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Rooftime: trio de DJs expande fronteiras e ganha espaço nos Estados Unidos e na Europa


A música eletrônica no Brasil vem ano após ano conquistando cada vez mais ouvintes e seguidores e certamente alguns nomes saem na frente. No entanto, há uma nova geração de músicos empenhados em ampliar ainda mais o cenário e expandindo as fronteiras. O trio Rooftime é uma das mais recentes apostas. O trio DJs expande fronteiras e ganha espaço nos Estados Unidos com a ajuda do New York Times e na Europa com selo de aprovação Alok e Vintage Culture.

Conversamos com os rapazes sobre o cenário brasileiro, as novas produções com lançamento internacional e parceria com outros artistas do gênero.

Lisandro Carvalho e os irmãos Gabriel e Rodrigo Souza formam o Rooftime. Foto: Divulgação

A música eletrônica vem ano a ano em uma escala progressiva no Brasil. E vocês tem esse apoio importante de nomes como Alok e Vintage Culture. Como você está vendo essa progressão de interesse e de identificação do público?

Nos já enxergamos a musica eletrônica como uma realidade do cenário artístico brasileiro .É impossível negar e ignorar a força e tamanho dessa vertente musical. Cada ano que se passa, os eventos ficam maiores e mais organizados, atraindo cada vez mais gente para o meio. Isso sem mencionar quando DJ’s “invadem” eventos de outros gêneros, como o sertanejo, e se saem muito bem. É gratificante demais acompanhar todo esse crescimento pois já fomos as pessoas que estiveram na pista dançando e apoiando o cenário. Assistíamos Alok e Vintage Culture tocar desde o começo e a sensação é quase magica quando se pensa que hoje já fizemos colaborações com ambos. Essa dimensão que a musica eletrônica esta atingindo é justamente pelo trabalho que esses dois gigantes começaram lá trás, criando terreno para todos artistas que vieram em sequencia. Sabemos que eles também tinham suas referências quando começaram, mas quando a história é o cenário atual brasileiro, muito se deve a esses caras.

Pra todos nós músicos, assistir o crescimento da musica eletrônica brasileira, dentro e fora do pais, é algo que sempre sonhávamos em acompanhar e fazer parte.

E a progressão de interesse da própria indústria?

Não aproveitar esse crescimento seria uma oportunidade desperdiçada por parte da indústria. A música eletrônica é volátil o suficiente para se tornar aquilo que o ouvinte deseja ouvir, sentir e dançar. Logo, ela atinge o público de forma exponencial e se espalha facilmente. Hoje, com os recursos das plataformas digitais, as potenciais parcerias implícitas dentro do mercado musical são oportunidades ímpares para grandes marcas, empresas e outras, se posicionarem de forma artística e aparecer na vida do público quando esse mesmo está em seu melhor momento: se divertindo e totalmente desligado do mundo convencional. Até por que, isso é umas das coisas que a música eletrônica proporciona ao ouvinte: uma fuga de espírito de todas as responsabilidades mundanas. E que parte da indústria negaria a possibilidade de estar na vida das pessoas em seus momentos mais alegres? Então, esse interesse é conveniente a todos os lados da equação pois com parcerias de grande âmbito conseguimos alavancar o alcance de todo o trabalho envolvido, seja na divulgação da marca ou do artista.

Geralmente artistas que fazem parte de nichos da música eletrônica não tão radiofônica assim acabam ficando nichados para um núcleo de amantes da EDM. Qual o desafio de tentar a visibilidade no cenário, fora dele e manter a essência do projeto?

Talvez esse seja um dos maiores desafios para os músicos pós-modernistas. Como citamos anteriormente, a beleza da musica também se deve ao fato de sua volatilidade em atingir pessoas com perfis totalmente diferentes de uma maneira única, mas isso também pode ser uma armadilha para quem esta produzindo-a. A popularização em massa do cenário eletrônico nacional cria uma necessidade de adequação musical ao segmento mais comercial.

É certo que alguns DJ’s ficam presos ao próprio cenário mesmo sendo sinceros com o próprio som que criam. Mas a grande questão é o quanto podemos abrir mão da nossa essência para se adequar ao que nos trás mais visibilidade.

Nos somos um grupo de músicos que se alimenta de musica diariamente, pois justamente não queremos nos desprender de tudo que esta sendo mais tocado naquele momento, mas ao mesmo tempo prezamos por nossa identidade dentro do som muito além do que qualquer outra coisa. Para o Rooftime, qualquer projeto que cria musica sem ser sincero com seu sentimento, não está criando uma musica e sim um produto. Então, qual o caminho que seguimos para que não deixemos todo esse sentimento de lado e nos rendemos ao que é viral? A ideia é justamente se alimentar com o aquilo que esta evidencia no cenário hoje e usar isso como base de expressão para o nosso trabalho. Com essa base firme, usamos a nossa essência como uma especie de filtro. Alem do que, naturalmente um músico sente a necessidade de criar fases para seu trabalho. Se o mundo por si só muda a cada dia que vivemos, não podemos negar que tudo ao nosso redor também muda, assim como a música e estatizar nosso trabalho alegando que a essência é uma clausula pétrea pessoal. Temos que estar abertos, tranquilos e equilibrados para enxergar e aceitar as mudanças. Afinal, por mais volátil que seja, o cenário musical sempre acolherá quem for sincero com ela.

Antes de ingressarem na EDM vocês faziam esse lado de pop, pop-rock. Como vocês uniram esses dois mundos?

Quando nos juntamos nas primeiras vezes, ficou evidente a diferença de background musical dos três. Um tinha um conhecimento amplo dentro do eletrônico e os outros dois eram mais do cenário pop, pop-rock e ate mesmo rock. De certa forma, fomos escutando o que um e o outro gostavam mais de ouvir e conversávamos somente disso. Costumamos dizer que você só conhece a pessoa de verdade quando ouve a playlist dela e foi bem isso que fizemos! Por que, se escolhêssemos um foco já existente dentro do cenário, estaríamos deixando de lado toda a bagagem musical que recolhemos durante nossas vidas. E isso é a mais importante influencia que você pode trazer para dentro do trabalho de produção, pois é o que diz verdadeiramente como você se enxerga dentro da musica, o que você sente quando escuta uma musica de certo gênero ou o que você procura expressar com a sua musica. Isso é a verdadeira essência de um músico.
Tudo que fizemos desde o começo não seguiu nenhum plano, deixamos nós mesmos livres para criar aquilo que mais nos agradava dentro da música. De certa forma, não sabíamos no que ia resultar e nem se seria bom, mas se não alcançássemos nossos objetivos desse jeito, estaríamos nos afastando de tudo que acreditávamos.

Como artistas como Alok e Vintage, que arriscam muito em questão de produção e também na agenda frenética de lançamentos, ajudam aos novos artistas do segmento?

Justamente por arriscar muito, eles criam terreno para diferentes artistas se expressarem dentro do segmento. Talvez isso seja algo que poucas pessoas percebem, ao contrário, muitas vezes são duramente criticados por isso. Mas na verdade, é um dos atos mais valiosos para os mais novos ingressantes no cenário. É muito mais difícil você ambientar um tipo de som que nunca foi testado antes para o público do que chegar em um show onde o “gelo já foi quebrado” antes. Citamos anteriormente como o a musica eletrônica invadiu grandes shows sertanejos, e isso se deve a esses gigantes que estão dispostos a arriscar para criar novos terrenos. Não é por que o Alok já fez uma colaboração com uma dupla sertaneja que ele vai apagar todo seu passado dentro do Psy-Trance e do EDM.

Temos que entender que música boa não tem segmento, não segue regras e esta disposta a replicar o próprio sentimento de maneira igualitária para todos que a escutam. Só assim vamos admirar os riscos tomados pelos gigantes do cenário.

Vocês são contratados da Spinnin, a maior gravadora de EDM do mundo. Como é fazer parte de um catálogo que tem além do Alok, Dubdogz também brasileiros, nomes como Tiesto, NERVO e JETFIRE?

Nos conseguimos lembrar com certa facilidade do tempo que estávamos nos conhecendo ainda e as musicas estavam começando a tomar forma, naquele momento sonhávamos com lançamentos pela Spinnin e imaginávamos que seria algo que conquistaríamos com o tempo justificando nosso trabalho. Logo quando fechamos a “I Will Find” com o Vintage, nossa primeira musica a ser lançada oficialmente, e ele nos contou que a música sairia pela Spinnin, mau conseguíamos acreditar. Estávamos realizando sonhos em sequencia e de um jeito muito mais rápido do que esperávamos. Hoje nos temos uma relação otina com a gravadora, tendo lançado outras músicas com eles, e os resultados são incríveis. Ambas as partes se entenderam muito bem e graças a Spinnin podemos alcançar muito mais pessoas do que imaginávamos que poderíamos. A ficha ainda esta caindo pra gente, na verdade. Olhar nossa música sendo lançada com aquele logo ao lado de nomes gigantes do cenário da arrepios toda vez!

Falando em Alok e Dubdogz vocês se reuniram recentemente no single “Free My Mind”. Como foi essa união dos estilos?

Foi uma experiencia única pra gente. Quando escrevemos a musica, sabíamos que ela tinha uma vibe muito atraente, mas não tínhamos uma estrutura que entregasse essa sensação. Pois, na época, ainda estávamos consolidando nosso som com o projeto e nossa identidade. Mostramos a musica para os caras do Dubdogz e eles conseguiram sentir essa mesma ideia que estávamos buscando. Então começamos a trabalhar uma versão junto com eles que mostrasse todo potencial que ela tinha. E foi essa versão que acabou chamando a atenção do Alok. O dia que entramos em contato com ele foi surreal, conhecer um cara da dimensão dele é algo que qualquer produtor sempre sonhou, por toda bagagem e simbolismo que ele representa no cenário. Ele ligou para nós de madrugada pelo FaceTime para entender o que queríamos passar com a musica, o significado dela e o que ele estava esperando pra ela. Algum tempo depois nos juntamos todos em um estúdio para trabalhar mas demorou bem mais do que isso. Juntar o interesse de 3 projetos em uma musica é um trabalho minucioso e detalhado porque todos querem tirar o máximo da ideia e também colocar sua identidade nela. Alem disso, outra parte trabalhosa é a do planejamento, já que existe a necessidade de conciliar a agenda de todos. Mas, mesmo depois de muito suor e pouco mais de 1 ano de estúdio, chegamos a versão final da “Free My Mind” e não poderíamos estar mais felizes com o resultado!

E nos fale sobre os bastidores do novo single “Home”.

A “Home” foi uma das primeiras músicas que produzimos com o Rooftime e desde que acabamos ela, sabíamos que era musica com um sentimento mais íntimo que as demais. Todos nós sentíamos que seria uma musica para ser lancada quando tivéssemos uma conexão mais próxima com o nosso publico, justamente por causa desse sentimento. Então, guardamos ela ate sentirmos esse momento especial. O tempo foi passando ate chegarmos no cenário de hoje, com uma pandemia atingindo o mundo e todos sendo obrigados a ficarem isolados em suas próprias casas. Com isso, sentimos que a musica começou a tomar um significado diferente do que imaginávamos e surgiu a ideia de trabalharmos ela nesse período. Apresentamos a ideia para a BIG TOP Amsterdam que embarcou com a gente no lançamento. Sabíamos que seria um cenário delicado e imprevisível, mas hoje percebemos que a música fez bem para nós e aqueles que a escutam. E essa é verdadeiramente a ideia: oferecer um lugar comum, confortável e seguro para todos ouvintes da “Home”.

E como foi esse convite do New York Times para trilha sonora de um vídeo do documentário da empresa?

Foi algo inesperado! De todas oportunidade que surgiram para nós, essa com certeza foi a mais inusitada e ao mesmo tempo, muito especial. Quando recebemos o e-mail com a proposta, foi um pouco difícil de acreditar. Tanto que o titulo do email era “uma pergunta estranha de um Repórter Jornalistico” seguido de “não, isso não é um spam, e muito menos um bot”. Pelo e-mail, conhecemos o Ian Urbina, colunista do New York Times que nos apresentou seu projeto jornalistico acerca dos mistérios escondidos no oceano. Foi difícil de acreditar de primeira, tanto que encaminhamos a mensagem para o nosso time e eles nos confirmaram que era real! O projeto vai reunir musicas de diversos artistas e nos estaremos juntos a eles para produzir uma trilha sonora especial para o documentário. É algo bem ousado, pois nunca ninguém fez um trabalho com essa amplitude sinestésica antes. Mas não exitamos em entrar nesse projeto. Vai ser algo que levará algum tempo a ser finalizado, pois envolve muita gente, mas já estamos ansiosos para produzir e ver o resultado final de toda essa fusão artística em um único projeto.

Vocês assinaram com um selo de Amsterdã recentemente. Já há uma música de vocês tocando na Itália sob outro selo. O que esperar desta nova fase do Rooftime?

Estamos explorando todas as possibilidades musicais que podemos alcançar, quase como um redescobrimento do nosso próprio estilo. Esse movimento europeu da nossa música nos deixa ainda mais animados, pois sempre ficava em nossa cabeça qual seria a relação do nosso trabalho com os ouvintes de lá. Agora, com duas músicas sendo trabalhadas in loco nesse mercado, sentimos que podemos explorar a nossa fase mais nova sem medo de qualquer restrição. Sabemos que são mercados extremamente diferentes (europeu e brasileiro), mas a ideia sempre foi abraçar os dois com o nosso som. Agora, estamos desenvolvendo novos caminhos para as músicas e se sentindo ainda mais identificados com o resultado. Já temos cerca de 5 musicas dessa nova fase do Rooftime, uma delas mostramos em uma live que fizemos recentemente la no Instagram. Mostramos para alguns amigos da cena e todos apoiaram demais as ideias, então estamos confiantes de que algo novo e diferente esta por vir!

Com a quarentena, como está o relacionamento de vocês com a audiência, o esquema de criação e as lives?

Estamos conciliando o contato que temos com o público através das redes com a produção de tracks dessa nova fase. Estamos passando por um período estranho para todos e ninguém estava preparado para isso, então é plenamente normal ver um comportamento fora da rotina das redes. Fizemos duas lives, mas em uma delas tivemos problemas com a internet. Como alguns sabem, moramos bem no interior de São Paulo, onde estamos isolados, então as vezes lidamos com alguns obstáculos impostos pela infraestrutura. Mas não é nada que faça a gente perder essa conexão que temos com a galera que segue a gente. Estamos ansiosos para que tudo isso passe, para assim estarmos em contato direto com o público, por que esse tipo de contato não tem como ser substituído.

Rooftime em ação

O trio vai estar ao vivo com o POPline nesta terça-feira, 30 de junho. A live DESCUBRA está marcada para às 19h (horário de Brasília) pelo nosso Instagram. Vamos conversar sobre o momento importante na carreira do Rooftime e tentar arrancar o que vem por aí!