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Entrevista: ‘As métricas têm seu valor, mas elas não podem se sobressair em relação ao artístico’, diz Renan Augusto

Renan Augusto, empresário e sócio da UFO Sounds, empresa que gerencia a carreira de Jão. Foto: Divulgação

Tudo começou em um projeto que Renan Augusto participou com Jão na Universidade de São Paulo. Ele estudava Relações Públicas, já o cantor Publicidade e Propaganda.  Nessa época, segundo o empresário, ninguém sabia que o artista cantava. 

Quando ele descobriu, estava estagiando em uma grande agência de RP de São Paulo, a Edelman, atendendo a conta da Sony Television. Por sua vez, Jão também começou a estagiar em uma agência de publicidade, mas não ficou nem 20 dias, o período foi suficiente para o artista perceber que o que ele queria da vida era realmente cantar. 

O Pedro Tofani, outro amigo da faculdade, e hoje sócio de Renan e Jão, trabalhava na agência Africa, como diretor de arte, e também era um entusiasta de construir uma carreira para o cantor. Com isso, os três resolveram unir os talentos para chamar atenção de alguém que pudesse alavancar a trajetória artística do amigo.

No entanto, eles não tinham contatos, muito menos dinheiro para investir.  Por isso, os três amigos se dividiram em áreas e criaram um projeto de covers, que tinha data de início e fim com o objetivo unicamente de atrair olhares para Jão. 

Jão. Foto: Breno Galtier / Divulgação

Na divisão de tarefas, o artista escolhia o repertório e produzia as faixas, Pedro ficava com a função de planejar, gravar e editar os vídeos e, Renan, como tinha alguns contatos na imprensa/players de entretenimento, por conta do estágio na Sony, ficou com  a missão de divulgar esses materiais.

Até essa altura, Renan confessa que nunca tinha pensado em empresariar o Jão, por não se sentir apto para isso. Mas o projeto de covers atraiu a atenção da Universal Music, por meio de um selo que eles tinham na época, e logo o artista assinou o contrato. 

A partir da ida de Jão para a gravadora,  surgiu a necessidade dos três amigos se organizarem como empresa. Foi assim que a UFO, escritório de gestão da carreira e dos shows do cantor, foi criada. 

Com a formalização da carreira musical de Jão, novamente, os amigos se dividiram em áreas. Renan assumiu o empresariamento, representação e imprensa. Já Pedro e Jão, ficaram com os direcionamentos artísticos — o empresário explica que a função é o ‘core business’, uma vez que inclui todo o processo criativo e execução dos álbuns, clipes, turnês e demais projetos especiais que são tocados pela empresa. Atualmente, eles contam com uma grande equipe que constrói tudo junto deles.

Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, Renan Augusto, empresário e sócio da UFO, empresa que gerencia a carreira de Jão, fala sobre a sua carreira profissional, gerenciamento artístico e os desafios do mercado da música.

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POPline.Biz – Em outro momento, você sinalizou que as pessoas, de uma forma geral, possuem uma dificuldade de entendimento em relação às atividades que você exerce. Quais são essas funções e quais os desafios em conciliá-las?

RA: A atividade de empresariamento é muito ampla, pelo menos quando feita da maneira que eu acredito. É muito mais do que uma atividade comercial e envolve estar, de fato, na rotina daquele artista, buscando entender quais são as principais necessidades dele, os sonhos e as potencialidades. 

Eu nem gosto muito de usar o termo “empresário”, porque acho que ele vem carregado de um conceito ultrapassado sobre o que de fato esse profissional deve ser, principalmente de uma relação hierarquizada que nunca existiu entre nós. 

Eu e Jão somos amigos e sócios, todos os nossos objetivos são partilhados e comuns. Não caminhamos em direções distintas e acho que isso é muito positivo dentro da nossa relação

Artisticamente, Jão define absolutamente tudo. Eu dou opiniões, pitacos, mas a decisão artística é sempre dele. É importante que a pessoa que ocupa esta posição entenda que o seu papel é de facilitador dos sonhos do artista e não um profissional que chega para colocá-lo em moldes e “receitas” de sucesso. 

O legal da nossa função é justamente captar o que um artista quer dizer, da maneira dele, e desafiar o mercado e o público a entender e consumi-lo não o contrário. 

Renan Augusto, empresário e sócio da UFO Sounds, empresa que gerencia a carreira de Jão. Foto: Divulgação

POPline.Biz – O ano de 2022 reuniu meses muito especiais para a carreira do Jão e o aspecto estratégico foi um dos pilares para o diferencial da sua trajetória.

Ao analisar hoje, qual balanço que você faz da “Era Pirata” do Jão, tanto sobre os aspectos de vendas de ingressos e a quase “residência sold out” no Espaço Unimed, quanto sobre o investimento na experiência dos shows, em efeitos especiais e cenografia?

RA: Foi o ano mais importante da carreira do Jão até agora, principalmente porque fez mais pessoas, e o mercado de maneira geral, enxergarem um movimento que já acontecia desde 2018. 

Já na sua primeira turnê, Jão sempre converteu uma taxa de fãs para os seus shows muito acima da média. Em 2022, quando vendeu 50 mil ingressos só em São Paulo e fez o show nacional mais assistido do Lollapalooza, esse quadro foi escancarado até para aqueles que, de certa forma, olhavam torto para o trabalho dele. Como resultado, várias portas se abriram, muitas delas que eram desafios nossos de longa data. Nesse sentido, foi, sem dúvida, nosso melhor ano até aqui.

Sobre os investimentos, o show é o principal produto do Jão. É ali que ele mais gosta de estar e onde cria conexões poderosas com os fãs, nosso principal público. O investimento foi, conceitualmente, um investimento mesmo. Colocamos valores altos de pré-produção, para construção de cenário e estrutura, e esses valores retornaram em bilheterias arrebatadoras ao redor do Brasil e Portugal. 

Jão no show da Turnê Pirata, no Espaço Unimed. Foto: Breno Galtier/Divulgação

POPline.Biz – Os shows do Lollapalooza e Rock in Rio foram momentos muito especiais para o Jão, que estava tendo contato com públicos maiores. Como foram os desafios para esses espetáculos serem marcantes?

RA: Tivemos a sorte e o carinho de ter equipes, tanto no Lollapalooza quanto no Rock in Rio, que compraram nossos projetos com empenho. Nesse sentido, nossas dificuldades de operação em relação aos eventos foi baixa, mas existiram desafios de pré-produção, principalmente no show do Rock in Rio, que realizamos em meio a uma agenda intensa de turnê do Jão. Festivais desse porte são sempre especiais, então, vamos sempre entregar shows especiais também. 

Foto: Divulgação

POPline.Biz – O cenário do mercado musical tem muitos desafios, dos palcos aos bastidores, da criação da música à sua promoção. Como você faz para gerenciar e planejar tantas frentes? Quais os desafios desse processo, diante de uma realidade de economia de atenção?

RA: O mercado de shows da música pop brasileira é, infelizmente, viciado em fazer pouco apesar de termos grandes artistas representando o gênero por aqui. Hoje, a agenda de turnê do Jão não é aberta, não vendo esses shows. 

Para garantir que tudo saia da maneira que nós queremos, assumimos a produção de ponta a ponta por aqui. Só tenho datas disponíveis do Jão para venda de shows em festivais ou prefeituras, porque levamos um outro modelo de show, adaptado para esses contextos. Foi a saída que encontramos para navegar dentro dessa realidade nacional. 

Particularmente, acho que a nossa própria turnê mostra que o público compra e espera por produções bem feitas e inovadoras, ou seja, existe demanda. Falta empenho, profissionalismo, seriedade e comprometimento, principalmente por parte dos contratantes que atuam no mercado pop, com claros traços de amadorismo. 

Para a próxima turnê, ineditamente, estudamos produzir em conjunto com uma grande produtora, com expertise internacional, pela magnitude dos eventos. 

Jão triplicou as datas do planejamento previsto para a Turnê Pirata. Foto: Breno Galtier/Divulgação

POPline.Biz – Em um complemento à pergunta anterior, como equilibrar essa dinâmica dos algoritmos e diferentes “cobranças” com a saúde mental, não apenas sua, mas, do Jão e de toda a equipe?

RA: Existe uma pira do mercado, dos empresários, gravadoras e também de uma parcela dos artistas, de acreditar que tudo gira em torno do algoritmo. Entendo a sua importância até onde ela deve ser entendida: como apenas uma entre as várias ferramentas que temos para construir consumo da música de um artista. 

Nunca entramos, por aqui, nessa onda da superexposição e dos lançamentos frenéticos. Jão é muito cuidadoso com o que constrói artisticamente e, para nós, nunca fez sentido lançar materiais só para manter números. As métricas têm seu valor, mas elas não podem, pelo menos na minha opinião, se sobressair em relação ao artístico.

Além do mais, o algoritmo sozinho constrói hit, apenas, a construção de carreiras saudáveis envolve muito mais do que isso. 

POPline.Biz – De catálogos musicais à influência da inteligência artificial, esses temas efervescentes do mercado geram dúvidas, receios e, também, oportunidades. Como você analisa esse momento do mercado musical? 

RA: É uma tecnologia interessante, com alto valor para agregar, porém existe uma problemática moral sobre o trabalho dos autores. Mas não acho que, nesse mérito, algo passe muito distante de ser uma opinião pessoal até que se defina uma legislação a respeito.

Eu não acho condenável, obviamente demanda regulação, mas não não vejo com maus olhos, até porque não seria esse o único risco vigente de esgotamento da criatividade e diversificação dos compositores. 

Foto: Instagram/@jao

POPline.Biz – Além do Jão, você tem planos a curto-médio prazo para agenciar mais artistas?

RA: Temos planos, a médio prazo, mas nosso trabalho é sempre feito em conjunto, com a estrutura da UFO. Nunca sou somente eu. 

POPline.Biz – Por fim, quais são os próximos passos? O que o mercado e os fãs do Jão podem esperar sobre projetos e iniciativas de vocês para 2023?

RA: Serão grandes passos, condizentes com a grandiosidade que o Jão representa como artista na atualidade. Ficamos felizes de ver cada vez mais artistas do pop brasileiro lançando turnês, utilizando o conceito de eras dos álbuns, criando apresentações padronizadas para todo o Brasil. Nosso plano é justamente esse, desenvolver novos e memoráveis momentos que possam ser especiais para o público e inspiradores para outros artistas. Só assim a gente revitaliza e dá força para mercado pop brasileiro.

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