Em entrevista à BBC News Brasil em Londres, Ney Matogrosso, sempre sincero, falou que o país está muito mais careta do que antes e também sobre as pressões que sofre para levantar a bandeira do movimento LGBTQI+ em suas apresentações e discursos!
Você costuma dizer que o Brasil está mais careta do que era antes…
Ney Matogrosso – Sim. O que provocou esse retrocesso, nesse sentido, foi a Aids. Porque havia uma liberdade comportamental no Brasil. Vou fazer uma comparação: na Alemanha, as pessoas tomam banho nuas nas lagoas – homens, mulheres, crianças – e nessa época eu via, numa praia ao lado do Arpoador, as aeromoças de voos internacionais faziam topless e trocavam de roupa na frente de todo mundo e ninguém se assustava. Era uma coisa normal.
Até que veio a ditadura e a ditadura cortou. Isso eles foram em cima. Se continuasse naquela batida, não sei onde estaríamos. Talvez mais avançados que a Alemanha nesse sentido. Porque (o brasileiro) é um povo bonito, gostoso, e que gosta de se exibir. A Aids que cortou, foi o grande obstáculo. Imagina, mexeu com a sexualidade das pessoas.
Você é cobrado por mais protagonismo no movimento gay. Tem declarações suas de que existe uma coisa muito ligada ao consumo. Explica isso…
Ney Matogrosso – Olha, primeiro que ninguém pode me cobrar isso. Eles dizem que eu não carrego a bandeira. A bandeira sou eu. Ou não sou? Eu sou a bandeira, eu não preciso carregar uma. A minha maneira de pensar, de me comunicar, de me apresentar. Eu sou a bandeira. Parem de me cobrar isso porque isso não tem fundamento.
Quando falo isso da coisa capitalista, eu digo que as paradas gays – na verdade, não é nem as paradas gays, mas a aceitação maior dos gays no país – e agora há um retrocesso nisso também -, mas era assim. Gay é fonte de renda, é uma coisa internacional que se aponta para o Brasil, que sempre foi uma meca. Eu morei no Rio de Janeiro na década de 1950 e já era meca. No verão, gays do mundo inteiro se dirigiam para o Rio de Janeiro.
E como isso está mudando?
Ney Matogrosso – Está mudando porque temos um presidente que acha que pode determinar a sexualidade das pessoas. Isso é uma tolice, porque não adianta querer reprimir. As pessoas continuarão nascendo. E isso não é uma questão de opção, isso você não escolhe ser – a não ser que ele ache um meio de determinar os que vão nascer e os que não vão nascer. Fora isso, não tem como controlar isso.