Passados quatro anos do lançamento de “Tombei”, a rapper Karol Conka vive outro momento em sua vida – distante do frenezi causado pelo clipe mais visto de sua carreira, com 26 milhões de acessos. Divulgando seu segundo álbum, que demorou todo esse tempo para sair, ela segue experimentando e se arrisca a lançar até um single romântico, “Saudade”. Muito mudou e muito aconteceu de 2015 para 2019 para Karol Conka, mas a busca pelo diferente se manteve.
POPLINE – “Saudade” é diferente de todos seus singles anteriores, que eram ou mais festeiros ou mais políticos. Essa é uma música romântica e mais cantada também. Como surgiu essa música?
KAROL CONKA – Essa música foi feita sem intenção de entrar no álbum. Ela surgiu em uma tarde que eu estava em casa com Boss In Drama. Acho que já estávamos produzindo músicas para o álbum. No fim da tarde, a gente estava tomando vinho e eu falei “eu queria fazer alguma coisa para brincar, cantar um reggaezinho e tal”, aí ele ligou o microfone e eu simplesmente cantei. Sem escrever, nem nada. Estava sentindo muita saudade e deixei a saudade tomar conta de mim de vez. É exatamente isso: nas minhas músicas, estou sempre falando de poder, de autoestima, e é como se Karol Conka nunca amasse, nunca chorasse ou tivesse momentos sensíveis, sabe? Eu tenho isso. Eu não ia colocá-la no álbum, porque achava que não tinha nada a ver comigo, mas depois eu me permiti. Essa música foi feita muito rapidamente e, quando parei para ouvir, senti uma emoção e um alívio, porque fiz algo que não tinha feito ainda e me desafiei bastante.
Karol Conka é romântica?
Então.. eu não me acho romântica. Tem gente que diz que eu sou. Eu não me acho. Eu me considero carinhosa e atenciosa, mas depende do jeito que vejo romance também. Eu não me considero romântica, não.
Lançar esse clipe agora, neste momento político conturbado, tem alguma intenção ou não?
Não. Foi tudo muito natural, porque emu trabalho é sempre feito de uma maneira mais orgânica. As datas já estavam definidas – como eu ia lançar o álbum, os singles… Esse momento chato da política, com todo mundo se atacando e o Brasil vivendo uma situação vergonhosa – porque a gente está passando vergonha lá fora diante dos outros países, né? – então eu também quis ser alívio para as pessoas. Eu não gosto de trabalhar com o óbvio, então seria muito óbvio eu chegar agora com algo político, sendo que na minha vida eu lido com um monte de coisas, e acho interessante a gente falar de amor também. Falar de pessoas queridas que se foram. Eu escolhi oferecer isso para meu público e ser resistência, solução, alívio, conforto….
Quando você lançou o “Ambulante”, disse que coloca sua vida em cada frase para cicatrizar feridas. Foi duro o processo criativo desse álbum?
Não. Foi super legal. Quando eu lembro, dá até uma saudade. A gente fez tudo aqui em casa, com muita tranquilidade. Quando eu falo em cicatrizar feridas, são as feridas de outras pessoas, que escutam minha música e encontram nela um motivo para continuar de cabeça erguida. Às vezes a gente só precisa ouvir uma palavra de conforto e uma frase que nos dê sentido. Aí eu pego minhas experiências pessoais e coloco na minha música, querendo levar solução para quem precisa. Meus fãs me escrevem muito falando que se curaram da depressão, que encontraram uma força maior para enxergar graça na vida… Uma vez, um fã me disse isso, que minhas músicas cicratizavam as feridas dele.
Depois do estouro de “Tombei”, te cobravam muito por esse disco e você às vezes deixava claro que estava de saco cheio das cobranças. O sucesso de “Tombei” foi um peso no estúdio?
Como assim?
Você pensou que precisava fazer algo do tamanho daquilo ou repetir o sucesso?
Não… Não… Eu sou muito tranquila. Não me permito viver em uma bolha frustrante. Eu não gosto de repetir fórmula, sendo que posso criar outra. “Tombei” é o “Tombei”. Já vi outros produtores se frustrarem: “ai, queremos fazer um trabalho com você, Karol, mas tem que ser como Tombei”. Não! “Tombei” é só “Tombei”. Foi um sucesso, é uma música que é sucesso até hoje, mas não posso ficar me cobrando. Eu gosto de me aventurar em outras coisas. O processo de gravação no estúdio foi tudo muito tranquilo. Estou realmente satisfeita. Estou bem resolvidinha. Sei que cada momento é cada momento. Respeito muito meu momento e meu estado de evolução. Acho que cada coisa em seu lugar e acho que estou no lugarzinho certo, experimentando novas frequências.
Durante o processo,você trocou o Tropkillaz pelo Boss In Drama. O que aconteceu?
Então… o que acontece é que nunca cheguei nem a fazer um álbum com o Tropkillaz. A gente fez “Tombei”, depois “É o Poder”, “Maracutaia”, “Lalá”, “Farofei” e acabou, porque eu não achava graça de fazer um álbum e colocar essas músicas, porque elas já estavam até saturadas. Então fui para o Boss In Drama, que tem uma versatilidade maior. Não que o Tropkillaz não tenha. Eles são fantásticos, pelo amor de Deus. Mas trabalhar com o Boss In Drama, pra mim, foi muito mais satisfatório, porque ele tinha o tempo para me atender. O Tropkillaz viaja pra caramba. Mas acho que é mais pela frequência mesmo. O Tropkillaz não estava vibrando na mesma frequência que eu, então achei melhor encerrar o que a gente tinha feito, porque não tinha mais nada que eu pudesse fazer do jeito que eu queria. E o Tropkillaz não ia me entregar um álbum como o “Ambulante”, porque não faz parte da linha deles. É diferente o estilo.
Você gostaria de lançar clipes para que outras músicas do “Ambulante”?
Nossa! Quero lançar clipe de todas! Estou tentando, né. Lancei já três. São dez músicas. Eu gostaria muito de, no final do ano, ter dez clipes lançados.
Você recentemente escreveu “A música que todos deveriam saber a letra”, sobre os 30 artigos referentes aos direitos humanos. Como você enxerga a situação dos direitos humanos no Brasil?
Eu fiquei muito feliz de participar desse projeto. Ali, na verdade, eu só botei voz e interpretei, porque tudo que estou cantando ali fazem parte da lei mesmo. Foi muito legal. Eu acho que os direitos humanos são “tudo muito lindo”, mas a gente sabe que precisa falar disso na prática. Até por isso aceitei participar desse projeto: para usar minha imagem para levar informação às pessoas. Eu acho que, na prática, a gente pode melhorar (risos). Você não concorda? Os direitos humanos… cadê né?
Até na teoria pode melhorar, porque muitas pessoas não entendem o que são os direitos humanos.
Éééé! Fato! Muitas não entendem. Tinha que ter mais divulgação disso, falar mais disso, para que as pessoas, quando estiverem em situações desagradáveis, possam exigir seus direitos e saber o que estão exigindo.
Você sente que tem uma responsabilidade social por sua visibilidade?
Ah, eu sinto, porque eu acredito que as pessoas não se tornam públicas à toa. Quando tem esse dom da fala, dom de cantar – sempre falei isso para minha mãe e para meus amigos – você tem o livre arbítrio de usá-lo pra o bem ou para o mal. Eu escolho contribuir, de alguma forma, na vida de alguém. Acho que tenho uma responsabilidade, sim. Eu me sinto confortável de poder contribuir. Eu gosto.
Pessoas LGBTs foram retiradas das diretrizes do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Você tem acompanhado os movimentos do novo governo?
Não muito. Confesso que não muito. Eu passei uma situação muito triste no ano passado, e escolhi ficar longe de coisas que me deixam tristes. Eu fico sabendo, eu vejo, assisto ao telejornal, mas procuro não mergulhar muito para não ficar mal. Eu sofro de ansiedade e a pessoa ansiosa não pode ver nada que já quer morrer, já quer chorar (risos). Não pode. Aí, por recomendação médica, eu não posso me enterar muito, ficar nervosa… A doida.
O que você espera de 2019?
Esse tipo de pergunta me dá até um frio na barriga. Tempos difíceis que vivemos. Eu espero que as pessoas tenham mais empatia umas com as outras. Eu quero, não só espero como quero, que as pessoas tenham mais cuidado quando foram falar com as outras e tentem entender o posicionamento das outras. Eu acho que empatia é uma coisa que eu falo muito, e tenho notado que as pessoas têm falado muito também nos lugares que eu vou. Mas acho que a gente tem que falar mesmo. Quero realmente mais empatia com todo mundo em 2019.
Quais seus planos para este ano?
Estou trabalhando a divulgação do meu disco, vou fazer alguns shows fora, e quero lançar clipe, muito clipe. Tem um projetinho meu, que ainda não posso falar ainda, mas em breve entro em contato com vocês para contar. Tem umas novidades mais pra frente.
Para terminar, deixe um recadinho para os leitores do POPline.
Vocês são incríveis. Quero deixar um beijo e agradecer o reconhecimento de quem gosta de mim.