“Vira o disco!”, com certeza você já ouviu essa frase em algum lugar ou até tem ela em seu repertório. Talvez muitos não saibam o que ela significa, principalmente se tiver nascido depois dos anos 1990, mas ela descreve uma das práticas mais comuns para aqueles que ouviam seus hits favoritos pelo disco de vinil. Ao encerrar as primeiras faixas de um álbum, o ouvinte tinha que literalmente inverter o lado que estava sendo reproduzido, o famigerado “lado-b”, que se refere à metade final de um álbum.
Quem pensa que assistir o crescimento do streaming fez com que as vendas físicas entrassem totalmente em crise está muito enganado. O boom mundial dos produtos físicos mostrou que, pela primeira vez desde 1986, as receitas dos discos de vinil foram maiores do que os CDs em 2020, de acordo com estudo Recording Industry Association of America (RIAA).
Hoje, dia 20 de abril, é comemorado o “Dia do Disco de Vinil” ou apenas “Dia do Disco” e, pensando nisso, a Deezer realizou um levantamento para verificar qual o impacto do streaming sobre as músicas do famoso lado-b.
Em qualquer ordem
Com a chegada dos serviços de streaming ficou muito mais fácil acessar qualquer faixa do disco, permitindo com que cada um ouvisse suas músicas da maneira que achasse melhor. Nem é preciso dizer a maneira como isso alterou a forma de se produzir um álbum.
Segundo o levantamento realizado pela Deezer, dentre as 10 músicas mais ouvidas em 2021, sendo todas lançadas na era do streaming, 4 estão localizadas na primeira metade de seus discos, mesmo número das que estariam no lado-b. Duas dentre as dez foram lançadas como single, sendo elas a 6ª e a 7ª colocadas.
O dado fica mais interessante ao verificar que duas das mais ouvidas são as últimas faixas: “Mood”, do 24kgoldn, que é a 10ª mais ouvida e “Fever”, da Dua Lipa, que é a 3ª colocada, superando grandes hits que ocupam faixas iniciais do disco como “Future Nostalgia” e “Levitating.” Ocupando a primeira colocação está “Blinding Lights”, The Weekend, que é apenas a 9ª faixa, que juntamente de grandes sucessos do álbum como “Save Your Tears” e “After Hours” (título do disco), integram a parte final da obra.
E como ficaram os clássicos?
A essa altura, muitos já devem estar se lembrando de sucessos das antigas que também foram deixadas nas partes finais de seus álbuns. No antológico “A Night at the Opera”, do Queen, “Love of My Life” e “Bohemian Rhapsody” eram, respectivamente, a 9ª e 12ª faixas. Outro caso interessante é a banda inglesa Iron Maiden, que emplacou tantas músicas na segunda metade dos discos, que até chegou a lançar uma coletânea intitulada “Best of B-sides” (as melhores dos lados-b).
Entretanto, essa situação não é a regra, quando analisamos as dez obras mais vendidas na história, fica claro que havia uma preferência em se colocar as principais músicas no início. Bons exemplos disso são o Led Zeppelin IV, sétimo mais vendido na história, que traz sucessos antológicos do grupo como: “Rock’n Roll”, “Black Dog” e “Stairway to Heaven” – na primeira parte, e o terceiro colocado, “Hotel California”, dos Eagles, que abre o disco com a faixa título e é lembrada até hoje como um dos maiores hits da banda americana.
Mas é aí que surge um dado interessante, dentro das plataformas de streaming, as posições dos discos mais vendidos ficam trocadas. Segundo a pesquisa realizada pela Deezer, os ouvintes da plataforma acabaram dando mais preferência para discos que possuem suas principais músicas posicionadas no final da primeira parte ou até mesmo já no lado-b. Levando em conta apenas os 10 mais vendidos, “Back in Black” do AC/DC, pula da 4ª posição, onde está no número de vendas, para a 1ª em número de streams.
Outras produções com dados interessantes foram o álbum branco dos The Beatles, subindo da 5ª como disco mais vendido, para a 3ª posição em número de streams e Thriller, de Michael Jackson, caindo da 2ª para a 4ª posição, mesmo com sucessos como a faixa título e Beat It estando no início do álbum.
Tendo acesso a uma plataforma de áudio que permite experimentar um disco de forma não linear, a disposição das músicas acaba não sendo mais tão relevante para o sucesso tanto da composição, quanto do álbum em si. Na era do streaming, o lado-b não é mais tão impactante quanto já foi, uma vez que não é mais necessário mover a agulha ou até virar o lado, basta o ouvinte simplesmente escolher sua música favorita.
De certa forma, o streaming garante uma preocupação a menos ao artista, e quem ganha com isso é o fã, que ao mesmo tempo que pode desfrutar de uma obra completa, pode também acessar com mais facilidade as suas faixas favoritas na ordem que quiser e da maneira que achar melhor, utilizando de recursos como playlists, que podem ser montadas de acordo com o gosto de cada um, bem como as que já estão disponíveis na plataforma.