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Entrevista: IZA responde tudo sobre o álbum “Dona de Mim”, com músicas apimentadas

Uma grande mistura. O primeiro álbum da IZA, “Dona de Mim”, pode ser descrito assim. Com participações de Marcelo Falcão, Rincon Sapiência, Ivete Sangalo, Thiaguinho, Gloria Groove e Carlinhos Brown, as 14 músicas (12 inéditas) perpassam por diferentes nuances da black music, retratando a personalidade da artista, que está com 27 anos, um contrato com a Warner Music e um sucesso nas paradas – “Ginga”. De olho em diferentes públicos, IZA entrega as músicas perfeitas para fazer qualquer pista de dança ferver e também as baladas ideais para se ouvir em posição fetal no quarto, de preferência comendo brigadeiro na colher. As letras falam de festa, amor, separação, autoestima, música e muito, muito sexo. A temática sexual aparece em pelo menos quatro canções. IZA canta que “está com saudade daquilo” e fala explicitamente sobre o ponto G – a zona feminina que favorece o prazer e leva ao orgasmo com mais facilidade. Pode ser uma surpresa para muitos, e é justamente o que ela quer causar. Com “Dona de Mim”, IZA quer mostrar suas diferentes facetas e expor suas vulnerabilidades. O material enviado para a imprensa fala em faixas “sexy sem ser vulgar”. É por aí.

Seu álbum é uma realidade! Como está se sentindo?
Nossa, estou muito feliz! Nem acredito que estou finalmente colocando esse álbum na rua. A gente ficou tanto tempo trabalhando nele, que é inacreditável que finalmente chegou o dia. Estou colocando 14 músicas na rua de uma vez só! Queria muito dar esse presente para meus fãs, que queriam ouvir coisas novas e saber o que eu estava preparando. Estou muito feliz.

Não é para qualquer um ter Ivete Sangalo e Carlinhos Brown no álbum de estreia. Como foi para descolar as participações especiais?
Foi muito bacana. A Ivete é uma mulher incrível e realmente é um modelo para mim. Sempre a admirei. A Ivete, desde que lancei “Pesadão”, tem sido um amor. Ela entrou em contato e postava sobre a música. Só de saber que a Ivete sabia que eu existia, eu já não estava dando conta, sabe? (risos) Ela sempre muito gentil, muito querida, muito acessível, me respondendo. A gente pensou em mostrar essa música “Corda Bamba” para ela, até mesmo para ela dar opinião, ainda que não quisesse fazer a participação, porque… é a Ivete. Mas ela topou fazer a música e até agora não caiu a minha ficha. Para mim, ela é um dos maiores ícones da nossa música e acho que ela representa muito bem o país. É uma benção muito linda estrear meu álbum desse jeito.

E o Brown?
Ele tem tempo já. Acho que a gente tem um amigo em comum, que mostrou meu trabalho para ele, e desde o início ele me dá dicas, me orienta, me manda músicas, e eu mando coisas para ela. Eu acho que ele é um dos melhores produtores que a gente tem no Brasil. Ele é inteligentíssimo, muito ligado, e também foi um amor quando mostrei a música para ele. Entreguei a música para ele fazer as percussões e ele superou minhas expectativas e a de todo mundo, como sempre. Ele é brilhante. “Rebola” não é a mesma coisa sem ele.

“Dona de Mim” é o título de uma das músicas e também do álbum. Por que você escolheu esse título para o álbum?
Eu acho que “Dona de Mim” é o que todas as músicas acabam reafirmando. É o nome de uma música do álbum, é a minha música favorita do álbum e, além disso, eu acho que todas as músicas – mesmo falando de separação, sexo, música, festa – acabam reafirmando essa postura. Neste momento, estou muito feliz comigo mesma e quero muito que todas as mulheres se sintam assim também.

Essa é a música política, com letra empoderada. É quase um discurso. Eu achei que o disco teria mais coisa assim, porque você fala muito bem sobre feminismo, racismo, machismo em entrevistas. Não era uma vontade sua tratar disso artisticamente?
Na verdade, essas questões como empoderamento, representatividade, feminismo, racismo, feminismo negro, tudo isso acaba acompanhando meu trabalho – não só porque se fala muito sobre isso, mas por causa a realidade de onde eu venho. Por causa das minhas experiências. Eu falo muito sobre isso, porque se pergunta muito para mim sobre isso! (risos) Sabe? Não é uma coisa de “acordo falando sobre isso”. Mas são coisas importantes de serem faladas. Não acho que todo mundo que fala hoje em dia está legitimamente preocupado com essas questões. A gente sabe que muita gente vai na onda. Mas é uma questão de aproveitar o momento para falar sobre coisas que realmente importam. Dito isto, eu acho que eu falo sobre aquilo que eu quero falar. É muito importante esse álbum sair logo para que as pessoas entendam várias outras vertentes e outras coisas que eu penso também, sabe? Eu acho que é legal me mostrar como ser humano por completo – não só os meus princípios, mas as minhas vulnerabilidades e as coisas que eu gosto de fazer. É por aí.

Quatro músicas tem temática especificamente sexual…
“Saudade Daquilo”, “Você Não Vive Sem” e “No Ponto” e qual a outra?

“Toda Sua”.
“Toooooda Sua”! Ah, engraçado. Eu acho que “Toda Sua” é mais romântica do que sexual, sabia?

Mas o romantismo tem o sexo também, né?
É, é, tem. Eu acho que essa música, perto das outras, é a mais inocente. Tem mais a ver com paixão do que com sexo em si. Aliás, “Saudade Daquilo” e “No Ponto” são explicitamente sobre sexo, mas “Você Não Vive Sem” é mais do que isso. A gente entende que é uma pessoa dizendo para o parceiro que ele pode ir embora, porque no fim das contas ele vai se arrepender. No fim das contas, ninguém faz como eu faço e essa pessoa vai sentir falta disso. Acho que vai além do sexo, sabe? Fala sobre paixão, convivência.

Eu falo isso porque o mundo ainda é carente de narrativas femininas sobre sexo. A perspectiva masculina é dominante.
Com certeza.

Quais eram suas referências neste sentido?
Falando sobre sexo? Nenhuma. Tem outras músicas, tem funks, que falam sobre sedução, mas estritamente sobre sexo, eu não tive referência. Quando digo referência, quero dizer que não me pautei em trabalhos anteriores. Mas é óbvio que já falaram sobre isso: Rita Lee, Gal Costa, Karol Conka. As mulheres têm falado sobre sexo e acho muito bonito que a gente possa falar sobre isso também, até porque faz parte da nossa vida.

É bastante música sobre sexo. Como surgiu essa vontade de se expressar artisticamente sobre o assunto?
Na verdade, a vontade de me expressar não foi focada só no sexo, como você pode ver no meu álbum. (risos) Era muito mais sobre pensar minhas vulnerabilidades e, quando falo de expor vulnerabilidades, falo sobre isso, questões do ser humano e nossas necessidades físicas e emocionais. Foi por isso: eu quis ser muito verdadeira com os outros.

Você está tratando disso sem tabu. Sempre foi assim para você?
Sempre, né. Acho que tem que ser dessa forma. Acho que todo mundo tem seu tempo. Eu tive meu tempo, tive minhas experiências, mas sexo é natural a todo ser humano e deveria ser tratado dessa forma.

O som que você traz no disco é diferente de tudo que está rolando atualmente no pop nacional. Se você tivesse que vender seu álbum agora, como você o descreveria?
Esse álbum é plural como eu. Posso falar que, como cantora pop, ele é um álbum pop, mas passeia por todos os aspectos da black music, indo do samba até o trap, o R&B. É o que eu amo cantar. Foi assim que a gente construiu esse álbum: pensamos tudo que eu mais amo cantar, colocamos na mesa e, óbvio, unimos todas elas com a sonoridade, com o conceito, etc. Elas são diferentes, né. Eu quero que o público entenda isso – que artistas em geral estão em evolução o tempo inteiro. Quero que as pessoas entendam como a música pode ser plural e versátil na minha vida.

O disco explora diferentes sons da chamada black music. Você não abraçou um gênero específico. Foi uma decisão intencional ou aconteceu naturalmente essa mistura?
Foi acontecendo. Eu não pensei “quero fazer 14 músicas, uma diferente da outra”. Foi: “vamos pensar naquilo que eu gosto de cantar, não quero deixar o R&B de lado, nem o blues, nem o trap, nem soul, os ritmos brasileiros, capoeira, raggae, nem o reggaeton, nem nada”. Quero mostrar tudo aquilo que eu gosto de fazer. Acho que as pessoas vão entender.

O álbum é bem dividido entre músicas dançantes e baladas. Nesse processo criativo, o que costumava surgir primeiro – as batidas ou as composições?
Depende muito. É muito dividido. “Pesadão” veio primeiro a letra, “Ginga” também. Geralmente, a letra vem antes da produção, mas por exemplo a produção veio antes em “No Ponto”. Não tem muita regra. O processo criativo é legal por isso, porque ele pode ligar. Foram várias as formas de criar no estúdio.

Qual faixa deu mais trabalho?
Deixa eu pensar. (silêncio) Acho que “Ginga”. A gente mudou muito a música. A gente fez uma versão, depois adaptou para outra versão, mudando a melodia, a métrica, essas coisas. Foi a que mais deu trabalho. Ela foi uma das três últimas músicas que a gente fez para o álbum e acabou se tornando minha música de trabalho atual. A gente queria lançá-la, mas eu sentia que ainda faltava alguma coisa, então foi trabalhoso para fechar e pensar “agora está perfeito, pode botar na rua”.

Você chegou a fazer outras músicas que ficaram de fora?
Sim, fiz sim. Descartei algumas. Bastante. Para fazer um álbum com 14 músicas, a gente faz muito mais, né?

Tipo quantas?
Ah, não sei. Sei que eu ouvi muita música e gravei outras músicas, muitas músicas. Acabaram não entrando, porque achei que bastavam as que estão no álbum, ou porque destoavam. Quem sabe elas não aparecem em um próximo trabalho?

De alguma maneira, sua experiência com publicidade ajuda na composição?
Acho que me ajuda a me entender no mercado, entender o que entra, o que não entra, o que posso falar, o que não posso falar, o que gosto de falar, o que as pessoas gostam de ouvir. Com certeza a publicidade me ajudou muito nisso.

Agora com o álbum lançado, você já vai inserir as músicas novas nos próximos shows?
“Bateu” é uma das minhas músicas favoritas e com certeza vai entrar no show deste sábado. Eu amo essa música! Acho muito divertida, e acho que a galera vai curtir dançar essa música na noite. Mas o show mesmo “Dona de Mim”, eu ainda estou fazendo e acho que a gente pode esperar um pouquinho, até mesmo para o álbum ganhar mais força. Quero muito que as pessoas cantem comigo. A plateia é a parte principal do meu show. Quando eu sentir que chegou o momento de deixar meu trabalho totalmente autoral e botar o público para cantar comigo, vai rolar e vocês vão saber.

“Lancei o álbum e agora?” Quais os próximos passos?
Muita coisa está aí para acontecer. Acho que eu não vou parar em casa. (risos) Acho que é isso que vai acontecer mais ou menos daqui a dois meses, quando eu lançar esse show do álbum. É isso.

Você já tem definidos os próximos singles?
Tenho sim! Estão todos definidos. A gente está muito ansioso para saber se as nossas escolhas vão bater com as escolhas do público.

Qual sua expectativa para esse primeiro álbum?
Quero muito que as pessoas me entendam. Quem trabalha com isso precisa do apoio do público. Canto para eles. Quem me segue vai me conhecer muito mais. Acho que, por ser um álbum tão plural, pode me trazer públicos novos. É pra eles. Espero muito que eles gostem.

Você sempre lembra que largou a publicidade no escuro, sem saber o que ia acontecer. Agora está lançando seu álbum. Valeu a pena, né?
Foi a melhor decisão da minha vida! Eu não me arrependo, graças a Deus!

Para terminar, recadinho para os leitores.
Amados do meu POPline, que me enchem de carinho, estou louca para botar esse álbum na rua e saber o que vocês estão achando. Isso é para vocês, e não seria possível sem vocês.

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