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Entrevista: Mais madura, Gabily prepara o primeiro álbum e sonha com uma carreira consistente

Para Gabily, o ano de 2019 ficará marcado como uma espécie de renascimento. Há três anos, desde que deixou a música gospel para trás e caiu no pop, a jovem tenta achar um estilo para chamar de seu. Mais madura e decidida, ela foi atrás de seu real sonho e se jogou no funk. O single “Cara Quente” é apenas o primeiro capítulo de muitos que virão nos próximos meses, a começar pelos próximos dois singles que serão revelados até outubro, quando finalmente chegará às plataformas digitais seu primeiro álbum por uma grande gravadora.

Ao POPline, a artista fez um balanço de sua trajetória até aqui – desde os tempos que frequentava a igreja com os pais, a descoberta de sua arte, a independência financeira que a possibilitou batalhar pelo seu sonho e, enfim, a tão desejada carreira musical. Confira o bate-papo:

Foto: Felipe Braga

Portal POPline – Pra começar esse papo quero saber alguma situação que você deixou alguma “inimiga” de cara quente.
Gabily – No meu caso não teve inimiga, na verdade. Mas já deixei o boy de cara quente várias vezes. A gente não namora mais, então eu posso falar [risos]. Ele odiava quando eu postava vídeos meus dançando. Mas eu retrucava logo: “Eu faço o que eu quero. Meu corpo, minhas regras”. Ele ficava sem falar comigo, bloqueava os meus Stories pra não assistir. Era uma coisa que dava briga constantemente.

Há dois anos você teve de lidar com algumas críticas quanto à mudança do seu som. Você veio do gospel e, de repente, estava cantando um pop/funk com a Ludmilla. Agora você está vindo com um trabalho com mais malícia, ousadia. Como você lida com os “haters”?
Na real eu sempre lidei bem com o que li sobre mim na internet. Lógico que as críticas construtivas eu absorvia, até porque elas agregam ao meu trabalho. Mas as críticas que me acusavam de tentar copiar determinado artista, eu nunca liguei porque é bem comum isto acontecer. O que não mudou em relação ao meu posicionamento de antes é o fato de eu responder às críticas maldosas. Às vezes consigo convencer a pessoa de que ela está errada. Só que hoje em dia muita gente destila ódio pra conseguir atenção. Infelizmente o nosso cérebro está programado de uma forma errada, pois a gente dá mais atenção aos comentários negativos que os positivos. Tenho tentado organizar isto na minha cabeça pra não deixar me afetar.

Você é filha de uma missionária evangélica e cresceu em um ambiente religioso. Como você lida com a sua fé?
Adorei a pergunta! Eu comecei cantando na igreja sim, mas minha mãe sempre me apoiou. Os meus princípios são do meio gospel, mas acredito que Deus não seja necessariamente uma religião. Trata-se do que eu acredito que seja o certo e o errado. Eu e minha mãe conversamos muito sobre isso e ela entende que a minha carreira é o meu trabalho, o meu sonho. É algo que sempre quis viver. Quando eu era mais nova, não podia ouvir músicas populares. E eu acabava mostrando meu lado “anarquista” na escola: recitava poemas, participava de gincanas, compunha em cima de músicas da MC Sabrina, Claudinho e Buchecha… Todas essas coisas não faziam parte do meu cotidiano porque eu era criada dentro de uma doutrina evangélica. E minha mãe começou a perceber isso porque eu sempre fui muito “pra frente”. Com 16 anos comecei a trabalhar em um banco no Centro do Rio de Janeiro e me vi um pouco mais independente. E aí comecei a conhecer um pouco mais deste universo, passei a sair pras boates, baladas, shows de pagode… Até que comecei a participar de alguns desses shows e o Leandrinho, que foi um dos integrantes do Imaginasamba, quem me incentivou a buscar uma carreira mais profissional. E parti pro sonho de montar uma equipe e cantar funk. Deus não vai me julgar por isso, até porque Ele não é machista, não vai julgar minha roupa, nada disso. Consegui amadurecer este assunto com minha mãe e passamos a conversar mais sobre temas mais complicados. Eu tive um irmão de criação que é gay e se assumiu muito cedo. Minha família se viu obrigada a confrontar esse tipo de situação e aprender a não ter preconceito. Por isso que levanto a bandeira dos LGBTs, porque eu vi o preconceito que meu irmão sofria na escola e eu o defendia, sei que não é fácil. Meu pai é negro, e eu via como as pessoas o tratavam com estranheza quando sabiam que ele era meu pai. Só porque nasci um pouco mais clara, já que minha mãe é branca. Ou seja, lidamos com uma série de tabus desde cedo.

Foto: Felipe Braga

A gente tá sabendo que seu primeiro álbum vai sair em outubro. Eu sinto que você vai contar em primeira mão pro POPline algum dos convidados deste trabalho [risos]…
Então… Vou contar pra você em primeira mão. Clau e Xamã irão participar do meu próximo single, que ainda não tem nome definido. Essa música é uma espécie de representação de tudo que vou trazer em termos de sonoridade neste meu primeiro álbum. O primeiro single é um funk 150 bpm, mas tem coisas românticas, tem r&b, trap… E eu fiz essa mistura não só na música, mas com as participações também. Foi legal ver todo mundo saindo da sua zona de conforto. O resultado final vai ser bem diferente e espero que agregue pra toda galera.

Você também compõe, certo? Que tipo de mensagem você gosta de passar em suas letras?
Gosto de passar mensagens de “liberdade”. Eu vivo muito isso também. Gosto da ideia de podermos fazer o que quisermos, de cantar algum palavrão numa música e tudo bem. Isso não quer dizer que eu seja uma mulher de menor valor ou menos inteligente. Consigo quebrar esta lógica mostrando meu outro lado, seja tocando algum instrumento ou cantando outro estilo de música. Mas chega desse negócio de ter que se comportar dentro de um padrão politicamente correto pras pessoas te aceitarem.

A coreografia é parte importante dos seus clipes. Quem são suas referências na dança?
Gosto de tanta gente foda. Mas com relação à clipes com muita dança, minha referência maior é a Beyoncé porque ela canta e dança como ninguém. Nos meus clipes tento explorar outros tipos de dança não tão populares aqui como o dancehall, que é uma coisa mais latina. Neste último clipe nem tive como colocar tanto porque é um funk, então é bumbum pro alto mesmo. Mas as próximas músicas que virão terão outras referências um pouco diferentes do que a galera usa mais por aqui, que é o hip hop e o street dance.

E quanto aos shows. Você já pensa em algum formato específico pra este primeiro álbum?
Vamos lançar uma turnê deste álbum em breve. O formato mudou um pouco de uns tempos pra cá. Meu balé, desde antes, sempre foi todo feminino. Mas a gente percebeu que muitos artistas estão usando apenas balés femininos. Daí penso em vir na contramão do que estão fazendo para me diferenciar neste sentido. Talvez eu mude meu balé, busque outros estilos de dança. Pretendo fazer algo diferente porque meu álbum será diferente, né?

Foto: Felipe Braga

As gravações do clipe de “Cara Quente” aconteceram em uma comunidade carioca. Provavelmente você viu como muitas famílias vivem em situação de miséria naquele lugar. É algo que mexe com você internamente?
O funk tirou muita gente de situações precárias. Quando eu era pequena, minha família também passou necessidade. Já passamos por uma fase onde meu pai e minha mãe ficaram desempregados. Já senti na pele o que é isso e posso falar com propriedade. Por mais preconceito que o funk passe aqui no Brasil, é ele quem tem chamado atenção lá fora. Ganhamos o mercado fonográfico nacional, é o nosso momento. Me diz se alguma festa fica animada sem funk…

Enquanto artista, você acha importante haver um posicionamento sobre temas importantes como o feminicídio, por exemplo?
O feminismo é algo que sempre estará em meu discurso. Leio as notícias sobre os altos índices de feminicídio não somente no Brasil, mas em outros países também. Entendo o quanto as pessoas precisam falar a respeito disso. Entendo também que ainda não tenho uma voz que repercuta tanto, o que me impede de defender a causa com mais propriedade. Mas faço a minha parte e tento alertar as mulheres que me seguem que estejam sempre atentas aos sinais, que não tenham medo de denunciar alguém em caso de agressão, entre outras coisas.

O que podemos esperar da Gabily a partir deste novo projeto?
Primeiramente tenho que dizer que estou muito feliz com este novo momento na minha carreira. Agora faço parte do time do escritório da Kamilla Fialho, uma gestora que sempre sonhei em trabalhar. Temos uma afinidade muito grande, uma sinergia bacana. Antes eu era uma artista multifuncional, fazia desde a pré-produção do clipe até a estratégia de marketing. Agora tenho todo apoio da K2L e da minha gravadora para reconstruir minha carreira com mais consistência.

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