Sonho versus realidade. Digital versus real. O terceiro álbum de Luísa Sonza, “Escândalo Íntimo”, dialoga com a ambiguidade, seja no âmbito do audiovisual com os clipes, na escolha estética que permeia a concepção e a fotografia do projeto, ou nas composições musicais. Com vinte e quatro faixas, nas quais, seis ainda não foram lançadas; o conceito inicial do álbum foi disponibilizado ao público no dia 29 de agosto.
No entanto, quando os elementos do “escândalo” e do “íntimo” foram apresentados de forma conjunta, foi aberto um contexto macro, que pode evidenciar um possível fio condutor de uma das maiores estratégias de marketing artístico da história.
Declaração de Luísa Sonza no Twitter. Foto: Reprodução
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O dia 20 setembro, celebrado o Dia do Gaúcho, foi a condição inicial sobre a presença de Luísa Sonza no programa da TV Globo, apresentado por Ana Maria Braga, juntamente com o inquestionável sucesso do álbum “Escândalo Íntimo”, em todas as plataformas digitais, sobretudo no Spotify.
Durante a sua participação, que contou com a presença da cantora Duda Beat, Luísa Sonza leu um texto pessoal (íntimo), sobre o fim do seu relacionamento com Chico Veiga (também conhecido como Chico Moedas) – que possui uma faixa em sua homenagem no álbum, uma das mais escutadas no Brasil na atualidade – e que terminou devido a uma traição, de acordo com a cantora, narrada no seu texto. As palavras da artista emocionaram a apresentadora Ana Maria Braga, e foi um dos assuntos mais comentados do dia nas redes sociais.
Diante desse cenário inicial, o POPline.Biz é Mundo da Música traçou um recorte analítico. Observamos o elo entre o “escândalo” e o “íntimo” sob a perspectiva promocional e da estratégia de marketing artístico. Em seguida, voltamos o olhar para a exposição do seu relacionamento com Chico e um paralelo sobre o seu projeto audiovisual no streaming com a Netflix, seja a partir de uma correlação ligada diretamente com a música, ou não.
Crescimento de Luísa Sonza no Spotify e YouTube, a partir do lançamento do álbum “Escândalo Íntimo”. Foto: Reprodução/Chartmetric
“Eu tenho o número e ainda sou artista”
No universo artístico da música Pop, a vida pessoal é um asset, ou seja, um ativo que oscila de acordo com os temas que envolvem a curiosidade dos fãs e do público em geral. Esses elementos, podem – ou não – impulsionar uma vida artística. De uma forma geral, eles não são uma novidade, paparazzis e tabloides existem há anos. O que difere, na atualidade, é a relação entre as redes sociais e as plataformas de streaming.
No dia 30 de abril, Luísa Sonza anunciou em suas redes sociais o término da turnê do seu álbum anterior, “Doce 22”, lançado em 2021, que possui mais de 1 bilhão de streams apenas no Spotify. Na publicação, a artista falou que iniciaria o processo criativo para o novo projeto – até então, chamado de LS3 – citou a presença da Netflix “acompanhando tudo”, a importância do seu futuro show no The Town e, por fim, que sairia do Brasil para construir boa parte desse trabalho.
Luísa passou uma temporada em Los Angeles, nos Estados Unidos, e um pouco antes de retornar ao Brasil, seu nome voltou a ser assunto nas redes sociais. Dessa vez, as interações nas redes sociais entre a artista e seu novo affair, Chico Moedas, começaram a ser pautadas nas redes sociais, sobretudo nas páginas de fofocas que fazem parte da Banca Digital – grupo de perfis de memes e/ou fofocas que impactam milhões de seguidores nas redes sociais, pertencente à Mynd, agência de publicidade da empresária de Luísa Sonza, Fátima Pissarra.
Os dois assumiram o romance depois que Chico Moedas se declarou, nas redes sociais, para Luísa Sonza em homenagem ao aniversário dela, no dia 18 de julho. Na ocasião, o influencer de 27 anos, que ficou conhecido após participar das lives de Casimiro Miguel, o Cazé, disse que a cantora chegou como um “meteoro” em sua vida.
No dia 27 de julho, o retorno de Luísa ao Brasil foi um verdadeiro evento. Com direito a: fãs no aeroporto esperando a chegada da cantora, presença da imprensa e, claro, do seu novo namorado Chico, que foi visto pela primeira vez ao lado da cantora.
Entre os fãs que aguardavam a cantora, um dos cartazes chamou a atenção diante do que estava escrito: ‘isso é um escândalo’. Por mais que o período fora do Brasil da cantora tenha chamado a atenção dos Sonzers, seria uma escolha de cartaz atípica, principalmente porque o nome do álbum só foi anunciado oficialmente no dia 9 de agosto.
Fãs esperam Luísa Sonza no Aeroporto com cartazes, entre eles, “isso é um escândalo”. Foto: Brazil News/Uso Autorizado POPline
Entre o intervalo do evento com os fãs no aeroporto, com balões sobre o “LS3”, as tendências das buscas pelo seu nome no Google, começaram a apresentar um breve crescimento, até chegar ao ápice, a partir da participação da artista no Mais Você.
Tendência de pesquisa no Google sobre o nome de Luísa Sonza. Foto: Divulgação
“Chico se tu me quiseres” + “Romance em Cena”
Dos memes ao interesse natural do brasileiro por histórias, o romance de Luísa com Chico ganhou ares dignos de uma novela. Luísa possui um histórico doloroso com relacionamentos antigos e, também, uma relação com haters nas redes sociais. Logo, o namoro com Chico, trouxe uma Luísa que compartilhava fotos dos dois juntos nas plataformas, uma participação com ele no Podcast “PodDelas”, presença no programa do Serginho Groisman e a divulgação, da faixa que celebra esse romance, “Chico”.
Atualmente com mais de 32 milhões de streams no Spotify, “Chico” assumiu a liderança das músicas mais executadas na plataforma. Apesar de ter escrito canções para seus antigos relacionamentos, “Chico” é a primeira obra musical, escrita por Luísa Sonza, que leva o nome do protagonista.
Declaração de Luísa Sonza no Twitter. Foto: Reprodução
Em pouco tempo, a reação de Chico ao ouvir a música, sobretudo durante o show da artista no The Town, mantinha o assunto em alta, e a popularidade da faixa se mantinha constante com a reverberação dos perfis no Instagram e em sites de notícias de entretenimento. Além disso, os elementos citados na obra musical, como “Bar da Cachaça”, “fazer fumaça” ou “monogamia é papo de doido” trouxeram outras discussões para as redes sociais.
Nos últimos 30 dias, Chico teve um aumento de 548,5% em relação ao número de seus seguidores no Instagram.
Gráfico do crescimento do Instagram de Chico Moedas durante o relacionamento com Luísa Sonza. Foto: Reprodução/Social Blade
“Será que eu sou uma fraude?”
Entre os elementos apresentados, até nesse momento, pensar a construção do imaginário público entre o romance de Luísa como resultado de um possível marketing para o álbum “Escândalo Íntimo” foi levantado por diversos agentes, que atuam de forma profissional, ou não, no mercado musical.
Mas, ao propor um viés mais analítico, é possível ver como todos os pontos dialogam de forma primorosa, no contexto macro, compreendendo aspectos mais amplos, e dessa forma, não configuram como um “simples marketing”.
Quando Luísa ressaltou, ao anunciar o álbum que seriam sobre “histórias de amor que deram errado”, fato concretizado no ápice da apresentação da carta no programa Mais Você, pode-se compreender que algumas escolhas não foram em vão. Se analisarmos de forma mais cuidadosa, inclusive, a carta pode ter vínculo com as músicas que ainda serão lançadas pela artista.
Mas, voltemos para a primeira escolha: “Campo de Morango” como primeiro single lançado antes do álbum. O clipe de uma faixa com 1min16s com elementos que – dialogam com a ambiguidade citada anteriormente – e que Luísa tinha consciência de que atrairia os haters, logo, uma série de comentários nas redes sociais, que impulsionaram a popularidade da faixa.
Comentário compartilhado por Luísa Sonza no Twitter sobre Campo de Morango. Foto: Reprodução
Em seguida, o surgimento com mais força de todos os personagens que compõem o álbum: o próprio Chico, Demi Lovato, as parcerias com Marina Sena, Duda Beat, Baco Exu do Blues e, por fim, a Ana Maria.
A faixa do single que, até então, não havia sido correlacionada de forma direta com a apresentadora, apesar de ter na letra “Maria Braga passando na TV”, entrou em um contexto, que visto pelo prisma estratégico, parece ter sido orquestrado de forma perfeita.
Logo após a presença da cantora no programa, internautas levantaram a correspondência entre os nomes das faixas com uma possível “antecipação” de toda a história transmitida, até então, pela Luísa Sonza.
A escolha das 18 faixas lançadas no álbum, os títulos, dialogam entre si. Inclusive, a faixa “Ana Maria”, formando a frase: “Chico, Onde É Que Deu Errado? Penhasco2, Outra Vez, Dão Errado, Principalmente Me Sinto Arrasada, Ana Maria”.
Correlação entre os nomes da faixas do álbum “Escândalo Íntimo” de Luísa Sonza. Foto: Reprodução
Se unirmos apenas os nomes dos Interlúdios forma-se a frase: “todas as histórias de amor dão errado”, que até a própria artista divulgou.
Declaração de Luísa Sonza no Twitter. Foto: Reprodução
Correlação entre os nomes dos Interlúdios no álbum “Escândalo Íntimo”. Foto: Reprodução/Spotify
Se eu fosse Luísa Sonza
No dia 13 de dezembro, estreia globalmente na Netflix a série documental sobre Luísa Sonza, chamada “Se eu fosse Luísa Sonza”. De acordo com o anúncio da Netflix, na produção, o público conhecerá a fundo o processo criativo por trás de seu novo álbum, Escândalo Íntimo, que bateu recordes nas paradas musicais do Brasil e do mundo.
Além disso, os episódios mostrarão os bastidores de sua vida pessoal e carreira nos palcos e estúdios, revelando aos fãs o que ainda poucos conhecem sobre Luísa. Criado e produzido pela Conspiração sob a direção de Isabel Nascimento Silva, Se eu fosse Luísa Sonza terá 3 episódios.
O título da série documental é um convite ao público para experimentar uma parcela da vida de Luísa Sonza, entre o aspecto pessoal e o artístico, ou seja, um verdadeiro “Escândalo Íntimo”.
Crescimento de Luísa Sonza no TikTok e Instagram. Artista teve um pico de crescimento no Instagram após a participação no Mais Você, no dia 20 de setembro. Foto: Reprodução/Chartmetric
A construção estratégica interna e externa, das letras das obras musicais até a presença no programa da Ana Maria Braga, abre uma perspectiva analítica de que Luísa Sonza e a sua equipe previram todos os passos que aconteceriam sobre a vida da artista e a repercussão do seu álbum.
Mais uma vez, ressaltando o aspecto ambíguo desse estudo, será que todos os personagens envolvidos, entre eles, Chico Moedas e Ana Maria Braga, sabiam? É possível considerá-los dentro de um contexto maior para a criação da série documental?
Além disso, seria também provável construir uma intersecção entre o artístico e o promocional, no qual as letras das obras, os nomes, e mais elementos estivessem envolvidos para a criação deste produto final?
Essas e outras questões podem ser levantadas. Mas, qual o objetivo final? Entre uma lógica de algoritmos nas redes sociais que impulsionam a curiosidade por aspectos pessoais da vida dos artistas, em contraponto com o interesse pela arte a realidade – possivelmente – proposta por Luísa Sonza pode estar ancorada em uma mensagem mais ampla:
- Diálogo entre o público x privado e a influência das redes sociais;
- O que seria real dentro do universo artístico?
- A música, para um artista Pop, pode ficar em alta sem o envolvimento pessoal?
- A relação tóxica com o digital;
- É necessário desativar as redes sociais para se conectar com o artístico?
- O que é sucesso?
Por fim, Luísa pode ter construído uma estratégia única, arriscada, mas com impactos que podem ser estudados a longo prazo. Pode ter influenciado inúmeros personagens, dos palcos aos bastidores. Pode ter feito emocionar a Ana Maria Braga em um texto, inicialmente previsto. Ou, isso tudo pode ter sido apenas “fruto de um sonho”. Mas, independente desses pontos, “Escândalo Íntimo” é um sucesso real.
