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Emicida estreia série documental no GNT

“O Enigma da Energia Escura” propõe reflexões fundamentais do ponto de vista da negritude
Emicida recebe o poeta Sérgio Vaz em uma conversa sobre inspirações na literatura no podcast ‘Chamaê’
Emicida. Foto: Jef Delgado/Divulgação

Emicida estreia série documental no GNT intitulada “O Enigma da Energia Escura”, no dia 18 de agosto, às 23h30, e também estará disponível no GloboPlay. Desenvolvida por ele e Evandro Fióti, a série propõe reflexões fundamentais do ponto de vista da negritude.

“Acho a metáfora do título da série fascinante. A ilusão de conhecimento é, na verdade, a maior inimiga dele. A falsa sensação de que já sabemos tudo nos deixa estagnados, presos; assim ficamos impossibilitados de avançar”, comenta Emicida, que também é apresentador do programa.

Cada episódio será apresentado de uma cabine espacial, em uma galáxia distante que faz alusão direta à origem da cultura hip-hop, quando, nas festas de rua do Bronx, em Nova York, nos anos 70, os DJs soltavam as músicas e os MCs versavam por cima dos instrumentais.

Foto: Jef Delgado/Divulgação

Esta relação se dá devido à revolução que o rap causou no mercado da música, levando autoestima e salvando jovens ao redor do mundo, entre eles o próprio Emicida. Na série, ele vai atrás das suas histórias e, para além da música, convida especialistas, intelectuais, ativistas, artistas e pensadores para buscar reconstruir a história do nosso povo.

Produzida por Evandro Fióti por meio da Laboratório Fantasma, a série tem direção geral de Day Rodrigues, diretora de “Mulheres Negras – Projetos de Mundo”; Emílio Domingos, diretor do longa-metragem documental “Favela é Moda”; e Mariana Luiza, diretora do curta-metragem “Cascas de baobá”.

Por trás das câmeras

A escolha da equipe se deu em consonância com o compromisso estratégico da Laboratório Fantasma. Em 2016, por exemplo, uma pesquisa da Ancine revelou que apenas 2,5% de diretores e roteiristas dos filmes produzidos no Brasil eram negros, dados que assustam uma vez que pelo último IBGE é sabido que a população brasileira é formada por 56% de pessoas pretas e pardas.

“Infelizmente, até hoje, em 2021, ainda não percebemos a diversidade de raça e gênero da população brasileira nas produções audiovisuais seja na tv, cinema, publicidade e propaganda. Isso, ao longo do tempo, produz estereótipos e contribui diretamente para o apagamento e invisibilização da contribuição das pessoas negras na construção do Brasil e contribui com essa anomalia violenta que é o cotidiano brasileiro”, afirma Fióti.

E completa: “Com a pandemia da COVID-19 escancarando ainda mais os abismos sociais do nosso país, mostrou-se ainda mais urgente que haja um compromisso e que esse projeto violento tenha um fim, pelo futuro do Brasil. ‘O Enigma da Energia Escura’ vem para contribuir com esse debate importante, pois precisamos romper com velhos padrões , no presente, para que o futuro seja diferente dos dias atuais. Só pela ficha técnica, esta produção, que é um sonho antigo, já nasce fazendo história, uma vez que não houve até hoje na história da TV brasileira uma série documental dirigida por três profissionais negros”.

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Foto: Jef Delgado/Divulgação

Curadoria temática

A curadoria de temáticas foi feita de forma a ir ao cerne de questões fundamentais a serem compreendidas pela população brasileira. Estas temáticas servem de pilares que guiam a mensagem de um dos 05 episódios interdependentes.

“Embora a gente parta de problemáticas a respeito da racialização dos seres humanos e das suas consequências na vida comum, não é uma série sobre o racismo. Eu diria que é um convite para que possamos compreender as raízes dessas problemáticas de maneira que possamos dar um destino diferente ao lugar em que vivemos”, complementa Emicida.

Ao criar uma narrativa que gera reflexão a partir de assuntos como economia e desigualdade racial; a história por trás dos blocos afros da Bahia (negritude, cultura e resistência); eugenia e branquitude; Falamos Pretuguês, não Português, de Lélia Gonzalez; e Sabedoria Ancestral, o programa expande os horizontes da audiência televisiva brasileira, tornando possível a identificação e a conexão desta com a sua afrodescendência por meio de uma linguagem rica, propositiva e dinâmica. Linguagem esta que está traduzida na série através dos recursos criativos utilizados, como ilustrações e motion grafics, que foram inspiradas nas obras dos grandes artistas, como Rubem Valentim e Abdias Nascimento.

A trilha sonora, por sua vez, é conduzida pela estética sonora do rap e da musicalidade afro-diaspórica, que vai de Drik Barbosa, Muzenza e Lazzo Matumbi a Racionais MC’s, Souto MC e Altay Veloso. As imagens de arquivos utilizadas contam com diversos acervos importantes responsáveis por guardar a memória da população negra brasileira – tais como a CultNe e Zumvi.

Os episódios são construídos com esses elementos narrativos enquanto também acolhe grandes reflexões de pensadores como o professor e economista Helio Santos; a cantora e artista Margareth Menezes; a psicóloga e pesquisadora em branquitude Lia Vainer; a professora de direito constitucional Thula Pires; a professora da UFF e Pesquisadora do Afro Flavia Rios; a rapper trans Winnit, entre outros.

Inaugurando um novo olhar sobre as temáticas negras na televisão brasileira, a série busca contribuir para construção de uma visão de sociedade mais coletiva, inclusiva, que represente a maioria da população do país e que, sobretudo, comece a romper com os pactos estruturais e institucionais que vem – há séculos – contribuindo com o apagamento e o extermínio da população negra e indígena, fazendo um país economicamente rico como o Brasil ser também um dos mais violentos e desiguais do mundo.

“Quando partimos de uma perspectiva não óbvia, para uma sociedade como a do Brasil, deixamos – aos poucos – de sermos reféns daqueles 4% de conhecimento e ampliamos a nossa forma de ver o mundo a fim de torná-lo um lugar melhor”, finaliza Emicida.

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