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Canto do Povo de Um Lugar: Documentário sobre axé music chega a Netflix

Filme de 2017 traz grandes nomes da música baiana falando em primeira pessoa sobre a criação do gênero musical nascido em Salvador. Assista ao trailer!

Chegou a Netflix na última semana “Axé: Canto do Povo de Um Lugar”, um documentário que conta toda história do axé music, gênero musical criado e desenvolvido em Salvador, na Bahia. O filme, que tem cerca de 1h50 de duração, foi lançado em 2017 e reúne grandes nomes da música baiana em entrevistas reveladoras.

Axé: Canto do Povo de um Lugar chega a Netflix. Foto: Reprodução da capa do filme.

“Axé: Canto do Povo de Um Lugar” é uma daquelas produções cinematográficas emocionantes para qualquer amante da música e ou profissional do mercado fonográfico. O filme, que tem roteiro e direção assinados por Chico Kertész, aborda com muito cuidado os primórdios do gênero, desde a fusão dos instrumentos elétricos às percussões, até o desenvolvimento de cada um dos artistas dentro do mercado e o desfecho de suas histórias.

Nomes importantes da música baiana, como Ivete Sangalo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Luis Caldas, Tatau, Marcio Vitor, Geronimo e Saulo contam em primeira pessoa suas relações com o gênero, comentam o trabalho e a importância dos colegas, que elevaram o ritmo a um patamar de alto prestígio no início dos anos 1990.

“Axé: Canto do Povo de Um Lugar” ainda traz ricos depoimentos de radialistas, jornalistas, compositores e produtores musicais que participaram da trajetória da axé music, iniciada no início dos anos 1980. Vale destacar a participação importantíssima do produtor Wesley Rangel, morto em 2016, dono do estúdio WR, considerado o berço do axé – local que possibilitou o desenvolvimento da cena soteropolitana.

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A história e o legado

Goste ou não do estilo, axé music é uma realidade. O gênero, que foi até mesmo batizado de “axé” inicialmente de forma pejorativa, sempre foi motivo de grande controvérsia, principalmente por conta do conteúdo de algumas letras. Os artistas do gênero foram muitas vezes (e ainda são) tratados com grande preconceito, ainda que tenham garantido números extraordinários para suas gravadoras e contratantes.

No filme, fica muito bem documentado a criação das células rítmicas da axé music e o quão variado e rico é este estilo musical. A contribuição de figuras importantes para a música brasileira, que em Salvador deram início à cena, também fazem parte do longa. Um bom exemplo entre tantos é o mestre Neguinho do Samba, que, junto com o Olodum, há mais de duas décadas já representava a nossa cultura e o nosso país ao lado de figuras internacionais como Michael Jackson e Paul Simon.


Vale também destacar a importância de blocos afros e cordões para a retomada cultural preta na cidade de Salvador. Em um trecho do documentário, Marcionílio, que foi vocalista da Banda Eva, fala sobre punições sofridas pela população preta durante o período ditatorial e o quanto blocos como o Ilê Aiyê chegaram para reiterar a estética preta e dar força ao povo, para que pudessem cultivar suas origens e referências.

“Já é carnaval, cidade”

A criação de um novo gênero musical deu início também a indústria do carnaval de Salvador como o conhecemos hoje. A força do axé music e seus artistas possibilitou a expansão da festa, que até então ficava sempre à margem das celebrações carnavalescas do Rio de Janeiro e de Recife. A invenção e aperfeiçoamento do trio elétrico também serviu como ponte para o sucesso dos soteropolitanos no panorama nacional de entretenimento.

O aparecimento dos blocos de carnaval com mortalhas, abadás e cordas de segurança está presente em “Axé: Canto do Povo de Um Lugar”. Fala-se muito sobre as mudanças sofridas pelo mercado durante os anos; alguns mais saudosistas afirmam em seus depoimentos que o melhor ficou para trás, já outros, como Caetano Veloso, falam que as variações são sinais de saúde do movimento.

É emocionante assistir às imagens de arquivo do final dos anos 1980 e início dos anos 1990 dos desfiles de blocos como Cheiro de Amor, que soltava pétalas pelo caminho, ou do Bloco Mel, com a Banda Mel, comandando a avenida 7 de Setembro ao embalo de mega hits como “Prefixo de Verão” e “Baianidade Nagô”.

Por trás das câmeras

Evidente que tudo que envolve muito dinheiro muitas vezes gera confusão. A história do axé music nem de longe é um conto de fadas e foi cercada também por desentendimentos. No documentário, alguns artistas falam abertamente sobre a competitividade dentro do mercado, chegando a dizer a frase “era cada um por si e Deus pelo axé.” De acordo com cantores como Netinho, Ninha e Márcia Short houve pouco coleguismo quando o gênero vivia o seu auge.

Outras denúncias também são feitas no filme, como a prática de pagar rádios e veículos de comunicação para não executar músicas de determinados artistas e concorrentes, na intenção de dificultar a carreira dos mesmos. Ivete Sangalo é uma das poucas que fala o contrário, reafirmando que sempre contou com o apoio de seus colegas, da mesma maneira que também ofertou suporte.

“Axé: Canto do Povo de Um Lugar” serve como um bálsamo para os que amam viver a festa que é o carnaval de Salvador. É emocionante ouvir a história de um gênero musical legítimo e 100% criado por pessoas que, intimamente, acreditavam no potencial umas das outras. Recheado de imagens raras da cidade e de seus artistas, o documentário resgata nos soteropolitanos (como eu) o orgulho de pertencer à essa cultura. Dá o play, porque vale a pena!

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