“Existem músicas, no meu emocional, que são sagradas e acho que Relicário é uma delas”, disse Pitty ao explicar a razão pela qual a canção de seu novo parceiro de turnê, Nando Reis, a fez chorar durante a primeira apresentação de “PittyNando” no festival João Rock, em Ribeirão Preto.
A relação de Pitty com a composição do músico paulistano é a síntese da turnê que uniu dois repertórios “sagrados” do rock nacional. Os próprios artistas relatam: “sabe o que se impõe mais do que tudo? As canções”. Mas, sagrado não é sinônimo de intocável, pelo menos não neste caso. O show que os cantores estão apresentando aos fãs é provocador à medida que não deixa nada no lugar. Novos arranjos, novas interpretações, novas composições. Nando toca Pitty. E Pitty toca Nando. Sem as amarras, por vezes, conservadoras impostas pelo público fiel. Afinal, se não fosse assim, qual seria o sentido de uma turnê conjunta?
Enquanto a cantora se coloca em um lugar de vulnerabilidade ao interpretar as tórridas canções de amor do colega, ele parece absorver a presença de palco dela. Nando Reis aparece, em boa parte do espetáculo, sem o seu – até então – quase inseparável violão. A elaboração da turnê fez com que ele desapegasse do instrumento a ponto de perguntar se precisava mesmo tocá-lo em algumas músicas.
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Se a vida boa só vale a pena se for compartilhada, o bom espetáculo também. Pitty e Nando começaram a pensar o show há cerca de um ano e meio, quando a chegada da vacina interrompeu a fase aguda da pandemia e possibilitou uma tratativa sobre o retorno dos grandes eventos. Nesse sentido, “PittyNando” também é sobre afeto na hora certa.
Desde a estreia do projeto, no festival João Rock, tem emoção no palco e no público. Parece uma boa ideia lembrar, diante de um cenário político esperançoso, que o Brasil é o país de Nando Reis e de Pitty. O país que celebra o poder das belas canções sem perder de vista a chance de mudar quando é preciso.
Nesta sexta-feira (23), no primeiro final de semana da primavera, a turnê “PittyNando” desembarca em São Paulo, no Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas). Abaixo, você confere – em texto e vídeo – trechos da entrevista que o POPline fez com a dupla de artistas. O bate-papo completo, sem cortes, está disponível em formato de podcast.
Ouça sem cortes:
POPline: Quando vocês tiveram a ideia de sair em turnê juntos? Foi papo de empresário ou partiu de vocês?
Nando: Então, na verdade, não foi um papo de empresário, coisa nenhuma. Foi uma ideia nossa. Começou há um ano e meio, quando ela publicou um vídeo cantando “Relicário”. Fiquei super emocionado e começamos a conversar. Fiz um convite para fazer um dueto em “Um tiro no coração” e ela imediatamente topou, mas falou: “Eu quero mais”. Foi então que surgiu a ideia de fazer a turnê na qual estamos trabalhando há um ano e tanto.
Pitty: Um ano e tanto, efetivamente, trabalhando de forma criativa, né? E então, colocamos a mão na massa no começo do ano para começar a montar o show. Quem vê o show pronto, não imagina que foram meses de trabalho das pessoas aqui, colocando os arranjos de pé, pensando em luz, pensando em vídeo. E está muito bonito, assim… Dá muito orgulho de ver. Agora, estamos oficialmente na estrada e chegando em São Paulo.
fotos: @luccamiranda
Nando: Eu vou me antecipar, desde o princípio, que a gente imaginou que tinha que ser um projeto com simetria. Desde a mistura das bandas, do repertório… E, por outro lado, para gerar uma terceira coisa, mas aqui eu vou passar a bola para Pitty, porque ela, junto com o Paulo Kishimoto, esteve à frente da direção musical. Evidentemente, eu não só fui consultado, como também contribuí, mas há um mérito dos dois aqui de puxar o negócio.
Pitty: Rapaz, consultado não, eu cheguei pra ele e falei assim…Nando, tá ó… Olha que louco, né? Foi muito mais fácil pensar em desconstruir e reconstruir as músicas dele do que as minhas próprias. Então, chegou, por exemplo, ‘Na Sua Estante’. Eu falei, ‘cara, não sei o que fazer, eu toco essa música há tanto tempo’. E disse: ‘Nando vamos tentar um negócio aqui? Pega o violão, pega ‘Na Sua Estante’ e toca ela como se você tivesse composto essa música’. E aí, ele me veio com um arranjo incrível e ‘Na Sua Estante’ parece uma música que ele fez. É muito legal. Mas é que nem você falou, assim, eu – desde o começo – achava que o interessante sobre esse show era a gente abordar por essa perspectiva da novidade e não só pelo easy way. O caminho fácil, qual seria? Ah, cada um pega as suas músicas, a gente vai lá toca cada música de cada um, cada um uma vez. Eu não queria isso. Eu queria que a gente criasse uma outra coisa, uma terceira coisa e, para isso, a gente teve que realmente botar todas as músicas no chão, tirar tudo, deixar elas peladas para colocar outra roupa, que são os novos arranjos. E foi um trabalho muito interessante e minucioso. A primeira coisa foi isso. Eu e Kishimoto parávamos aqui no estúdio e falávamos assim, ‘agora, eu vou ouvir tudo de novo’. A gente ficava horas ouvindo todas as músicas do Nando. ‘Ah, separa essa’, ‘traz pra cá’, ‘que tom é essa música?’, ‘Ah, esse aqui combina com tal’, ‘e se eu fizer um sample’, ‘essa eu consigo juntar essa com teto de vidro’. Então, essa linguagem de usar e de fazer colagem isso era uma coisa que a gente já queria e que tem relação com o conceito do show, está presente na estética visual do show. Está presente no cartaz. Essa coisa justamente pegar os retalhos de cada um e costurar um uma nova parada. E acho que pode ser surpreendente pra alguns fãs. Tipo, eu lembro que quando a gente botou a ‘Luz dos Olhos’ na roda, aí alguns fãs de Nando ficavam assim ‘meu Deus do céu’.
Nando: Não…Eu mesmo, quando recebi a demo, falei ‘nossa’ e eu amo.
Pitty: Hoje, eu tenho tesão nessa música
Nando: E eu vou te dizer uma coisa, existem duas palavras que parecem muito semelhantes, mas são sutilmente distintas: uma é o estranhamento, outro é o espanto. O espanto no sentido, assim, da novidade, sabe? O estranhamento, às vezes, significa que é uma coisa que você não consegue não apenas compreender, como também não se identificar. O espanto é diante de uma revelação. E, esse show, o processo de trabalho dele, foi espantoso nesse sentido assombroso, no tom mais elogioso. E eu acho que isso causa nas pessoas também. Eu sei porque, quando os meus filhos viram pela televisão o nosso aperitivozinho no João Rock, ficaram muito surpresos positivamente por essa novidade, por essa terceira coisa. Há uma fusão, uma compatibilidade, uma admiração mútua e uma coisa que a gente também não explica muito, rola.
Pitty: E a proposta de roteiro de show. Como é que a gente pensa roteiro hoje em dia? A gente tem um costume, eu acho de uma vivência de banda de rock, que é chegar ali, cada um toca uma, você toca suas suas músicas e tchau. Eu, de muito tempo pra cá, comecei a pensar no show como um espetáculo. Então, assim, você começa a incorporar linguagens de música eletrônica nos interlúdios, por exemplo. Eu proponho ‘vamos passar de tal música pra tal música através de um interlúdio?’. ‘Mas como é que a gente constrói isso? Com uma virada de um DJ?’. É uma virada de música eletrônica que se dá dentro de um show de pop rock. São muitas linguagens dentro disso né?
Confira uma parte da entrevista em vídeo:
POPline: alguns fãs já estão se perguntando e eu queria saber se vocês têm planos de registrar essa turnê de alguma forma, com um disco ao vivo ou um DVD?
Pitty: A gente está tentando, amigo, bravamente. As agendas estão difíceis. Está aqui um homem muito ocupado, um trabalhador do Brasil. Entendeu? Um operário da música. É real, temos até uma música inédita que está no show e a gente quer gravar. A gente só está tentando conciliar. Vai rolar, vai rolar.
Nando: Exatamente. Isso a gente pode adiantar, que [a música inédita] é abertura do show, a primeira música e eu adoro canta-la.
POPline: Aquele show no João Rock foi uma amostra. E vocês já fizeram shows completos da turnê desde então. O que mudou daquele show para o que chegará em São Paulo?
Pitty: A gente recheou. A gente, ali, fez um show reduzido porque a gente só tinha uma hora de palco. Então, deixamos o repertório mais conciso. O que acontece, agora, é que tem mais músicas, o show dura mais tempo, mas mantivemos algumas marcações que a gente entendeu que funcionou, que ficaram legais. Acho que agora é o show completo.
Nando: Mínimos ajustes. Para falar bem a verdade, a gente só fez dois shows, né? Agora que eu acho que a gente vai sair mesmo. Mas, olha, os dois que nós fizemos completos eu já olhei e falei ‘isso é bom’. É uma alegria.
Pitty: E, agora, todo aspecto visual, a luz, todos os vídeos, todo o roteiro do show está completo, né? Então, agora ele tem começo, meio e fim. Ali [no João Rock] também tinha, vamos manter, obviamente, aquele roteiro mais conciso para festivais, porque temos menos tempo de palco, mas quando é o nosso show, só a gente, conseguimos fazer [completo].
POPline: Queria que vocês falassem como está sendo a percepção de vocês em relação ao público. Vocês têm fãs de gerações diferentes. Como está sendo esse encontro de fãs durante os shows?
Nando: Eu não tenho esse tipo de percepção quando eu estou no palco. Todo mundo sempre pergunta ‘ah, o que é esse público daqui? O que é esse público de lá? Mesmo de gerações’. Pra mim, todo público é o único e todo público acaba sendo igual por ser único. E, ali. eu achei maravilhoso. Bem, as pessoas cantam as músicas dela alto.
Pitty: As suas também.
Nando: É? Não sei (risos).
Pitty: Sim. Eu acho que rolou uma fusão massa porque algumas épocas nos separam, mas muitas coisas nos juntam também. Está colocado, ali, no roteiro. Voltando na história do conceito, da colagem, eu comecei a perceber a gênese de cada um. Como o Nando começou, na vanguarda paulistana, numa coisa mais newave e tudo. E eu comecei no hardcore, da Bahia. E a gente super no rolê underground, cada um. De repente, essa coisa da dos compositores e, de repente, agora, a gente junto. Eu acho que os públicos percebem isso e mais: sabe o que que eu acho que se impõe mais do que tudo nesse show? As canções. E isso une todas as tribos igual a ‘Norvana’ (risos).
Serviço
Show: Pitty e Nando Reis – As Suas, As Minhas e As Nossas
Data: 23 de setembro (sexta-feira)
Local: Espaço Unimed
Abertura da casa: 20h30
Início do show: 22h30
Endereço: Rua Tagipuru, 795 – Barra Funda – São Paulo – SP
Ingressos:
Camarote B: R$ 480 (inteira) e R$240 (meia)
Mezanino: R$ 180 (inteira) e R$90 (meia)
Pista: R$ 160 (inteira) e R$80 (meia)
Setores B,C e D: R$ 280 (inteira) e R$140 (meia)
Setores E F e G: R$ 240 (inteira) e R$120 (meia)
Compras de ingressos: Nas bilheterias do Espaço Unimed (de segunda a sábado das 10h às 19h – sem taxa de conveniência) ou pelo site Ticket 360
Formas de Pagamento: Dinheiro, Cartões de Crédito e Débito, Visa, Visa Electron, MasterCard, Diners Club, Rede Shop. Cheques não são aceitos.
Classificação etária: 16 anos
Acesso para deficientes: sim
Capacidade da casa para este evento: 4.112