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Entrevista: César Belieny, consultor religioso de ‘Vai na Fé’, fala sobre o case de sucesso musical da trama e sua trajetória no mercado

César Belieny, Consultor Religioso da TV Globo na novela ‘Vai Na Fé’. Foto: Divulgação.

César Belieny explica que uma das suas funções na trama global pode ser definida como Music Supervisor, uma vez que ‘Vai Na Fé’ não teve uma trilha sonora evangélica. Com exceção, como ele lembra, da canção ‘Deus Cuida de Mim’, de Kleber Lucas e Caetano Veloso. Na novela, as músicas da igreja foram concentradas com o Coral Vocalis fazendo o feat com a atriz Sheron Menezes

“Foi uma grande sacada do Produtor Musical da novela, Daniel Musy, a de fazer as versões com o coral, pois trouxe segurança para Sheron, que não tinha muita experiência como cantora. E foi aí que atuei, sugerindo as músicas e validando também as sugestões dos roteiristas e da Rosane”, conta César Belieny, Consultor Religioso da TV Globo na novela ‘Vai Na Fé’.

César Belieny, Consultor Religioso da TV Globo na novela ‘Vai Na Fé’. Foto: Divulgação.

Cantor, compositor, arranjador, produtor musical, escritor e teólogo, César Belieny é o nome artístico de Júlio César de Lima Machado, mais conhecido como Pastor Cesinha. Ele é líder de louvor e pastor na comunidade Cristã Vineyard, do Rio de Janeiro, e atuou como consultor religioso da TV Globo na novela ‘Vai Na Fé’. 

Pastor Cesinha fala que quando pensa na sua trajetória, gosta de meditar no texto do apóstolo Paulo nas escrituras que diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”. (Romanos 8:28).

“Tenho dito que eu fui forjado para essa função em ‘Vai Na Fé’. Desde que tive a minha primeira epifania com a conversão em 2002, sempre busquei cumprir o meu propósito de anunciar o Evangelho da Graça de Deus em realidades plurais que me posicionassem como interlocutor dessa Mensagem, para além de uma lógica missional imposta pela igreja”, reflete Pastor Cesinha.

Foto: Divulgação.

Quando o mundo parou, no período da pandemia da covid-19, foi necessário a interrupção das agendas. Nesse período, Pastor Cesinha foi levado a refletir sobre a sua função pastoral justamente com respeito a comunicação e a maneira plural que ele entende ser o seu chamado, assim como a sua musicalidade em favor de propagar essa Mensagem.

“Normalmente, reflexão e oração caminham juntas na minha jornada. Pedi a Deus que tanto minha vocação pastoral, quanto minha música pudessem apontar para um novo significado. A resposta da oração foi uma ligação da pesquisadora Paula Teixeira, em dezembro de 2020, me convidando para uma reunião online com Rosane Svartman, autora de ‘Vai Na Fé’”, lembra.

A autora Rosane Svartman, Pastor Cesinha e o diretor Paulo Silvestrini. Foto: Divulgação.

Segundo Pastor Cesinha, Rosane Svartman, autora da novela Vai na Fé,  buscava entender melhor sobre a música heterogênea do segmento cristão e quais caminhos deveriam ser  trilhados, a fim de encontrar uma coerência. A ideia da dramaturga era que a protagonista da trama fosse evangélica e que a TV Globo reconhecia a forma caricata que as novelas até então haviam retratado o nicho e, por isso, estavam querendo trazer um cuidado mais especializado para esse personagem. 

“Creio que conseguimos o resultado que almejávamos com o sucesso da novela e, principalmente, na aceitação do segmento evangélico com respeito ao norteamento teológico que propus”, pontua. 

Em entrevista para o POPline.Biz, o consultor religioso da novela ‘Vai Na Fé’, Pastor Cesinha, conta sobre o seu trabalho na construção da trama das 19h, da TV Globo, que terminou na sexta-feira (11), e sobre a sua experiência de 30 anos no mercado musical.

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POPline.Biz: Como são os bastidores das seleções das músicas para a novela Vai na Fé? Como é feito o processo em si, desde o recebimento do roteiro e script dos personagens às seleções das faixas?

Pastor Cesinha: Como disse, não havia uma trilha evangélica como acontece nas tramas convencionais. Tanto dentro da dinâmica com Coral Vocalis e a Sol na igreja, quanto nas cenas que retratavam o cotidiano da família, minhas escolhas se baseavam no que o roteiro estava me apresentando como arco dramatúrgico. 

Por exemplo, quando chegou pra mim a cena em que toda a família estava junta no carro, com Carlão feliz por ter conseguido emprego como motorista de aplicativo, sugeri ‘Se Organize’, do Preto No Branco. Para a igreja, me lembrei da minha infância e dos hinos clássicos, como ‘Vencendo vem Jesus’ e por aí fui mesclando. 

Equipe de roteiro da novela ‘Vai na Fé’.

POPline.Biz: A maioria dos artistas, sobretudo os compositores, possuem o sonho de terem suas músicas tocando em uma novela. Em geral, como essas músicas são apresentadas à você? São uma curadoria, que faz parte do seu trabalho, ou empresas do setor, como Editoras Musicais, apresentam as obras pra você?

PC: Como estávamos contando uma história. Creio que o elemento orgânico da trama trazia os apontamentos, obviamente a minha experiência em concomitância me faziam enxergar quais canções seriam a amálgama para as cenas. Essa posição de quem precisa fazer os recortes e de quem valida é claro que traz um fluxo de artistas enviando músicas. Mas o que determinou, no meu caso, foi a cena. Uma vez escolhida a música, ficava a cargo do departamento de comunicação da TV Globo buscar a autorização.

POPline.Biz: Além de visualizar uma música que seja interessante para um determinado acontecimento na novela ou personagem, você tem que apresentar essas histórias aos artistas, para a liberação das faixas. Como esse processo acontece na prática? Quais os desafios e oportunidades?

PC: Viemos de um período conturbado politicamente. E, é claro, que com toda essa polarização dentro do segmento evangélico tivemos, infelizmente, algumas tensões, mas foram poucas as negativas de músicas por questões ideológicas. Quando era um artista em que eu tinha uma certa vivência e intimidade, ligava perguntando se podia indicar para não fazer um labor desnecessário.

Tem uma história dos bastidores. Para a cena do velório do personagem Carlão, eu tinha validado uma música sugerida pelos roteiristas. Tivemos uma negativa dessa música em cima da hora e a Rosane Svartman me ligou pedindo uma outra pra substituir. Estava na estrada indo tocar em Juiz de Fora (MG), dei uma parada e enviei o link do YouTube da música ‘Vem Me Socorrer’, do Marcos Almeida.

Foi perfeito! Para mim uma das cenas mais lindas da novela, pois, além da escolha dessa música cair como uma luva, havia escrito o sermão do Pastor Miguel com muita emoção dado aos inúmeros velórios e mensagens de condolências em meio a pandemia. Vale muito assistir no Globoplay. 

POPline.Biz:  Em geral, diante da sua experiência, também é comum a solicitação de músicas e/ou obras musicais sob demanda ou geralmente são canções preexistentes?

PC: No caso de ‘Vai Na Fé’, houve o universo do personagem Lui Lorenzo, a Sol se tornou backing vocal e dançarina do artista. As músicas do Lui foram compostas pelo Daniel Musy sob demanda da trama.

Já as músicas da Sol, em carreira solo no final da novela, também foram autorais, compostas para a personagem pela equipe do Daniel.

Lui Lorenzo (José Loreto) e Sol (Sheron Menezes). Foto: Divulgação.

POPline.Biz: Para os artistas e profissionais do mercado que desejam ingressar no setor e ter a mesma atuação que a sua, quais elementos e/ou formações são necessárias para exercer essa função? E para os trilheiros, por exemplo, como ingressar nessa área?

C: Creio que a expertise para essa função se dá de forma empírica. Com 30 anos de jornada musical e 20 anos atuando no campo da espiritualidade cristã como teólogo, me parece ser justamente o aglomerado das experiências que vai forjando a gente e nos preparando para quando as oportunidades surgirem estarmos prontos para corresponder. 

Por mais jargão que possa parecer, estude, estude os nichos, pesquise os segmentos. Fiz 50 anos e venho na transição de outras gerações. Sei o quanto era mais complicada a busca por conhecimento, bibliotecas, pesquisas, resumos e afins. Hoje, com a revolução tecnológica a nosso favor, temos um universo de possibilidades ainda inexploradas com muitas variáveis interessantes no campo dos softwares, dos aplicativos.

Aos trilheiros, diria para produzirem seus portfólios. Montarem seus perfis, disponibilizarem seus conteúdos para que haja o entendimento de sua capacidade de produção. Pois, quando chegar o momento que a Bíblia chama de “plenitude dos tempos” esteja tudo favorável para propiciar o espelhamento para quem deseja uma boa música no seu trabalho audiovisual.

Foto: Unsplash.

POPline.Biz: Por fim, após o fim da novela Vai na Fé, quais os seus próximos projetos e como você analisa o crescimento do mercado da música e oportunidades ainda em 2023?

PC: Já estou trabalhando num DOC bem legal, que será um recorte da Música Cristã no Brasil para uma gravadora. Também estou escrevendo um livro com o nome provisório de ‘Conversas & Espiritualidades’, em que trago convidados para sentar à mesa e dialogar sobre o pensamento cristão em face a pluralidade do universo religioso no nosso tempo.

E, obviamente, em franca produção musical sempre, compondo novas canções. Acabei de comemorar meus 50 anos de idade e 30 anos de música com um show no Teatro Rival com meu mais novo projeto, chamado ‘NEOSAMBA’, o qual tem como objetivo colocar novas roupagens em clássicos do samba numa mistura de batidas eletrônicas. 

Apresentação do ‘NEOSAMBA’ no Teatro Rival. Foto: Divulgação.

A escolha do repertório do ‘NEOSAMBA’ é intencional, além das minhas canções que já possuem de forma inerente uma mensagem de espiritualidade cristã. Também pesquisei canções do consciente coletivo que comuniquem essa mensagem do bem estabelecendo o entendimento de que a Fé é um elemento essencial de todos nós.

Esse show no Teatro Rival me proporcionou um belo material audiovisual ao vivo que muito em breve estará disponível nos streamings e nas plataformas digitais.

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