Aos 16 anos, Drica Lara foi sozinha em um festival na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, capital do Paraná, com a intenção de conhecer Milton Guedes, que na época era saxofonista do Lulu Santos. Nesse evento, ela conseguiu driblar os seguranças e foi parar no backstage. Foi lá que surgiu o desejo de viver naquele ambiente, ou seja, nos bastidores. Mesmo não sabendo o que era preciso ser feito para isso, ela tinha certeza que havia achado o seu lugar.
Anos depois, já graduada em Design Gráfico, Drica trabalhava fazendo flyers para uma produtora de eventos. Na época, o seu chefe foi à sua casa para entregar o seu pagamento. Na ocasião, ele percebeu que ela estava inserida na cultura Hip Hop e deu a oportunidade de produzir shows de rap em Curitiba.
Depois da produção de shows, vieram as de festivais e, também, de gravações de DVD. Foi a partir dessas experiências que Drica passou a transitar no lugar que, ainda na adolescência, descobriu que pertencia.
Em entrevista ao POPline.Biz é Mundo da Música, a Talent Manager e Diretora Criativa, Drica Lara fala sobre a sua carreira, a construção do show da Ludmilla no Palco Sunset do Rock in Rio, a gestão de artistas e as inovações no mercado musical.
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Com uma atuação plural, a rotina de Drica Lara só é possível de ser cumprida por ela só se comprometer com a quantidade de projetos simultâneos que consegue se dedicar e entregar com qualidade.
“Minha gestão tem como base o WhatsApp, é uma ferramenta indispensável, pois tenho núcleos de equipes em cidades diferentes e torna-se fundamental. Para o organizacional das equipes, eu estava trabalhando com o Trello, mas como gosto muito de listas, estou estudando o Asana e ClipUp, vou testar esses apps nos novos projetos de 2023.”
Dentre os projetos ministrados por Drica, um dos principais cases da sua carreira foi o show da Ludmilla no Rock in Rio. Entre os destaques, o valor do investimento em si para o show de R$ 2 milhões chamou a atenção da imprensa e da opinião pública.
Drica explica que o investimento não foi preestabelecido, uma vez que foi elaborado um projeto dimensionado na expectativa da Ludmilla e o valor foi proporcional a sua grandiosidade. Ainda conta que parte da equipe já atuava com ela há mais de 10 anos, como a produtora executiva Fernanda Teuber e o escritório da Moca Arquitetura.
A construção do espetáculo também contou com profissionais que Drica tinha profunda admiração e sempre quis trabalhar como Moa Gjisen, que atuou na produção criativa do projeto. Já os fornecedores foram indicações da equipe montada exclusivamente para o Rock in Rio. Lara ainda destaca Mariana Pitta, da ArtLab, que foi responsável por toda montagem da cenografia, luz e transmissão ao vivo.
“A estratégia [do show da Ludmilla no Rock in Rio] foi baseada no briefing que tinha três pilares: 1) 10 anos de carreira da Ludmilla/ Turnpoint; 2) Trazer o Palco Mundo para o Sunset; e 3) Show com padrão internacional. A partir disso, todo o conceito e dinâmica espetáculo foi constituído.”
Ainda sobre o show da Ludmilla no Rock in Rio, um dos aspectos que merecem atenção especial foi o conceito para o espetáculo, principalmente para a divisão dos blocos. Segundo Drica Lara, houve um processo de imersão na carreira da cantora para traduzir a sua história no show. Primeiramente, de acordo com ela, era preciso entender onde a artista estava posicionada mercadologicamente e como trazer toda essa jornada riquíssima em 60 minutos de show.
Já o setlist, de acordo com Lara, foi pensado pela Ludmilla e o Diretor Musical Castilhol. A partir das escolhas das músicas, os blocos foram divididos no roteiro geral criado com os momentos especiais, os brackdowns de virada e troca de figurino.
“Criei uma jornada que foi dividida em um vídeo de abertura e três blocos: o vídeo de abertura foi feito para mostrar toda a trajetória de Ludmilla até ali. A intenção era trazer uma profunda emoção para o público, com imagens pontuais de sua carreira em preto e branco, uma trilha sonora ímpar que estava linkada a uma narrativa honesta na voz da cantora, para alinhar o significado, criar essa emoção e conexão desde o primeiro segundo de show!”, comenta Drica. “O Bloco 1, ‘Rainha da Favela’, trazia as cores preta e vermelha para frisar o poder. Esse bloco finda com o momento mesa, uma performance, em que Ludmilla convida artistas mulheres pretas para sentarem em sua mesa”, explica.
“Já o Bloco 2, ‘Numanice’, trouxe as cores principais Azul, Roxo e Verde Neon, o objetivo era mostrar toda a potência vocal da Lud e elevá-la em um cubo de luz, para que ela flutuasse num universo multifacetado. Por fim, o Bloco 3, ‘BrasilCore’, é onde ela está em casa. A ideia era transformar o Rock In Rio em um baile de favela gigante, comandado pela artista, celebrando o Brasil, fazendo a reconexão com as cores da bandeira.”
Drica ainda pontua que no showtime, todos os elementos estavam alinhados.
“Tínhamos o ao vivo e o palco acontecendo com a Lud, ballet, banda, conteúdo no telão de led e efeitos. Em casa, a equipe de mídias sociais estava programada postando conteúdos em suas redes simultaneamente, que detalhavam cada momento. A experiência de quem viu ao vivo e em viu em casa foi pensada minuciosamente.”
Lara ainda trabalha como gestora de talento do produtor musical NAVE e da rapper Bivolt, além de ter trabalhado como artistas como Karol Conká, Flora Matos e Luccas Carlos. Segundo ela, a sua gestão é imersiva e comprometida, uma vez que é fundamental estar conectada com o artista, com suas ideias, ambições e propósito.
Para Drica, um bom relacionamento entre empresária e artista é sustentado por valores, expectativas e combinados. Ela pontua que na primeira conversa é fundamental descobrir quais são os valores inegociáveis das duas partes, esse elemento é definitivo para dar o match. Com os valores alinhados, o próximo passo é definir as expectativas entre as partes na relação e, assim, criar combinados que serão vetores de calibragem para que seja construída uma relação onde esteja bem claro o papel de cada um na jornada.
Além disso, ela enfatiza que um trabalho sólido na indústria é feito em equipe, com muita pesquisa, estratégia, planejamento, comprometimento e disciplina.
“Com o volume de material musical e de conteúdo que são distribuídos massivamente em todas as plataformas e redes todos os dias, cada vez fica mais óbvia a realidade de que se o artista não tiver a sincronicidade de uma música cair na mágica do TikTok e aliados, deverá estar obstinado em seu propósito. Para trabalhar um artista (supondo que ele esteja zerado no mercado), ele terá que estar comprometido com seu propósito.”
Durante o ano de 2022, assuntos como vídeos curtos, Metaverso e Web3 pautaram o mercado da música. Drica considera ter uma visão otimista e entusiasta quando a tecnologia e as ferramentas estão no centro do debate.
“Tenho sempre uma visão otimista e entusiasta quando se refere a tecnologia e as ferramentas que vem com a evolução dela, acredito que a cada passo, temos novas vitrines para divulgação. A história já nos mostrou que não existe como frear a tecnologia, ela está em constante evolução e nós em adaptação a mesma. O desafio só existe a quem não esteja conectado ou disposto a essas mudanças.”
Por fim, Drica diz ser otimista e conta que 2022 foi um ano muito bom, por conta da retomada integral dos eventos em sua capacidade máxima. Ela ainda acredita que, com o mercado super aquecido e com shows internacionais, eventos e festivais, 2023 tem tudo para ser incrível.
Quanto aos planos para o futuro, Drica revela que pretende fazer a direção criativa de muitos shows, além de intensificar os seus estudos. Já para os que desejam seguir a mesma carreira, ela recomenda que é necessário ‘acreditar no processo’.
“Minha dica é meio brega, mas é uma verdade legítima: “acredite no processo” (risos) — todas as conexões que fiz na minha trajetória (as mais fantásticas e as não tão boas) me prepararam e trouxeram onde estou hoje. Então acredite no seu processo, ele é exclusivo e faz de você a única pessoa capaz de realizar da sua maneira.”