“Luzes do Norte”, livro de estreia da autora Giulianna Domingues, foi publicado pela Galera Record no fim de março. É uma fantasia que faz uma releitura sáfica dos mitos do lobisomem. Na história, a excepcional caçadora Dimitria Coromandel desenvolve sentimentos por Aurora, por quem seu irmão é apaixonado.
“A verdade é que criadores LGBTQIAP+ sempre existiram – mas hoje finalmente a gente está tendo espaço no mainstream”, Giulianna diz ao POPline. Ela cita Vitor Martins, Lucas Rocha, Clara Alves e Pedro Rhuas como exemplos. “A gente tem histórias pra contar, e escritores LGBTQIAP+ tiveram suas vozes caladas por tempo demais”, completa a escritora.
Em “Luzes do Norte”, Dimitria Coromandel se torna chefe da guarda de Aurora depois de caçar o urso que estava para matar o pônei dela. Com isso, ela precisa acompanhar Aurora em todos seus compromissos, o que é muito simples para Dimitria, mas ela passa a desenvolver sentimentos pela protegida.
Esse, no entanto, é o menor de seus problemas. Dimitria tem que lidar com um monstro que está atacando crianças e devolvendo-as sem vida. Sob a aurora boreal, a caçadora terá que escolher entre caçar ou morrer, mesmo que isso custe a pessoa que ela mais ama.
De onde veio a inspiração e a ideia para “Luzes do Norte”?
GIULIANNA DOMINGUES – Em 2017, eu visitei o Alasca com a intenção de ver a aurora boreal pela primeira vez. Não é algo garantido que você vá conseguir ver as luzes, então eu fiquei muito emocionada de conseguir testemunhar o fenômeno… E eu me peguei pensando em como aquilo tinha que ter uma pitada de magia. Lembrei das histórias de lobisomem, em que a lua cheia é responsável por transformações, e tive certeza de que a aurora boreal tinha que ser tão poderosa quanto – e causar transformação. Essa foi a primeira sementinha da história.
Como você avalia o aumento de personagens e tramas LGBTQIAP+ na literatura nacional?
GIULIANNA DOMINGUES – Em uma frase: manda mais que tá pouco! Eu acho que isso é a evolução natural de um público que cada vez mais quer consumir histórias por pessoas que tantas vezes foram ignoradas. A verdade é que criadores LGBTQIAP+ sempre existiram – mas hoje finalmente a gente está tendo espaço no mainstream. Na literatura nacional especificamente, você vê uma aposta grande em títulos gringos e alguns autores nacionais que escrevem pra esse público – o Vitor Martins, o Lucas Rocha, a Clara Alves e o Pedro Rhuas são alguns que me vem a mente. Eu na verdade sonho com um mundo em que essas histórias sejam a regra, e não a exceção. A gente tem histórias pra contar, e escritores LGBTQIAP+ tiveram suas vozes caladas por tempo demais.
Você se lembra o primeiro livro com temática LGBTQIA+ que leu e o que ele te causou?
GIULIANNA DOMINGUES – Eu não sei exatamente se esse é um livro com temáticas LGBTQIAP+ e definitivamente não foi o primeiro que eu li – mas um livro com personagens gays que me marcou muito foi o quadrinho Arlindo, da ilustradora Ilustralu. Eu lembro de acompanhar a Lu desde 2014 e quando ela começou a postar Arlindo eu fiquei pensando “nossa?? isso pode?”. Essa sensação de poder explorar uma parte de mim que sempre tinha existido na minha arte me impulsionou muito a escrever.
Que outros livros sáficos você indica?
GIULIANNA DOMINGUES – Não dá pra não indicar “Conectadas”, da Clara Alves, que frequentemente está em listas de mais vendidos e é um livro incrível! Eu também indico a coleção “Afrosáficas”, que vai sair pela Se Liga editorial, e é focada em histórias sáficas protagonizadas por mulheres negras e escritas por escritoras que sempre colocam romances sáficos em seus livros: Amanda Condasi, Lívia Ferreira e Lyli Lua!