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Entrevista: Pedro Damián fala sobre documentário e possível reunião do RBD no Brasil para 4 shows

Em outubro de 2019, o POPline viajou até o México para assistir ao show do grupo Pentatonix, mas a verdade é que uma vez no México, não há como não pensar em RBD. Sempre recebemos uma quantidade considerável de pedidos por pautas em relação ao grupo, extinto há 12 anos, e de seus integrantes. Com isso em mente, fomos em busca de Pedro Damián, idealizador e criador da novela “Rebelde” e do RBD e conseguimos marcar um café da manhã com ele para falar, é claro, de Anahí, Dulce Maria, Maite Perroni, Christian Chavez, Christopher Uckerman e Alfonso Herrera. Damián foi muito receptivo e conversou com a gente por mais de meia hora. Ele relembrou o período de formação do grupo, o início, o auge do sucesso, os problemas no decorrer do caminho, passagens pelo Brasil e ainda respondeu as perguntas que os fãs querem saber: quando sairá o famigerado documentário e quais são as chances de uma reunião do RBD.

Acabamos de passar pelo mês de outubro, que é quando fãs do RBD comemoram o Dia Mundial RBD e além disso, eles sempre falam do grupo e desta época de uma maneira muito carinhosa. Como você se sente ao ver estas demonstrações?

Eles têm essa maneira de falar tão carinhosa, alegre e bonita que me deixam com a sensação de que tudo ainda está vivo. De que esse sentimento por esta banda, este grupo, estes garotos essa música e essas histórias ainda estão vivos. Outro dia fiz uma live para agradecê-los, era bem interessante o que me diziam, porque todos falavam muito de uma reunião, mas também diziam o quanto o RBD marcou suas vidas, o quanto lhes fez crescer e lhes ensinou. Falavam de aquele foi um momento que lhes fizeram pessoas melhores.

Eles se auto-denominam como “generación rebelde”, não é?

Sim, “generación rebelde” e eu creio que foi isso mesmo. Uma geração rebelde que não acontece todos os dias, não acontece com facilidade. Leva-se muito tempo! Bem, agora já fazem o que? 15 anos da formação da novela “Rebelde” e 12 anos do fim do RBD?! Muitos deles eram crianças de 10, 12 anos e agora já têm 20, 22, 25 anos e os que tinham 20 agora já passam dos 30 e são produtivos, são pais e mães e têm famílias… Na verdade, creio que o bastião mais importante do RBD em todo o mundo foi o Brasil e continua sendo o Brasil.

Você diria que a novela Rebelde o RBD foram os seus maiores projetos?

Até este momento, foi o projeto mais forte internacionalmente. Não há como negar. Todas as viagens que fizemos, espaços que conhecemos… Visitei todo o Brasil! Foi realmente um fenômeno que foi reconhecido em muitas partes do mundo e dou graças a Deus por isso, por o RBD transformou a mim também.

Quando você idealizou o projeto, imaginou a dimensão que ele tomaria?

Nunca! Nunca! Obviamente trabalhamos muito e desde o início do projeto já tínhamos definido o nosso foco: teria a banda, teria música. Fomos transformando a ideia original, do formato argentino, fomos lhe dando novas facetas e eu diria que se tornou um pouco mais universal. Acredito que um dos fatores para isto acontecer foi a liberdade com a qual os garotos trabalhavam. Nunca foi imposto nada a eles e se eles não provassem a sua rebeldia, nada aconteceria. Eram garotos muito disciplinados, muito dedicados e creio que até hoje não se deram conta da importância de seus trabalhos.

Como você não imaginou onde o RBD poderia chegar, acredito que a banda também não recebeu uma grande estratégia para funcionar como tal. Acredita que com um planejamento mais bem desenhado o RBD tivesse durado mais tempo?

Eu acho que a gente tinha uma estratégia sim, da seguinte maneira: desde o casting, pensamos em um elenco com garotos que representavam ou que fossem espelho da vida de muitos outros e assim poderiam se identificar com eles. A gente pensou na “princesa”, na “guerreira”, no “rebelde”, no “rico”, no “divertido”… Tudo isso foi pensado. E a parte da música também foi planejada, havia esse pop bem forte, que funcionava muito bem. Junto com Carlos Lara e os irmãos Ávila fizemos canções que eram importantes para os jovens, falavam de amor e também sobre o que eles sentiam. Então havia sim uma estratégia! Assim que fizemos o primeiro show em Toluca (México) e vimos que havia cerca de 30 mil pessoas, logo percebemos que algo estava acontecendo e só estávamos no ar há 1 mês! Então, depois veio um convite para ir a Colômbia, que foi o primeiro país que visitamos, e tivemos um público de 40 mil pessoas. Na sequência fomos para Los Angeles, onde foi gravado o primeiro DVD. Já estávamos definido o que fazer, já havia uma trajetória que estávamos buscando, mas ainda sim era muito impressionante chegar em estádios e escutar todo mundo gritando R-B-D! Depois disso, começamos a trabalhar com uma definição muito clara e com a pessoa que se encarregou de levar a turnê a nível mundial, que foi o Rosas. Então Rosas e sua equipe conseguiram montar toda uma estratégia de viagens de fim de semana, já que durante a semana a gente gravava a novela. Trabalhávamos de domingo a domingo em situações extremas e acho que por isso não percebemos a dimensão de tudo. A gente vivia o tempo presente e não havia análise.

É claro que a banda foi extraída de uma novela e uma novela não pode durar para sempre, evidentemente. Ao final do grupo, Maite já tinha outros compromissos e faltou a algumas apresentações do RBD. Como vocês lidaram com isso?

Aí começou a decomposição do grupo. Na verdade, não diria decomposição, mas sim transformação. Nesse momento, a gente já estava há 2 anos e meio sem parar, era muito extenso, muito louco, muito forte, mas também era complexo. Logo a empresa tomou a decisão de convidar a Maite para uma outra novela, já que neste momento ela já era muito famosa, e a partir daí ela se torna a rainha das telenovelas. Agora imagine se a gente tivesse redes sociais neste momento? Se sim, acredito que o fenômeno teria sido ainda maior, porque poderíamos ter chegado a lugares e territórios por onde não passamos. Não sei o que poderia ter acontecido, mas o que importa é o que aconteceu de verdade e reconhecer tal feito como um fenômeno; eu digo que foi um fenômeno social.

Em um show no Brasil em dezembro de 2008, Maite e Poncho não participaram. Como foi recebida esta notícia de que eles não estariam presentes e como vocês se preparam para dar esta notícia aos fãs do grupo que iriam ao show?

Foi bem complexo. Era muito complicado, pois eles queriam ver todos eles. Acho que o fã brasileiro é o mais nobre e dedicado de todos; muito passionais. Então era bem complicado e a gente precisava contar a verdade para eles, não dava para mentir. Era preciso falar “Maite está fazendo outra novela e o Poncho também”, não tinha como dizer de outra maneira. Obviamente houve resistência, mas os fãs também queriam muito ver os outros, já que estavam em suas últimas apresentações. Entretanto, no último show que foi na Espanha, todos estavam presente. Ali se encerrou o ciclo. Em uma conversa dentro de um camarim, eles disseram “todos ou nenhum”. Essa foi uma decisão deles e fomos muito democráticos.

Acho que os brasileiros têm um papel fundamental na história do RBD e acredito que todos os integrantes da banda e você também têm um carinho especial com eles, certo?

Sim, claro! Agora eles estão me pedindo pelo documentário! Esse documentário tem sido uma batalha. Obviamente o primeiro indicado para produzir este filme seria a Televisa, a minha casa. Também o lugar onde nasceu a novela, o grupo, a série. Entretanto, a Televisa embarcou em outros tipos de projeto e não o viu como prioridade. Desde então, estive esperando, negociando, conversando e nada se resolvia, então comecei a buscar outros caminhos. Nesse momento, já conversei com outras empresas, não quero dizer nomes, e estou vendo se alguma delas que se juntar a mim na distribuição e produção do projeto. Tenho cerca de 200 horas gravadas e dessas 200 horas, quero produzir o documentário com mais ou menos 80 minutos, onde vamos contar um pouco da história que vocês não viram. Histórias de bastidores, momentos muito alegres e cheios de vida e também momentos mais tristes e fortes, como o que aconteceu no Brasil (a morte de três fãs em uma tarde de autógrafos do RBD em São Paulo). Vamos falar sobre este assunto, porque é uma forma de reconhecer este fato que poderia ter sido prevenido e não foi por descuido. Não houve má intenção, mas eu acredito que este tenha sido o momento mais forte para o grupo, para mim e para todos que estavam envolvidos. Vamos mostrar também o encontro que tivemos, um ano depois, com as famílias desses fãs. Foi um grande aprendizado para todos. Eu espero que este documentário um dia saia do papel, estou fazendo de tudo que está em minhas mãos para isso acontecer. Não sei quando será, mas sei que precisa ser em breve. Eu vou fazer de qualquer maneira, nem que eu precisa fazer por minha própria conta.

E como está o documentário? Está pronto? Em processo de pré-produção?

Não está pronto. Já revisamos as 200 horas gravadas e já montamos um plano estratégico de qual seria o conteúdo do documentário. Tenho trabalhando junto com Alonso Vera, que é meu sócio neste projeto, em como vamos montar esses 80 minutos com a verdade que queremos mostrar. Temos que fazer algumas gravações novas, temos que regravar entrevistas com eles para encerrar esse ciclo; para que nos expressem o que eles sentiram naquele momento, afinal o que temos é o que já passou, mas queremos saber o que está acontecendo agora e o que ficou em seus corações, suas almas, seus pensamentos. Eles eram muito novinhos!

E poderemos, talvez, escutar canções inéditas do RBD neste documentário?

Não, porque não estamos pensando em um ‘revival’, mas sim em um documentário precisamente. O que queremos fazer são novas entrevistas, falar com eles; Quero que me digam o que ficou dentro deles e o que não ficou também. O que eles gostaram e o que não gostaram com verdade. Quero que seja um ato de total entrega e amor para todos os fãs do mundo que ainda estão por aí. Essa é a raíz do que queremos fazer. Nesse momento também estou conversando com empresários brasileiros que também estão interessados na promoção e talvez na produção deste documentário.

Você fala muito de verdade… Lembro que ao final do RBD, Anahí foi até a televisão mexicana para contestar o fim do grupo e também incentivou os fãs a protestar pelo fim do RBD. Como você recebeu isso e como é a sua relação com Anahí?

Bem, acredito que para cada um deles tudo aquilo tinha um significado diferente. Para cada um deles era uma experiência diferente porque são seres-humanos diferentes. Anahí é uma pessoa muito amorosa, emotiva e passional… Acredito que mudou um pouco, pois já está mais adulta, já é mãe também, mas naquele momento o RBD era o mais forte e o mais bonito que já havia vivido em sua carreira profissional, então se despedir daquilo não era fácil. Na verdade, para nenhum deles foi fácil, apesar de que todos seguiram belas carreiras, bem feitas. Encontrei Poncho recentemente em um festival de cinema, conversamos e ele me disse “a gente precisa se reunir, nos encontrar”. Ou seja, existe um carinho muito particular de todos com todos, ainda que tenham tido problemas, que são absolutamente normais em um grupo de gente tão jovem.

E as músicas, por que as músicas do RBD não estão no Spotify? Tem algo a ver com o compositor Carlos Lara?

Os fãs me pedem muito as músicas e perguntam porque elas não estão disponíveis neste ou naquele lugar…Eu sempre respondo: não tenho os direitos dessas músicas. Eles acham que sou o dono do RBD, mas eu nunca fui dono de nada; simplesmente fui a pessoa que teve a oportunidade de criá-lo, trabalhá-lo. Como um mentor talvez, mas a realidade do mundo legal é outro. O mundo das editoras, que detêm as canções, o mundo daqueles que têm os direitos sob a obra… Não tem nada a ver com o Carlos Lara. Eu sou o autor de várias das canções junto com o Carlos Lara. Somos autores, mas há um editora que lida com os direitos. Como autor posso pressionar pela liberação de uma ou duas canções, mas se falamos de todas as músicas, elas fazem parte de diferentes editoras e eles dizem “para liberar esta canção vai lhe custar tanto.” É uma questão de dinheiro! Aí me perguntam porque não faço uma reunião da banda ou outro Rebelde, mas não é tão fácil. Tudo tem a ver com direitos autorais e a parte legal é complicadíssima. Não é algo que eu posso determinar e dizer “vamos botar todas as músicas no Spotify”, não posso fazer porque não tenho os direitos dessas canções. Tenho os direitos das canções que eu fiz, mas não tenho de todas!

E por que nunca aconteceu um show de despedida no México?

Porque o grupo já estava desfeito! Eles já não queriam, já tinham dito “todos ou nenhum”. Maite já estava fazendo a sua novela e não podia, o outro já ia fazer não sei o que… Assim aconteceu. Foi rápido. Da mesma maneira que se construiu, se desconstruiu. Facilmente, rapidamente.

Como é a tua relação com cada um deles hoje em dia?

Muito boa! Em breve vamos ter uma festa, porque a Dulce vai se casar. Acho que vou encontrar alguns deles na festa! O último que trabalhou comigo foi o Christian, em “Like”.

Você acredita que é uma reunião do RBD é algo possível?

Veja bem, eu estive conversando com uns empresários brasileiros que conheci nas vezes que visitei o Brasil, pessoas que eram parte da gravadora do RBD naquele momento e agora têm uma empresa de produção de shows. Eles me disseram que iriam me fazer uma proposta e eu faria a proposta aos garotos… Se há algo que tem impedido que isso aconteça é que todos têm atividades. Estão em filmes, séries e outras coisas mais, então não podem simplesmente dizer que farão uma turnê com 20 datas. Não podem, não têm tempo, já têm famílias! Talvez a gente consiga o seguinte, quatro shows no Brasil. Talvez! Não quero prometer nada, porque depois me cobram muito e me dizem coisas nas redes sociais! Risos! Não depende de mim, não são minhas decisões. Eu posso propor, mas a decisão final é deles.

Qual dos seis integrantes do RBD seria o primeiro a aceitar uma reunião?

Não sei qual seria o primeiro, o que posso te dizer é que teria que ser algo muito pontual, muito bem organizado, como por exemplo quatro shows em duas ou três cidades, as mais importantes do Brasil. Quatro shows seria rápido, possível. Te digo… Anahí está casada, tem o seu bebê, está escrevendo, tem a sua vida. Maite segue fazendo suas séries e novelas, Christian em séries de televisão. Poncho está mais dedicado ao cinema e tem se saído muito bem internacionalmente e também já tem seu filho, que é lindo, e sua família. Dulce agora tem o seu casamento. Christopher também está fazendo séries o tempo todo… Vamos ver. Mais do que convencer-los, acredito que eles precisam se convencer. É preciso que eles digam “e por que não?”. Acredito que seria um grande presente para os fãs, isso sim.

Para você, de zero a dez qual é a chance disso acontecer?

Ah, que pergunta difícil! Você quer que eu me comprometa! Eles vão me cortar a cabeça, risos! Vou dizer 5, a metade. “Fifty-fifty”. Se fosse por mim, eu diria 7, mas como também envolve a vontade de mais seis pessoas, então fico com 5.