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Entrevista: Silva fala sobre dueto com Anitta no Rio, turnê no Brasil em Portugal e close errado sobre Britney Spears

“Acho que, com o tempo, as pessoas veem que não sou desse rolê preconceituoso de achar que música boa é música feita ali para dez pessoas em uma casa de jazz em um bairro chique em São Paulo. Nunca fui esse cara”.

“Anitta botou meu nome na roda” – a frase de Silva é boa para sintetizar seu 2018 profissional. Depois do dueto gravado com a popstar para seu álbum, “Brasileiro”, o cantor viu seu público crescer e a agenda de shows tomar proporções inimagináveis. “Essa é a maior turnê que já fiz. Nunca trabalhei tanto”, conta o artista, que passou a frequentar mais programas de TV e já fez 50 shows pelo Brasil desde junho. No próximo dia 20, a cereja do bolo: Anitta participará do show da “Turnê Brasileiro” no Rio de Janeiro. Depois de quatro sessões com ingressos esgotados em um teatro da cidade em julho, Silva retorna para o público maior em uma casa maior, o Vivo Rio. Assim, troca a fileira de poltronas por uma pista para que os fãs possam curtir o show em pé e beber cerveja.

Não será um episódio único. Silva está reinventando-se na estrada. Depois de lançar o single “Brisa”, para dar uma revitalizada no repertório, o cantor-compositor pretende esticar a turnê, trocando os teatros por locais onde a plateia fique de pé. Isso dá outro dinamismo ao show. Até bloco de Carnaval, ele vai puxar. São novos desafios que ele vem se propondo. Em entrevista ao POPline, ele adianta também que já está em estúdio, aproveitando um momento de inspiração. Confira!

POPLINE – Como tem sido essa turnê para você?
SILVA – Eu tô meio que alongando essa turnê, sabe? Eu sempre emendei um trabalho no outro. Como sou eu que assumo essa coisa de produzir, de criar, de compor, de gravar, de cantar, acaba que é um trabalho que não tem fim. Agora estou em uma fase em que acho que a gente tem muita coisa para render. É uma turnê que eu não quero acabar agora, mas quero adicionar coisas a ela. No ano que vem, a gente vai fazer show em pé, para galera, acho que em lugares maiores. Shows com bebida e pista. Eu venho tocando em teatro a vida inteira. No show em teatro, a pessoa senta, te ouve, não tem bebida, não pode levantar para dançar. Por mais que minhas músicas sejam tranquilas e eu seja um cara “de boa”, eu gosto do tranquilo dançante, sabe? É uma coisa que quero explorar daqui pra frente.

Qual a expectativa para esse retorno da turnê ao Rio, em uma casa de shows maior?
SILVA – Estou muito empolgado. Tem tanta coisa que vai rolar no ano que vem. Isso, pra mim, vai ser só um presságio do que vem. O show vai ser lindo, vibe pra cima. Vai ter sopros. Não é o meu show que faço em teatros. Já vai flertar com o que vou fazer no ano que vem. No ano que vem, tem bloco, vou fazer show de Carnaval. Anunciei um show de Carnaval em Brasília e a galera está ligando querendo show em Salvador, no Rio, em São Paulo. A gente mal lançou essa ideia e o negócio está expandindo. Acho que isso me leva para outro lugar e sai dessa zona de conforto: “Silva toca violão, canta bonitinho, baixinho, gostosinho, não sei o quê”. Vai para um lugar mais “pra fora”. Vai ser um desafio bom pra mim.

Como é sua relação com a cidade? O que você gosta de fazer quando está no Rio?
SILVA – Cara, o Rio é um lugar que vim a vida toda, porque minha família é daqui. Sou capixaba, mas falo “mermo”, sabe? Minha mãe é carioca. Sempre vinha pra cá. Minha mãe é de São Gonçalo, na verdade, então tenho uma família bem “da quebrada” (risos), uma galera que amo muito e tenho contato próximo. Primos que sempre venho ver. Sempre gostei muito do Rio e me identifiquei muito com a música do Rio. Não à toa fiz o “Canta Marisa”. Acho que a Marisa é muito inteligente em seu olhar para o que o Rio de Janeiro tem – de flertar com Rio de Janeiro raiz. Eu gravei agora com outro artista, que já flerta com outro Rio de Janeiro, outra coisa. Eu gosto muito daqui. Rio e Bahia, pra mim, são lugares que mais me identifico musicalmente.

E vai ter a participação da Anitta. Por que vocês demoraram tanto para conseguir fazer essas apresentações?
SILVA – Primeiro, pela agenda dela. A Anitta já de cara me disse “amigo, a agenda tá fo**, tô trabalhando pra cara***”. Mas é uma coisa que a gente queria fazer. A gente tentou fazer coisa em TV e não conseguiu. Eu cantei com ela agora no Festival de Salvador e vamos cantar agora também no Rio. A agenda dela está uma loucura. Ela está se jogando pelo mundo. É difícil conseguir Anitta. Até o pessoal de TV diz: “pô, tenta aí uma data com a Anitta, que a gente também não está conseguindo”. Acho que vai ser muito legal. A Anitta é uma pessoa muito inteligente, muito sagaz, e fico muito impressionado com isso. Ela gosta de música pra caramba. Quando a gente está junto, a gente fala de música. Quando fomos gravar o clipe, a gente estava falando de Amy Winehouse, de soul, e ela sabe o nome de todos os produtores, da galera que tocou no disco. Eu fiquei muito impressionado com essa parte dela. Estou feliz pra caramba. A Anitta é muito legal, gosto muito dela, e ela foi muito legal comigo desde o começo. Em termos mercadológicos, tenho plena noção de que eu não tinha nada a oferecer para ela – em termos de números e coisas que ela não havia conquistado. Ela resolveu trabalhar comigo porque gostou do meu trabalho e da música que mandei para ela. Encarou com o maior respeito. Acho isso muito bonito. Sou muito grato a ela por isso. Muita gente nunca tinha ouvido falar de mim e conheceu meu trabalho depois disso. Ela botou meu nome na roda. Acho isso muito generoso da parte dela.

“Brisa” já foi incluída nos shows novos?
SILVA – Tô sim. Tô cantando essa e já tô colocando coisas que quero fazer no show do Carnaval. Estou essa semana em estúdio, gravando um monte de música nova para o ano que vem. Não tenho data para lançar isso, mas já estou começando a criar várias coisas de novo. Acho que é legal aproveitar o momento em que você está inspirado e fazer coisas, sabe? Estou muito feliz. Essa é a maior turnê que já fiz. Nunca trabalhei tanto. Sei lá, 14 shows no mês, ficar cansadíssimo, sem tempo para vida normal. Eu nunca tinha vivido isso: você chegar e ficar só dois dias em casa. Estou feliz porque as coisas estão indo pra frente. Nesta semana, gravei aqui no Rio com uma galera com quem sempre quis gravar: músicos incríveis, que já tocam com uma galera que sou muito fã. Estou começando a conquistar algumas coisas e ter minhas ambições musicais.

No ano que vem, você fará uma turnê por Portugal e os ingressos estão esgotados para várias sessões. Já conhece o país?
SILVA – Quando eu comecei, bem alternativo, botando música no Soundcloud, a galera de Portugal já falava do meu trabalho. Já tinha uma coisa de falar “vamos ficar ligados no que esse cara do Brasil vai fazer”. Saía em blogs de música.

Você ia atrás para divulgar nesses blogs ou foi espontâneo?
SILVA – Não, nem era uma coisa que eu pensava. Eu nem sabia no que isso ia dar. Foi uma surpresa quando comecei a ver as pessoas de lá postando. Nessa época, existiam muitos blogs de música, né? Deu uma caída. O POPline é um portal gigante, tem uma relevância. Mas, em 2008, tinha um monte de blogs menores, e as pessoas se guiavam por eles. Não tinha uma coisa assim? Ou estou falando besteira? Nessa época, tinha uma coisa engraçada: “se esse blog falou, então deixa eu ouvir”. Eu lembro desse movimento dos portugueses falando. Fui para lá pela primeira vez em 2013. Fiz um festival da Vodafone, Mexe Fest que era o nome. Lancei o segundo disco, voltei para o Rock in Rio – Lisboa, e voltei mais uma vez depois para tocar em um outro festival de uma marca de cerveja. Voltei no ano passado… Estou voltando lá assim, tocando em festivais mais alternativos, mas ainda não tinha ido para lá para fazer uma turnê minha, fechar um teatro e vender a data como um show só meu. Estou muito feliz com isso.

O último show está marcado para 11 de maio em Curitiba. Será o fim da turnê?
Não (risos). No site, estão os shows confirmados. Eu tenho uma equipe pequena. Meu irmão é meu empresário. A demanda está aumentando tanto que a gente não sabe nem o que vai fazer ano que vem, sabe? A gente tem que se organizar para atender essas demandas todas. Tem muito pedido de show. Acho que a gente vai dar uma estendida nessa turnê para conseguir voltar nas cidades em que já passou, mas com o show dessa outra forma, com a galera em pé, menos “certinho”.

No meio dessa agenda toda, o que você tem ouvido de música ultimamente?
Deixa eu pensar. (pausa) Tenho ouvido muito Childish Gambino. Já tinha escutado pra caramba, mas voltei a ouvir depois que ele lançou “Feels Like Summer”, que achei incrível. É… estou ouvindo muito samba de hoje, aqui do Rio. Pretinho da Serrinha, essas coisas. Tô ouvindo muito também uma DJ – que não tem nada a ver com o que eu faço – que é a Honey Dijon. Já ouviu ela? É uma mulher trans, acho que americana. Ela toca um tecno absurdo de legal. Não é aquele tecno cabeçudo, underground, não. É meio pop. Ela bota uns samples de Stevie Wonder e Whitey Houston, umas coisas assim que fazem ser dançante. Estou amando as coisas dela. É mais pra festa. E tem as coisas que nunca paro de ouvir: Gal, que é minha cantora de cabeceira, essas coisas.

E Britney Spears?
(risos) Eu dei um mole, né? Eu sei que dei mole. Você que é jornalista pode falar isso: dei mole. O que me deixa mais puto comigo mesmo é porque eu realmente gosto da Britney. Sempre fui o cara que falava “ouve, ouve”. A galera fala “ah, mas ela faz playback”, mas ouve os discos! Não tem como você fazer mágica com a voz de alguém. A pessoa tem que ter uma voz. Você não pode criar uma voz de computador (risos). Sempre curti pra caramba. É uma coisa que eu dei mole. Peguei um contexto nada a ver. Sabe quando você entra num tema e perde a mão, fala uma coisa que não tem nada a ver? Falei merda mesmo. Nem me justifiquei por causa disso. Pensei: “não vou nem ficar tentando me justificar, porque falei merda, pronto e acabou”. Mas é uma coisa que eu sempre lutei contra: “isso aqui é música boa”, “isso aqui não é música boa”. Eu venho de um meio de MPB que tem esse preconceito. Anitta, por exemplo. Quando você bota Anitta no disco… Eu sempre gostei de lutar contra essa coisa, entendeu? Sempre detestei isso. Dei mole. (risos) Mas acho que, com o tempo, as pessoas veem que não sou desse rolê preconceituoso de achar que música boa é música feita ali para dez pessoas em uma casa de jazz em um bairro chique em São Paulo. Nunca fui esse cara.

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