No dia 5 de dezembro de 2008, há pouco mais de 12 anos, o filme Cadillac Records chegava aos cinemas para contar a história da gravadora de Chicago que acolheu nomes como Etta James e Muddy Waters. A película bem sucedida marcava também o inicio de uma história revolucionária para a indústria do entretenimento. Era o primeiro projeto com o qual a recém-fundada Parkwood Entertainment se envolvia definitivamente.
Em 2020, já existe uma ampla noção de que o controle das narrativas é importante e que representatividade é um valor significativo para qualquer empresa, instituição, indústria ou sociedade. Mas Beyoncé parece ter percebido tudo isso quando estes assuntos ainda não eram temas de programas matinais de televisão ou de revistas de business.
A Parkwood Entertainment, empresa fundada por Beyoncé no mesmo ano do filme, não só proporcionou liberdade criativa a já consagrada diva do pop e R&B, como também deu a ela a oportunidade de fazer a diferença na indústria cultural. E, como já é de se esperar, a artista não olhou para trás, foi lá e fez.
Ao participar de uma cerimônia de formatura virtual em Maio deste ano, a cantora disse:
“Eu não via muitas mulheres negras sentadas nas mesas da diretoria, então tive que construir minha própria diretoria. E aí convidei as melhores para ter um assento na minha mesa, contratando mulheres, homens e as pessoas mais talentosas”, frisou.
Neste final de semana, a Disney oficializou o elenco da nova versão do clássico “A Pequena Sereia”, que será protagonizada pela primeira vez por uma negra. A escolhida foi Halle Bailey, que forma dupla com sua irmã Chloe, e é gerenciada por Beyoncé.
A parceria da Beyoncé com a Disney tem rendido acordos revolucionários. Ela foi a responsável pela trilha sonora de “O Rei Leão”, com a qual deu um show de representatividade. O importante “The Black is King” rendeu a artista não só o reconhecimento da crítica, como também indicações ao Grammy.
Com passos estrategicamente calculados e uma qualidade inegável, Beyonce percebeu que a única forma de se sentir representada pela indústria do entretenimento é se infiltrando em espaços em que uma mulher negra não costuma ser bem quista. E parece que não valeria a pena estar no topo do mundo, se não fosse para levar outras para lá também.
Beyoncé & Chloe x Halle
Um dos resultados mais palpáveis do sucesso de Queen B como empresária e produtora é a ascensão de Chloe x Halle. A dupla formada pelas irmãs Bailey foi homenageada na última edição do Billboard Women in Music ao receber o prêmio de “Estrelas em Ascensão”. Naquele momento, Beyoncé interrompie o seu hiato de aparições públicas para dizer algumas palavras as meninas que escolheu agenciar em 2016, mas já sinalizava uma admiração desde 2013.
Foi por meio de um vídeo caseiro da dupla de R&B, fazendo um cover de “Pretty Hurts”, que a dona de “Lemonade” ligou o seu alerta e passou a observá-las, até que a parceria fosse definitivamente firmada três anos depois. Quando nem toda a indústria norte-americana colocava o duo em suas manchetes, Beyoncé o convidou para a turnê do aclamado álbum “Formation”. Até então Chloe e Halle só tinham dois EPs lançados – nenhum álbum de estúdio. Logo após a exposição imediata, houve abertura de mercado e o primeiro single, “Drop”, presente no EP “Sugar Symphony” foi trabalhado.
Apesar dos trabalhos prévios a associação, o primeiro álbum completo do duo foi lançado em 2018 com a alcunha crítica de Beyonce e intitulado “The Kids Are Alright”. Mas foi em 2020 que as irmãs Bailey cruzaram a linha do mainstream ao lançar o aclamado “Ungodly Hour”, onde é possível notar, sem muito esforço, a mão da madrinha e contratante. Em 2018, elas receberam suas primeiras indicações ao Grammy, mas não levaram os prêmios para casa.
Para a cerimônia de 2021, elas conquistaram mais duas indicações em categorias de “Melhor álbum de R&B progressivo” e de “Melhor álbum de R&B progressivo” e, devido ao sucesso do projeto, as expectativas são maiores.
Parkwood Entertainment
Beyoncé não é de confundir as coisas, ainda mais no mundo corporativo. Em 2016, ela tomou a decisão de dizer adeus a boa parte de sua equipe para trilhar caminhos mais ousados dentro da indústria. Ela queria estar rodeada de pessoas que entendessem de business para tomar decisões mais assertivas em relação aos seus lançamentos e turnês.
A empresa que leva o nome da rua em que a cantora viveu sua infância em Houston não se limita a produções musicais. O cinema nunca esteve longe da carreira da artista e, por isso, em 2020, acompanhamos um lançamento duplo: “Black Is King” é, ao mesmo tempo, um filme musical e um álbum visual e balançou a indústria, além de levantar debates sociais ao redor do mundo. Assim como a dublagem e a trilha sonora de “O Rei Leão”.
Temas como ancestralidade, afrofuturismo, estereótipos e racismo foram amplamente discutidos ao redor do mundo, o que alçou a estrela a um patamar quase inatingível, ao lado da realeza da arte (e dos business). Agora, é a vez de Chloe x Halle. A escolha de Halle para viver Ariel em um filme da empresa parceira de Bey não é em vão. Só a repercussão desta nomeação já mostra ao mundo a sua importância.