Eles nasceram na época de disseminação em peso de informações com o auxílio das redes sociais e de consumo da música em constante mudança. São jovens, possuem pouco tempo de carreira, levam tudo com a suavidade do humor, mas sabem falar sério quando necessário e tem a cabeça no lugar quando o assunto é profissão música.
Se em 2017 o quinteto viu a vida mudar após o lançamento da música “Deixa”, este ano o mundo deu outra virada. Os amigos mineiros Pedro Calais (vocais), Otávio Cardoso (guitarra), Glauco Borges (guitarra), Francisco Jardim (baixo) e Tio Wilson (bateria) entraram o ano com um contrato com a Sony Music e de lá para cá já presentearam os fãs com três músicas – a última lançada mês passado. A Lagum chega ao mercado em um ótimo momento do pop nacional, com fãs e veículos de comunicação do meio super abertos à sonoridade do violão, com quê de MPB modernizada, e eles só tem a somar.
Sobre o mercado, lançamentos, planos, a parceria com Ana Gabriela e uma superstição em particular, o POPline conversou com o Pedro. Se você já conhece a Lagum, temos novidades quentinhas. Se não, relaxa e já dá o play em “Deixa” para entrar no clima do papo.
Oi Pedro, como estão todos aí? A vida mudou muito desde o álbum de estreia “Seja o Que Eu Quiser” (2016), não foi? Como vocês estão lidando com uma maior exposição e repercussão principalmente depois da música “Deixa”?
Pedro Calais: “Rrélou”! Estamos uma maravilha, e vocês? A vida tá mudando todo dia, mó loucura. Depois que o pontapé inicial foi dado, as coisas não param de acontecer e com “Deixa”, tudo evoluiu de maneira exponencial. Por mais que a exposição agora seja maior, nós buscamos lidar com tudo da maneira que sempre foi: natural e verdadeira. Claro que muita coisa mudou, por exemplo a responsabilidade no trabalho e na vida pessoal. Mas como tudo que aconteceu até agora foi assim, natural, acreditamos que mantendo nossa essência, a tendência é só continuar fluindo para o caminho certo.
E este ano vocês ainda resgataram “Deixa” e a regravaram com a Ana Gabriela. Como surgiu a ideia?
A Ana já havia postado um cover tocando Lagum e nós conhecíamos o empresário que trabalhava com a carreira dela na época. Ele nos disse que ela iria gravar um cover de “Deixa”. Daí surgiu a ideia de regravar a música com ela. Nós já tínhamos duas versões de “Deixa”, uma que era só voz e violão e a versão com a banda completa, e quando surgiu a oportunidade de fazer a terceira versão eu fiquei super pilhado, dizendo que essa música iria mudar a carreira da Lagum, pois sou fissurado no número 3. Então juntou a mega animação de todo mundo para fazer, e assim surgiu “Deixa”!
E o clipe? Adoramos a temática (risos)!
O clipe foi uma doideira também… Nós tínhamos uma viagem marcada para São Paulo, chegaríamos sábado e iríamos embora no domingo. No sábado, gravaríamos a voz da Ana no estúdio e faríamos o show, e no domingo teríamos 4 horas para fazer o clipe, e voltar pra casa em BH. Na sexta-feira, antes da viagem, a ideia para o clipe ainda não existia, e eu estava no telefone com o Stehling – que é quem faz nossos clipes, além de ser nosso videomaker, fotógrafo e grande amigo – discutindo ideias e possibilidades enquanto fazia um brownie de banana. Daí surgiu a ideia e a gente começou a buscar referências de programas de culinária antigos. Foi legal que conseguimos usar como referência também o clipe da primeira versão de “Deixa”, onde éramos cientistas que preparavam um café da manhã de uma maneira bizarra para uma garota. E no clipe com a Ana, ela finaliza fazendo a mesma cara que eu faço no clipe antigo. Foi irado fazer isso.
Além da regravação de “Deixa”, vocês liberaram ainda “Não Vou Mentir” e “Samba” este ano. Por enquanto a ideia é lançar apenas singles?
Para sermos ultra sinceros, a gente ainda não sabe o que vai fazer de fato. O que nós queremos mesmo é fazer um álbum, com conceito e com várias músicas diferentonas. É o que os fãs mais pedem e é nossa maior vontade no momento. Mas ainda não dá para prometer uma data. Nossa ideia é fazer músicas maneiras com clipes maneiros, mas ainda não conseguimos dizer como vão sair esses materiais. Pensando bem, de 2019 não passa. Tem que ter um álbum. Já passou da hora, né? Obrigado por despertar isso em nós (risos)!
Certamente uma das marcas da Lagum é o humor. A gente vê isso já na descrição do site oficial, passando pela abordagem dos vídeos informais. Qual a importância de sair do lugar comum para vocês?
Hoje em dia podemos dizer que o humor é o nosso comum, mas na época que começamos não era muito comum para nós e muito menos para o que rolava no mercado. Mas como em todo grupo de amigos, a descontração é importantíssima para a base de uma amizade, e resolvemos trazer isso para a banda. A banda é uma extensão da amizade. Essa descontração toda não estava rolando muito no mercado, principalmente em BH. Tava tudo tão sério. E sendo do jeito que somos e usando o humor, nossa imagem se destacou. Assim como marcas e produtos, o que faz as pessoas lembrarem deles, é a diferença que eles têm dos outros. Já que o destaque é uma consequência da diferenciação, sair do lugar comum é importantíssimo para garantir seu lugar na cabeça das pessoas.
Já que você falou na amizade de vocês… Vocês se descrevem como pop alternativo. A gente vê essa mistura de ritmos nas músicas, mas como é chegar a esse som batido o martelo no estúdio? A questão de vocês serem muito amigos ajuda ou atrapalha na hora de pegar as influências e transformá-las em uma música autoral?
Mais cedo estávamos discutindo no grupo da banda exatamente sobre isso. Cada música tem seu processo. Não existe uma fórmula. As músicas são compostas por mim, muitas vezes são mostradas imediatamente para todos que já levam ideias para o próximo ensaio. Às vezes o Otavio e o Glauco (guitarristas) participam da construção harmônica, às vezes a música é inteira estruturada por nós em uma pré-produção no nosso estúdio ou como em vários casos, a maioria das coisas acontecem na hora do “vamos ver” com o produtor no momento de produção mesmo. Sobre a amizade, existem dois pontos de vista sobre ela no processo de produção, pois a liberdade e a intimidade são maiores. Então a gente acaba agindo de maneira confortável e é comum surgirem momentos de desconforto. Mas por outro lado, como a gente se entende muito bem, as coisas também fluem bem, já conhecemos nossos limites e pensamentos. Se tivéssemos que eleger se a amizade faz “bem”, ou “mal” no processo, acho que escolheríamos “bem”.
Outra coisa super legal é a interação de vocês com os fãs. Como é importante para vocês o uso das redes sociais para conversar com eles, saber o que eles querem…
As redes sociais são a maneira que temos de mostrar quem somos e comunicar o que quisermos, como lançamentos de músicas, shows, ideias e qualquer outra coisa. Tentamos ser transparentes ao máximo e deixar todo mundo por dentro do que está sendo feito. O ideal seria ter os fãs presentes em todos os momentos de nossas vidas, acompanhando nossos processos, mas como não é possível, as redes sociais quebram o galho (risos).
Falando de mercado: o pop nacional está em uma fase de encontros de ritmos com parcerias bem interessantes. Se vocês tivessem que escolher alguém que faz um som distinto para uma colaboração com quem seria e por quê?
Na nossa cidade (BH) há uma cena fortíssima de rap, e um dos nomes que se destaca no Brasil é o do Djonga. O cara é diferente. As letras são riquíssimas e o flow é sempre muito empolgante. Seria muito irado fazer um som com ele.
Lagum com rap, legal! De uns três anos para cá a gente viu artistas incríveis surgindo ou se firmando com esse som pop, alternativo, acústico, com muito violão. Como vocês enxergam essa abertura do mercado?
Talvez seja uma abertura criada pela chegada e popularização das plataformas digitais, que nos permitem ouvir qualquer música à qualquer momento. Tudo bem que o Brasil é um país que já teve seu momento forte de sons acústicos e com violão na época que a MPB e a Bossa Nova eram os maiores gêneros, mas ultimamente os sons gringos estavam chegando em peso aqui. Nossas adolescências foram regadas de RAP, Punk Rock, Hard Core, EDM e outras coisas que chegavam de fora e as rádios e programas musicais de TV tocavam bastante. Com as plataformas digitais, as pessoas escolhem o que elas querem ouvir durante o dia e, como muitos gostam de ter a rotina com uma trilha sonora mais leve, abriu a brecha para esse som acústico com violão voltar. Talvez nada disso seja verdade. É só uma teoria nossa mesmo (risos).
Que bom que você tocou no papo plataformas digitais. A gente recebeu os números de audiência de vocês (+ 1,6 milhão de ouvintes mensais no Spotify, 8,5 milhões de streams só de “Deixa” com a Ana Gabriela, etc). Vocês são ligados em números ou preferem não se apegar a isso?
Estamos super ligados nos números, mas buscamos não nos apegar muito. Os números da internet mostram a realidade. Mas podem iludir, pois sabemos que não é a mesma coisa na vida real. De acordo com o Spotify, conseguiríamos encher 20 Maracanãs, mas obviamente não é assim (risos). Então damos muita atenção às músicas e às pessoas que conseguimos ter contato físico. Tudo isso sem tirar o olho dos números para acompanhar o que está acontecendo.
No momento vocês estão com essas três músicas lançadas em 2018 e concentrados na estrada. Vocês gostam bastante de gravar versões ao vivo das canções. Como esses vídeos de shows acrescentam ou mostram uma outra faceta da Lagum?
Esses vídeos mostram para as pessoas que ainda não foram no show como é legal esse momento. E muitos que acompanham nosso trabalho são músicos, então é o um material interessante para os que gostam de ver como as músicas são tocadas. E, além de tudo, o ao vivo tem uma energia diferente da música gravada bonitinha. É mais intenso.
Fora os shows, certamente há outros planos ainda para 2018. Você disse que a banda está tentando descobrir como organizar os próximos lançamentos… Como estão as sessões em estúdio?
Voltamos recentemente de uma pequena temporada em estúdio onde registramos 12 músicas que foram concebidas recentemente. Mas nós não temos ideia mesmo do que será feito com todas essas músicas (risos)! O legal é que dá para fazer o que der na telha. Tanto um EP, quanto um álbum, ou simplesmente ir lançando aos poucos, como temos feito. Que vamos soltar bastante coisa este ano ainda é indiscutível, mas precisamos pensar um pouco mais sobre o que é melhor para o momento.
Foi muito legal falar com você, Pedro. Quer deixar um alô para os leitores do POPline?
Que triste. A entrevista acaba aqui? =( Nossas últimas palavras são: “Seje Maneiro”