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Entrevista: Premiada diretora, Joyce Prado fala sobre o processo mercadológico por trás de um videoclipe

Joyce acabou de assinar a direção do clipe de “Terra Aféfé”, nova música de Margareth Menezes

Joyce Prado | Foto: Acervo pessoal

Diretora premiada pelo WME em 2018/2021 e Music Video Festival Awards 2020, Joyce Prado tem se destacado no mercado do audiovisual e assinado clipes elogiados pela crítica especializada e queridos pelo público dos artistas.

No seu portfólio, Joyce traz criações como “Memórias de Um Corpo no Mundo” (2018) documentário musical sobre a primeira turnê nacional de Luedji Luna, além dos videoclipes da cantora: “Acalanto”, “Notícias de Salvador”, “Banho de Folhas”, “Um Corpo no Mundo” e, mais recentemente, “Bom Mesmo é Estar Debaixo D’Água” (álbum visual e clipe).

A cineasta acaba de assinar o novo clipe da cantora Margareth Menezes, do single em parceria com Carlinhos Brown. “Terra Aféfé” foi lançado neste sábado (12), e faz uma ode à feminilidade ancestral, uma exaltação ao lugar da mulher na formação da humanidade e um chamado a Iansã, orixá dos ventos e tempestades.

Joyce Prado durante a gravação do clipe de Margareth Menezes | Foto: Acervo Pessoal

Em entrevista ao POPline.Biz é Mundo da Música, Joyce falou sobre o mercado do audiovisual no país, a necessidade de adequação aos novos formatos das redes sociais, processo mercadológico por trás do videoclipe, o convite para dirigir o clipe de Maga e sua relação com a cantora Luedji Luna.

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Processo mercadológico por trás de um videoclipe

O videoclipe é parte importante do planejamento estratégico de lançamento de uma música. Há um investimento alto financeiro e, muitas vezes, é por meio do produto audiovisual que a música cresce, ganha vida e passa a performar bem nas plataformas.

Questionada de como ela vê, no lugar de direção, esse processo mercadológico por trás do videoclipe e a influência dele na sua criação, Joyce revela que, para ela, o videoclipe tem um papel de fortalecer, potencializar e trazer visualmente a potência que o artista já trabalha dentro da sua comunicação de redes.

“É muito interessante que nesse processo mercadológico, nessa dinâmica, em torno da área da música, a gente tem diferentes fases de perfis e distribuição dessa música, só que o videoclipe segue sendo toda essa possibilidade, um formato que não mudou”, destaca a cineasta.

“A partir do momento que surgiu a MTV, que tinha os clipes do Fantástico nos anos 70 e MTV a partir dos anos 80, a gente segue tendo o videoclipe como um dos principais conteúdos para ter um bom alcance de público, para conseguir potencializar a proposta estética, rítmica, melódica e pop de uma música. Eu vejo o videoclipe está se tornando talvez o ‘avô’ dos perfis de distribuição de conteúdo de música”, brinca Joyce.

Como diretora, Joyce revela que se mantém atenta ao processo de transformação do mercado e como isso pode influenciar na sua criação. “Eu vejo o lugar da demanda do mercado, preciso conhecer esse artista. Qual a imagem que ele possui e impacta para o seu público? Para compreender como um videoclipe vai fortalecer, potencializar e trazer visualmente a potência que o artista já trabalha dentro da sua comunicação de redes, dentro da sua própria presença de palco, sua presença quanto persona. Então, o videoclipe tem que trazer tudo isso”.

Segundo ela, ao pensar no vídeo e na questão do mercado, é possível também conseguir ter uma leitura de qual é esse público, qual a principal audiência, quem ele está buscando dialogar, para poder também trazer essas referências e compreender como elas estão interligadas a esse artista para o conteúdo final.

Joyce Prado | Foto: Acervo Pessoal

E as redes sociais com isso?

Joyce conta que o mercado está respondendo a um perfil de consumo cada vez mais intenso das pessoas via redes sociais. Para ela, a difusão do conteúdo, o engajamento, para conseguir levar as pessoas das suas redes para assistir de fato o conteúdo principal, demanda o uso de todos os perfis digitais possíveis.

“A gente precisa criar Reels, stories, making of, entrevistas, lives de lançamento, conteúdos que sejam exclusivos para o TikTok, usar trechos que não entraram no conteúdo final… Tudo isso começa a virar uma série de produtos que são para te atrair para o conteúdo principal que não está nessas redes, mas que rentabiliza mais”.

“O mercado está caminhando cada vez mais para compreender o que é uma narrativa em cada uma dessas redes e que todas estão no celular. O caminho do mercado é longo, porque tudo muda muito rápido. Além de longo, é continuo”. A diretora confessa que está estudando cada vez mais sobre o tema e suas possibilidades de formatos, como por exemplo, webséries feitas para o Instagram

A importância de Luedji Luna em seu reencontro com o videoclipe

Joyce conta que a sua relação com videoclipes começou desde a faculdade, quando fez parte de um coletivo de videomakers que grava shows independentes em São Paulo. “Uma fase entre 2006 e 2011, então era uma cena punk rock, hardcore e bem época do emocore e, quando eu encontro com Luedji em São Paulo, a gente se conhece desde 2015, aí é quando eu me reconecto com a realização de conteúdos para linguagem musical”, conta.

“Antes eu estava trabalhando mais com uma produção de publicidade em audiovisual e também de cinema, mas distanciada desse passado muito forte na música. Tudo o que eu começo a produzir aí no início entre, 20 e 24 anos, eu estava muito nos shows, na música, e a Luedji é um reencontro com a linguagem do videoclipe, com a linguagem de conteúdos, tendo a música como semente, a terra fértil de tudo”, conta Joyce.

Joyce conta que as coisas aconteceram em muita sincronia, já que esse encontro aconteceu durante a produção da música “Corpo no Mundo”, em 2016. “A gente teve muito tempo para pensar sobre esse primeiro clipe que eu sinto que conseguiu traduzir o que ela queria, quanto uma imagem a longo prazo dela quanto artista com a relação com seu público”.

“Desde aquele clipe, a nossa relação vem sendo de muita co-criação, a Luedji  gosta muito da linguagem audiovisual, ela é uma pessoa muito interessada por cinema,  por filme, por diferentes conteúdos. Acompanha muitos videoclipes de produção nacional, internacional, então existe um espaço de co-criação muito forte. Existe também esse lugar que a gente foi compreendendo cada vez mais da difusão de um conceito que começa com a música e se difunde e transpassa para todos os conteúdos imagéticos“, destaca.

Ela que o lançamento de “Bom Mesmo é estar Debaixo D’agua”, teve todo esse processo, dessa relação de co-criação. “Além de a gente fazer o clipe juntas, também era uma época que como amigas, a gente conhecia muito do território da cidade juntas. Essa relação entre nós duas, mais a cidade, mais a presença que a musica invoca, foi também um ponto de partida e dali em diante não deixei mais de estar ligada e relacionada aos conteúdos que tenha música como ponto de partida”.

“Terra Aféfé” uma ode à feminilidade

Segundo Joyce, de todos os videoclipes que já gravou, a Margareth é a artista mais emblemática que ela já trabalhou. A cineasta que também assinou a direção dos shows da Feira Preta, em 2020 e 2021, teve a possibilidade de registrar show de artistas como Liniker, Péricles, Afrocidade e Emicida.

“São também conteúdos que foram bem marcantes e importantes por conta dessa relação com artista de renome e também um festival extremamente emblemático apra comunidade preta do Brasil, da América Latina. A gente realizou muitos conteúdos dentro desses dois festivais da Feira Preta. Isso foi super importante também”, destaca.

Rodado durante dois dias, em Salvador (BA), a produção do clipe de “Terra Aféfé” traz elementos da estética afrofuturista e da cultura afro-urbana, além de contar com a participação dos bailarinos Larissa Paixão e Wagner dos Santos, do Balé Folclórico da Bahia, em coreografia de Vavá Botelho.

O trabalho tem Nuna Nunes na direção de fotografia e Tina Melo na direção de arte. A gravação teve como uma das locações principais o Mercado Iaô, espaço que fica no bairro da Ribeira, onde Margareth Menezes nasceu, foi criada e mantém há 17 anos a ONG Fábrica Cultural.

“Pesquisando gente nova, mulheres, foi quando chegamos até os trabalhos dela com Luedji Luna, e gostei muito da visão poética dela e inteligente no aproveitamento das imagens. Ela veio para Bahia, entendeu nosso processo. Joyce é muito aberta, dialoga com a equipe, eu acho isso essencial”, conta Margareth sobre os eu encontro com Joyce

E finaliza: “O clipe captou toda a mensagem, a força que a gente transmite na música, elementos de forma contemporânea, moderna, afropunk”. Confira o clipe de “Terra Aféfé”: