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Entrevista: Davi, da Banda Uó, adianta detalhes do primeiro trabalho solo


(Foto: Marina Benzaquem)

Daqui a dois dias, o público conhecerá o primeiro single da carreira solo de Davi Sabbag, integrante da Banda Uó, que anunciou uma pausa por tempo indeterminado no ano passado. Tem sido um período de muitas mudanças na vida do cantor. “Estou fazendo 29 anos e 29 é o retorno de Saturno, né?”, ele conta, como se todo mundo entendesse de astrologia. Ele entende: a mãe é astróloga. Nesta nova fase artística, ele deixa de lado as músicas cômicas que o tornaram conhecido e passa a assinar apenas Davi. Tchau, Sabbag! “Tenho Você”, com lançamento marcado para o dia 24, é romântica e reflete seu estado emocional na vida pessoal. Ele terminou e reatou com o namorado, que serviu de inspiração para a música. Quer valorizar a companhia do parceiro.

“Oi, sou eu! Finalmente, né?” – ele diz ao atender a ligação, após uma aula de natação. Era para a entrevista ter acontecido no dia anterior, mas ele havia esquecido o celular em casa. “Tinha esquecido de um compromisso e tive que sair correndo”, explica, “tem sido uma correria”. Com o fim da agenda de shows da Banda Uó, Davi adotou um estilo de vida saudável: acorda cedo, pratica esportes e tenta maneirar no álcool. “Só vinho”. Está ansioso para que os fãs conheçam seu novo som, totalmente diferente do que fazia com Mateus Carrilho e Candy Mel.

O clipe da música foi gravado em várias cidades da Espanha, com figurino assinado por Victor Miranda, o mesmo stylist de Pabllo Vittar. A direção é de Vinícius Cardoso, nome quente no universo da moda. O vídeo traz cenas sensuais de Davi de cueca e nu tomando banho. “Mas não é só pelo biscoito”, diz, usando a gíria referente a quem quer chamar atenção e ganhar confete. Na entrevista a seguir, ele explica detalhes do que está preparando para a carreira solo.

Como está sendo fazer um trabalho solo depois de tanto tempo com a Banda Uó?
(suspira) É muito bacana. É bom poder me expressar de outra forma, sabe? Acho que artista sente muita necessidade de expressar, no trabalho, o momento que está vivendo. Suas histórias… Vejo muito isso. Tem a história do The Weeknd, que estava namorando a Selena Gomez e fez um álbum todo feliz. Terminou e disse que não ia lançar o álbum. Jogou tudo fora e lançou um EP super triste, sabe? Porque é muito isso. O artista tem fases. Na Banda Uó, era um projeto fechado, então o que a gente estava colocando ali era algo coletivo, né? Era a ideia coletiva da banda, do projeto. Passando um tempo, senti a necessidade de fazer algo que fosse mais íntimo. Essa fase agora é interessante para mim: estou colocando para as pessoas tudo que está dentro de mim. Sou eu em todas as minhas vulnerabilidades. É o que está na minha cabeça e no meu coração.

Dá medo?
Não, medo não. Acho que a responsabilidade maior é só de ser um artista independente, neste momento. Mas isso é uma escolha também para eu poder seguir um caminho que tenho vontade. Não dá medo, porque você colocando sua cabeça e todo seu esforço no trabalho, acho que o resultado vem. Você coloca seu coração, mostra sua verdade, e acho que isso é o mais importante.

“Tenho Você” é bem diferente das músicas da banda. É romântica e não tem aquela pegada cômica. Já era algo que você queria desenvolver há muito tempo?
Faz um tempinho já, viu? Acho que uns quatro anos que estou com isso na cabeça, pensando… É complicado. Não, não vou botar essa palavra “complicado”. É um processo você descobrir sua sonoridade depois de tanto tempo fazendo uma coisa, buscando referências de vários lugares… Mas eu sempre tive essa veia. Eu tenho playlists no Spotify e elas são todas meio R&B, meio românticas. Algumas eletrônicas… Sempre gostei de escutar bastante jazz, sempre fui de uma música mais “chill”. Tenho o lado mais eletrônico, que gosto muito, mais pesado, de rave, porque a gente tem vários lados, mas essa construção de achar a minha sonoridade é um processo interessante. Eu descobri que realmente queria fazer isso de uns dois anos pra cá, quando a gente já estava namorando essa ideia de dar uma pausa. Decidi que era isso que eu queria fazer, porque é o que pega mais em mim.

Se você quisesse fazer “Tenho Você” na Banda Uó, seria possível?
Não… Acho que não. (risos) A gente estava fazendo algumas coisas assim já, mas aí essas músicas foram deixadas de lado depois que a gente terminou.

(Foto: JEFF)

O Mateus Carrilho falou em uma entrevista que grande parte da produção artística da Banda Uó era dele, e o single e clipe dele realmente seguiram mais a linha do que o trio já fazia. A banda tinha mais a cara dele?
Olha, eu acho que, no final das contas, a banda tinha a cara dos três. Todos colocavam as suas ideias. Mas essa parte da produção visual era algo mais dele. A produção musical ficava mais pra mim. Mas todos sempre faziam as reuniões para a gente seguir a direção decidida. Muitas escolhas, muito do que foi feito, foram coisas coletivas. Essa parte mais visual, enfim, tipo “Cremosa”, partia de ideias dele – vir de anos 1980, Xuxa, enfim. Mas sempre tinha dedo de todo mundo, no final das contas.

Você diz no release que “o momento é outro” e que você amadureceu. Quando deu esse clique? (O que motivou essa transição?)
O amadurecimento… estou chegando perto dos 30 anos. O que eu disse sobre amadurecimento é também ter a coragem de tomar essa decisão: “agora é o momento, preciso fazer isso agora”. Eu acho o projeto da Banda Uó uma coisa super madura. Apesar da banda ter uma veia cômica, todo nosso trabalho sempre foi muito sério. Esse processo de amadurecimento também é musical, mas como falei foi de uns dois anos pra cá, sabe? Comecei a falar “tô com isso aqui na cabeça, a gente lançou esse CD, vamos trabalhar isso aí, mas depois acho legal cada um sair com a sua verdade e fazer individualmente”.

Não teve treta, né?
Não, não teve. Foi um processo natural. Os três precisavam se sentir confiantes para seguir caminhos diferentes. Isso era o principal. A partir do momento que um ainda não… Estavam dois meio assim… Quando a gente sentiu que era o momento, tomamos a decisão.

Eu sei que a música é bem pessoal e fala sobre alguém real. Conta mais pra mim!
(risos) Então… É… Eu sempre tive… Durante minha vida, sempre estive muito sozinho. Desde a infância. Eu era uma criança mais reclusa na escola. Minha mãe falava que tem um conto do Rubem Alves sobre gaivotas fazendo barulho, sempre juntas, e o sabiá, andando na praia, sozinho. Minha mãe falava que eu era esse sabiá. Eu cresci e aprendi a ser mais autossuficiente. Em todas as minhas relações de namoro, a partir do momento que comecei a namorar, sempre tive dificuldade de me entregar para as pessoas. Por crescer muito sozinho e ter a dificuldade de ter uma pessoa. Aí, em determinado momento da minha vida, cruzei com uma pessoa que me fez conseguir sair um pouco dessa concha. Mesmo nesses momentos – eu falo isso na música – em que você está mal, você pensa naquela pessoa e sabe que tem ela. Quando escrevi essa música, eu tinha terminado meu namoro e estava com essas coisas na cabeça. Terminei muito por causa disso – não conseguir estar com outra pessoa. Entendeu? Não conseguir lidar com isso bem. Mas eu sabia que tinha essa pessoa e poderia contar mesmo nos momentos ruins, enfim.

Você está solteiro então?
Não, estou namorando. A gente voltou! (risos)

Ah, tá! Pensei que estava namorando um e fazendo música para outro!
Não, não! Estou fazendo um EP agora e a maioria das músicas são para ele. Mas tem uma ou duas músicas ali que são para uns ex. As dele são tudo amorzinho e as dos ex são tudo “vai pro inferno!”.

Você terminou com ele junto com o término da banda?
Foi meio uma coisa louca. Estava no meio do processo. A banda estava terminando e terminei o namoro também. Foi um momento de muita mudança na minha vida. Por isso que eu tive essa inspiração: “tem tanta coisa acontecendo, tenho uma pessoa tão incrível, por que estou fazendo isso? Por que não me permiti viver isso?”. Aí eu fui atrás do prejuízo.

Quando você foi fazer as músicas novas, pesou o que você acha que os fãs esperam de você?
Acho que não. Eu falo muito com eles, sempre, pelo Instagram, pelo Twitter. Faço umas minipesquisas: solto algumas coisas, pergunto. Vejo que eles estão muito receptivos. Com a Internet, as pessoas têm muita informação e escutam muito qualquer tipo de música. O pop mais alternativo também tem um lugar muito forte. Quando perguntaram qual o estilo e falei que era mais R&B, eles amaram. Uma vez um fã falou “nem só de Fit Dance vive o homem”. Ele quis dizer que a gente precisa também de artistas que façam músicas para quando a gente está descansando, tranquilo… Isso veio a calhar. Era o que eu estava com vontade de fazer. Era onde eu poderia entregar minha alma. Mas isso não quer dizer que as próximas músicas serão todas assim. Vou trabalhar com várias coisas. Querendo ou não, é pop. Mas eu queria que a primeira música tivesse essa vibe para poder direcionar para outro lugar. As pessoas me conhecem pela banda, então eu queria mudar o caminho de alguma forma. Eu poderia lançar uma mais animada – que é o usual do pop, você lança primeiro uma mais animada e depois uma mais romântica – mas eu quis fazer o caminho contrário para as pessoas verem algo que fosse mais íntimo mesmo.

Pensando nos versos do single, qual foi a última vez em que “bebeu demais”?
Acho que no fim de semana passado (risos). Foi isso mesmo… Mas estou em um momento mais saúde. Voltei a praticar todos os esportes e estou meio que com uma resolução de “só vinho”. Aquele estilo de “não dá para tirar o álcool”, mas acho que só vinho por enquanto. Quando vou beber demais, gosto que seja só um dia – sexta-feira, porque aí passa o final de semana e, na segunda-feira, já estou bem. Gosto de acordar cedo, fazer esporte…

Gosta de acordar cedo?
Agora estou em um momento sem fazer show. Com esse estilo [de música], acho que não vai ser mais o esquema de fazer show às 2h da manhã, porque não vai encaixar muito com casa noturna, né? Eu gosto desse estilo de vida. É aquela coisa: usa uma droga, come uma fruta.

E qual foi a última vez em que “falou demais”?
Olha… É engraçado isso. Normalmente, sou muito calado. Mas quando desembesto a falar, é o TED Talk (risos). Mas, olha… Falar demais não é falar muito, né? É falar coisas além do que deve falar. Acho que foi em uma briga que a gente teve em uma viagem.

A gente quem?
Eu e meu namorado.

E a última vez em que “falou demais”?
Há um minuto atrás! (risos) Eu tenho trabalhado isso. Eu tenho uma ansiedade, que tento conter sempre. Acabo pensando demais nas coisas. Acordo pensando muito, penso muito antes de dormir… Isso é o mais recorrente na minha vida mesmo.

Você aparece de cueca e no chuveiro no clipe. Foi ideia sua?
Eu achei que tinha que ser uma história contada da forma que é. Quis passar uma rotina. Só coloquei de pano de fundo um lugar bonito. Mas é como se fosse meu dia a dia: eu acordando, tomando banho… O clipe gira em torno disso – eu ali na minha vida, pensando nas merdas que fiz, “poxa, pra quê?”, caminhando para algum lugar. O intuito, a história que ele traz, é como se eu estivesse caminhando em direção a essa pessoa, indo de volta a ela, porque a história é meio que essa. Estou ali, sei que tenho a pessoa, e estou trilhando o caminho de volta para encontrá-la.

Mas tem uma sensualidade nessas cenas. É algo que pretende explorar mais na carreira solo?
Se eu achar que é pertinente, tudo é válido. É o momento também de experimentar as coisas. Ali na banda, era muito sobre a roupa mais legal, tinha uma vibe muito fashion dos looks, e eu queria neste caso me despir disso tudo. Na capa do single, também estou sem camisa. É uma simbologia. Não é só o biscoito. Sei que as pessoas gostam de me ver sem camisa – tem todo um lance mais sexual real – mas atrás daquilo, para não ficar uma coisa de graça, eu queria essa ideia. As roupas que visto no clipe são mais simples. Eu me juntei com o stylist e a gente estava fazendo um monte de roupas. Mas eu falei para ele: “quero que seja o mais simples possível”. Daí a gente veio aqui para casa, viu o que tinha de roupa minha, e a gente fez os looks ali. Eu gastei um dinheirão comprando tecidos e deixei tudo de lado para outro momento. Peguei o que eu tinha nas minhas roupas mesmo. Então faz parte: eu queria botar cenas de rotina – acordando, tomando banho – e essas coisas se faz pelado mesmo (risos).

O clipe foi gravado em várias cidades da Espanha. Por que a escolha por esse país?
Um, porque ele é muito bonito. Dois, porque um amigo estava viajando e meu namorado estava indo para a Espanha. Era a época de gravar meu clipe, a gente já tinha programado. Daí eu vi se era possível a gente gravar lá. A gente organizou a agenda, eu fui e a gente fez a filmagem. Tudo veio a calhar no momento certo. Eu estava procurando lugares para gravar na rua, mas São Paulo tem muito cara de São Paulo. E a Banda Uó já tinha gravado aqui. Eu queria um lugar que fosse mais neutro. Não era minha intenção gravar na Espanha e parecer a Espanha. Era só para ter um pano de fundo mais atraente para os olhos. A gente se organizou direitinho e resolveu gravar lá. Tanto que não tem nenhum monumento histórico, ponto turístico… queria uma coisa neutra.

Tem alguma história engraçada ou curiosa que aconteceu nos bastidores do clipe?
A gravação foi meio loucura porque a gente saía correndo para fazer quando tinha uma luz bonita. A única coisa que aconteceu meio ruim foi que o Vinícius [Cardoso, filmmaker] estava com a câmera me filmando e precisava fazer um take para trás. Eu estava olhando para o lado e ele tropeçou em uma pedra, se estabacou inteiro no chão. Essa cena a gente nem usou! Teve várias coisas. Quando você grava na rua, tem gente olhando o tempo inteiro. Grande parte do material, a gente teve que descartar porque as pessoas olhavam, invadiam a cena, vinham falar comigo no meio do take… As pessoas ficam curiosas para saber o que você está fazendo ali com uma câmera na mão.

Você já tem outras músicas prontas?
(pensando) Estou na contagem aqui. Prontas? Estou no processo, né. Eu tenho as ideias todas fechadas de umas cinco mais. Mas não tenho certeza ainda de quantas vou lançar. Preciso avaliar isso ainda. Estou pensando ainda se vou chamar alguém para cantar junto, para fazer um feat. Não sei ainda, estou estudando todas essas coisas.

Você quer lançar o EP ainda neste ano?
Quero neste ano. Não quero namorar. Depois que lançar “Tenho Você”, quero lançar outra música e em seguida o EP. Estou decidindo ainda qual vai ser.

Com quem você está trabalhando?
A composição faço praticamente sozinho, por isso estou estudando sobre esses “feats”. Como as músicas são muito pessoais, às vezes pra mim fica um pouco difícil botar outra pessoa para cantar. Mas estou me desapegando disso… Para “Tenho Você”, trabalhei com o Pedrow – que ele trabalha nas músicas da Lia [Clark] e já fez algumas músicas da banda – e com o Damien Seth, que é um francês, que fez umas músicas da Jade [Baraldo] também. É um cara muito bom. Todo mundo que estou chamando, para as próximas músicas, são pessoas próximas a mim. Queria trabalhar com amigos. Estou trabalhando também com Nelson B, que já fez músicas para a Gloria Groove e um remix para a Banda Uó. Ele faz música para uma galera. Outra pessoa é o Fábio Smeili, que também já fez algumas músicas para a Banda Uó. Ele é um grande amigo meu. As próximas, estou sondando uma galera. Vamos ver. Depois que lançar a música, acho que as pessoas vão ver minha cara e vão se abrir mais facilmente.

Como você mesmo falou, “Tenho Você” não é o tipo de música que vai ser cantada nas casas noturnas. Como você se vê como artista solo?
Eu acho que não vai encaixar muito bem (risos). A galera está lá escutando uma Lady Gaga e de repente vem uma “Tenho Você”. Eu acho que isso tudo vai se encaixando aos poucos. Tem bastante casas de shows no Brasil. Eu me vejo fazendo shows em diversos lugares – festivais, casas de shows, muito Sesc, um circuito de música mais tranquila, que tem bastante também. Tem público, tem teatros, enfim.

Eu vi que você largou a faculdade para apostar na Banda Uó. Agora pausou a Banda Uó para apostar na carreira solo. Sente que está em outro ponto de virada na vida?
(suspira) Ah, com certeza! Estou fazendo 29 anos e 29 é o retorno de Saturno, né? Dizem.

Não sei o que isso significa.
(risos) São ciclos da vida! O retorno de Saturno é quando Saturno entra na casa do seu signo, segundo a astrologia. Saturno demora 29 anos para dar a volta em torno do Sol. O retorno de Saturno é isso: ele deu a volta inteira e voltou para a casa do seu signo. Saturno é um planeta de muita transformação, então 29 é um momento de muita transformação. Minha mãe é astróloga.

Qual é o seu signo?
Eu sou leão. Minha mãe diz que, com 29 minha vida ia dar uma virada. Muitas coisas iam mudar. Muitos padrões iam se desconstruir. Eu realmente vejo essa mudança. Estou constantemente desconstruindo coisas da minha cabeça, para sair do lugar comum, para ser uma pessoa melhor mesmo – mais satisfeita, mais organizada com o que tenho. Esse momento acho que também condiz com minha carreira. É bem cafona dizer isso, mas é o momento que vou abrir as asas realmente e seguir um caminho diferente.

Para terminar, deixe um recado para os leitores do POPline.
Olha, pessoal do POPline, eu sei que vocês estão sempre ligados na cultura pop, no que tem de novidade, e espero que vocês gostem da música e divulguem bastante (risos). O apoio de todos é essencial e muito precioso. Obrigado por tudo.