Por Amanda Faia e Leonardo Torres.
Descolada, sabe a hora de brincar e de falar sério. Ou de falar sério com doçura. Tem só 24 anos, mas adquiriu a disciplina típica de quem começou a trabalhar cedo. Seu primeiro álbum saiu quando era adolescente e vivia as primeiras experiências amorosas. Já foi produzida por Rick Bonadio, Junior Lima e, mais recentemente, Head Media, Tropkillaz e Humberto Tavares. O público, ainda mais novo que ela, foi conquistado com “Garoto Errado” (2010) e a acompanha até hoje. São 3,7 milhões de seguidores no Instagram. Gente suficiente para fazer a capa de “MANU”, o álbum novo, repercutir bastante: marcando uma nova fase, a jovem posou de topless. Opa! A menininha virou um mulherão.
Para começar, a capa.
Já começa polemizando. (risos)
Como surgiu essa ideia: “vou ficar pelada na capa”?
Não era uma ideia que a gente teve antes. A gente fez uma sessão que tinham várias opções de foto e essa nem seria a capa. Era uma referência a um ensaio do Terry Richardson, fotógrafo, com uma modelo que eu nem lembro o nome. Lembro de termos visto essa pose, muito bonita, impactante e como já tínhamos algumas referências, a foto da bota, que estou meio pelada e pensamos que iria compor bonito para o encarte do CD, mas quando a gente viu todas as fotos reunidas do encarte, achamos que ela tinha muito mais a ver. Uma foto mais forte, que me mostra mais confiante, mulher. E eu estou nessa fase mais confiante. Confiante com minha música, meu corpo, com meu trabalho, comigo mesmo. Traduzia muito melhor essa nova fase. Na minha cabeça não é uma foto polêmica. Acho uma foto artística, muito bonita, uma junção de uma equipe muito legal que eu pude trabalhar, o fotógrafo, o diretor de arte, maquiador e de bom gosto. Nunca tinha pensado na polêmica. Até me surpreendeu alguns comentários porque gente está em 2017 (risos). Então, nada que alguém fizer vai ser novo e vai ser polêmico o suficiente.
A única resposta que eu dei foi no Twitter quando falaram que era apelação. E eu comentei que se fosse exatamente uma foto muito parecida, só que um cara sem camisa, isso nunca seria considerado apelação. Eu estou me sentindo muito bem com a foto, tô amando a foto e espero não ser julgada por isso. Por estar me sentindo bem comigo mesma. E esse tweet teve uma repercussão positiva. Porque pra mim, não é polêmica, tinha tudo a ver com o trabalho.
Você acha que essa repercussão veio dos seus fãs ou de um público que nem te consome e fala?
Ah, claro, de um público em geral. Acho que a galera que tá comigo, que me acompanha, eles acompanharam um crescimento mesmo que sultilmente pelas redes sociais. Acho que existe um choque maior para quem lembra de mim quando comecei quando tinha 16, 17 anos, quando lancei meu primeiro CD. Quem só me viu antes e vê agora talvez seja um choque maior mesmo. Mas acho que é só uma questão de tempo. Fazia tempo que eu não lançava CD, trabalhava música, eu fui atuar. Então é uma questão de tempo até eu conseguir mostrar esse trabalho.
E teve uma comparação com o “Revival”, da Selena. Como você recebe isso?
Eu sou muuuito fã da Selena, sempre fui. Cresci assistindo a série dela no Disney Channel. Acompanho a carreira musical dela desde o começo, desde quando ela estava com uma banda, que não era solo. Pra mim o “Revival” foi a transição perfeita. Quando eu o ouvi, fiquei em choque com a qualidade do álbum e como ela fez essa transição de uma maneira bonita, de bom gosto. Com certeza ele estava na minha cabeça durante todo o processo do meu CD e foi uma referência assim como a Taylor Swift que teve um CD de transição, do country para um inteiramente pop. Então todas essas meninas que eu admiro e que fizeram este tipo de transição de ser adolescente para depois crescer a música e a imagem junto com certeza foram referência. Mas a foto da capa em si, que todo mundo falou, não foi inspirada na foto da Selena. Foi inspirada naquela seção de fotos do Terry Richardson. Mas com certeza teve alguma inspiração por eu estar ouvindo muito o “Revival” e gostado muito.
Quando você lançou seu primeiro CD você tinha seus 16 anos. A gente vê muito mais lá fora mais do que aqui esse processo de transição. A Demi, Selena, a Miley, cada uma a sua maneira. Aqui no Brasil a gente teve acho que Sandy e Wanessa. Como é para você essa questão de se reconectar com seu próprio público?
Eu vejo até pelos contatos que faço com fã-clubes maiores, que me acompanham desde o começo, que eles estão crescendo junto comigo. Recebi alguns comentários tipo “você não tem medo de chocar os pré-adolescentes?”. E eu percebo que essa galera que tinha 10, 11, 12 anos e que ia aos meus shows quando comecei aos 16, hoje eles tem 18, 19, 20. Eles realmente cresceram comigo. Acho que esse público pode me acompanhar pelas redes sociais, até pelos meus trabalhos não musicais, lancei também um EP independente nesse meio tempo e que foi até um pulinho pro CD e que foi o Junior Lima que produziu. Então, meu público estava ciente dessa mudança e do que estava acontecendo. Acho que eles até esperavam que eu fosse pro lado pop, até pelas últimas músicas. O que eu percebo é que meu público recebeu muito bem essa mudança e a galera que não me ouvia antes, que não me conhecia, passou a ouvir porque são fãs de música pop e que eu fiz um trabalho pop em português. O que é bem difícil.
Verdade (risos)
Como você se sente nesta fase, neste momento?
Sinto que esse CD é meu primeiro. Pra mim parece que é meu primeiro CD. Porque acho que foi o primeiro que eu tive conhecimento geral, de todas as partes de um CD. Quando eu era mais nova, eu simplesmente escrevia as faixas, entregava e magicamente o CD ficava pronto. Eu não tinha esse controle até pela falta de experiência. Eu não tinha ideia do que era fazer um CD. E agora, mais velha, são poucos anos de carreira e eu sou muito nova, ainda estou aprendendo, mas já passei por muitas coisas diferentes então agora me sinto preparada. Esse CD tem meu dedo em absolutamente tudo. Fiquei um ano pensando em como seria isso, para que caminho eu iria, conversei com todos os produtores musicais que você pode imaginar até chegar nos três que colaboraram para esse CD que são o Head Media, Tropkillaz e o Humberto Tavares. O Humberto trabalha bastante com a Anitta, com a Ludmilla, tem uma pegada bem popular, bem legal. O Head trabalha mais com a galera do rap, tem muitas referências hip-hop gringas e o Tropkillaz são 2 DJs incríveis, que sempre fui fã e adorei que entrou uma música com eles que é “Mentiras Bonitas”. Então eu consegui misturar e achar a minha cara. Participei de toda a parte visual, das fotos, dos clipes. Para mim foi pensado como se fosse meu primeiro CD.
A gente tem acompanhado seu Twitter e…
Só falo bosta! (risos)
Cara, não aconteceu (risos). Por isso escrevi isso, porque quando vi o CD pronto falei ‘caramba’. As pessoas ficavam perguntando, né? Se iria ter música de vingancinha pro ex. Virou quase uma marca (risos). Não tem porque eu não passei por isso nos últimos anos. Quando novinha, que eu não tinha experiência alguma no amor, o que me fascinava a compor era o amor. Eram as relações entre as pessoas, o primeiro beijo, o primeiro frio na barriga. E depois fui crescendo, tive namoros sérios e as músicas passaram a ser isso, sobre a primeira experiência no namoro, sobre terminar, como é ruim romper com alguém. E nos últimos anos eu pensei ‘sobre o que eu vou escrever?’. Nesses últimos três anos o relacionamento central da minha vida não era mais com uma pessoa, era comigo mesma. De me encontrar, de me descobrir como essa menina-mulher de 20 de poucos anos, focada na minha carreira. Foram 3 anos bem diferente e o CD nasceu daí.
Por que não é um problema escrever música pra ex.
É super divertido, é uma maneira até de exorcizar aquilo dentro de você. Ajuda até outras pessoas que passaram por aquilo a entender que não estão sozinhas. Até você rir da situação. Mas realmente foi uma coincidência. Foi uma fase da minha vida que não teve um relacionamento central, então não teve decepções.
Falo porque tem gente que tem preconceito com isso de música sobre ex. E, né? A Taylor sofre muito né?
É, tadinha. Me identifico com ela (risos).
Nesse álbum você assumiu uma postura de auto confiança, que já veio na capa. Como aconteceu isso pra você?
Sim, foi algo que descobri nos últimos tempos. Talvez essa capa nem existiria se o CD tivesse saído há poucos anos. Acho que essa discussão envolta do feminismo e do empoderamento é super importante. As pessoas acham que virou modinha, mas eu não vejo isso de maneira negativa. É muito positivo porque só quando está em todo lugar é que chega em meninas que nunca teriam acesso a este tipo de discussão, a repensar várias atitudes. Eu revi vários comportamentos meus, amadureci muito, justamente devido a essa constante discussão e se o álbum está nessa vibe, se as fotos estão nessa vibe é muito por conta do meu auto conhecimento também.
Então você também deve estar alcançando um público novo com esse álbum?
Já percebi que sim nessas primeiras semanas e espero que continue.
Agora, a segunda polêmica: Hipnose.
(risos) Polêmicas que eu nem sei…
O clipe teve uma grande repercussão, muita gente amou e também teve o papo do plágio. Você acompanhou a confusão? Porque você estava no meio da divulgação do disco.
Não acompanhei. Só me dei conta disso quando as pessoas começaram a me perguntar em entrevistas e vi que tinha virado algo grave. Na verdade, existia um produtor que fez meio que um escândalo, que fez comentários nas redes sociais e ele não era o diretor do clipe. O diretor do clipe mesmo me mandou uma mensagem muito fofa assim que o clipe saiu. Ele disse ‘não conhecia seu trabalho, fico muito feliz de ter te inspirado dessa maneira porque eu tô começando então é muito legal saber que o meu trabalho, o trabalho de uma cantora indie está chegando ao Brasil. Obrigado pela referência por escrito e quando você quiser trabalhar comigo aqui nos Estados Unidos, está mega convidada. Vamos manter contato’. Para mim foi muito legal. A gente nunca escondeu essa inspiração. Quem me trouxe [o clipe original] foi meu diretor de arte porque o nome era parecido e pensou que a gente deveria se inspirar. Então, para mim não existia essa polêmica. No final rendeu um contato ótimo, o cara foi super educado, super ótimo, super querido. Um contato para um próximo trabalho.
Você disse que teve mais envolvimento no processo criativo desse álbum. Você acha que “Manu” te representa mais que os outros álbuns ou os demais também representam aqueles momentos?
Acho que eles representavam aqueles momentos também. Sinto que nesse eu tenho muito mais autonomia em tudo, coisa que eu não tinha antes, mas não desmereço nada porque comecei muito novinha e tenho muito orgulho de ter sempre escrito minhas próprias músicas, colocado a minha alma, minha verdade. Acho que é por isso que durante esses anos, muita gente que começa novinha some completamente, né? E eu vi que comigo, mesmo afastada da música, meu público continuava ali, eu continuava fazendo shows, gente assistindo. Então existe uma verdade ali que as pessoas se identificam. Então não desmereço meus antigos trabalhos, mas eles aconteceram naquele momento. Hoje em dia não me imagino lançando coisas parecidas. Acho que eu precisava dessa mudança porque eu acabei mudando muito.
Nesse álbum não tem nenhuma participação. Você tem desejo de fazer uma parceria com quem?
Não trouxe nenhum feat, mas escrevi três músicas com a Ana, da Anavitória. Foi super legal, a gente já era amiga porque nosso empresário é o mesmo. Ele apresentou a gente há um tempo atrás, antes delas lançarem CD. A gente já tinha essa identificação, do jeito que ela escreve, que eu escrevo, do jeito que a gente conta histórias e fala de amor. Daí senti que iria agregar ao CD ter alguma participação porque eu tenho muita dificuldade de compor com outras pessoas, tenho muita vergonha. E daí como ela já era minha amiga, depois de um show, ela começou uma música e me mandou pelo Whatsapp. Pirei na música, era “Fora de Foco”, a gente continuou pelo Whatsapp mesmo e a música nasceu no dia seguinte. Depois dessa a gente escreveu “Mais Perigo” e “Me Beija”.
E cantar com alguém?
Tenho muita vontade, com muita gente daqui do Brasil. Vamos ver.
O disco tem uma influência de reggaeton. Você costuma ouvir, como chegou pra você?
“Despacito” está uma doença na minha cabeça, já tá um mico o tanto que eu gosto dessa música. Sempre gostei muito de música latina, música em espanhol. Meu pai é um apaixonado por música, ele é radialista, ele gosta muito de rock, mas lembro de crescer ouvindo música em espanhol. E depois, claro, participei daquela febre de RBD, eu era doente por eles, cantei com a Dulce, já escutava muito espanhol por conta disso, gosto muito da Belinda, da Shakira. Então tenho esse contato com a língua. Sempre tive vontade de lançar uma música em espanhol. Gosto muito de reggaeton, é um ritmo contagiante, mundialmente, com certeza fui influenciada.
E você vai começar a turnê. Como estão os preparativos?
Será um show bem diferente. Acho que esse CD pedia uma mudança nos shows, na maneira que minha música é apresentada ao vivo. Estou fazendo pela primeira vez aula de dança, aula de coreografia, teremos dançarinos no palco, vai ser um show bem diferente do que estou acostumada. Estou super feliz! Tô penando nas aulas, mas vou dançar! Seja o que Deus quiser (risos), mas eu vou dançar galera!
Como está sendo isso pra você?
Está sendo muito difícil, mas um desafio gostoso. É muito legal você ter um desafio na carreira que você tem que penar mais, se doar mais. Eu gosto disso, sou movida a isso. É muito bom aprender uma coisa nova.
E o que não pode faltar das músicas novas?
Acho que as músicas do meu EP, o “Vício”, elas funcionaram bem em turnê. Fiz uma mini-turnê, vi a resposta da galera então a gente vai manter. E, claro, vai ter um momentinho das músicas antigas também (risos).
Manda um recadinho pros leitores do POPline.
Primeiro obrigada POPline, sempre vejo vocês dando notícias e reforçando as coisas. Fico muito feliz. E obrigada a todos que acompanho, espero ver vocês na turnê.