A edição de 2024 do estudo “Por Elas Que Fazem a Música”, realizado pela União Brasileira de Compositores (UBC), destaca o desafio contínuo para alcançar a igualdade de gênero no setor musical. Lançado hoje, 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, o relatório fornece uma análise detalhada sobre a participação feminina na indústria fonográfica, revelando um dado alarmante: apesar do aumento na quantidade de mulheres associadas à entidade, o rendimento destinado às mulheres permaneceu em meros 10% do total de direitos autorais distribuído entre todos os titulares.
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Entre os 100 associados com maior rendimento no último ano, apenas 13 são mulheres, evidenciando a persistente disparidade de gênero. Destas, a que registrou o maior recebimento ocupa a somente 21ª posição na lista, sublinhando a luta pela igualdade na distribuição de direitos autorais. A participação financeira das mulheres na música reflete uma preocupante estagnação, apesar do significativo aumento no número de mulheres associadas à UBC, que viu um crescimento de 186% em sete anos.
A análise comparativa com os dados entre 2022 e 2023 mostra uma dinâmica variada nos rendimentos de mulheres e homens nos diferentes segmentos do mercado musical. Especificamente, a participação das mulheres nos rendimentos totais por rubrica foi de:
- 10% para o Digital;
- 14% para Rádio;
- 10% para Show;
- 6% para TV aberta;
- 8% para TV fechada;
- 15% para Outros.
Nas áreas Digital (incluindo as plataformas de streaming), Rádio e Outros (contemplando casas de festas, Carnaval, Festa Junina, entre outros), a participação feminina em comparação aos homens diminuiu em 1 ponto percentual. Por outro lado, no segmento de shows, houve um aumento de 1 ponto percentual, enquanto nos segmentos de TV aberta e TV fechada, os números permaneceram estáveis.
Boom de festivais e shows aumenta o rendimento das mulheres e eventos ao vivo
Ainda reflexo do crescimento de eventos e festivais pós-pandemia, o segmento de shows, isoladamente, registrou crescimento significativo de 11 pontos percentuais, chegando a 20%, entre as fontes de receitas das mulheres. Contrastando com uma diminuição de 4,5 pontos percentuais para TV fechada e 4 pontos percentuais para Outros. A disparidade destaca as mudanças no panorama de consumo musical e, consequentemente, de receitas para as mulheres na música, evidenciando áreas de crescimento e de desafio.
A distribuição geográfica das associadas da UBC ainda mostra uma concentração no Nordeste, Sul e Sudeste, que juntas somam 87% do total de associadas, destacando a carência de representatividade feminina na música nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. A presença feminina na base de dados da UBC viu um leve aumento para 17%. A maioria das associadas situa-se na faixa etária de 18 a 40 anos, representando 61% do quadro geral de mulheres.
Participação das mulheres como produtoras, autoras e versionistas registra crescimento
No último ano, uma quantidade expressiva de obras e fonogramas com participação feminina foi cadastrada, com destaques para o cadastro de fonogramas por produtoras fonográficas, aumentando 17%, e o cadastro de obras por autoras e versionistas, crescendo 12%. Esta tendência sublinha a crescente influência das mulheres em todas as áreas da produção musical, para além do tradicional ofício de cantora e intérprete.
Ao focar na comparação dos rendimentos entre mulheres e homens, em categorias específicas, o relatório indica que a participação das mulheres nos rendimentos totais por categoria representam 10% autoras, produtoras fonográficas 15%, versionistas 20%, intérpretes 16%, e músicas executantes apenas 6%.
Registrando um crescimento relevante na participação feminina, na ordem de 8 pontos percentuais para Produtoras Fonográficas, de 3 pontos percentuais para Versionistas, e 1 ponto percentual tanto para Autoras quanto para Intérpretes.
Em busca do equilíbrio de gênero, UBC tem mais 60% de postos de liderança ocupados por mulheres
Hoje, a UBC conta com uma equipe em que 58% dos colaboradores são mulheres, evidenciando uma presença significativa dentro da organização. Essa representatividade se estende aos cargos de liderança, onde elas compõem 63% do quadro, inclusive ocupando a gerência em todas as filiais (SP, BA, PE, MG, RS e GO).
Um marco importante ocorreu em abril de 2023, quando a associação elegeu sua primeira diretora-presidenta, Paula Lima, demonstrando um compromisso crescente com a equidade de gênero e o reconhecimento do talento feminino em posições de liderança.
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Paula Lima, Diretora Presidenta da UBC, compartilha sua visão:
“Acreditamos que a comunicação, a transparência, a independência e a liberdade feminina que vêm sendo conquistadas tendem a mudar ainda mais esse quadro. Novas gerações com um novo olhar — e gerações já estabelecidas — estão transformando a forma de lidar com as obrigações que, muitas vezes, impedem a dedicação. Nosso nome está no agora, e o futuro, em breve, nos espera. Acreditamos num novo mundo, na transformação. E buscamos de forma real o equilíbrio. Nós nos comprometemos com a música, com os nossos associados e seus direitos — e acreditamos no valor, na força e na potência feminina.”
Mila Ventura, Head de Comunicação e Marketing da UBC e coordenadora do projeto “Por Elas que Fazem a Música”, reforça o impacto do relatório:
“Mais do que pautar a imprensa geral e o mercado com os dados e incentivar o debate, o relatório ‘Por Elas Que Fazem a Música’ fomenta ações concretas que movimentam a indústria musical ao longo de todo o ano, servindo como base de defesa e captação de patrocínio para os eventos direcionados para as mulheres do nosso mercado”.
Este relatório “Por Elas Que Fazem a Música” de 2024 evidencia a necessidade de continuar promovendo mudanças, iluminando tanto o crescimento quanto os desafios enfrentados pelas mulheres na música. A UBC afirma a sua dedicação para fomentar o debate, apoiar ações de igualdade de gênero e reconhecer a contribuição inestimável das mulheres para a música brasileira e mundial. A pesquisa Por Elas Que Fazem a Música 2024 está disponível na íntegra no site da UBC.