eu tive também. Eu não me apego muito ao que os outros pensam de mim.

Você era meio alheia à Internet também, né?

Fantine – Talvez precisou ser, com tanto ódio rolando.

Lu – Era. Eu me isolei mesmo.

Fantine – O ódio das pessoas era agressivo.

Lu – Eu, na verdade, senti o ódio das pessoas quando houve a volta em 2012. Antes, o que vinha até mim era muito amor, apoio, “onde você está, eu te acompanho”, “você está lançando algo?”, “por que não?”, era muito amor. Quando o Rouge voltou [no Fábrica de Estrelas] e eu disse não… Tive que me posicionar a pedido do Rick Bonadio, na televisão. Foi um pedido dele. Eu me posicionei, e sofri muito bullying na Internet. Aquilo foi muito pesado. Mas, ao mesmo tempo, me transformei e me tornei mais forte. Mas eu realmente não me importo muito com o que dizem. Desta vez, só recebi amor e apoio. Não dá para você levar muito a sério uma pessoa que te critica na Internet, porque ela está colocando o ódio das frustrações dela, sendo que se protege [a identidade] ali. Não dá para levar muito a sério.

Imagino que pessoalmente ninguém nunca te falou nada.

Lu – Ninguém. Ninguém teve essa coragem.

Fantine – No fundo, no fundo, essa expressão de ódio não deixa de ser amor. Na verdade, é um profundo desejo de ver a Lu no Rouge, de poder dar esse carinho e esse carinho ser frustrado. “Eu quero tanto que ela esteja e ela não vai estar”. Não deixa de ser amor também.

Fantine, aproveita que você está com a palavra e me diz: qual vai ser a logística para fazer turnê em 2018 morando na Holanda?

Fantine – Não faço ideia. (as outras riem) Estou morrendo de saudade da minha filha. Essa é a coisa louca de morar fora do país, que acontece com todo expatriado: a gente sai, vai em busca de um novo sonho, uma nova vida, mas o coração sempre fica dividido. Eu estou lá, mas com a cabeça no Brasil, eu estou aqui, mas com a cabeça lá.

Lu – Você nunca esqueceu o Brasil, mesmo estando lá.

Fantine – Eu sou o Brasil, o Brasil sou eu, está no sangue. A separação nunca acontece. O distanciamento é real, é físico. Desta vez, eu vim deixando uma filha chorando lá atrás. Depois da gente ter ficado longe cinco semanas, passei três semanas com ela e vim para passar mais cinco semanas aqui. Ela me deixou chorando no aeroporto, supertriste, e é bem difícil lidar com esse tipo de emoção. Mas eu não posso deixar que isso me faça questionar meu trabalho, porque às vezes as emoções misturam e eu falo “será que realmente quero esse trabalho?” e eu sei que quero, pela forma que vim aqui na primeira vez. Eu sei o quanto amo e quero fazer esse trabalho. Eu preciso ter ela perto de mim. Uma filha precisa de uma mãe. O Rouge é um filho, e a Cristine é outra filha.

Lu – Fica com a gente também! Não larga nós, não!

Fantine – É difícil. Um filho no Brasil, a outra na Holanda.

Karin – Seria muito bom se estivesse todo mundo junto: a Cristine, a Antonella, o Antônio…

Para terminar, o retorno do Rouge tem prazo de validade?

Li – Não sabemos! (risos)

Lu – Deixa acontecer.

Fantine – Nós não estabelecemos um limite. O que estamos fazendo é fluindo, com nosso desejo de trabalho e com a demanda por um trabalho. Temos muito para oferecer, muito amor pelo que fazemos, e temos por outro lado uma demanda com muito amor também, então queremos retribuir esse amor da melhor forma possível. Tanto que vale a pena sair de outro país, deixar minha filha esperando, porque isso aqui é precioso demais. Precisa ser feito. Todo mundo está ajustando os parafusinhos que precisam ser ajustados para que esse trabalho flua e seja feito da forma mais feliz possível.