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Especial Rouge – Parte 2: identidade musical e ideias para músicas, DVD, livro, musical e turnê nova


“A Aline está chorando? A Aline está chorando!” – do lado de fora da sala reservada para o ‘live’ no Facebook, funcionários da Sony Music se surpreendem com a reação da cantora ao cantar “Hoje Eu Sei” com o restante do grupo. Um membro da equipe da gravadora chega a lacrimejar também. Todos já tiraram fotos com a girlband: o quinteto fez parte da infância e adolescência de muitos ali. Fora do escritório, outros 2,5 fãs assistem à transmissão ao vivo, mesmo sendo hora do rush, em que a maioria das pessoas está em trânsito de volta para casa. “Isso é muito?”, pergunta a Karin Hils. A gravadora garante que sim, que é um dos melhores resultados que já tiveram no Facebook. “A gente não está ultrapassada, então?”, brinca Lu Andrade. “Vocês têm que explicar pra gente, porque a gente não tem muita noção se dois mil é pouco ou muito”, diz Li Martins. Se restava alguma dúvida, o Twitter tira: a hashtag #RougeNaSony permaneceu no topo dos trending topics mesmo após o fim da transmissão em vídeo.

O grupo tem esgotado ingressos para shows para cinco ou seis mil pessoas com facilidade. No Rio de Janeiro e em São Paulo, foram necessárias somente três horas para todas as entradas serem vendidas – e disputadas. Quando o assunto é Rouge é assim: os números sempre foram grandes. Já no primeiro álbum, o quinteto ganhou certificado de platina dupla, o que na época equivalia a duas milhões de cópias vendidas. Era um mundo sem comércio digital. A pirataria era física e em mp3 via Kazaa. No ano passado, quando Karin, Aline, Fantine e Li postaram um vídeo acústico – gravado despretensiosamente na casa de Aline – alcançaram 2,1 milhões de visualizações em menos de 24 horas. Agora, com catálogo disponível nas plataformas digitais e single previsto para janeiro, o Rouge vai encarar pela primeira vez a indústria da música em um novo cenário – em que CDs não são mais presentes felizes em amigo oculto. Mesmo que o CD venha com gliter.

POPline – Os shows foram um sucesso, com ingressos esgotados rapidamente. Mas, com relação à música nova, você estão com medo de não funcionar?

Fantine – Ah, sim, existiu uma preocupação.

Aline – Preocupação é a palavra.

Fantine – Não deixa de ser um questionamento natural. Quando a gente foi fazer o “Chá”, pensou: “será que vai vender?” O que mantém o nosso trabalho e dá continuidade à nossa aventura é como era no passado, apesar do sucesso conquistado no primeiro álbum. Quando chegou o segundo, foi a mesma coisa: “será que vai ser bom? Será que vai funcionar esse conceito musical?” O lançamento de algo sempre traz essa questão para qualquer profissional de qualquer mercado, então é natural.

POPline – Vocês estão de volta de vez então, né gente?

Karin – Sim. A gente viu que não dava para voltar atrás.

POPline – Vai ter o DVD mesmo?

Li – É um desejo. Mas é um passo de cada vez, né gente?

POPline – Os fãs pediram para perguntar se já tem data e local.

Todas – Nãããããããão! (risos)

Lu – Calma, calma!

Li – Um passo de cada vez.

Karin – A gente quer fazer coisa acústica também, porque acha muito legal. Há muito tempo que a gente fala disso.

POPline – Aquele vídeo vocês na casa da Aline é tão lindo! Eu trabalhava ouvindo no repeat “O Que o Amor Me Faz”.

Fantine – Mágico, né? Sincronicidade.

POPline – Então, vamos falar de planos. Ou melhor, desejos.

Fantine – A gente tem uma lista de desejos.

POPline – Fariam álbum de inéditas?

Lu – Músicas inéditas. Não sei se existe álbum hoje em dia. Mas singles, clipes, sim. A gente quer trabalhar, produzir coisas novas, marcar uma nova geração com músicas novas, porque nós estamos nos reinventando, renovando, então acho que tem que vir coisa nova. E show, né? O que mais vocês pensam?

Fantine – Produtos nossos. A gente sempre conversou de documentário. Vontade de fazer documentário do Rouge.

POPline – Vocês chegaram a fazer um documentário dos ensaios para o “Chá”, né?

Todas – Sim. (em coro)

Vai sair?

Fantine – Haaaaaam…

Aline – A gente segurou por conta das negociações e das questões burocráticas.

Fantine – Temos vontade de fazer um show acústico, rearranjar músicas antigas… até livro a gente pensa, livro do Rouge. Um musical! Já falamos de um musical do Rouge! Temos várias ideias. Várias!

POPline – Na ‘live’ que vocês fizeram na Sony Music, vocês contaram que o show de São Paulo é o último “Chá do Rouge”. Em 2018, vai ser a turnê “Rouge 15 Anos”. Mas vai mudar o show?

Li – Vaaaaai! É outro show! Quem viu viu, quem não viu não viu.

POPline – Quando vocês foram escolhidas, eram peças dentro de um esquema fechado. Como é a autonomia e poder de decisão hoje no processo criativo?

Fantine – Hoje, somos co-criadoras. No passado, a gente foi conquistando cada vez mais espaço para opinar artisticamente e se posicionar de alguma forma, mas isso era talvez um desejo frustrado e imaturo. A gente não tinha a maturidade que tem hoje, as experiências que cada uma tem e que enriquecem o nosso trabalho hoje: as meninas que fazem musicais, atuam em novela, morando em outro país, a gente tem conteúdo mais rico para trazer para o nosso trabalho hoje e co-criar com a gravadora e nosso empresário. A gente tem contato direto com nossos fãs e sabe o que eles querem, o que é coerente oferecer, então a nossa participação é muito mais ativa, e a responsabilidade maior também.

POPline – Vocês também compõe. Pretendem escrever músicas para essa nova fase do Rouge?

Lu – Mesmo na época do Rouge, a gente escreveu… Eu acho que tem que ter os dois, tem que ter o equilíbrio. Eu gostaria muito de cantar músicas nossas e também músicas de outros compositores.

POPline – Eu pergunto porque, quando vocês escreveram o “Tudo Outra Vez” no “Fábrica de Estrelas”, veio algo bem diferente em termos da composição, do assunto… Se vocês fossem compor nessa nova fase, o que viria? O que vocês gostariam de falar?

Lu – Eu acho que só compondo mesmo.

Li – É. Depende da inspiração, do momento, do que cada uma consegue contribuir, e cada momento é uma coisa. É um processo de evolução que a gente passa. A gente pode sentar aqui para compor e sair uma coisa, e amanhã sair outra totalmente diferente.

Lu – São experiências acumuladas, né? Muito tempo que a gente viveu nossas vidas pós-Rouge, então tem muita coisa para dizer.

Fantine – Mas nós já participamos ativamente desse single que está para sair. Nós alinhamos a nossa ideia: o que nós queremos dizer, trazer para nosso público depois de estar fora do mercado esse tempo todo. Qual o perfil do nosso público? O que ele quer ouvir? O que a gente tem para passar como mulheres, pessoas, mães, artistas? Como essa intenção pode estar impressa na nossa mensagem? Se a gente consegue realizar isso com sucesso é uma grande pergunta, porque essa é uma intenção contínua, que pode ser expressa e composta de diferentes formas, em diferentes canções, em diferentes estilos. Mas a primeira coisa que fiz, quando a gente recebeu a canção já composta… porque nós somos co-writers, né, nós co-criamos. Uma coisa é do zero, como a gente fez “Tudo É Rouge”, outra coisa é escrever uma versão de uma canção já composta. Desta vez, nós recebemos e fomos adicionando ideias melódicas, ideias de harmonia, colocando a nossa musicalidade e personalidade dentro de algo que já foi estruturado. Existem diferentes formas de compor e a gente está sempre participando disso.

POPline – O Rick Bonadio não está envolvido desta vez, né?

Fantine – Não. É o Umberto [Tavares, hitmaker do momento].

Luciana – Aliás, a primeira coisa que a gente fez como Rouge, foi escrever uma versão de uma música da Shakira. Antes de show, antes de qualquer coisa, a gente ficou na banheira da casa escrevendo juntas e foi muito legal.

Fantine – Escrevendo uma versão, né? Compor, por definição, é um pouco diferente do que é isso. Eu digo isso por respeito aos compositores. É uma disciplina muito específica. Corre o risco de soar pretensioso dizer “compositoras”.

Mas vocês são.

Lu – Lógico que somos.

Fantine – Escrevemos, co-criamos também.

POPline – Algumas músicas do Rouge são bem infantis. Agora, vocês estão mais velhas e o público também. Como vocês pensam em manter a identidade do grupo e não fazer uma música que seja boba?

Karin – É a grande questão.

Li – Mas a identidade do grupo não era infantil. Nunca.

Aline – A gente nunca mirou o público infantil. Aconteceu naturalmente.

Li – Tanto que a gente tinha uma música, “Te Deixo Tocar”, que se você prestar atenção…

POPline – Essa é pesadíssima!

Aline – Pesadíssima é ótimo! (risos)

Karin – Pesadíssima! (imitando o repórter e rindo) E na época nem tinha esse peso todo.

Li – Eu não acho que era pesadíssima. Era a nossa linguagem. Acho que representava o que a gente estava vivendo naquele momento. As crianças se identificaram porque se identificaram.

POPline – O primeiro álbum não era infantil, mas o segundo já veio bem mais infantil.

Li – Não, gente…

POPline – Tem “Brilha la Luna”! Os álbuns passaram a ser temáticos, muito coloridos, uma pegada como Katy Perry.

Lu – Tinham umas coisinhas mais delicadinhas, sim, mas acho que hoje nós somos mulheres e temos mais o que dizer. Se a gente for escrever, acho que vai ser com uma linguagem mais madura. Acho que o pop também… (se interrompe) Ah, nós crescemos!

Fantine – Está certo o que você diz sobre o segundo álbum. A gente descobriu, no segundo álbum, que nosso público era infantil. Não foi uma intenção, foi uma consequência do nosso trabalho. Percebendo que o resultado do nosso trabalho atingiu as crianças, a gente fez um trabalho mais direcionado para crianças e adolescentes em nosso segundo álbum, sim. O ‘girlband’, por natureza já tem um perfil adolescente. São amigas, a união, a escola, se identifica com a diversidade, então naturalmente, organicamente, a gente consegue atingir esse público.

Já notou que as cantoras estão bem francas nesta entrevista, né? Elas estão falando tudo! E no domingo (3/12) tem a terceira e última parte! Os assuntos? Pop nacional, influências musicais nesta fase, Anitta, o bullying sofrido por Lu na Internet, a logística para Fantine fazer turnê no Brasil morando na Holanda e o mais importante: o retorno tem prazo de validade?