Daya Luz

Do anonimato na periferia de São Paulo a buscar o sonho de viver da música: Daya Luz dá detalhes sobre clipe de “Virar o Game”

Conversamos também com Laure Courtellemont, coreógrafa de dancehall responsável pelo novo clipe da cantora.

Quando Daya Luz resolveu focar 100% sua energia no sonho de viver da música, a cantora já foi nivelando seus trabalhos por cima contratando gringos para produção e direção de clipes, gravações no exterior e participação no jogo de alcance mundial “Just Dance”. E veio “Virar o Game”. A faixa, que começou a ser composta e produzida há mais de um ano, é o atual trabalho de Daya. Na letra, ela quis explorar seu passado e como é possível mudar seu rumo se focar no trabalho.

Foto Divulgação

Esse é também o roteiro do clipe gravado no Morro do Catete, no Rio de Janeiro, e que está em fase de pré-edição. Para o POPline a cantora explicou que o vídeo é dividido em fases e vai levar o espectador por um passeio pela sua vida: da juventude na periferia de São Paulo, como a dança lhe deu um propósito e o atual momento.

O POPline vem acompanhando sua evolução há pelo menos uns dois anos e é notório a sua felicidade com a repercussão de “Virar o Game” até agora.
Estou sim muito feliz porque ela estreou no Spotify já na Pop Brasil e a galera está curtindo muito, o que eu estou recebendo de retorno é muito positivo. Venho recebendo muitas mensagens dizendo que estão se identificando com a letra, que ela serviu para inspirar, para levantar a cabeça e seguir em frente e isso já é uma gratidão imensa pra mim. Tudo o que acontece que para as pessoas pode não parecer algo tão grande, pra mim é algo incrível sabe? Mais um passo para a realização desse sonho porque é um sonho que estou realizando.

Você vem dizendo em suas redes sociais que “Virar o Game” é uma representação da Daya pessoa e artista. Como você montou todo esse conceito da letra com a coreografia e o visual do clipe?
Essa música foi a primeira música que eu compus com meus produtores quando os conheci, eu tenho um EP com o Sérgio Santos, o Ruxell e o Pablo Bispo, e ela foi a primeira que a gente compôs. Eu contei toda a minha história de vida, né? Eu venho de uma comunidade de São Paulo, tive que acreditar muito e arriscar tudo para seguir esse sonho de cantar e dançar e viver da música. Quando contei, eles não sabiam que eu vinha de uma comunidade, que já entreguei panfleto no sinal, que fui aprendiz, sabe? Eu já tinha algumas coisas escritas, de frases mesmo que me representavam, por exemplo, “na vida a gente perde, ganha, bate, apanha, mas com jeitinho pega a manha”, que é exatamente o que vem acontecendo com minha carreira. A gente bate, a gente apanha, cai, levanta, segue em frente, vai pegando a manha aos pouquinhos e vai evoluindo. Além disso, dessa representação de onde eu vim, essa música fala sobre o empoderamento através da dança, de chamar todo mundo para dançar, para se divertir, gente de todos os lugares, união… tanto que neste clipe eu usei dançarinos de todas as partes do Brasil, gays, trans, “fora dos padrões”.

A dança não discrimina.
É isso, “vou convocar a liga pra dançar, vem de todo canto e todo lugar”. Eu queria exatamente mostrar isso, o quanto nosso país é lindo, cheio de pessoas lindas cada uma à sua maneira e como todo mundo pode estar junto, dançando, curtindo, vivendo, aprendendo, caindo, levantando… a gente está aqui, todo mundo junto, sabe? Essa música veio para trazer isso, mostrar de fato quem é a Daya Luz, de onde eu vim, as minhas raízes e através da dança mostrar como a vida pode ser um pouco mais leve. O clipe será dividido em fases: a Daya criança, a Daya adolescente e a Daya adulta até a artista. É tudo muito real.

Você disse que “Virar o Game” foi a primeira música que você fez com Sérgio, Ruxell e o Bispo, mas o que te levou a resgatar ela apenas agora? Você já lançou, pelo menos, outras cinco músicas antes.
Exatamente mostrar quem eu sou. Eu tenho já alguns trabalhos lançados, alguns clipes, músicas, mas em nenhuma delas mostra exatamente a Daya. As pessoas não conhecem de onde eu vim, algumas sabem quando me perguntam e eu conto, mas às vezes assistem a um clipe que eu gravei lá em Los Angeles aí a pessoa “pô, ela fez uma produção em Los Angeles então ela deve ter condições na vida” e na verdade não é exatamente assim. Eu quero mostrar às pessoas a minha verdade e a gente vai amadurecendo com o tempo. Eu amadureci muito desde quando fiz meu primeiro lançamento e chegou o momento que eu quero que as pessoas me conheçam. A “Virar o Game”, desde a produção, da batida da música, tudo foi através de referências que eu entreguei aos meus produtores, do que eu gostava, o que eu sou. Ela é a representatividade de quem é a Daya Luz e que não é diferente da maioria das pessoas do nosso país. Muita gente está se identificou.

Você gravou o clipe inclusive em uma comunidade, não foi? Só que no Rio.
É, gravei no Rio de Janeiro. Não pude fazer na minha comunidade em São Paulo, mas a ideia está representada ali. Comunidades são similares em qualquer parte… os desafios e as necessidades são os mesmos. É onde eu vivo hoje, no Rio, e no finalzinho tem um lance de… nem sei se eu posso contar (risos). O clipe vai contar a minha história desde quando eu era pequenininha, do meu sonho de cantar, de ser artista e em meio a essa história a gente vai ter muita dança. Eu trouxe a coreógrafa Laure Courtellemont que é uma das maiores coreógrafas do mundo. A conheci dois anos atrás, me apaixonei por ela, pelo dancehall, que é o que eu trouxe de referência para esta música, e a Laure é a precursora do dancehall no mundo.

Eu estava vendo os vídeos dela antes de falar com você e é impressionante!
Exatamente! Ela lutou muito! Ela tem uma linda história de vida também. Ela vem de uma comunidade francesa e ela teve que passar por muitas coisas para poder ser respeitada, para poder ensinar essa dança no mundo que é o dancehall. É uma dança jamaicana… e eu achei incrível a história dela.

E que se assemelha com a sua também.
Exato! Ela também veio de comunidade. Eu acho incrível e ela é hoje super respeitada no mundo inteiro. O mundo da dança a respeita demais. Ela trouxe toda a arte dela para este projeto, fizemos coisas incríveis de dança que eu jamais eu vi alguém fazer aqui. Buscamos os melhores dançarinos do Brasil…

“Essas dificuldades me deixaram mais preparada pela vida. Eu tenho pele branca expressando uma arte negra. Foi muito difícil sim ser respeitada, aceitada, conquistar meu lugar porque quando chegava nos lugares que ninguém imaginava que eu dançava assim. Eu tenho uma paixão pelas danças jamaicanas e africanas. O talento não é na pele, é embaixo dela. A pele é apenas um envelope que nós temos, mas sangramos da mesma cor. A música do clipe, o lugar onde foi gravado batem completamente com a energia da minha vida, de falar ‘nunca vou me deixar cair, sempre vou levantar’. Eu quero unir as pessoas e essa música se conecta com quem eu sou. É legal ter uma música que representa uma mulher forte, o que ela quer e o que ela não quer. Estou feliz de ter pego ‘Virar o Game’ para ser nosso primeiro trabalho junto”. (Laure Courtellemont)

 

“A Daya, além da artista é uma mulher muito especial. Foi um encontro além de professora – aluna. Foi um encontro humano, tivemos uma conexão muito forte. Foi maravilhoso encontrar uma mulher que tenha valor de vida, respeito pelos outros, consideração pelas pessoas, que tem vontade de fazer melhor, ser melhor, de crescer. Ela é uma das poucas artistas que tem uma capacidade de trabalho enorme, uma humildade natural que a permite amadurecer. Ela não tem medo errar e trabalhar o movimento até conseguir acertá-lo. São valores importantes para mim. Fiquei impressionada! Espero que nossa relação dure muito tempo. Fico feliz de apresentar toda a minha experiência para uma mulher como ela. Temos o mesmo fogo, mas duas histórias, vidas, países e duas culturas diferentes. A vontade de vencer não tem cor, nacionalidade. (Laure Courtellemont)

Você promoveu uma audição não foi isso?
A Laure tem dois assistentes no Brasil que ela costuma a trabalhar e juntos eles foram em busca dos melhores dançarinos. O único pedido que fiz foi “quero pessoas diferentes, de todos os tipos porque é isso o que a música diz”. Eu queria diversidade e eles buscaram os melhores dançarinos do Brasil para gente realizar esse clipe e foi incrível. Foram quatro dias de ensaio, ela mostrou todo o processo de criação dela e está ficando lindo demais!

O processo de edição já começou inclusive, não foi?
Antes da Laure ir embora a gente foi para a ilha de edição para separar todas as partes de dança, tudo o que foi feito de coreografia para ela poder ver e auxiliar o diretor a selecionar tudo. Editar dança é muito complicado, ainda mais o que foi feito. A gente já deixou tudo certo e logo logo tá pronto! (risos)

Foto: set “Virar o Game”/Reprodução Instagram

Já tem alguma previsão?
Tem sim. Para a primeira semana de outubro. Tá pertinho, mas vamos ter tempo de trabalhar, deixar tudo alinhadinho.

“Sou muito fã da América Latina, da cultura, do povo. Sou apaixonada por vocês, vocês são diferentes, iluminados, muito felizes, talentosos. É uma combinação muito linda! Fiquei feliz de entrar em uma comunidade do Rio e ver de perto essa parte cultural forte do povo brasileiro, da sobrevivência que virou cultura, da dificuldade que virou beleza. Pra mim, gravar na comunidade que fomos no Rio, foi uma bênção. Vai ficar no meu coração e na minha mente para sempre”. (Laure Courtellemont)

A Laure é bastante conhecida no exterior. Trabalhou com nomes como Chris Brown, Ciara, Ne-Yo, no programa “So You Think You Can Dance”. Como se deu essa amizade e parceria?
Esse ano eu fui para os Estados Unidos para uma feira de games e sempre que vou lá eu tenho aulas particulares com ela para poder evoluir a minha parte técnica de dança. Quando liguei perguntando se ela tinha disponibilidade ela sugeriu da gente fazer um ‘concept video’. Me explicou o que era, que é algo comum nos Estados Unidos só que estava faltando uma semana para eu viajar. e eu não tinha verba para isso. Ela organizou TU-DO. Tudo, tudo, tudo, toda a produção, os dançarinos, nenhum deles cobrou nada, e ela fez algo incrível! Iria ser um ‘concept video’ de uma música aleatória só que quando eu apresentei “Virar o Game”, ela amou e deu a ideia de criarmos o vídeo para essa música. Ensaiamos dois dias e gravamos no terceiro. A gente não tinha nem planos de usar, mas ficou tão lindo que eu resolvi divulgar! A partir daí começamos a conversar, ela disse que viria ao Brasil e deu a ideia de engatar em algo bacana para o clipe. Ela já estava com passagem comprada para cá e tudo foi muito rápido! Além de uma grande coreógrafa ela é uma mulher muito correta, muito humilde, profissional. Essa é a primeira vez que ela trabalha com uma artista brasileira. Me sinto muito honrada.

É muito louco ter sua vida retratada num videoclipe?
Não… acho que vale pela identificação! Achei uma ideia bacana porque não é diferente da maior parte das pessoas, sabe? A maior parte, acredito eu, vai se identificar, é a realidade do nosso país! Ela não é só a minha história. É legal até para as meninas que vivem em comunidades com um sonho, de repente achando que não há chances e é sim. Eu sonhei, acreditei e agora estou aqui, vem comigo, chega para ‘Virar o Game’. O grande objetivo é mostrar que tudo é possível!

Reprodução Instagram

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