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ENTREVISTA: Urias quer entender a própria mente através da música e dizer o que precisa ser dito

Cantora refletiu sobre carreira, futuro e estratégias em entrevista ao POPline
Foto: Gabriel Renner (Urias)

No segundo dia do mês, encontramos Urias no mesmo lugar em que ela fez o show de lançamento do seu disco de estreia, o ‘Fúria‘. Dessa vez, ela subiu ao palco do Cine Joia, no centro de São Paulo, para uma apresentação no ‘Primavera na Cidade‘. Propositalmente ou não, o local foi escolhido para a estreia de novas músicas no repertório da cantora que havia chacoalhado as mentes mais comuns com o seu álbum anterior.

Foto: Gabriel Renne

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Com o show mais aguardado da noite, Urias causou um frisson ao aparecer para um conjunto performático de cerca de uma hora. Entre os hits “Foi Mal“, “Peligrosa” e as bem recebidas “Je ne sais quoi” e “R.I.P“, a mineira de 28 anos testou as músicas “Major” e “Neo Thang, que fazem parte da segunda parte do álbum “Her Mind“, lançada na última semana. Ainda há um terceiro EP, com o restante do álbum, para ser lançado no futuro. Como ela mesmo contou, os fãs ficaram “boquiabertos” com as novas canções.

Foto: capa/divulgação

Assim como na primeira parte do disco, lançada em maio, Urias explora sonoridades ímpares para o cenário pop nacional. Com referências que vão de Carlinhos Brown à DJ venezuelana Arca e pitadas de Kanye West, a cantora mergulha em um som experimental voltado para o IDM com toques de brasilidade – um requinte latino, quente e sensual.

Em entrevista ao POPline, Urias explicou que o seu objetivo é entender a própria mente (e não mais apenas o seu corpo sociopolítico). Como um raro expoente na indústria, ela faz questão de trilhar o próprio caminho e não sede as sedutoras estratégias de um mercado homogeneizado. É preciso entender Urias para entender também o caminho da música pop alternativa daqui pra frente.

O ‘Her Mind II’ conta com produções assinadas por Urias, Number Teddie, Gorky, Maffalda e Zebu. Ouça:

POPline: Como você foi do sentimento da raiva, que deu o tom no ‘Fúria’, para esse processo de, digamos, autoconhecimento poderoso de desejo?

Urias: Foi um processo de muitas coisas que eu fui passando durante esse momento de uma pequena ascensão aí na música (risos). Quando eu comecei a trabalhar, a ser uma pessoa pública e a ingressar nesse mundo da música, de estar me propondo a colocar minha imagem à prova para essas coisas, comecei também a ter um certo tipo de interação com as pessoas no sentido de as pessoas que procuravam o meu trabalho, as pessoas que queriam saber, até em entrevistas, queriam muito saber sobre o meu corpo – nesse sentido também da transexualidade, mas é porque às vezes as pessoas cis acham que por a gente ser trans, o nosso corpo também é público e é digno de opinião de todo mundo e é digno de…muita coisa. Então, era tudo muito focado nesse lugar do corpo. Não no lugar de corpo físico, mas o que o meu corpo representava e era sempre o ‘meu corpo’, ‘meu corpo’ o ‘meu corpo’. Eu parei para pensar e percebi que ninguém estava prestando atenção na minha mente e nem eu, entende? Eu quis passar isso neste próximo trabalho, que é o ‘Her Mind’. Eu quis falar sobre a minha mente e coloquei a minha mente num lugar de desejo intelecto, de desejo de posse. Para as pessoas entenderem que não sou só um rostinho bonito, aquelas (risos). Estou brincando [sobre o rostinho]. É para as pessoas entenderem que nós, que somos tidas como corpos – porque eu sou levada pelo meu corpo o tempo inteiro. Com o meu corpo, eu quero dizer corpo político, corpo social. Não estou falando de formatos de corpos não. Estou falando de posição sociocultural de corpos, socioeconômicas e todo esse rolê. Mas eu queria que as pessoas prestassem atenção na minha mente, eu queria que as pessoas entendessem todas as complexidades que se passam na minha mente. Eu queria me humanizar, entendeu? Trazer pra um lugar de ‘p*rra, ela pensa, ela sente…’

POPline: E você acha que aquele sentimento de raiva, do Fúria, permanece com você de alguma forma ou foi expurgado e você está em um novo momento?

Urias: Não, menina. Isso aí é para sempre. O ‘Fúria em si foi por conta de várias situações, várias violências que passei por causa do meu corpo. E…Eu não acho que sou eu quem vai mudar esse sistema, não sou eu quem vai mudar tudo isso. Então acho que eu ainda vou continuar passando por essas situações de raiva, mas agora eu tenho mais escudos a minha disposição, mas não quer dizer que eu não continue passando por aquelas situações de raiva. Tudo aquilo que eu falei no álbum ainda é muito atual na minha vida. Só estou tentando focar para o outro lado.

Foto: Gabriel Renne (Urias)

POPline: Você sempre diz que a estética acaba vindo até antes que a música no seu processo criativo. Eu queria saber se isso continua acontecendo e o que você pensou para a estética do Her Mind, que está dividido em três.

Urias: Eu, sim, ainda continuo. É meio que um jeitinho meu de pensar as coisa. Um caminho que eu inventei na minha mente de fazer as coisas nesse sentido. O Her Mind, quando completar as três partes, todo mundo vai entender melhor de tudo isso que eu estou falando, mas o que eu posso te adiantar é que eu tento pegar essa estética em que eu tento trabalhar uma coisa meio biológica, meio fluída, num sentido biológico da coisa quando se trata de cérebros e de cabeças e de dessas coisas. Então, estou tentando sempre levar pra essa coisa de uma tomografia, cores e texturas que lembram essa coisas sem lembrar, necessariamente, de um cérebro lá, aberto, despedaçado. O álbum inteiro tem, sim, base em um estudo que estuda cérebros no geral. E eu quis muito me basear nesse estudo – que vai ser mais na parte três que eu vou me aprofundar nisso – para poder falar da minha mente, do meu cérebro também biologicamente, falando da influência que o meu cérebro tem no meu corpo físico, que a minha mente tem no meu corpo físico também.

POPline: E as cores tem um significado especial porque eu ouvi que você você se preocupa com isso em mudar os tons de fase em fase.

Urias: ai, sim. Eu queria muito trabalhar cores nessa próxima fase porque no ‘Fúria’ eu não trabalhei cor nenhuma. Eu quis fazer tudo preto e branco também por outros motivos. Mas, no ‘Her Mind’, eu não quis ir lá e jogar tudo colorido. Eu quis ir introduzindo pares de cores que se contrastavam, que  ficassem legais, mas também não fosse óbvio. Então, eu comecei a vir no amarelo com azul e, agora, a gente está aí com um vermelho meio neon com lavanda, que eu acho que as cores se contrastam. Na primeira parte, era para ser mais agressivo aos olhos, esse azulzão e o amarelo e também trazer pra natureza. A segunda parte é mais sobre sensualidade e um uma imposição de do sensual – no sentido de nessa segunda parte ter letras que eu coloco a minha mente como objeto de desejo e, no meio das letras, a gente até meio que confunde se esse objeto de desejo é um desejo sexual pela mente ou não, sabe? Eu meio que vou brincando com essa coisa do tipo ‘ah, ela está falando do corpo ou da mente’ para deixar a mente nesse lugar do desejo, do colocar a mente no lugar do corpo.

Foto: @uriasss (Instagram)

POPline: Antes de falar com você, eu conversei com o Geovanne (Number Teddie), para perguntar como foi o processo de composição do EP. Ele me disse que as letras surgiram de muitas zoeiras entre vocês e de papos descontraídos, apesar da complexidade das músicas. Como foi esse processo e que tipo de brincadeiras deram origem a essas faixas?

Urias: É que, com o Geovanne, tudo vai acontecendo muito leve desde que a gente começou a escrever. A gente vai conversando muito, a gente troca muito os TikToks, tem muitas piadas internas, brincadeiras e piadas pesadíssimas entre a gente. E e essas coisas vão saindo, tipo assim, as vezes tem coisas que a gente só foi falando uma pra outra, tipo ‘ai, como você falaria isso?’, ali no meio a gente vai inventando. Na letra de “Danger“, quando eu falo “Tell me something puerca“, é um babado de níveis e camadas da internet que eu não sei nem começar a te explicar. É que são coisas que ele já viu, que a gente já viu, são coisas em comum que a gente ri, e aí é, na hora de escrever, a gente vai vai viajando. É muito, muito, muito bom escrever com ele porque ele me escuta. E, quando eu falo alguma coisa idiota, ele fala ‘ai, amiga, acho que nada a ver’ e também quando ele fala alguma coisa que eu acho nada a ver ele me escuta, sabe? Já trabalhei com outros compositores que não deu muito certo, que tinham fórmulas pra tudo. ‘Ai aqui é assim, aqui você tem que nessa fonética e aí depois daqui a ponte, aqui é o refrão e aqui você tem que falar, tem que repetir algumas sílaba pra poder hitar, pra poder vender’ e então com o Geovanne é muito diferente. Eu gosto muito de trabalhar com ele. Eu acho ele talentosíssimo e, por mim, ele estaria em todos os processos criativos daqui pra frente, ele é muito talentoso com melodias.

POPline: Ele me disse que duvidou que você colocaria o verso do “tiny pussy” e você colocou.

Urias: Sim, eu coloquei. Se eu te falar, a ideia de colocar isso veio de uma conversa que eu estava tendo com a Liniker, para você ter noção. Ela falou assim ‘ai, so tiny, so tiny’, de uma outra coisa que a gente estava falando e eu falei: ‘meu Deus, eu vou botar isso na música’. Preciso dizer a ela que coloquei. Mas é assim, as coisas vão acontecendo, as ideias vão vindo. Eu tenho um assunto central que eu pretendo revelar mais com a terceira parte.

POPline: Mais uma coisa que ele me contou é que vocês costumam conversar em inglês. Sobre isso, as músicas são em, pelo menos, outros três idiomas. Por que você escolheu ir pra esse caminho depois de lançar o Fúria – um álbum predominantemente em português?
Urias: São muitas coisas que eu posso te dizer. No começo, quando eu lancei a primeira parte do ‘Fúria, eu nunca tive dúvida na qualidade do nosso trabalho, da qualidade das coisas que a gente estava fazendo. Mas eu meio que comecei a entender que as pessoas talvez não entendessem o que eu queria passar, o tipo de som e que talvez não chegaria em certos lugares por conta dessa falta de tato mesmo. E aí eu decidi fazer músicas em inglês e espanhol e com poucas coisas em francês para poder entender aonde eu poderia chegar, para testar meus limites, para mais pessoas conhecerem meu trabalho, para me lançar internacionalmente também – que é um grande sonho, depois que artistas começaram a abrir as portas mesmo pra gente. É inegável que o mundo já conhecia a cultura brasileira, mas eu acho que com artistas como Anitta e Pabllo [Vittar] ficou
irrefutável ignorar a qualidade da nossa cultura, a diversidade da nossa cultura o a quantidade de talentos – assim, não é em nenhum outro lugar do mundo a não ser o Brasil que vai ter o que a gente tem aqui. Acho que depois que as portas começaram a ser abertas, a gente, como artista brasileiro mesmo, começou a pensar em levar nossas coisas pra fora. Começamos a olhar ‘p*rra, a a gata está lá no Grammy’, ‘a gata está ganhando prêmio não sei aonde’, ‘a gata foi primeiro lugar do mundo’, ‘p*rra, também vou tentar fazer acontecer’. Então também está nesse lugar de procurar novos sonhos, procurar novas quebrar novas barreiras.
POPline: Eu acho curioso porque você tem uma projeção de artista pop, mas a sonoridade dos dois EPs, pelo menos por enquanto, tem um Q experimental de EDM, que não é comum no no cenário pop. É quase um som único. Eu não conseguiria citar outro grande artista pop brasileiro que está explorando esse som agora. Pelo menos não dessa forma. Há uma estratégia por trás disso e você já ficou com receio de soar alternativa demais para a projeção que você tem?
Urias: O meu critério com os meninos, quando a gente está produzindo alguma coisa, quando a gente começa a produzir alguma coisa, eu penso muito primeiramente no conjunto. Eu ainda não me imagino trabalhando num formato soltando singles e singles, no momento, assim, porque amanhã eu posso mudar de ideia, entendeu? (risos). Estou te falando isso agora, no momento. Tudo pode mudar. Eu penso muito num conjunto e a gente sempre foi pensando ‘vamos dar uma equilibrada né, galera? Eu tenho essa música aqui, com todos esses barulho de impressora industrial mas também tem essa música aqui, que tem todo um refrão, tem todo momento’. A gente sempre vai tentando equilibrar, mas o nosso critério – quando a gente trabalha, eu, Maffalda, Number Teddie, Gorkty e Zebu – é sempre procurar fugir do que as pessoas já estão fazendo. Pelo menos no nosso radar de referências. A gente junta as nossas referências, mas tipo a gente vai lançar um negócio que ninguém está fazendo agora, mesmo que ‘ai vai dar certo, não vai dar certo’. A gente vai no muito no que a gente acredita, no que a gente quer. E o meu trabalho tem muita mensagem pra ser passada, então eu acredito que não vai entrar num lugar de ‘ai se não tiver o alcance e os números’… E eu estou cagando pra essas coisas. Não estou nem aí pra isso. Pra ser sincera com você, eu não acho que artistas se fazem assim sabe? Acho que isso é muito uma coisa da nossa geração mesmo, acho importante sim, mas não é o meu foco.

Foto: Gabriel Renne (Urias)

Meu foco é poder falar o que eu quero, poder passar a mensagem e contar a minha história, que é uma história. Muita gente que nem eu não tem a sua história contada. A gente está começando a contar as histórias agora. Tem coisa para ser ouvida. Tem coisa que, entre a gente, estamos cansadas de ouvir e falar uma pra outra, mas que para vocês eu tenho que falar. Tem que contar para essas histórias entrarem num campo imaginário das pessoas de que são histórias e vivências, de que a gente é gente, de que a gente é humana. Nosso trabalho é sobre isso: fugir da mesmice, fugir até de nós mesmas e falar a verdade, a nossa verdade. Contar o que a gente sente que tem que contar. Então, eu não sei te dizer se existe uma estratégia. A gente vai montando as coisas e vai elaborando as estratégias do jeito…Eu não sei, comigo é muito diferente do que eu vejo com todas as artistas que eu conheço, que me rodeiam. Comigo aconteceu muito diferente. Eu vou ali, eu lanço, soltou um negócio ali, ai agora você vai fazer uma apresentação tal, vai fazer performance não aonde. É diferente. Eu ainda não consegui encontrar um padrão para te falar que existe uma fórmula do meu rolê, entendeu? A gente vai indo muito no feeling e eu acho que está dando certo e vai continuar dando certo porque temos sido muito respeitosos com a gente.
POPline: Eu vi o seu show no Primavera Na Cidade e foi incrível. Lá você já havia testado algumas músicas do novo EP.

Urias: Sim, eu testei ‘Major’ e ‘Neo Thang’. Eu queria muito fazer isso no primavera porque eu sabia que o público ia ser mais receptivo com esse tipo de música, com esse tipo de batida, por conta do festival mesmo. Eu queria muito fazer esse teste e a galera ficou muito louca, mutio boquiaberta. E pararam de me encher o saco na internet pra eu soltar essa segunda parte depois que eu cantei lá. Me mandavam vídeos na DM, sabe como é, né? A galera (risos).

POPline: Sabe o que é legal também? Ver a evolução do seu show com essas novas músicas. Eu vi o seu quando no lançamento do ‘Fúria’ e vi de novo agora, no Primavera, e achei que ele evoluiu bastante. Está muito grandioso, um balé incrível, sua potência vocal cada vez maior, cantando cada vez melhor. Como está sendo esse processo pra você?

Urias: Ai, obrigada! Está sendo incrível. Assim, para ser sincera com você -eu falava isso ano passado, mas agora tem outro significado pra mim – eu estou vivendo a melhor parte da minha vida, realizando muitos sonhos. Me dá até uma emoção assim, sabe? Nunca imaginei que eu fosse realizar esses sonhos em específico, dessa maneira. Está sendo muito incrível poder trabalhar com o que eu realmente amo de verdade, dançar e poder estar em contato com as pessoas da cena da dança, abraçar o trabalho e ter o trabalho abraçado por uma galera dessa cena. A gente sempre pensa ‘ai, o balé’, mas existe uma grande cena para isso tudo acontecer. Eu estou me dedicando 110%, estou fazendo muita aula de canto, estou ensaiando muito, sempre me exercitando, malhando muito para continuar com disposição, continuar com gás e energia para poder continuar estudando. Eu acho que isso faz muito parte do artista ser artista nesse sentido do estudo, porque não é só saber fazer e sentir e ter a inspiração e colocar. É muito bom enfatizar isso porque tem gente, hoje em dia, que acha que ‘ai estourou e tals e tals e e vou lançar tal coisa’, que não existe um estudo por trás. Mesmo se você for tocar um voz e violão, você tem que ter estudado uma parte da sua vida para tocar o violão. Eu acho que as pessoas meio que esquecem essa parte agora e é a parte mais legal. É a parte de você estar ensaiando, de você estar construindo a coisa. você chega lá, no palco, e dança uma música de três minuto e ver só isso, [sendo que a gente] ficou seis meses [ensaiando] (risos). Mas você chega lá e vê o resultado de tudo e vê como todo mundo ali, cada bailarina, a diretora de palco, quem roterizou o show, a menina da luz, a menina da técnica, a menina que fez o meu cabelo, o menino que fez a minha roupa. Ver o trabalho de todo mundo junto por causa daquilo ali, ver todas essas pessoas que se movimentaram pra aquilo ali acontecer, a cara delas ao ver o resultado. Para mim é a melhor parte do processo. Eu amo, amo. Amo dar o close, aparecer bonita, o cabelo, mas essa partes (do preparo junto a equipe) não tem como sabe…Porque isso também engloba estar no show e e fazer shows, entendeu? Eu não conseguiria fazer isso tudo que a gente faz agora sem ter o show. Quando eu piso no palco, vem na minha cabeça bem assim ‘é aqui que eu vou provar tudo aquilo lá que eles estavam me falando na internet’. Porque, assim, se você acredita nos comentários bons você tem que acreditar nos comentários ruins, entendeu?

POPline: Você acredita? Quando você lê comentários negativos, você ainda se afeta por eles?

Urias: Ai, não muito, porque eu já nem leio mais (risos). Mas eu sou muito da vibe – que isso foi uma grande amiga minha, chamada Mateus, que me explicou e botou na minha cabeça, graças a Deus que ela cruzou o meu caminho. A Mateus falava que para falar mal de você tem que partir do que você está fazendo para o melhor. Se eu estou lá, no Twitter, abro um post meu e vejo um comentário maldoso e decido corda para isso dentro da minha cabeça, eu vou no perfil da pessoa e olho o que ela faz da vida. P*rra, ela não trabalha com nada que eu estou trabalhando aqui, não tem um vídeo dela dançando num salto de quinze centímetro e cantando ao mesmo tempo. A opinião dela é inválida, entendeu? (risos). Mas são escapes que me ajudam a continuar não levando muito em consideração esse tipo de comentário, porque, realmente, tem comentário que é na base do ódio mesmo. Quando eu piso no palco, eu sinto que toda aquela galera que me falou lá na internet, que postou o vídeo, que comentou na minha foto, que comentou nos meus Stories, que compartilhou as minhas músicas…É momento em que eu vou provar para todas essas pessoas que eu sou boa. A pessoa tem que assistir o meu show e tem que sair do meu show pensando ‘meu Deus, o que que eu acabei de ver?! Não estou nem acreditando’. E eu acho que é isso. Esse é o caminho que eu estou querendo ir.

POPline: E você falou da cena por trás da dança, do balé. E eu fiquei reparando que a Zaila dança com você e ela é um ícone do ballroom brasileiro, uma cena muito importante e invisibilidade. 

Urias: Sim, ela tá comigo. É a minha mais nova coreógrafa. Foi ela quem coreografou ‘Neo Thang’, ‘Major’. A Zaila é muito tudo. Ela é minha mãe na house dela, sou filha dela no ballroom. E, assim, ela é um talento inexplicável. E, sim, existe realmente uma cena, não só do ballroom, mas uma cena de dança mesmo que é muito invisibilidade nesse sentido de você pensar ‘quem são os bailarinos que estão fazendo as coisas acontecerem? Quem são os coreógrafos? Quais são as ideias deles?’, sabe? Essa indústria da dança no Brasil não é movimentada igual é lá fora. Lá fora, você conhece vários coreógrafos, você conhece o coreógrafo da fulana, você conhece o coreógrafo da ciclana. Só de você ser artista, você já conhece vários e aqui não é assim. Eu acho que a gente tem que começar a prestar atenção nessa nessas coisas também, porque agrega muito ao meu trabalho e trampo deles, entendeu?

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