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Entrevista: Sam Alves revela ter recebido conselhos de profissionais da indústria para manter homossexualidade no armário

Sam Alves está em uma nova fase, que ele chama de “mais aberta”. Desde que falou verdadeiramente pela primeira vez sobre sua sexualidade – e com um fã, via Twitter – o cantor brasileiro se vê finalmente “sem máscaras” como descreveu em entrevista para o POPline.

Após o turbilhão das últimas semanas, da repercussão e das muitas mensagens de apoio recebidas, Sam explica o motivo de ter demorado tanto tempo para falar sobre sua homossexualidade, revelou que recebeu conselhos de profissionais na indústria para “se manter dentro do armário” e mandou um recado lindo para todos sobre não ter medo, se aceitar e viver sua própria verdade.

POPline: Oi Sam! Como você está agora depois do turbilhão das últimas semanas?
Sam Alves: Estou ótimo, graças à Deus! Alguns dias já se passaram desde o grande dia. Sou a mesma pessoa que antes, mas agora me sentindo mais aberto. Aberto que eu digo, em poder compartilhar isso com meus fãs sem nenhum medo do que as pessoas pensam de mim. Continuo recebendo muitas mensagens positivas e de pessoas que se fortaleceram com minha história! Isso me deixa muito feliz!

Para a grande maioria das pessoas, aquela mensagem não trouxe uma enorme novidade. Muitos já “desconfiavam”. Por que decidiu se assumir publicamente neste momento?
Não foi uma decisão de me assumir. Muitas pessoas nem gostam de falar “assumir” porque dá a entender que fiz algo errado em dizer quem eu sou, quem sempre soube ser desde criança. O fato é que quando eu respondi o tuíte do fã que me perguntou sobre minha sexualidade, eu já estava num num lugar bom na minha vida pessoal para poder ser questionado sobre o assunto e responder honestamente. Algo que no passado, eu não podia por ainda não ter feito a prioridade de falar com minha própria família e meus amigos, as pessoas que deveriam saber primeiro. Eu sabia que existia a desconfiança do público, não moro debaixo de uma pedra (risos). Mas mesmo sabendo que existia a desconfiança, até mesmo de familiares e amigos, eu ainda precisava resolver isso primeiro e chegar ao ponto de me sentir bem em dizer sem ter nenhum tipo de medo. É um grande passo para alguém que foi criado num lar cristão, e muito mais para quem vive nos holofotes de uma vida pública. Não poderia ter sido quando os outros queriam saber, e sim quando eu me sentisse preparado.

Você imaginava uma repercussão desse porte nas redes sociais?
Eu sei que a sexualidade sempre foi assunto desde que tive a exposição na vitrine da Globo. No passado, quando neguei por não me sentir preparado para compartilhar isso com o público, eu sei que repercutia quando eu respondia a essa pergunta, mas desta vez não esperava tudo isso o que ocorreu. Acordar depois de responder a um fã de madrugada pelo Twitter e ver as notícias em todos os portais online e até em programas de TV foi um pouco assustador. E não pensava que iria ser algo em nível de notícia nacional. Até alguns amigos dos EUA me mandaram prints de seus newsfeeds de redes sociais. A internet tem um poder grande de espalhar noticias falsas hoje em dia, então com certeza os que não sabiam que eu tinha falado sobre minha sexualidade de um modo público estavam querendo saber se era verdade. Achei de fato que seria só um, “já sabíamos” e que eu confirmando seria só eu me sentindo bem em falar publicamente sobre isso. Mas para muitos que não “desconfiavam” virou noticia para eles mesmo!

Como família e amigos receberam “a notícia”?
Como disse, minha família e meus amigos foram os primeiros a saber. Foi algo que fui revelando para os mais próximos primeiro e depois fui abrindo o leque. Então quando saiu na mídia, todos que precisavam saber já estavam cientes. Alguns ficaram felizes com minha atitude e coragem de enfrentar os desafios de uma pessoa que vem de família religiosa, e mesmo assim dizer a verdade e ser quem eu sou. Outros ficaram com um pouco de medo do que isso seria dali para frente para mim, as preocupações de quem ama. O importante é saber que sou amado e que não estou fazendo nada errado. Como Claudia Leitte uma vez me disse, “apenas seja!”… estou apenas sendo quem sou.

O que te levou a manter esse assunto quieto por muito tempo?
Minha vida pessoal não é algo que gosto de expor. Nunca foi, nem antes da fama. Sempre fui de manter minha intimidade com as pessoas num nível saudável tanto para mim quanto para elas. Eu sabia que existia os questionamentos sobre a minha sexualidade, mas ninguém se apresenta hoje em dia dizendo, “oi sou fulano e sou hetero”. Então não sentia necessidade de dizer “Prazer, sou Sam Alves e sou gay”. O que mais me motivou falar agora sobre isso foi o erro que cometi de segurar por tanto tempo no passado a verdade. Isso me deixava mal. E eu não gosto de mentir. Menti no passado para proteger as pessoas mais próximas de mim para elas não ficarem sabendo de outra forma além da minha própria boca. E isso acabou me acompanhando durante esses anos, e eu não gostava disso. Já que minha família sabia, estava na hora de tirar o véu e poder riscar essa dúvida das pessoas que me seguiam, que me admiram, que se espelham em mim como artista.

Vir de um reality show de uma grande emissora de certa forma te travou ao falar sobre o assunto?
Durante meu tempo no “The Voice” esse assunto nunca foi abordado, então nem pensava em responder perguntas assim. E desde então apresentando na Globo nos programas que sou convidado nenhum(a) apresentador(a) me perguntou sobre minha sexualidade. Sempre colocavam minha vida profissional em frente da minha pessoal e respeitavam de não entrar nesses assuntos. Realmente eram mais por razões pessoais do que profissionais a razão de manter este assunto para mim.

Quando você respondeu a aquele fã no Twitter foi no impulso ou pensou antes de publicar sabendo que estava tocando nesse assunto e que ele seria encarado como “uma libertação”?
Eu naquele momento só respondi. Eu não tive que parar e pensar: “e se minha mãe souber? Se meu pai ler? Se alguém da minha família for enviado print disso?” etc. Não precisava mais me preocupar deles saberem da forma errada, pois já haviam sido informados por mim. Não existia uma necessidade de “libertação”. Eu não tive que pensar em nada disso, eu simplesmente respondi com sinceridade à pergunta de um fã. Eu devia isso a eles. Como poderiam admirar uma mentira? Tive minhas razões de manter para mim, meu direito a manter o equilíbrio da minha vida pessoal. Mas eu sabia que se eu quisesse seguir em frente com minha carreira, teria que ser sem a máscara.

Quais são/foram seus medos a assumir a homossexualidade?
Teve épocas aonde já pensei em falar sobre o assunto publicamente e pedi conselhos aos amigos mais próximos, às pessoas que trabalham no mundo artístico. Já ouvi muitos conselhos dizendo que não era uma boa, que era melhor negar. Outros falavam que era melhor manter o “mistério” não negar e nem confirmar. Mas eu já estava achando que isso não condizia com o tipo de pessoa que sou. Mas todos que eram contra falavam que poderia prejudicar minha carreira. E isso me deu um certo medo uma época, mas foi mais no começo. Ao crescer como artista e me firmar com meu publico e ver que esse medo era bobeira, ainda mais hoje em dia, eu enfrentei esses medos. O medo nos paralisa, nos imobiliza, nos deixa presos para não seguirmos com o propósito que temos aqui na Terra. Eu não poderia ter medo de ser eu.

A gente sabe que ainda há preconceito, violência, mas atualmente muitos artistas já nascem como inspirações para os fãs. A gente vê artistas como Pabllo Vittar com uma base enorme de fãs, fazendo a música que quer, se apresentando como quer e com um apoio também da classe artística. Há algum tempo isso não era tão escancarado. Como você vê essa mudança?
Já tive medo de falar que sou gay pela minha carreira considerando os conselhos que recebi. Não queria que as pessoas tivessem um preconceito com minha arte por causa minha vida pessoal. E acho que essas decisões que levam coragem a um artista ser quem ele é com seu público abre portas para sermos verdadeiros. Queremos ser enxergados como artistas genuínos. Acho que se hoje em dia podemos ser quem somos e vivermos da nossa arte, mostra que estamos em tempos melhores do que já passamos. Artistas que tem uma forma diferente de se expressar no palco como, por exemplo, um Ney Matogrosso e serem respeitados pela sua arte é algo que motiva o público a aceitar as diferenças e para nós artistas nos dá a ousadia de sermos mais daquilo que somos sem ter medo. Pensar que vou perder fãs por ser quem eu so só irá me provar quem não era meu fã pelas razões certas. Achar que não irei ter as oportunidades que outros artistas tem no mercado por ser gay, o que não irei fazer parcerias na música com artistas que eu queira é besteira. Se eu perder uma parceria profissional com alguém que admiro ou tenho vontade de colaborar com por esta razão, só me revelará que eu não deveria fazer aquela parceira em primeiro lugar. Não quero trabalhar com ninguém que tenha receio de trabalhar comigo pela minha sexualidade ou que demonstre algum tipo de preconceito por se associar comigo. Respeito é a primeira coisa que devemos ter um com o outro. Ver que há possibilidades de ser enxergado pela minha arte primeiro e não minha sexualidade e ainda ser respeitado como artista mostra que estamos no caminho certo!

Em quem você se inspira?
Eu me inspiro em vários artistas! Maioria do mundo pop. Alguns são Justin Bieber, Michael Jackson, Katy Perry, Whitney Houston, Pink, Rihanna, Bruno Mars. Mas um artista que admiro muito é Troye Sivan. Admiro a oportunidade que ele teve de fazer música sem medo de expressar quem ele é e colocar isso nos clipes dele. A letra é neutra para que todos possam curtir a música indiferente da sexualidade. Mas admiro os clipes dele terem essa abordagem gay na história, sem ser vulgar, sendo romântico e bonito. Admiro mais ainda que as músicas dele tenham sido abraçadas aqui no Brasil.

A gente viu tanta mensagem de apoio à sua decisão. Como você recebeu o carinho desse pessoal todo?
Fiquei emocionado. A surpresa de ver que um tuíte virou Trending Topics no Twitter e depois virou manchete nos maiores sites de notícias do Brasil me assustou. Mas quando comecei a ver mensagem de apoio eu me emocionei. E após fazer minha primeira entrevista sobre o assunto e ver tantas pessoas que estavam no armário se sentido presas, sem força… eu tive a chance de ver o quanto isso poderia ser positivo na vida das pessoas. Artistas são espelhos para muitas pessoas, então temos uma responsabilidade com o nosso público. Tentamos ser o melhor para nós mesmos, viver o melhor que podemos na vida e também sermos boas influencias para os que estão ao nosso redor. Quero poder inspirar muitas pessoas a serem quem o ser que Deus à fez ser.

Você quer aproveitar o espaço do POPline e mandar algum recado aos seus fãs?
Seja a melhor pessoa que você pode ser. Vença na vida, conquiste seus sonhos, lute pelo que acredita. Seja tudo aquilo o que Deus um dia sonhou para você. Não para seu próprio ego, nem para se sentir bem com isso, mas para ser inspiração para muitas pessoas. Uma vez ouvi falar que a maior fonte de alegria de uma pessoa é poder alegrar ao outro. Faça isso. Alegre as pessoas ao seu redor… mas não sacrificando quem você é ou ligando para as criticas. Não deixe apenas o legado das coisas que você conquistou na vida, mas o quanto você conquistou e através disso foi inspiração para muitos, forte para os fracos e um exemplo de amor para com o próximo.

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