Duda Beat é uma das grandes apostas da música brasileira em 2019. A cantora orgulhosamente pernambucana segue ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento do público e da crítica especializada.
Assim como Pabllo Vittar, Duda Beat também foi uma das atrações da festa People, que aconteceu neste sábado (11), em Salvador, na Bahia. E nosso correspondente regional, Tiago Dias, também teve a oportunidade de conversar com a pernambucana, que falou um pouco sobre sua carreira atualmente, o futuro próximo e até planos para uma carreira internacional.
Confira a entrevista completa:
Você lançou oficialmente, na semana passada, a música ‘chega’ com participação de Mateus Carrilho e Jaloo. O que os fãs e público podem esperar do sucessor do ‘Sinto Muito’?
Ano que vem eu vou lançar o disco, né? O disco vai ser uma coisa meio “Sinto muito”. Um disco mais profundo, um disco que tem timbres diferenciados, letras mais profundas, mas quando se trata de singles, eu vou ser um pouco mais comercial, então, vai vir aí um single, eu não posso contar. Vai vir um single muito bom agora, com parceiros. Na verdade, eu acho que já vão vir uns quatros aí, né? Com Romero Ferro. Eu vou tá no disco do Lucas Santana com a música ‘Linda’ e mais um que eu não posso contar.
Recentemente você esteve em Salvador no festival Sangue Novo e tocou também no carnaval com a Ivete Sangalo. Essa ligação com Salvador, rolou match?
Muito, muito profundo. Desde a primeira vez que vim, né? Todo mundo cantando todos as músicas, enfim, se entregando no show. Foi uma coisa muito linda e aí, depois disso, o amor foi aumentando, toda vez que venho aqui tem mais gente cantando junto, o show fica cada vez maior, então, eu amo a Bahia, minha vontade é até de passar uns meses aqui. Fazer disco novo aqui, me dá esse luxo, mas não dá, né? Tem que trabalhar. Mas amo demais, Ivete também maravilhosa, minha madrinha, sou muito apaixonada por Salvador.
Você vai abrir o show da Lilly Allen no Brasil. Quais são suas referências internacionais e já pensou em carreira internacional?
Óbvio, na verdade eu estou trabalhando para isso. Estou me afiando no inglês, no espanhol, para poder lançar coisas em outras línguas e minhas referências internacionais são muito os anos 80, sou muito apaixonada pelos anos 80, toda aquela sofrência, toda aquela coisa. E também Kali Uchis, é uma cantora que eu amo, colombiana. Beyoncé, Rihanna, tudo que tá aí, que e é super pop, super f*da. Kaytranada, um cara canadense bem f*da. The Internet, que eu fui no show mês passado, lindo também, tudo isso é uma misturinha.
Seu show no Lollapalooza deste ano contou com vários atos políticos, contra o golpe de 64 e o atual presidente brasileiro, como você entende o papel do artista/cidadão?
Todo artista é cidadã, né? Não tem como fugir. Todo mundo é pessoa política, então, eu não acredito muito nessa coisa de separar política de vida pública porque a gente tá aí para influenciar as pessoas e pras pessoas ouvirem o que a gente tem a dizer. Se Deus ou quer que seja me deu essa oportunidade de falar com tanta gente, eu vou falar sobre o que eu acredito.
Fotos: Matheus Thierry
A internet ferveu com a polêmica envolvendo uma produção audiovisual sua, você se posicionou posteriormente e até pediu desculpas. O que você absorveu e entendeu de todo o caso?
Na verdade, é o seguinte, não fui eu quem criei o concurso. Na verdade, eu nem sabia dessa história que as pessoas iam ganhar R$ 500,00 pra fazer o vídeo, enfim, era um coisa que não foi passada pra mim. O passado pra mim foi o seguinte: Iam abrir um concurso pra mulheres entrar no mercado de audiovisual e isso eu achei f*da. E aí quando começou a rolar polêmica eu fiquei um pouco sem saber o que fazer, né? A gente conversou com a galera de lá, eles também não deram muitas posições na hora, no momento. Eu resolvi me retirar porque vai de contra com tudo que eu acredito. Eu até fiz um texto antes falando sobre “no amor”, mas é uma coisa que diz muito mais a respeito de mim, as pessoas interpretaram de maneira errada também, enfim, quando vai de encontro com que a gente acredita a gente não pode se enfiar, mas assim, honestamente, eu não acho que essa culpa é minha, não fui eu que criei isso, jamais criaria um ‘negoço’ que daria oportunidade para mulheres sem elas serem pagas ou pagando pouco. Isso não faz parte da minha vida, enfim, eu fui convidada, eu fico muito triste porque acabou sobrando só pra mim, ninguém chegou lá na página da galera que fez pra xingar, sabe? Só me xingaram. Eu fiquei como escudo da situação, e enfim, foi uma pena o que aconteceu, até hoje tem gente falando mal de mim. Eu acho que a internet ajudou muito a gente no sentido de aproximar a gente do público, e enfim, de a gente conseguir colocar nossas coisas, mas também atrapalha muito, porque as pessoas inventam histórias, uma pessoa que lê uma história. Tipo tinha uma parada lá dizendo que “Duda Beat apoia a escravidão”, sabe? Aí eu falei: Gente, tá uma loucura isso. A minha vontade era fazer um vídeo, falar: Vai a merda vocês que estão inventando história, entendeu? Porque eu não tenho sangue de barata. Mas acabei saindo do concurso e é isso. Pedi desculpas porque, enfim, acabei sendo envolvida numa situação que eu não sabia e pagando o pato.
Sua carreira musical começou após um retiro espiritual. Esse período auxiliou na sua carreia? Como ele te ajuda a equilibrar sua saúde mental?
No retiro espiritual, era um retiro para meditar, então toda vez que acontece esse tipo de coisa, esse tipo de polêmica, eu procuro respirar e pensar em mim em primeiro lugar e pensar no que eu acredito. Eu acho que ele me ajudou pra me deixar forte e que tudo na nossa vida passa, é sobre isso que fala esse retiro. Então, foi lá que eu decidi ser cantora, foi lá que me veio na cabeça que eu tinha que fazer isso pra minha vida, eu acho que esse retiro foi fundamental na minha carreira como cantora, como pessoa, na minha vida profissional e amorosa. Perdoei quem não quis ficar comigo e é isso, aceitei o que Deus tinha pra mim.
Você tem um estilo muito marcante, como o Nordeste e a comunidade LGBTQIA+ contribuiu para a construção da estética da DUDA BEAT?
Eu vivi 18 anos em Recife, então, minha formação musical é totalmente ligada a minha terra. Enquanto as pessoas ouviam no Sul Los Hermanos, eu ouvia frevo, maracatu, Lenine, o movimento maguebeat. Eu acho que me formou como cantora esses ritmos que eu carrego comigo, era uma preocupação muito grande minha manter no meu e nas minhas coisas essa sonoridade. Trouxe um pouco de brega, né? Em algumas músicas, enfim, e eu até ficava perguntando ao Thomas: Poxa, será que as pessoas vão saber que eu sou de Recife? Era uma preocupação minha isso. E ele: “Claro, amor. Você tem sotaque”. Que é o que permeia toda história. A história tá sendo contada, né? Mas com sotaque de lá e referências de lá. Acho que tem tudo a ver. E o público LGBTQIA+ é maravilhoso, foi o público que me abraçou de verdade, é o público que canta as minhas canções, que choram junto comigo, eu só tenho a agradecer a eles, enquanto eu puder, eu sei que cada um tem seu lugar de fala, mas enquanto eu puder lutar por eles, eu vou lutar. Eu tô do lado deles, porque eles são a razão também deu tá em cima do palco, deu tá fazendo o que eu faço hoje.
