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Especial 2010/2019: o desenvolvimento do pop masculino no Brasil

Nos últimos anos recebemos uma grande quantidade de novos nomes, que hoje têm não só relevância no mercado como um todo, como também pautam o gênero.

Os homens sempre estiveram presentes no universo da música pop e quanto a isso não há dúvidas. Michael Jackson, George Michael, Boy George, Elton John, Justin Timberlake, Sam Smith e Justin Bieber são apenas alguns nomes que podem comprovar esse fato ao longo de muitas décadas. Aqui no Brasil também tivemos os nossos representantes, dentre eles Lulu Santos, Cazuza, Maurício Manieri, Vinny, Junior Lima, KLB, Rogério Flausino e Nando Reis. Entretanto, se existe um espaço onde a hegemonia masculina não aconteceu, foi exatamente neste mesmo lugar. Ainda que alvo de muita cobrança e crítica, a mulher sempre esteve à frente deste gênero musical e saiu ganhando em números. Evidente que em diversos momentos artistas como Michael Jackson e Elton John – absolutamente fora da curva, hors concours – levaram a melhor, mas diante de um panorama mais amplo, as cantoras tendem a se destacar muito mais nesta história e consequentemente vender mais. Talvez pelo apelo visual, sexual e pelas possibilidades de desenvolvimento estético, aliadas ao machismo, que fazem desta uma realidade.

Contudo, o pop masculino vem crescendo de maneira expoente em nosso país e nos últimos anos recebemos uma grande quantidade de novos nomes, que hoje têm não só relevância no mercado, como também pautam o gênero. A variedade musical é realmente enorme. Temos figuras como Jaloo, que traz os ritmos paraenses mesclados em produções pop ousadas, Johnny Hooker diretamente do Recife com sua performance impecável. Ainda contamos com Jão e Davi, que têm uma carga emocional em suas músicas, Mateus Carrilho com o pop da balada, Silva com a leveza e Lagum fazendo a cabeça das adolescentes. Não podemos esquecer de Tiago Iorc, ganhador de dois Grammy Latinos, e Vitor Kley, que estourou em todo o país com sua música chiclete “O Sol”.

Em sua maioria, os artistas masculinos do pop brasileiro que vêm ganhando força fora da bolha do gênero são os que estão fazem parte do que chamamos de “soft pop” ou ainda o pop “good vibes”, sempre acompanhados de um violão e linhas melódicas mais doces. Todos eles ganharam um lugar de destaque nas rádios de todo o país, na televisão, nas trilhas de novelas e é claro na web. Os números são expressivos.

“Eu fico muito feliz com isso. Falando de ‘O Sol’, quando a gente lançou havia poucas músicas com voz e violão nas rádios e nas televisões. Eu acreditava muito no som, mas não sabia como ia rolar no mercado, mas rolou sabe? É muito legal que este cenário, que já vinha acontecendo com o Tiago Iorc, se fortaleceu. Veio eu, o Melim, Lagum, Jão, Gabriel Elias, toda esta galera. Isso é muito legal e cada vez mais está chegando gente nova. Uma galera que escreve, que é da poesia se unindo, fazendo roda de violão e se encontrando em festivais,” comentou Kley.

Falando em “O Sol”, esta foi uma das músicas que mais ouvimos entre 2017 e 2018. Há quatro anos, a mesma coisa aconteceu com “Eu Amei Te Ver”, música de Tiago Iorc. Ambas foram executadas à exaustão, o que abre espaço para um outro questionamento: é mais fácil para o homem alcançar o sucesso no pop cantando “soft pop” ao invés do “pop bubblegum”?

A estética pop pode ir além da música produzida. Há muitos elementos que fazem de um artista uma estrela do pop. Produção de videoclipes, figurinos mais ousados e coreografias são talvez os mais recorrentes e cobrados por aqueles que consomem o gênero à fundo. Por outro lado, são estes mesmos elementos que deixaram – e deixam – muitos homens fora do radar pop nacional.

“Acredito que a mulher tem mais naturalidade nas qualidades que se destacam no universo pop. Como a sexualidade, atitude e estilo. A mulher sempre foi mais bem resolvida com diversidade e a mistura, que são pré-requisitos pro pop. O homem também tem tudo isso, mas são qualidades que a mulher tem mais intimidade,” comentou Di Ferrero, que nos últimos anos flutuou do rock, onde era vocalista do grupo NX Zero, para o pop com o seu trabalho solo.

Mateus Carrilho, que esbanja produções mais dançantes, oferece uma mistura interessante de ritmos brasileiros e é sempre bastante excêntrico em seu visual avalia a situação com otimismo: “O mercado é dividido por caixas, se você não se enquadra em nenhuma, ou se enquadra num formato que é menor, sem dúvida as dificuldades serão maiores. Mas o mercado está mudando, o pop nacional que alguns anos atrás era pequeno, hoje já está entre um dos maiores ritmos do país. É por isso que é muito significativo fazer e seguir em frente,” disse ele.

O olhar positivo de Carrilho para o futuro não é baseado apenas em vontade e sonhos. Além dele, que seguiu fiel ao seu estilo ao longo dos anos, em 2019 também tivemos a introdução de Caio, que talvez seja o melhor dos dois mundos. Um artista que para alguns pode soar mais conceitual, mas que também traz todo o universo plural da música pop em seu trabalho. Quer coreografia? Tem! Quer figurino diferenciado? Tem! Quer videoclipe bem feito? Tem também.

O limite para os meninos do pop não existe, ainda bem! O limite para o pop nacional então, nem se fala. O movimento brasileiro de música pop é hoje uma realidade. Os amantes do gênero amargaram durante muitos anos uma cena que, apesar de talentos, não contava com apoio financeiro e consequentemente não de desenvolvia em seu melhor. “Eu sempre torci por esse momento, e sempre tive muita esperança no pop nacional. Acho que a gente vai se fortalecer cada vez mais. Pop é entretenimento, é visual, é acontecimento, é uma sacudida na música nacional,” comentou Mateus Carrilho, que tem absoluta razão.

O pop brasileiro é o frescor que a gente esperou por muito tempo. O pop masculino brasileiro é a ousadia que a gente gosta, espera encontrar e quer ouvir e ver ganhar vida. O melhor desta história é que tudo isso já está acontecendo, é fato e promete ser ainda melhor no futuro, o que nos deixa ansioso pelo que está por vir.

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