O POPline encontrou Pabllo Vittar em uma tarde de 40 graus no Rio de Janeiro. Ela estava no Solar de Botafogo, acompanhando as também drag queens Aretuza Lovi e Gloria Groove na estreia do clipe de “Joga Bunda” (que bateu um milhão de acessos em 12 horas). Contratada da Sony Music, ela dedicou a manhã e a tarde para esse compromisso, que atraiu diversos veículos de imprensa. No dia anterior, ela esteve no estúdio da Globo para gravar uma aparição no “Fantástico” com Lucas Lucco: parte da agenda de divulgação do single “Paraíso”. Ultimamente, tem sido assim: dividida entre vários “feats”. Antes do Carnaval, ela ainda lançará o clipe da música “Então Vai”, com Diplo. Nem Anitta com o “Checkmate” foi tão produtiva. Pabllo entrega novidades para o público com uma frequência impressionante. E quer mais.
POPLINE – Eu falei com você há um ano atrás, no dia do lançamento do seu álbum…
(interrompe) Que bafo! Eu acho que lembro! Eu estava escolhendo piso, não tava? Em uma loja de construção? Eu lembro! Eu estava surtando!
De um ano pra cá, teve muitos acontecimentos na sua vida. Que balanço você faz?
Se eu colocar tudo na balança, vai dar: sonhos realizados, muitas felicidades, muitas coisas que eu queria profissionalmente e consegui alcançar. Hoje, estou muito feliz de lançar o clipe junto com minha mana Aretuza, “Joga Bunda”, e estar dando continuidade a essa história.
De todas as conquistas e momentos especiais que você viveu nesse grande ano, qual foi o mais legal para você?
(suspira) Ter dividido palco com pessoas que eu gostava muito… saber que a música está evoluindo e as pessoas estão abrindo a cabeça. O Rock in Rio marcou muito 2017. Ter cantado com a Fergie foi um marco muito grande para mim, ter gravado “Sua Cara” com a Anitta no Marrocos com o Major Lazer foi um momento muito grande para mim. E eu quero continuar. Estou muito feliz, mas quero continuar.
Eu acho que é a falta de conhecimento. A gente está aqui para mostrar a nossa cara, mostrar a nossa arte. Mostrar que, atrás disso aqui, tem um ser humano, que tem sentimentos, que tem direitos, que tem deveres, e que esses direitos têm que ser respeitados. A gente não está aqui para ninguém aceitar a gente. A gente só quer ser respeitado e continuar fazendo nosso trabalho, que é muito lindo. A gente vê por essa resposta que a gente tem. Eu fico muito feliz de entrar na casa das pessoas e saber que estou levando um trabalho verdadeiro, genuíno, que me faz feliz e passa uma mensagem muito boa.
Com essa visibilidade toda, você sente que tem uma função social de militância?
Ai, sim, sabe? Muitas crianças e adolescentes, como eu fui, se espelham em mim, sem medo de se posicionar sobre quem são, mesmo com toda a pressão da sociedade. Não só eu, mas as meninas também. Temos um papel muito importante de levantar essa bandeira de “cara, a gente pode conseguir tudo que a gente quiser, se acreditar em nós, batalhar”. Eu recebo muitas mensagens de crianças que me falam “poxa, consegui falar com a minha mãe depois de anos, porque sua música entrou na minha casa, minha mãe virou sua fã, a gente começou a conversar sobre o que era drag, e ela me aceitou com a minha sexualidade”. É isso que eu quero, sabe? A aceitação das pessoas nas casas. Os pais das crianças LGBTs apoiando, incentivando os sonhos, porque a gente vê o contrário muitas vezes. Fico muito triste com algumas mensagens que recebo também, mas eu acredito muito nisso. Toda vez que dou uma entrevista, eu falo: “pais de LGBTs, abracem seus filhos, independente de tudo eles sempre vão ser seus filhos”.
Que legal! (risos) Eu fico muito feliz com essa demanda, sabe? Porque são artistas que eu gosto, primeiramente. São músicas que eu amo muito fazer, com ritmos diferentes. Eu lembro que nessa entrevista de um ano atrás, você perguntou sobre os vários ritmos do álbum e eu falei da mistura. Hoje em dia, estou aqui, misturando ainda, mas agora com outras pessoas.
Por outro lado, são artistas que nunca estiveram ao lado de drag queens e agora querem estar. Você sente que tem um interesse e um oportunismo por causa de sua popularidade?
Eu não diria oportunismo. Eu diria a vontade de somar, sabe? Somar talentos, somar sonhos.
Você só vê com bons olhos, então.
Sim. Até porque não me vejo diferente deles. Somos artistas, com todo sentido da palavra. A gente está aqui para isso: se juntar, fazer música, dizer não ao preconceito. A gente pode se juntar sim com outros artistas, que são fora do nicho mas gostam e respeitam meu trabalho.
Você já disse algum não?
Não! (risos)
Só pra mim!
(risos)
Dua Lipa. Todo mundo quer saber. Tem mesmo conversa para rolar alguma música?
Menino, eu amo muito a Dua. Ela começou a me seguir nas redes sociais e a gente trocou algumas ideias e… estou muito ansioso para este ano! (sorri como quem não pode dizer mais do que isso) Como eu havia falado, tenho várias parcerias internacionais para acontecer. Já tô com esse segundo álbum e tem um projeto a parte, que é um EP em outros idiomas, com parcerias com pessoas que já curto muito.
Ia perguntar isso: no seu álbum novo, vai ter músicas em outros idiomas?
Não, não. O álbum vai ser todo em português e vai ser nítida a evolução musical, diga-se de passagem. Estou muito feliz com as coisas que já ouvi do meu álbum. Estou muito ansiosa para ir logo para Los Angeles gravar e ver isso se materializar, sabe? As letras junto com as bases e as harmonias. Eu só quero gravar logo e trazer música nova para meus fãs. Tudo que faço é para meus fãs e eles estão muitos sedentos.
Quantas parcerias estão encaminhadas? Das que a gente não sabe.
São cinco internacionais. Que eu já fechei, quatro, cinco. E sempre estão surgindo mais!
Cinco é muita coisa!
Sim. Mas, para meu álbum, estou trabalhando já os feats e selecionando direitinho. Não quero chamar alguém por chamar, quero que a pessoa tenha a cara da música e que tudo flua. Como eu sempre fiz: tudo orgânico.
A Adore Delano falou em entrevista ao POPline…
(interrompe) Eu vi, eu vi! (muito feliz) Ela foi superfofa! Uma querida! Eu amo muito ela. Eu torci para ela e fiquei muito chateada quando ela saiu do “All Stars”. Mas fiquei muito feliz de saber que ela curte meu trabalho, porque também curto o dela. Já tive o prazer de abrir o show da Adore na minha turnê passada, em São Paulo. Conheci ela. Uma fofa. É uma pessoa maravilhosa. Torço muito por ela. Sim, tenho muita vontade de fazer uma parceria com ela. Futuramente, quem sabe? Adore, baby, I want you! (risos)
Seu primeiro álbum tinha três composições suas. Nesse segundo, vai ter também?
Sim! Eu gosto de trazer minha vida para meu trabalho. Já estou escrevendo. Já tem algumas músicas minhas! Eu fico muito, muito, muito nervosa, porque tem um gosto especial quando você coloca no papel coisas que você curte e isso se transforma em música, porque as pessoas se identificam. Estou trabalhando muito com meus compositores: Pabllo Bispo, que sempre está comigo, e outros meninos…
Você continua com o Rodrigo Gorky também, né?
Siiiim! O Gorky é meu produtor, meu amorzinho, meu baby, e está com a gente também. Ele vai trazer uma coisa bem diferente. Vocês podem esperar, porque está demais.
O plano é lançar o disco até quando?
(ela olha para o assessor) Lançar o disco até quando? Não tem data definida ainda. Mas esse ano, sim.
Para terminar, o que é ser drag queen para você?
É ser você mesma, em toda sua pluralidade, em forma de arte, de extensão de personalidade. É dar sorriso, levar felicidade para as pessoas. É entretenimento, é carinho, é o que a gente faz com amor pela arte. Acho que drag é uma coisa muito celestial, como se fosse uma entidade mesmo.