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Entrevista: Gloria Groove explica quebra-cabeças e faz balanço da era “Affair”

“Existe o criador ali por trás. Sem o meu corpo, a Gloria Groove não acontece”, diz drag queen.

E Aí, POPline? Gloria Groove é a convidada do game show desta sexta, (22)! (Foto: Rodolfo Magalhães)

Gloria Groove lançou cinco músicas e cinco clipes no intervalo de 50 dias. Foi sua era R&B, que resultou na formação do EP “Affair”. O último lançamento aconteceu na terça (1º/12), convidando o público a uma nova experiência: revisitar todos os clipes na ordem da tracklist. Desta forma, Gloria conta uma historinha – que era impossível entender antes.

Cada música e clipe representam uma fase diferente dos estágios de um envolvimento amoroso. Dependendo do momento que você esteja vivendo, a letra de uma das canções vai te pegar mais. Confira:

1- VÍCIO: o envolvimento
2. SUPLICAR: a paixão
3. A TUA VOZ: a desilusão
4. SINAL: a esperança
5. RADAR: a superação

Para falar sobre esse quebra-cabeças, agora finalizado, e os bastidores dessa era R&B, Gloria Groove concedeu uma entrevista exclusiva para o POPline. Confira!

POPline – Com “Radar”, você encerrou os lançamentos do EP “Affair”. Qual o saldo que você tira desse projeto?

GLORIA GROOVE – Agora com o clipe de “Radar”, o que fica para mim é a sensação de “nem acredito que acabei de entregar uma era completa do meu estilo musical favorito”. Parece surreal, principalmente levando em consideração o ano maluco que a gente está vivendo. Foi um grande “por que não?”, quando eu vi que tinha essa família de músicas amadurecendo. Estou feliz demais com o resultado.

Você teve a ideia esse ano mesmo, durante a quarentena?

É. Na verdade, o “Affair” tem composições super recentes e também sons que foram feitos mais de dois anos atrás, então conforme os sons mais recentes foram nascendo e parecendo que faziam parte da mesma família, esse EP foi tomando forma. A ideia de fazer um EP voltado para o R&B sempre existiu. O que aconteceu esse ano foi a realização disso: a chegada de novas faixas, como “Sinal” e “Vício”, e a decisão de fazer disso um projeto audiovisual.

Eu amo “Vício”.

“Vício” é uma das composições mais recentes, mesmo. É uma composição deste ano. “Vício” e “Sinal” foram escritas na quarentena. “Suplicar” saiu de uma tarde que passei compondo com a IZA. Os fãs, inclusive, ficaram super felizes de saber que ela é uma das colaboradoras, assim como eu também já colaborei com músicas dela. É muito legal a gente ter essa troca, mesmo por trás dos palcos.

Seu projeto de R&B acabou se diferenciando bastante do que outras drags e cantoras pop brasileiras vêm fazendo nos últimos anos. Que feedback você recebeu de colegas?

Acho que todo mundo tem o R&B como uma coisa que gosta, pelo menos um pouquinho. Marcou muito as referências musicais principais do começo dos anos 1990 e 2000, quando eu era uma criança, pré-adolescente, adolescente. É um estilo que me marcou demais. Está na minha vida desde sempre. Acredito que as pessoas recebam como uma coisa extremamente fresh e extremamente nostálgica. O R&B também tem crescido muito, então fico orgulhoso do “Affair” porque acho que ele engloba o melhor do R&B que a gente tem visto ultimamente com o melhor da fase Mariah [Carey], Alicia Keys… E é brasileiro, o que dá mais orgulho ainda, por ouvir um material num estilo tão chique e refinado na nossa língua.

(Foto: Rodolfo Magalhães)

Esse EP é um redirecionamento na carreira ou um projeto pontual? Vai ter mais R&B?

Esse EP, para mim, é um sonho que já existia e estava esperando o momento para acontecer. Neste momento foi “por que não?”. Mas, de forma alguma, é alguma coisa definitiva. Como artista, pessoa e drag queen, vivo me reinventando e me recriando o tempo todo. A música é uma ferramenta maravilhosa para acompanhar essas transformações. O gosto muda muito. O meu gosto mudou muito do início da carreira até agora, e ainda vai mudar muito. Tenho só 25 anos. De forma alguma, o estilo que está sendo feito é uma coisa definitiva. Acredito que ainda vou fazer muita música pop e muita coisa que ainda nem imagino.

Por que você decidiu lançar as músicas em uma ordem diferente da tracklist do EP?

Cara, eu quis lançar fora da ordem principalmente porque eu queria muito que “A Tua Voz” fosse o primeiro single. Mesmo sabendo que ela era originalmente a faixa 3. Eu pensei “tô falando para todo mundo que vou fazer uma era de R&B, então quero chegar com AQUELA música, A música, sabe?”. Acho que “A Tua Voz” cumpriu perfeitamente essa ideia. Daí surgiu a ideia de embaralhar para que tudo só fizesse sentido no final, vendo todos juntos, um seguido do outro. Acabou virando uma brincadeira legal – dar a história por partes.

Vamos ajudar o pessoal a construir esse quebra-cabeça? Qual história você está contando da faixa 1 à 5?

Na verdade, quando as faixas começaram a se juntar, reparei que cada uma ocupava uma vertente do R&B e cada uma dessas composições retratava uma faixa da paixão. Foi assim que nasceu essa tracklist, começando por “Vício”, que é o envolvimento; passando por “Suplicar”, a paixão fatal; vindo ali para “A Tua Voz”, a desilusão; “Sinal”, a esperança de que alguma coisa ainda pode acontecer; chegando a “Radar”, que é a superação: olha o que você perdeu. Dentro dessa ordem, consegui enxergar uma história de superação mesmo – com altos e baixos, como realmente é nossa relação com tudo, seja amoroso ou não. Acho que “Affair” é uma montanha russa de sensações e sentimentos em cinco faixas.

As músicas foram inspiradas em algum boy específico?

Na verdade, gosto de dizer que, assim como as pessoas que ouvem Gloria Groove, eu gosto de sofrer por uma pessoa que nem existe, sabe? (risos) Eu também curto muito isso! Não pode se dizer que o “Affair” é autobiográfico. Meu casamento com meu marido está super bem, super tranquilo. Não é turbulento como o que relato neste EP. Mas uma coisa importante de se destacar – e que é literalmente o pano de fundo desse EP – é que um affair que existe sim e que tem idas e vindas o tempo todo é o que existe dentro de mim mesmo. Entre pessoa e persona. Entre Daniel e Gloria. Acho que por isso que eu fiz essas duas imagens dividirem tanto espaço e o tempo na frente da câmera: para que isso se destacasse mais do que nunca. O maior affair e a maior tensão na minha vida é esse. É o relacionamento que me esforço para manter saudável e para que os dois lados se complementem e não fique faltando nada. Eu percebo que é uma tensão enorme. É o pano de fundo para o conceito visual para o “Affair”: brigas na minha própria cabeça.

(Foto: Rodolfo Magalhaes)

Você se sente tão à vontade na frente das câmeras como Daniel tanto quanto como Gloria?

Definitivamente, acho que isso é uma construção. Tem dias e dias. Com a Gloria, me sinto confiante e potente 100% do tempo. Isso eu consegui reparar: que a drag me deu essa confiança. Enquanto estou montada, me sinto imbatível. Mas, conforme a drag foi me mostrando tudo que eu era capaz, não só como artista, mas como pessoa também, eu também fui começando a sentir esse impacto como Daniel. Comecei a me sentir mais à vontade com minha própria imagem. Não vou mentir: acho que a Gloria é um canal muito importante para eu conseguir expressar diversas coisas que não consigo só sendo o Daniel. Eu a associo a diversos tipos de superação. Mas eu acho tão importante trazer as duas imagens – primeiro para conseguir falar mais expressamente o que é ser uma drag queen, a vivência drag, e também para expressar esse confronto. Existe o criador ali por trás. Existe uma pessoa ali no banco do motorista, fazendo com que tudo isso aconteça. Sem o meu corpo, a Gloria Groove não acontece. Preciso do corpo do Daniel para que esse fenômeno Gloria Groove aconteça.

É horrível perguntar sobre mais coisa, quando a pessoa acabou de lançar algo, porque parece que nunca estamos satisfeitos, mas… Você já planeja novos projetos?

(risos) Eu tô sempre pensando em mais música, mas sinceramente ainda não sei para onde vou me jogar depois daqui. Acabei de entregar o “Affair” e agora vou aproveitar que o ano está acabando e meu aniversário está chegando para me desligar um pouco de novo. Aí vou descobrir o que quero fazer. O “Affair” teve tudo a ver com o fato da gente estar isolado, reservado, nessa atmosfera muito íntima, por conta de tudo que aconteceu com a pandemia. Ter feito o “Affair” agora foi um jeito de olhar para dentro, sabe? Foi minha solução para sentir paz. Comecei a pensar no que eu queria e no que eu mais gosto. Foi um jeito de me curar. Agora quero parar um pouco para ver o que mais quero fazer. Mas eu não vejo a hora de poder divulgar tudo isso em show.

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