Artista desde pequenininho. Filho de músico, Bruno Martini começou a tocar instrumentos ainda na infância, protagonizou série e lançou álbuns pelo Disney Channel na adolescência, e se consagrou como um DJ de nível internacional na fase adulta. Com 25 anos de idade, alcançou meio bilhão de streams no Spotify. Atualmente, ele faz turnê pela Europa, revitalizado pelo repertório novo, lançado no EP “The Cure”, em junho: cinco músicas, todas em inglês.
O POPline conversou com o DJ e produtor e arrancou dele o que vem pela frente: um álbum, com colaboração de ninguém menos que Timbaland, americano vencedor de quatro Grammys. Timbaland já trabalhou com Madonna, Jay Z e Justin Timberlake, só para dizer alguns, e ficou impressionado com o trabalho do brasileiro. Partiu dele o convite para a parceria. Eles fizeram cerca de dez músicas juntos. Mas vamos por partes…
Por que “The Cure”?
Cara, “The Cure” na verdade é uma música… Deixa eu te contar um pouco essa história. Eu tenho “The Cure” e “Fades”, outra música do EP, há muito tempo e nunca senti que era o momento de lançá-las. Agora, como estou indo para os festivais em uma turnê na Europa, resolvi lançar esse EP mais voltado para a música eletrônica. “The Cure” é uma música que fala que a gente encontra a cura dentro da gente mesmo, em nossos corações. Aí eu conheci um rapaz chamado Gringo Cardia, um dos maiores designers do Brasil. Só para você ter uma ideia, ele fez a abertura das Olimpíadas…
Eu sei, ele é incrível.
Eu sou superfã dele. Quando o conheci, ele me contou que tem uma ONG com a Marisa Orth, na qual eles trabalham junto com uma comunidade no Rio. Ele me mostrou o trabalho dele e falou “quero fazer isso junto com você, trazer isso visualmente para seu EP”. A gente começou a conversar e, se você reparar no lyric video, a gente tentou mostrar várias etnias porque, independente de quem você seja, a gente tem que sempre respeitar as pessoas. A união é a chave de tudo, sacou? Sempre olhar para dentro de você, por isso que o título do EP é o dessa música. A gente tentou deixar até o que é um pouco o Brasil, essa mistura de etnias e culturas.
De onde vem a inspiração para as letras? São experiências pessoais mesmo?
Depende muito da música. Por exemplo, “Living On the Outside”, uma música que lancei há algum tempo, compus e produzi 100% eu. É uma música de significado muito forte para mim. Na “The Cure”, trabalhei com outros dois artistas, um britânico e um DJ que mora na Noruega, o Olly Hence. Fui fazer um show em Oslo, conheci ele lá… Já tinha escrito essa música com Paul Aiden e a gente terminou de produzir lá na Noruega. Depende muito da música. “The Cure”, o Paul Aiden escreveu comigo e a gente trabalhou junto nela. Eu tento deixar a maior verdade em tudo que escrevo: falar de algo que passei, que tenha relação comigo, mas nem todas as músicas são eu que escrevo 100%. Algumas eu produzo. Eu sempre faço o que sinto vontade, que tem a ver comigo naquele momento. “Fades” é uma música que não escrevi, mas produzi ela inteira.
Você chamou alguns gringos para botarem voz nas músicas. O que surge primeiro – a música ou a parceria?
Cara, depende muito da música. É muito relativo. “The Cure”, o Paul Aiden já me mandou a ideia. “Fades” é uma música que o rapaz já tinha escrito e já tinha cantado. Ele me mandou só a voz dele gravada, e eu a produzi inteira, toquei todos os instrumentos. “Hear Me Now”, comecei do zero: estava no estúdio com Zeeba e a gente terminou ela junto. “Sun Goes Down”, também. “Leaving On the Outside”, escrevi sozinho primeiro. Vai muito da música. Eu tenho agora 10 músicas com o Timbaland. Acho que oito delas eu escrevi – algumas com a Maíra, uma parceira minha, outras sozinho, outras com parceiros dos Estados Unidos. Sempre quis fazer algo que tivesse a ver comigo. “Morena”, que lancei com Vitor Kley, eu não escrevi aquela música. Ele chegou com ela no estúdio, então a ideia da parceria veio primeiro. Ele me perguntou “o que você acha dessa música?”. Aí casou a parada e a gente resolveu lançá-la junto. Depende muito. Não tem uma fórmula exata de como fazer. É muito feeling, eu acho.
Você está preparando um álbum de música pop, certo? Como será?
É mais voltado para o pop, sim. Como te falei, tive a oportunidade no ano passado de ir para os Estados Unidos e trabalhar com o Timbaland. A gente fez bastante músicas juntos. Eu sou muito musical. Meus pais são músicos e eu comecei a tocar guitarra e violão muito cedo, aos oito anos de idade. Meu pai sempre teve estúdio de produção aqui em São Paulo, então sempre estive no meio musical. Já passei pela Disney, já fiz bastante coisa na minha vida… Por mais que eu tenha me voltado mais para o músico eletrônico, eu faço de tudo. Sempre fiz de tudo. Já fiz música para filme da Disney, música para série de TV, lancei dois álbuns com eles… Esse álbum, acho que é voltado mais para o pop, mas tem um pouco do hip-hop, do eletrônico… Peguei tudo que já produzi até hoje e tentei trazer para minha música.
As músicas que você desenvolveu com Timbaland são para esse álbum?
É. Algumas músicas que fiz com ele com certeza vão estar no álbum.
Como surgiu essa união com ele?
Ele ouviu uma música minha, “Leaving On the Outside”, e mandou um e-mail para o pessoal que trabalha comigo. A equipe dele falou “Timbaland adorou essa música e perguntou se por acaso você tem mais músicas”. Mandei as que estava fazendo em estúdio, ele falou “pô, adorei, vamos nos encontrar no estúdio aqui na Califórnia”. Tá legal. Eu estava em turnê pelos Estados Unidos, aí parei na Califórnia, e a gente passou uma semana juntos dentro de estúdio. Fomos eu, ele e mais um produtor mexicano trabalhando nas músicas. Foi uma experiência incrível para mim.
O Timbaland já trabalhou com nomes incríveis como Madonna, Justin Timberlake, Drake, Jay Z… você encontrou alguém por acaso no estúdio?
Cara, encontrei. Ele estava trabalhando um dia, se não me engano, com um rapper. Mas eu trabalhei com vários outros artistas lá. Não posso falar ainda (risos). Tem bastante coisa que está para vir aí.
Quando você quer lançar o álbum?
Já está pronto, na verdade. Está na parte da finalização. A ideia é, sei lá, lançar no começo do ano que vem. Mais ou menos fevereiro, sei lá. Mas quero lançar algumas músicas antes.
Nesse álbum, você vai continuar com as músicas só em inglês ou tem português também?
Como é um álbum para ser lançado internacionalmente, ele vai ser inteiro em inglês. As músicas que preparei até agora são todas em inglês. Mas já lancei bastante coisa em português também, inclusive tem uma história legal. Tem um vídeo meu com 10 anos de idade cantando uma música chamada “Velha Infância”, dos Tribalistas. Aí esse vídeo ficou uma brincadeira de família. Mas marcou para a gente. Aí passaram-se uns anos e, alguns meses atrás, eles me pediram para remixar justamente “Velha Infância”. Para falar a verdade, eu nunca gosto de pegar uma música tão icônica e fazer um remix. É muito difícil repaginar aquilo. Mas, por ser uma música que me marcou bastante, eu quis pegar e tentar trabalhar em cima dela. Gravei violão, orquestra, um monte de coisa, eles adoraram, e lançamos o remix oficial. Foi super legal!
Quando você vai compor, prefere em inglês ou português?
Depende muito. Eu acho que… Eu sou muito eclético. É muito relativo isso. Depende muito do momento do estúdio, da vibe que você está, do dia. Não tem fórmula para música. Eu sou engenheiro. Tudo se resolve com cálculos, fórmulas, matemática. A música é o contrário. Sei lá. Às vezes, estou tocando violão e quero fazer um negócio mais samba rock. Às vezes estou mais na vibe eletrônica e acabo fazendo uma coisa mais voltada para aquilo. Eu tento não me privar. Tento fugir dos rótulos. Se quero fazer algo mais hip-hop, em inglês, eu faço. Tem muito urban no meu álbum, inclusive. Se quero fazer alguma cois mais “Morena”, meio brazuca, eu faço. Sigo o que estou sentindo.
E com Vitor Kley? Vocês fizeram mais músicas?
A gente fez só essa por enquanto.
Das vozes do pop nacional, quais te interessam mais?
Ah, eu sou super aberto a trabalhar com todo mundo. Para te falar a verdade, não importa muito quem seja. O que importa muito é a energia da pessoa, principalmente para estar junto dentro do estúdio. Com o Vitor, foi super natural. A gente se conheceu através de um rapaz, que trabalha junto com o Rick Bonadio. Quando entrei em estúdio com o Vitor, parece que toda energia entrou ali, e a gente ficou puta brother. Eu acredito muito nisso. Às vezes entro em estúdio e falo: não é pra mim, não é pra eu fazer. Eu sou muito sincero com isso. É o que falei: coloco todo meu coração em tudo que faço, e tento ser muito verdadeiro. Então, quando sinto que são energias diferentes… é meio difícil para mim. As coisas não fluem tão fácil. Depende muito disso. Às vezes não fluem as coisas.
Você postou uma foto em estúdio com o Fiuk. É para o álbum?
O Fiuk é um super amigo meu, faz tempo. Ele passou no estúdio e a gente começou a produzir. A gente tem várias músicas juntos também. Estamos pretendendo lançar, mas não é parte do álbum, não.
Vendo seu Instagram, parece que você está o tempo todo em estúdio. O processo criativo é interrupto mesmo?
Acontece. Eu vivo dentro do estúdio, porque não sinto que é um trabalho. É uma psicologia para mim. Acho que, quando você fica exposto à muita música desde pequeno, aquilo acaba se tornando parte de você. Meio que te contamina. Às vezes estou em casa, tenho uma ideia, aí tenho que correr para o estúdio. Vou te dar um exemplo: “Never Let Me Go”, aquela minha música com Zeeba e Alok. A maioria das vozes das minhas músicas são sempre as demos, aquele primeiro dia com aquela energia, aquela vibe de fazer a música. Tudo conspirando para que aquilo aconteça. Aquela energia é muito difícil trazer de volta depois. Ontem, fui para o estúdio e fiquei até 5h30 da manhã. Sei que, se voltar para minha casa e dormir, talvez não tenha aquela mesma energia no dia seguinte. Eu tento aproveitar quando tenho uma inspiração para sugar aquilo ao máximo que puder.
Já ficou muito tempo em estúdio?
Eu fico bastante (risos). É como se fosse minha casa. Eu passo mais tempo no estúdio do que na minha casa.
Você se considera workaholic?
Não, porque eu não sinto que é um trabalho. Gosto tanto do que faço que não sinto que é trabalho.
O que gosta de fazer no tempo livre?
Jogo futebol com os amigos. A coisa que eu mais considero na vida, depois da família, são meus amigos. Eu sou muito sincero com eles. A gente cresceu juntos. Todo tempo que tenho é com eles. Quando vou fazer show em São Paulo, todos eles vão para minha casa e a gente faz a maior festa antes. Sacou? Gosto de estar com eles. Estar com minha namorada, com a galera com que cresci junto.
A namorada não fica com ciúme do estúdio?
Fica! (risos) Te falar que sim! Isso é um problema na minha vida desde pequeno! “O que você está fazendo aí? Sai daí!”. Mas acho que o maior problema nem é a namorada. São os amigos. Sou muito ruim com horário. A gente marca para sair às 20h, aí estou no meio do momento de inspiração no estúdio e fico “já vou, já vou”, porque não quero perder aquilo. Aí sempre cheio atrasado (risos). Os caras ficam bravos comigo!
Você trabalha com música desde criança, mas fez faculdade de engenharia. Pra quê?
(risos) É muito louco! A música trabalha um lado diferente do cérebro. A faculdade de engenharia é muito racional. Quatro é quatro, dois mais dois é quatro, não dá para discutir comigo. Na música, não é assim. Mas esse lado racional que aprendi na faculdade me ajuda muito no dia-a-dia, principalmente a organizar meu dia. Eu sou super disciplinado com tudo. A faculdade me ensinou isso. Na época, eu trabalhava pra Disney: tinha seriado de TV, era o protagonista da parada, e estava no meio da faculdade. Tinha que acordar 6h30 da manhã, entrar na faculdade às 7h, ficar lá até meio-dia, saía da faculdade, ia para TV gravar, ficava até 22h e depois ia para o estúdio porque estava entregando álbum para a Disney. Ficava até 1h da manhã, ia para casa dormir. Foram alguns meses assim. Essa disciplina me ajuda muito. E a música, bem ou mal, ali nos programas de computador, tem um pouco de matemática. O tempo, tudo… A engenharia me ajudou, com certeza, a resolver problemas de uma forma mais rápida. Engenheiro, acho que é isso: resolver problema.
Mas por que você escolheu engenharia?
Meu avô não era engenheiro, mas construía. Meu pai começou a fazer engenharia e parou para trabalhar com música. Sempre ouvi os outros falando sobre engenharia e aquilo meio que ficou na minha cabeça: “vou fazer engenharia também”. Segui.
Eu pergunto porque muita gente sonha com música e acaba tendo que buscar outros meios de sobrevivência, até por pressão dos pais. Não foi o caso, né?
Não. Meu pai é músico, mas sempre foi muito duro nessa questão de “você tem que estudar, tem que se formar”. Tudo na vida é experiência. Tudo soma. O que aprendi na faculdade é, pra mim, tanto aprendizado quanto viajar o mundo inteiro me apresentando. Ir a Noruega? Super aprendizado. Cinco anos trabalhando com a Disney? Também. Tudo. Quanto mais você puder estudar, maior o retorno. Para mim, a engenharia me ajudou demais. Se você me perguntasse se valeu a pena, eu responderia: valeu demais.
Para quem também quer viver de música, que conselho você daria? Qual o segredo para viver de música?
Se eu soubesse… (risos) Eu acho que, principalmente, você tem que acreditar em você. Muitas pessoas a minha volta sempre duvidaram. Uma vez, fui ao Tomorrowland no Brasil com os amigos e falei “no ano que vem, vou tocar aqui”. Ninguém acreditava muito. Passou um ano, toquei no Tomorrowland. Por mais que pareça frase manjada, você tem que acreditar naquilo que faz. E tem que trabalhar duro. Não adianta. Você tem que lembrar que sempre tem alguém trabalhando mais do que você. Tem que colocar seu coração e fazer coisas de verdade. Tem que ter um propósito, senão fica muito vago. Tento passar uma mensagem em toda música que lanço. Um conceito por trás. É o que fica. Se tiver só uma pessoa ouvindo suas músicas e se identificando com aquilo, já valeu muito: você mudou a vida de uma pessoa. É o poder que a música tem.