A arte como processo de autoconhecimento. Foi desta forma que Nick Cruz, cantor trans, de 22 anos, se debruçou sobre a música para entender melhor seu corpo e mente. O capixaba passou a chamar atenção logo que o clipe de sua primeira música, “Me Sinto Bem”, lançada em 2019 e de maneira independente, ultrapassou a marca de 1 milhão de visualizações no YouTube. Agora, em contrato com a Warner, o compositor conta tudo sobre o hit “Até de Manhã”, já disponível nas plataformas digitais, no nosso “Descubra com POPLine”.
“É uma música produzida pelo Pablo Bispo, Ruxell e Sérgio Santos. Tive a oportunidade de trabalhar com eles antes mesmo de saber quem eles eram. E fomos trocando uma ideia e eles já deram uma sondada no que eu gostava e me deram essa proposta. Achei uma música muito gostosa de ouvir. Eu mudei algumas coisas na composição. mamas muito pouca, e a gente já entrou na espera do clipe. Comecei a me descobri. Eu nunca tinha trabalhado com uma equipe grande, foi uma coisa meu de observar e criar mais identidade pra chegar no próximo com mais ideia”, diz.
Acostumado a cantar suas próprias músicas, essa foi a primeira vez que Nick gravou um hit composto por outros artistas. Uma novidade, muito bem recebida em sua jovem carreira. “Olha, tem uma grande diferença. Eu achei que eu fosse ter apego às minhas, que seria difícil cantar de outros, mas a gente acaba meio poupado. Porque, senão fica na pressão de compor 50 músicas e ter que escolher dez… você vira uma máquina. É benéfico receber propostas e se abrir, principalmente, quando há liberdade. É gostoso, eu tinha medo e agora to adorando”, afirma.
Como um homem trans, o processo de aceitação nunca é fácil. Apesar de ter recebido apoio da família e dos amigos, foi na música que Nick Cruz se sentiu confortável para expressar sua verdade. “Foi complicado, porque como eu sai de casa cedo, e era cidade pequena, eu nunca tinha convivido como uma pessoa trans, foi só quando eu sai de casa que consegui me identificar. A música me ajudou a me identificar, a escrita, a partir dai eu dou uma libertada na minha cabeça”, destaca ele, que saindo de casa cedo, começou a entender o mundo de outra forma.
“Sempre consegui ter amigos que me levaram pra rolês que me ajudaram, e tive amigos que me ajudaram na música e no processo de transição. Então, eu me senti muito acolhido, mesmo com a família longe, não tive nenhum problema com eles, mas eu queira minha autonomia, A rua me ensinou e me acolheu muito”, declara.
Tanto que a família de Nick é uma das maiores referências de sua carreira. Se hoje ele arrebata fãs com suas músicas, foi porque lá no início, foi observando o irmão tocar guitarra e mãe cantar que a paixão pela música nasceu. “Meu irmão tocava e ele tinha amigos que me influenciavam muito a tocar. Como eu era pequeno e não podia ficar em casa sozinho, ele me levando pra casa dos amigos, mas era aquela relação de irmão mais velho chato que não podia tocar em nada”, conta ele, aos risos. “Meu irmão tocava rock, andava de skate, mas quem me influenciou nessa pegada romântica foi minha mãe, A gente disputava muito karaokê. Eu vim puxando essa raiz”, admite.
Agora, as grandes referências musicais do cantor vieram de artistas que pairam pelas sete cores do arco-íris. “Hoje eu tenho uma visão diferente, como eu cresci numa cidade não muto desenvolvida, eu não tinha um contato com o meu publico, com o publico LGBT. Quando fui entrando em movimentos, frequentando casas de show e analisando de perto a minha cultura, fui me aproximando da filosofia de pessoas trans que estão no ramo musical como Liniker, Gloria Groove,Linn da Quebrada, são pessoas que me identifico não por faze parte da mesma comunidade, mas por inspiração, discurso, resistência”.