Por trás de uma canção que é capaz de despertar emoções e marcar eras, o trabalho da Produção Musical consegue traduzir em uma sonoridade única diversas experimentações.
Nos últimos anos, Dudu Borges que é Produtor Musical, Músico, Compositor e Empresário, assinou algumas das canções mais tocadas no Brasil, entre elas, estão: “Chora Me Liga” (João Bosco & Vinícius), “Ai Se Eu Te Pego” (Michel Teló), “Escreve Aí” (Luan Santana) e “Os Anjos Cantam” (Jorge & Mateus).
Com atuações nos mais diversos gêneros musicais, Dudu Borges possui longa trajetória no mercado fonográfico, começando a sua carreira como produtor e arranjador de jingles para publicidade. E atualmente, os conteúdos assinados por ele possuem mais de 9 bilhões de visualizações no YouTube, além de ter ganhado dois Grammy Latino.
Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, o produtor revelou detalhes sobre sua atuação, projetos como Análaga e Comunidade da Música, o Studio Vip e também, sua visão de mercado.
O início da trajetória musical
“Sem pressão nenhuma, fica mais fácil”, questionado por sua trajetória, Dudu Borges revela um processo natural que começou na cidade de Campo Grande (MS), na qual o seu primo possuía um estúdio. Com 12, 13 anos e já tocando na Igreja, Borges frequentava o espaço, todos os dias assim que saía da escola.
O que iniciou como uma “brincadeira”, tornou-se aprendizado diário e paixão. Aos 15 anos, Dudu já tomava conta do estúdio e com 16 anos, iniciou a produção dos primeiros discos na cidade. A ida para São Paulo, aos 17 anos, ampliou os trabalhos com Gospel, tocando em uma banda do gênero, a Banda Resgate, e posteriormente, começando a produzir os trabalhos do grupo.
“Nesse meio tempo que eu estava em São Paulo fazendo produção Gospel, meus amigos de Campo Grande – entre eles Michel Teló, que estava no grupo Tradição – tinham estúdio também, e aprendiam muitas coisas com meu primo, e então me conheciam. Tinham campanhas políticas que eu ia e voltava para Campo Grande para fazer alguma coisa.
Nessas idas e vindas, eu fiquei mais em contato com o Michel e aí comecei a fazer algumas coisas para o Tradição, mesmo morando em São Paulo, isso foi em 2004, 2005. Então, comecei minha trajetória no Sertanejo.
Quando tive a oportunidade de fazer algum trabalho, comecei a botar a minha identidade nas músicas, e aquilo começou a tomar uma proporção maior e foi conquistando um a um”, diz Dudu Borges.
O Novo Sertanejo
Diante da popularidade do Sertanejo nos últimos anos, a mentalidade agregadora, dos artistas, produtores e outros profissionais envolvidos, fez o gênero tornar-se um movimento. Dudu remete ao grupo Tradição a importância, não apenas para a sua carreira, mas, ao modelo de negócio de sucesso do Sertanejo.
“Então, nós estouramos com Michel, depois com João Bosco e Vinícius, em seguida com Jorge e Mateus e o Luan Santana. Um que era fã do outro, então acaba que um é responsável pelo outro, então a gente fez uma cadeia só e fazendo comercialmente isso rodar. Esse sucesso todo não é só a música. Nós fazíamos música para todas as áreas, setores e idades”, aponta Dudu.
Análaga: plataforma independente de experimentações
Com mais de 95 milhões de streamings apenas em 2020, a Análaga é um projeto proprietário e independente de Dudu Borges lançado em 2018. O empresário aponta que a iniciativa surgiu a partir de uma necessidade pessoal, não apenas para que ele evoluísse musicalmente, mas, explorasse novas experiências musicais após mais de 10 anos de carreira.
“Então era hora de recomeçar. Por isso, eu parei com tudo e montei um projeto que eu começasse do zero e fizesse músicas com artistas novos. Eu também convidava os artistas grandes para fazer as músicas do jeito que eu queria que fizesse, com eles dando opinião, claro, mas fazendo como imagino. E fazer isso realmente de uma forma que eu me sentisse leve e, comercialmente falando, isso fosse viável.
A pessoa que faz música precisa se sentir livre, satisfeita e ser desafiada sempre. Posso fazer hoje um samba, amanhã estou fazendo uma música religiosa, depois um rap, um pop, muito mais rápido!”, destaca Borges.
Com a Análaga, o produtor assumiu, de forma pioneira, o desafio de apostar em um projeto com a sua identidade, mas, sem investimento. Logo em 2019, a música “Lençol Dobrado” assinada pela iniciativa e cantada pela nova dupla João Gustavo & Murilo, foi uma das tocadas no ano nas plataformas de streaming.
“Assumi uma posição e fiz um resultado que, logo no primeiro ano, fizemos a mais tocada do ano sem investimento e me deu uma credibilidade muito grande! Pude fazer tudo o que eu quis fazer, e continuei com a minha marca muito forte, então isso foi muito importante para mim”, celebra Dudu.
Diante do sucesso do single, Dudu aponta que “deixou a música andar”, em contraponto ao pensamento de “estourar em três dias” e, por isso, a música teve bom desempenho durante todos os meses de 2019.
Ainda em 2019, Dudu lançou o projeto “Análaga Start” que irá lançar um novo artista nacional em destaque, a partir da sua curadoria, a cada dois anos. O artista selecionado receberá apoio do empresariamento ao relacionamento com gravadoras.
“É realmente pra lançar uma banda que realmente seja sucesso, componha, seja jovem, com ideias e melodias novas. E eu acho que nós já achamos a primeira e iremos lançá-la já no começo do ano de 2021, a primeira dessa nova era do Start”, revela o produtor.
Já em 2020, a Comunidade da Música ganhou vida a partir do “Dudu Borges Experience” um projeto que contou com a presença de Thiaguinho e do Atitude 67 em um formato, inédito, de transmissão ao vivo do processo de criação musical, da concepção à aprovação pela gravadora. Ao todo, foram mais de 24 horas de transmissão, divididas no três dias de transmissão do projeto.
Com o “Comunidade da Música”, Dudu desenvolve um curso durante 365 dias que mostra com o processo musical é construtivo e um trabalho diário.
“Uma vez por semana realizamos lives abertas e fechadas de áreas diferentes: composição, produção, mercado e consegue fazer um 360º para realmente levar a formação e abrir a cabeça das pessoas no decorrer da vida artística mesmo”, destaca o produtor.
Produção Musical e o Studio VIP
Na Produção Musical, Dudu Borges visualiza o seu papel como potencializador artístico. Ao trabalhar com diversos artistas, ele atribui que “a novidade está sempre no outro” e que seu papel é selecionar a chave certa, já presente no artista, para alcançar a excelência no trabalho.
“Eu falo de uma essência, personalidade na escrita e uma composição. Um artista que não compõe, por exemplo, eu não consigo dar uma personalidade pra ele a longo prazo. Só com música, com arranjo, não tem como. Eu preciso de uma raiz, eu preciso de uma coisa que não é comigo, isso tudo vem do artista”, destaca Dudu.
Dentro do seu Studio VIP, fundado em 2009 e considerado um dos maiores e mais modernos estúdios do Brasil em equipamento e conceito, Borges criou uma sonoridade musical, homogênea, que consegue ser entendida a nível nacional.
“É essa leitura que, às vezes, as pessoas não têm na hora de fazer um disco, entende?! Por que que o “Só pra Contrariar deu tão certo? Porque talvez não é um samba tão raiz, quanto o do Rio de Janeiro. Um pouco de tudo: isso é o Brasil. Por isso que agrada o país”, analisa Dudu.
Em um projeto oneroso como o do Studio VIP, o produtor afirma que além dos equipamentos de ponta, ele prioriza a flexibilidade tecnológica, a rapidez para as criações e o bem-estar local.
“A minha sala é no meio de uma varanda gigante com tudo ligado, montado. As pessoas entram e se sentem em outro mundo, porque realmente ,leva a pessoa para um outro lugar que é onde ela precisa estar: sair do mundo real e ir pra outro lugar”, diz Dudu.
Com o processo de composição orgânico, Borges compõe com pessoas que já conhece e possui afinidade. Mas, aproveita a suas ideias quando senta no piano, mas, sem horário marcado na agenda.O compositor afirma que a junção da novidade presente no outro aliada com a sua, que faz com que a música fique com resultados incríveis e diferentes.
Com uma longa lista de referências de Produtores Musicais, Dudu destaca a versatilidade de Liminha, as assertividades dos arranjos de Dudu Marote, Guto Graça Mello e Jota Moraes, além da visão comercial e profissionalização do segmento apoiada por Rick Bonadio.
Mercado Musical
Diante de uma bagagem de 2 Grammy Latino e 16 indicações, o trabalho de Dudu Borges é reconhecido também a nível internacional.Apesar de já ter feito trabalhos com Ricky Martin, Laura Pausini, Maluma, Dulce Maria, Carlos Vives, entre outros, Borges garante que seu foco de trabalho é o Brasil.
“Eu gosto muito, muito mesmo, de fazer música para o meu país. Acho muito legal as coisas que nós temos aqui e me faz muito bem poder ter acesso a essa diversidade, fazer minhas coisas do jeito que eu quero. Acho que a vida é mais isso do que ficar querendo, às vezes, sempre uma coisa a mais que temos faz tempo, sabe?!”, revela Dudu.
Analisando o mercado musical, o empresário aponta que o planejamento, com foco na parte artística e musical, é a base para a criação de uma carreira sólida e que isso deve ser priorizado antes de investimentos em divulgação ou busca por investidores.
Para 2021, Dudu projeta um cenário com novos artistas e sonoridades, “como no final dos anos 90 e início dos anos 2000”, sem a soberania específica de um gênero como o Sertanejo, por exemplo, mas, uma popularidade mais diversa. Diante dessa nova fase, Dudu aposta no retorno das bandas.
“Para um artista, uma coisa que ele precisa para estar preparado é acreditar, ter talento. Acho que acreditar é a primeira coisa. Mas se ele insistir, acreditar, compor, tiver talento e seguir, nada vai substituir essa parte artística, nada vai superar isso”.
Com olhar para o futuro e valorização da sonoridade brasileira, Dudu Borges construiu a base do fortalecimento sua marca por meio de experimentações e uma assertiva visão de mercado referência no país e no exterior.