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Entrevista: Dream Team do Passinho prepara show em Nova York e diz que quer “levar o passinho para outro nível”

Eles vieram da periferia, fizeram buzz com o famoso passinho, chamaram a atenção da mídia e de artistas internacionais como Ricky Martin. Formam o grupo Dream Team do Passinho, que atualmente ensaia para fazer seu primeiro show fora do país. Vai ser em Nova York! Nada mal, não? Em pensar que, quando começaram, só tinham uma música e correram contra o tempo para criar outras e atender a demanda dos contratantes.

De um grupo de passinho, o Dream Team virou um grupo musical, contratado por uma gravadora importante. Além disso, a integrante feminina, Lelezinha, se tornou atriz de novela e vai emendar “Malhação” em “Totalmente Demais”, a próxima das 19h da TV Globo. Quer dizer, só tem motivos para comemorar! E, quando o assunto é o futuro, eles não fazem média: “a gente vai batalhar até o final, até ganhar o Grammy”.

Vocês estão participando de um workshop com o elenco da próxima novela das 19h. Como é isso?
Mike: A Lelezinha pode falar sobre isso.
Lelezinha: Eu fui convidada para fazer a nova novela das 19h, que é “Totalmente Demais”, e está rolando esse workshop para falar um pouco sobre a favela, como a gente chegou nesse lugar, como é nosso dia a dia. Para falar para a galera um pouco mais sobre como é nossa vida mesmo. A gente fez um mini showzinho e todos curtiram bastante.

Então você vai ter um personagem na novela!
Lelezinha: Sim, vou ter um personagem. A novela fala sobre transformação e ela vai querer ser uma menina famosa, cantora, com sucesso, sendo que ela não tem situação para isso, sabe? Ela vai ter que lutar bastante para chegar lá.
Mike: Lembra a história de alguém, hein! (risos)

Lelezinha também fez “Malhação”. Como foi a experiência de alcançar um público ainda maior por meio da novela?
Lelezinha: Eu sempre sonhei de estar onde estou hoje. Sempre busquei isso na minha vida, junto com os meninos, junto com o Dream Team. A gente está crescendo junto, batalhando junto. Essa experiência para mim foi ótima, porque são pessoas de outros universos e a gente acaba trazendo um pouco dos elementos desses universos para a gente também, e é sempre bom. Eu estou megafeliz. Muito feliz de estar atuando.

Agora vamos falar do passinho! Como surgiu isso?
Lelezinha: Mike, sua vez!
Mike: Cara, na verdade, o passinho é o velho passo de funk, que começou a beber de outras fontes. Então, tem o Michael Jackson, o tango, o candomblé, o futebol, a dança contemporânea, o hip-hop, o forró… Isso foi se desenvolvendo nos bailes de funk, onde a galera começou a organizar disputas de passinho. Essa disputa, essa brincadeira, se tornou um movimento. Foi a batalha do passinho que ajudou a popularizar. Foi a maior plataforma de encontro dos caras. O passinho, então, sempre existiu, não teve um criador, mas bebeu de outras fontes e se popularizou a partir da batalha.

“De Ladin” já tem mais de um milhão de acessos no Youtube. Vocês esperavam toda essa repercussão?
Lelezinha: Na verdade, a gente sempre espera, né? (risos) A gente fica: “quanto tempo será que vai levar para chegar em um milhão?”. A gente já pensa logo em um milhão, entendeu? (risos)
Mike: (risos)
Lelezinha: A gente está muito feliz, não é não negão?
Mike: Pô, com certeza! O maluco é que é uma composição da Lelezinha e minha. O curioso é que a galera teve que correr atrás depois que a gente deu uma bombada com a primeira música, “Todo Mundo Aperta o Play”, que virou comercial de refrigerante. Os contratantes vieram atrás da gente para shows de uma hora, meia hora, e a gente só tinha uma música. E, cara, “De Ladin”, foi a primeira ou a segunda música que a gente compôs.
Lelezinha: Foi a segunda. A primeira foi “Quadradinho Junto”.
Mike: Isso. “Quadradinho Junto”, depois “De Ladin”. A gente ficou muito feliz. A Lelezinha já tinha uma vibe de compositora e alguns dos moleques que não escreviam passaram a escrever. A partir dessa necessidade, até hoje todo mundo escreve. Foi tudo muito raiz. “Será que vai dar certo?” Aí começou a tocar o telefone a coisa com certeza tinha que dar certo. A gente está muito feliz com o resultado, sim. É uma música que, em qualquer lugar que a gente vá, seja em comunidade ou lugar chique de gente bacana, todo mundo tem a música na ponta da língua.
Lelezinha: A gente trabalhou pra caraca, porque a gente tinha que lançar um álbum, o “Aperte o Play”, então correu atrás pra caraca. Quando a galera da Sony ouviu, falou: “caraca, que músicas são essas?”. Falaram que ia dar tudo dar certo, que ia ser incrível.

Vocês também fizeram uma parceria com o Ricky Martin. Como que foi o contato com ele?
Mike: Quando a gente deu a canetada no contrato, os caras não deram o abraço na gente. Eles deram o abraço depois que jogaram a primeira missão: “existe uma música, que é tema da Copa do Mundo, chamada “Vida”, e vocês vão ter que fazer um remix e criar uma coreografia para um clipe”. A gente ficou muito feliz. Eu sou produtor musical, a gente fez a nossa versão da música e veio a criatividade da galera para criar a coreografia. Os caras caíram dentro nessa coisa, e ok. Fechou, aí tinha que ver se o Ricky ia gostar. E ele ficou amarradão. Esse clipe, a gente aproveitou imagens que ele tinha acabado de gravar no Brasil, então a gente não gravou junto com ele. Mas fomos às locações em que ele tinha ido. Depois, ele mandou mensagem no Twitter…
Lelezinha: Ele mandou um vídeo caseiro, gravado no celular dele, dando um depoimento para a gente que estava muito contente, que ama o Brasil, que ama o passinho. O clipe que ele fez tem elementos do passinho. Ele falou “Cara, sou apaixonado pelo passinho. Gosto muito, e foi uma honra o Dream Team do Passinho ter feito essa versão”. Foi isso. Foi dessa forma.
Mike: Resumindo, foi a maior choradeira!

Com que outros artistas vocês gostariam de trabalhar?
Lelezinha: Quero falar! Quero falar! Posso falar, Mike?
Mike: Pode.
Lelezinha: O meu maior “feat” da vida seria com a Beyoncé! Só isso! (risos)
Mike: Mas tem vários artistas aqui no Brasil que seria incrível, como Seu Jorge, Ivete Sangalo, gente que a gente curte e é referência para a nossa carreira.

Eu vi na página de vocês no Facebook dizendo que sofreram um episódio de racismo. Como que foi isso?
Mike: Pois é, cara, a gente estava saindo da gravadora superfeliz, porque teve um dia incrível, só notícia boa. A gente estava comemorando e passando na frente de um banco. Alguém tinha uma nota alta, R$ 50 ou R$ 100, e queria trocar o dinheiro. Era aquela petralhada toda, com nossa diretora de comunicação, que é a maior loirona. Eu que percebi a coisa. A moça estava vindo na direção para sair do banco e travou, ficou olhando. Ela deve ter imaginado que a gente estava roubando ou pedindo dinheiro. Ela ficou muito nervosa e voltou para dentro do banco. Ela ficou tão nervosa que pegou os papeis de depósito e ficou fingindo que estava escrevendo, sem caneta! Eu fiquei prestando atenção. A gente se revoltou. Foi horrível. Mudou a vibe de todo mundo. Eu conseguia olhar para ela pelo vidro e falei: “ninguém vai te roubar não”. Ela percebeu que a gente notou a atitude dela. Ficamos muito chateados. Todos somos artistas, trabalhadores, gente de bem, que luta, que busca, como qualquer médico, pedreiro, pintor, e isso acontece todo dia com nós, negros do Brasil inteiro. A gente tem história para contar assim todo dia. É uma senhorinha que bota a bolsa para o lado, coisas assim.

No Facebook, também, vocês postaram uns vídeos se posicionando contra a redução da maioridade penal. Vocês parecem bem politizados. Costumam discutir bastante o noticiário?
Mike: Quer falar, Lelê?
Lelezinha: Pode falar.
Mike: A gente tem uma agenda muito bacana, uma equipe muito bacana. A gente tem dia de ensaio, dia de “tomar uma chamada” quando a coisa tá perdendo o foco, e são nesses dias que a gente geralmente conversa sobre várias questões. “Cara, vocês perceberam que o coro tá comendo?”. A gente fala um pouco do que é, o que cada um percebeu. A gente tem sim momentos de discussões políticas, e isso é muito maneiro. A gente vê outros artistas que se posicionam. A gente não se posiciona com tudo, não, mas tem coisa que a gente está vendo. Esse papo de racismo e da redução, a gente estava muito por dentro, acompanhando, trocando ideia, batendo papo sobre as coisas da nossa realidade. Isso é muito bacana para a gente. Não acontece só na reunião, às vezes é no avião que rola.

Vocês vêm ensaiando para um projeto especial. Que projeto é esse?
Mike: Hummmm! Aháááá!
Lelezinha: A gente estava ensaiando bastante para nossa viagem, que é para Nova York. A gente vai em setembro fazer uma apresentação na Brazil Foundation. A gente está trabalhando muito para chegar lá e arrasar.

É a primeira vez que vocês vão sair do país?
Lelezinha: A minha é! Acho que é a primeira vez da maioria. Do Mike, acho que é a segunda…
Mike: Já fui outras vezes com outros trabalhos que tive a oportunidade de participar, mas é a primeira vez do Dream Team! E é muito importante esse evento, porque é beneficente. É um jantar com a maior galera que compra essas mesas, paga esse ingresso, para ver esses shows. Não é só a gente. Aí reúnem essa grana para ajudar instituições aqui no Brasil.

O clipe de “De Ladin” já tem cinco meses. Há planos para outros?
Mike: Sempre tem. A gente tem várias ideias, mas ainda quer trabalhar “De Ladin”, que é uma música que ainda tem o maior fôlego. Tem muita novidade com essa música, muita coisa legal para acontecer. “De Ladin” ainda está cavando muitos caminhos.

O que a gente pode esperar do Dream Team daqui pra frente?
Lelezinha: Pode esperar bastante luta para continuar. A gente está sempre buscando coisas novas, tanto na dança, na música, referências de moda, sempre querendo inovar e trazendo essa característica da favela. A gente vai batalhar até o final, até ganhar o Grammy. (risos)
Mike: A gente quer muito levar o passinho para outro nível.
Lelezinha: A gente quer muito que o passinho seja uma dança como o frevo, o samba, uma dança tradicional. Esse é o nosso sonho, a nossa meta.

Para terminar, vamos montar uma playlist! Contem aí as músicas que vocês têm ouvido muito!

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