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ENTREVISTA: Agnes Nunes detalha inspirações para o disco “Menina Mulher”

Foto: Lucas Nogueira

Chegou nesta sexta-feira (28) o aguardado álbum de estreia de Agnes Nunes, chamado “Menina Mulher“. Como adianta o título, o disco é um retrato da transição da adolescência para a vida adulta da cantora baiana – reconhecida como uma das novas vozes proeminentes da música popular brasileira.

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O projeto conta com dez faixas ou “dez maneiras diferentes de sofrer com Agnes Nunes”, como a própria brinca. A ‘sofrência’, aqui, é natural. Afinal, os amores e sentimentos tórridos da adolescência permeiam quase todo disco. Ao longo da tracklist, a cantora se despede de antigos amores, sofre por novas paixões, descobre a dor da saudade, o poder da distância e se encontra em uma nova fase, mais madura e querendo voar.

Algumas canções, como “Vish” e “Última Dança“, já eram conhecidas dos fãs. O disco é produzido por Neo Beats, antigo parceiro da cantora e do rapper Xamã, e Alexandre Kassin. Em entrevista ao POPline, na última quarta-feira (26), Agnes detalhou os sentimentos que permearam o processo de composição do disco e falou sobre a inserção de ritmos como o forró e o samba em algumas faixas.

Leia a entrevista: 

POPline: Acabamos de ver a capa do disco, está belíssima. O que essa capa representa?
Agnes: Essa capa significa eu. Eu com o meu Black Power, que eu demorei para aceitar. Ela foi feita da forma mais despretensiosa. Quando a gente fez aquela foto, a gente não achou que poderia vir a ser a capa do álbum. Eu tinha ido para Bahia para terminar de fazer o disco, me isolar um pouco por lá. E eu estava indo para praia, estava de biquíni, estava tirando as minhas tranças [do cabelo]. O meu fotógrafo, Lucas [Nogueira], que sempre está comigo falou ‘nossa, vamos fazer uma foto naquela parede amarela?’ e eu disse ‘vamos, simbora’. Nós fomos, fizemos as fotos e começamos a pirar assim, mas sem imaginar que poderia vir a ser a capa do álbum. Depois, quando a gente ficou olhando as fotos, a gente falou ‘essa foto é foda’. E, realmente, ficou uma obra de arte. Parece que foi pintado a mão. E ela representa muita coisa: a minha brasilidade – ela é bem brasileira, então eu estou ali bronzeadíssima -, na Bahia, que foi o estado em que eu nasci.

Foto: Lucas Nogueira

POPline: Você citou o seu Black Power e o quanto você demorou para aceitá-lo. Acho que o disco passa essa mensagem de amadurecimento. Se você tivesse que colocar em palavras qual a mensagem geral deste trabalho, o que você diria sobre ele?
Agnes: O álbum tem dez músicas e, nessas dez músicas, têm dez versões de Agnes. Fiz uma live hoje e todo mundo falou ‘dez maneiras diferentes de sofrer com Agnes Nunes’. Pensei que talvez seja sobre isso. Meu amadurecimento em relação a dor, em relação ao amor. Por isso que o álbum se chama ‘Menina Mulher’. Ele me acompanhou nesta transição de menina para mulher. Eu comecei a fazer esse álbum, a primeira música que eu escrevi, com 15 [anos], que foi ‘Vish’…[e continuei] até agora. Tem músicas que eu escrevi agora, que a forma de ver o amor, a dor, as partidas e as chegadas, já é outra visão, já amadureci, passei por essas coisas. E, realmente, dá para ver o meu amadurecimento e acho que esse álbum é para as pessoas puderem me conhecer mais. Vejo todo mundo sempre falando que tem curiosidade de me conhecer mais, [perguntando] porque eu não me exponho tanto…Está aí o álbum, com dez maneiras de sofrer diferentes.

POPline: Uma das minhas perguntas era justamente sobre isso. Crescer dói. Foi doloroso esse processo de composição? Foi doloroso fazer esse álbum de alguma forma?
Agnes: Não foi doloroso…Foi doloroso, sim, mas eu sou uma pessoa muito intensa, né? Eu sofro de graça. Real. Sou ariana, bobeou estou sofrendo. Então, assim, eu amo falar sobre a dor de várias maneiras, sabe? Sofrer com o amor é meio que uma coisa que faz parte da gente. Tem gente que sofre mais (diz apontando para si), tem gente que sofre menos. Tem gente que enxerga a dor como meio de ficar mais forte e, realmente, a dor deixa a gente mais forte. Essa foi uma das coisas que eu aprendi, durante o processo de criação deste álbum nestes quase dois anos. Faz dois anos que estou fazendo esse álbum. Foram dois anos vivenciando muita coisa, teve a pandemia, conheci pessoas novas, vivi situações em que eu precisei ser quinhentas mil vezes mais forte, amadurecer quinhentas mil vezes mais do que eu realmente precisava. Então, foi um processo dolorido, mas acho que, mais do que dolorido, foi um processo de muito aprendizado, inclusive comigo mesma.

Foto: Lucas Nogueira

POPline: Um tema muito comum nas letras é a distância. A distância entre você e uma pessoa amada, entre você e um objeto. A distância foi mesmo algo que permeou este álbum?
Agnes: Sim. Tem muita música que você deve ter ouvido e deve ter pensado que era para alguém, mas era para mim mesma. Teve um certo momento em que eu me senti distante de mim porque essa pandemia – graças a deus passei bem com estúdio em casa e tudo mais -, mas também me deu muito mais tempo para pensar sobre várias coisas. Eu falava ‘preciso me encontrar’. E eu sempre tive uma necessidade muito grande de ter alguém comigo, de sempre estar com alguém de querer alguém para suprir necessidades que não eram verdadeiras necessidades. E essa procura pelo distante, do outro, para você conseguir se sentir completa, ela faz a gente se perder da gente – pelo menos, é o que eu acho. Então, eu vivi relacionamentos em que eu me senti extremamente distante da outra pessoa e isso foi dolorido. Nós tínhamos vidas diferentes, tínhamos rotinas diferentes e não conseguíamos acompanhar um ao outro. Na verdade, acho que todos os meus relacionamentos – os dois que eu tive duradouros e os outros não duradouros – foram assim. Distância dá saudade, dá vontade de você querer ter a pessoa perto o tempo inteiro quando você vê ela, então, assim…é, sei lá.

POPline: Na faixa ‘Menina Mulher’ você canta sobre ser livre, voar, deixar “aquele rapaz”. Como você enxerga esse dilema que está proposto ali no álbum, de viver uma paixão intensamente, mas, ao mesmo tempo, ser livre e querer voar?
Agnes: “Menina Mulher” é uma música que eu fiz para mim, essa é a música mais direta que eu fiz para mim na minha vida. Eu estava saindo de um relacionamento e eu estava muito mal, estava sofrendo daquele jeito, tomando banho e descendo pela parede molhada, chorando, sabe? Eu falei ‘gente, mas porquê? Por que eu estou assim? Sabe, a vida é tão breve, mas eu tenho tanta coisa para viver e eu estou vivendo aqui, estou resumindo minha vida a isso. Estou resumindo minha vida a um relacionamento, a uma outra pessoa. Se libera, pelo amor de Deus, permita. Se permita ser essa pessoa incrível, que sai, que conhece a vida e não se prende a uma pessoa só. E não só a pessoa, mas a pensamentos também. [Não] seguir um pensamento só, não se escutar’. “Menina Mulher” eu escrevi para mim. Inclusive, fala até do meu medo do mar. Eu sempre tive medo de mar e, quando eu fui para a Bahia, eu venci esse medo, foi uma coisa incrível. Isso fez eu me sentir incrível, uma nova pessoa. Foi nesse dia, inclusive, que a gente fez a capa. Falei ‘não, hoje eu vou entrar neste mar, hoje eu vou vencer o meu medo e vou aproveitar que eu estou na Bahia dezoito anos depois de ter ido embora, volteI e, cara, eu vou perder o meu medo’. Entrei no mar e foi bizarro o que eu senti. Assim que eu cheguei em casa, eu disse ‘é isso, vou fazer uma música para mim. Para que as outras pessoas ouçam essa música e se liberem também, amem quem elas são, quem elas venham se tornar’. É para as pessoas não se prenderem a uma coisa só. Para que se prender a uma coisa só? Uma coisa só é tão monótona, você já sabe o que vai acontecer, você já sabe o que você vai dizer, você já sabe onde você tem que tocar. Não tem graça.

Foto: Lucas Nogueira

POPline: Você fala em dois momentos no disco sobre ser abraçada por uma roseira. O que isso significa?
Agnes: Tem a dona Rose aqui em casa, que é a minha mãezinha do coração. Por isso a roseira. Na verdade, quem escreveu essa letra não fui eu, foi o Túlio Dek e a Rose é a mãe do Túlio. Ele me mandou esse poema e pediu para eu musicar. Nessa época, estava morando em Campina Grande ainda. Cheguei da escola, corri para o meu teclado e comecei a cantar e tentar musicar esse poema. Nasceu ‘Papel Crepom’, que é uma das músicas que eu mais tenho carinho no álbum. Acho que, por ter passado por tantas experimentações, tantos testes, a gente tentou ela de todas as formas e nenhuma ficava tão boa quanto a gravação de um minuto que eu tinha feito no meu celular, nenhuma. Naquilo que você ouve, parece que você está escutando em um alto-falante. Ela é uma das músicas mais simples, mas também uma das mais intensas do disco.

POPline: Foi intencional o fato da maioria das músicas terem beats mais tranquilos? Foi para dar destaque a sua voz que é maravilhosa? Tirando o forrozinho e o sambinha que estão ali, as outras são beats bem discretos assim.
Agnes: Não, não foi proposital não. Aconteceu. Falei, uai, bota aí minha voz, bota ela pra torar, que eu quero que esse povo ouça a minha voz até…Não, brincadeira. Não foi proposital, mas foi algo que, ouvindo, eu falei ele (o álbum) está bem vocal. Mas ele tem muitos instrumentos assim que, por mais que sejam singelos, são instrumentos fortes que fazem a música virar uma música.

POPline: Sei que você é muito eclética, mas de onde veio a ideia de colocar um sambinha e um forró? Há uma ligação familiar do forró com a sua avó, certo?
Agnes: Isso. Eu cresci ouvindo forró, então eu falei ‘não, se esse álbum é menina mulher, se esse álbum é sobre mim, eu tenho que ter forró e tenho que ter um sambinha’. Eu cresci ouvindo samba também, muita música popular brasileira. Eu diz questão que tivesse um forrózinho (“Ultima Dança”), um pé de serra pra eu dançar. Tudo é muito genuíno aqui. O processo de criação aqui é muito louco, chego no estúdio e falo ‘hoje eu quero fazer isso’, vou lá e faço. Não tem razão. As vezes, é porque eu estou escutando muito, as vezes é porque eu já escutei demais e eu quero tentar fazer. Por que não experimentar minha voz em um forrózinho?

POPline: Você falou recentemente que queria descansar, mas que gostaria de lançar um novo disco ainda neste ano. Como vai funcionar isso? Já tem alguma coisa para esse segundo disco?
Agnes: Olha…vamos com calma, eu falei isso e pensei ‘hm…será?’ (risos). Mas eu já comecei outro projeto, já tem outra Agnes por aí, tem mais uma versão de Agnes para as pessoas conhecerem. Já tenho também outros projetos incríveis na manga vindo aí, inclusive, com o Xamã. A gente senta no nosso pianinho… Já estou com vários projetos, trabalhando em várias coisas. Esse ano eu quero muito focar na minha carreira musical porque eu estou ansiosa, querendo trabalhar com isso e voltar a fazer os meus shows. Quando eu fui fazer o meu show, veio a pandemia.

POPline: Já têm datas de shows?
Agnes: No Brasil, ainda não. Olha que chique (risos). Por enquanto, só tenho as datas certas da turnê pela Europa – que vai ser de março até abril.

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